A extrapolada aventura cyberpunk de Akudama Drive

Curioso pensar que na época em que foi anunciado, Akudama Drive era um dos animes em que eu menos tinha expectativa. E mesmo com o primeiro episódio me apresentado um belo potencial, se mostrando como uma diferente obra de ação com uma narrativa bastante exagerada e frenética, eu ainda mantinha uma certa incerteza se ele continuaria entregando o mesmo nível de qualidade da estreia e se manter nos trilhos. Após assistir todo o anime, felizmente posso dizer que eu gostei ao ponto de até mesmo superar as minhas expectativas e se sair bem melhor do que eu poderia esperar a princípio.

O primeiro ponto onde a obra conseguiu me agradar foi a maneira como criou desafios e obstáculos a altura dos Akudamas, pois visto como a obra os apresentam no episódio de estreia, eu estava me perguntando se a narrativa faria essas missões se tornarem cativantes ou divertidas de se acompanhar, o que foi felizmente feito logo no episódio seguinte, tanto com a introdução dos executores, demonstrando de forma prática o quão fortes eles eram, quanto no esquema da invasão e do roubo do cofre em Kanto, que iriam obrigar os Akudamas a não apenas colocarem suas habilidades a prova, mas também trabalharem em equipe para conseguirem sair vivos. E mesmo que certas habilidades como a da médica fossem mal explicadas ou contextualizadas, fazendo a minha suspensão de descrença entrar em cheque, o anime foi capaz ainda sim de não apenas de deixar a curiosidade a quem assiste para acompanhar o desenrolar e a execução da missão, mas também de entregar cenas de ação bastante enérgicas, intensas, alucinantes e frenéticas durante o processo. Admito que isso me deixava bem empolgado e agregava ainda mais à trama.

Aém disso, Akudama ainda conseguiu mostrar a essência cyberpunk não estava presente apenas na estética, mas também na escrita, vide as críticas sociais levantadas durante a obra, que apesar de trabalhadas e transmitidas de maneira rústica e abrupta, conseguem não apenas ser coesas, mas também bastante pertinentes, eu diria, como a alfinetada muito mordaz e ácida aos EUA com o paralelo entre Kanto e Kansei, onde a história entre as províncias é bem parecida com o ocorrido na 2° Guerra Mundial. E principalmente com a forma como os executores agem, desde da lavagem cerebral e do discurso extremista disfarçado de patriotismo, até ao ponto deles se acharem no direito de fazerem uma chacina e matarem pessoas inocentes em prol da “justiça” apenas por eles possuírem o poder de fazer isso, que faz com que qualquer semelhança com a realidade não seja uma coincidência — especialmente com as diversas situações que aconteceram ano passado, se provando como algo bem mais além do que uma mera obra de ação descerebrada.

Os maiores deslizes do anime ficaram para os personagens, cujo elenco ficou um pouco a desejar. Eu nem falo na questão de desenvolvimento, visto que além de Akudama deixar bem claro que não iria se focar muito nesse aspecto, não é como se um personagem precisasse ser ultra complexo para ser bom, basta que tenha carisma, personalidade, presença ou algo que torne ele cativante, mas a maioria do grupo dos Akudamas, como a médica, o Hacker, e o Lutador, são apenas esses arquétipos de personagens egocêntricos, egoístas e arrogantes, oque os tornam bastantes parecidos entre si, sem muita coisa que faça eles se destacarem dos demais, que faz com que o carisma deles sejam bem baixos e um tanto esquecíveis. E quando o anime tenta criar uma composição diferente para os personagens, eles também não são tão atrativos, como, por exemplo, no caso do vigarista, que é como se fosse um alívio cômico, mas sem muita graça, ou no caso do degolador, em que mesmo ele protagonizando um dos melhores episódios da obra, ainda assim não passa de um psicopata com a mente de uma criança, sem nada mais que faça ele se tornar distinto ou marcante. Talvez o único mérito que possa dar para os personagens seja a questão deles terem retratados a médica e o degolador como esses verdadeiros psicopatas lunáticos e insanos que são, o que dá um tom real de ameaça e perigo para eles. Mas, fora isso, não muito mais.

Os melhores personagens são o mensageiro, pois admito que o arco de “redenção” dele durante a obra fez com que o meu interesse e apego por ele crescesse durante os episódios, e principalmente a golpista, disparada a melhor personagem da obra; não apenas por ser apenas uma garota comum tendo que se virar nessa situação ultra perigosa, mas também por ser essa personagem muito doce, inocente, ingênua, gentil, bondosa e otimista, que além de conseguir criar momentos bem interessantes em contraste com esses personagens narcisistas, toda a jornada envolvendo a questão dos irmãos na segunda metade faz com que você de fato consiga sentir empatia e até uma certa admiração por ela. Isso se intensifica na cena final envolvendo a personagem, que admito que conseguiu mexer bastante comigo, sendo facilmente a cena mais poderosa, impactante, e marcante de toda a obra para mim. 

Por último, talvez um dos pontos mais surpreendentes o anime é sua produção, em que… Deus, os envolvidos no projeto estavam apenas ON FIRE. Simplesmente o anime da Pierrot mais bem animado, dirigido, e produzido desde Akatsuki no Yona, em 2014. Mesmo tendo muita presença de CGI e filtros digitais, nada ficou tosco ou destoante, com tudo ficando bem mesclado na composição visual, fora as cenas de lutas fluidas e bem coreografadas; os cenários eram deslumbrantes, especialmente os de Kansai, com toda essa estética neon que deixava tudo muito vivo e entregava um tom sujo e degradante que era excelente; as criativas transições de cena, com os cenários sendo montados, também foram dinâmicas e divertidas; a grande sacada da técnica da produção de transmitir os diálogos expositivos através desse programa educacional infantil, que causava essa sensação estranha, destoante, e bizarra no bom sentido, ora as vinhetas de apresentações dos personagens ter sido uma das coisas mais maneiras e estilosas que eu vi em qualquer anime recentemente.

O anime aproveita toda a narrativa exagerada e extrapolada da obra para ousar e experimentar na produção, entregando toda essa estética ultra estilizada que apenas casou com a narrativa de uma forma muito bem feita. Além desse clima eletrizante que o anime entrega nas cenas de ação, a direção também consegue executar grandes momentos, como o episódio 9 com o degolador, em que todo o tom mudava para uma atmosfera muito mais tensa, aflitiva, e ameaçadora, típica de um filme de suspense; ou momentos mais dramáticos como nas cenas chaves do episódio final, ou a cena da executora discípula encontrando o mestre derrotado, que também foram bem boas; ou até em cenas como o Hacker invadindo Kanto, com essa estética completamente alucinógena, entrando provavelmente no top 5 das minhas produções favoritas de 2020. 

No fim, devo dizer que Akudama foi provavelmente a maior surpresa que eu tive em relação aos animes lançados em 2020 — com relação à expectativa, ao menos. Assim como Great Pretender, esse anime compensou a falta de polidez da narrativa em relação a determinados personagens ou situações com toda essa trama frenética e movimentada, além de também contar com críticas sagazes, mas sem soar pretensioso. Isso tudo com uma notável produção que conseguiu fazer a experiência de assistir ele bastante divertida e muito válida, especialmente pelo seu final, que conseguiu fechar toda a obra de uma forma bastante corajosa e muito respeitável. Uma pena não ter conseguido assistir o anime a tempo para as premiações do HGS AWARDS, visto que ele com certeza estaria no meu top 10 de melhores animes do ano. Mas ainda sim, fica registrado a minha satisfação para com a obra e minha recomendação para quem não viu.


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