Os estranhos casos de Undead Girl Murder Farce

Undead Girl Murder Farce foi um anime que chamou a minha atenção por ser mais uma adaptação dirigida pelo Mamoru Hatakeyama, um diretor que nos últimos anos foi responsável por uma ótima sequência de animes sobre a sua alcunha, seja as duas fantásticas temporadas de Showa Genroku Rakugo Shinju em 2016 e 2017, que se tornou sem dúvidas, um dos melhores animes da década passada ou na super popular, mas não menos impressionante trilogia de temporadas de Kaguya Sama Wa Kokurasetai que acabou se tornando esse marco dentro do gênero da comédia romântica durante o final da última década e que perdura até hoje. Então é claro que eu estaria curioso para ver mais um novo trabalho do Hatakeyama, não só porque o nome dele na produção de um anime já é um indício que provavelmente teremos uma estética mais distinta e criativa que o padrão que geralmente vemos em animes normais de temporada, como também essa seria a primeira vez do Hatakeyama dirigindo uma adaptação de uma obra de mistério, o que também era algo promissor.

A premissa gira em torno de um homem chamado Tsugaru que devido ao fato de ser meio humano e meio oni, acaba vivendo como atração em um circo para sobreviver até ser encontrado pela Aya Rindo, uma auto denominada detetive especializada em casos e crimes de monstros e criaturas sobrenaturais que o recruta como seu assistente não apenas para protegê-la destas criaturas ao lado da serviçal Shizuku, mas também por ela ser uma imortal que se resume a uma cabeça falante, já que o restante de seu corpo foi roubado por uma pessoa misteriosa, sendo também o mesmo responsável pelo experimento no Tsugaru. E juntos, ambos unirão forças tanto para descobrir a identidade e capturar a pessoa por trás do roubo do corpo da Aya, quanto resolver os diversos outros crimes que aparecerão no caminho.

Após o primeiro episódio contextualizar toda a sua proposta, no episódio seguinte somos imediatamente introduzidos ao primeiro arco principal da série, o da mansão dos vampiros, com a Aya tendo que investigar o assassinato da matriarca desta família de vampiros, que é bem eficaz. Por mais que a revelação do culpado não tenha sido tão impactante quanto poderia, por eles darem certas pistas que te fazem desconfiar de um determinado suspeito que de fato acaba se provando como o assassino, tornando o desfecho um pouco previsível, todo o plano e o método do assassinato é criativo e engenhoso o bastante para lhe deixar cativado e entretido durante o caso, principalmente pelo roteiro saber utilizar muito bem tanto as vantagens quanto os obstáculos que os vampiros teriam naquela situação no momento de criar toda a cena do crime, que se torna algo legal de se acompanhar.

Mas o grande ponto alto da série sem dúvidas é o arco da penúltima noite, que vem logo a seguir. E é curioso como vários elementos deste caso parecem ter uma enorme influência do arco do York Shin de Hunter X Hunter, desde da estrutura, que consiste neste vários núcleos de personagens tendo que se reunir em um mesmo local devido ao grande roubo que o Lupin planeja fazer em Londres, com o foco estando voltado nos conflitos e confrontos que surgirão a partir disto, como também na forma como o roteiro usa de certas coincidências ou acidentes para criar encontros repentinos com estes vários personagens, com a grande diferença que Undead Girl retrata estas casualidades de uma forma bem mais irreverente, descontraída e cômica do que na obra do Togashi, que era tratado com muito mais tensão e seriedade.

O roteiro faz um belo trabalho em não apenas criar uma série de boas reviravoltas e plot twists, lhe deixando cada vez curioso para saber o que irá acontecer a seguir, como também consegue criar uma enorme quantidade de tensão, especialmente quando o grupo do “Banquet” é introduzido e todo o tom da trama muda drasticamente, já que se a princípio, o grande objetivo do arco era impedir o diamante de ser roubado pelo Lupin, após a aparição do Banquet, tudo se transforma em uma feroz batalha pela sobrevivência, já que eles são tão fortes, violentos e implacáveis que planos convencionais não se aplicam com eles, culminando em um intenso e eletrizante clímax.

Eu também gostei bastante de como eles conseguiram fazer um uso bem esperto e interessante da imagem de diversas figuras históricas como o Lupin, Sherlock Holmes, Fantasma da Opera, Moriarty, Alistair Crowley, dentre outras com associações e conceitos bem bacanas. Como o Fantasma da Opera lutar atordoando o seu oponente através da eletroacústica do lugar ou o Alistair Crowley ser o único humano do Banquet sem poderes e o seu método de assassinato ser basicamente um truque de mágica devido a esta obsessão que ele tinha pelo ocultismo. Além do Lupin fazer jus ao seu título de maior ladrão do mundo e por aí vai, sendo basicamente tudo aquilo que Yuukoku no Moriarty tentou fazer e não conseguiu.

E o último arco da vila dos lobisomens também é legal. Com o caso desta vez sendo voltado a Aya investigando um sequestro causado por um suposto lobisomem em um vilarejo humano devido a tal vila citada no arco anterior e a trama se desenrola bem, com o roteiro se focando bem mais na história dentre os dois vilarejos e criando certos paralelos de como ambos pareceram ter seus casos sangrentos envolvendo intolerância um com outro no passado e como isto parece estar voltando atualmente para assombra-los. O único ponto de eu fiquei de fato incomodado foi no momento em que a Shizuku acaba caindo sem querer na vila dos lobisomens e por algum motivo ela não consegue fazer a associação óbvia que os assassinatos que estão acontecendo em ambas as vilas e que o culpado quer incitar uma guerra entre ambas, mesmo que em seguida ela faça uma análise detalhada de um cadáver, que é bem estranho e só soa uma conveniência para a cena do clímax final acontecer. E mesmo quando o confronto entre as duas vilas ocorre, ela não parece tão impactante quanto poderia, sendo mais um momento em que por mais que a ideia seja bem boa, a execução fica um tanto a desejar.

Quanto aos personagens, não há muito a citar, vide que a Aya é a que carrega o anime neste quesito com folga, por ela ser tanto calma e calculista, quanto também ter esse peculiar senso de humor sobre a sua situação que achei bem interessante. O Tsugaru é um personagem OK sendo o típico cara sádico, sarcástico e debochado, parecendo uma versão inferior do Sebastian de Kuroshitsuji e o maior atrativo dele é quando ele luta contra outros inimigos. E a Shizuku é a pior personagem de todas sendo super impassível, inexpressiva e praticamente irrelevante na trama, mesmo quando obteve tempo de tela no arco dos lobisomens, então… Meh.

E a produção também é bacana. Óbvio que se você me perguntar se o nível da direção do Hatakeyama está igual ao de Kaguya Sama ou Rakugo Shinjuu, não necessariamente. Mas mesmo quando o Hatakeyama não está nos seus 100%, ele ainda é capaz de criar escolhas visuais deveras inusitadas e excêntricas que dão um sabor e uma identidade a mais a estética do anime que é bem legal, além do design e da direção de arte também fazer jus em recriar este estilo de época que o anime se passa com bastante louvor, fora a sua consistência. Então mesmo que não tenha nada nessa produção que tenha explodido minha cabeça de tão incrível, ela consegue ser bem eficaz e sólida para o que se propõe.

Então no fim, Undead Girl Murder Farce é um anime bem divertido. Claro que existem aspectos que eu acredito que poderiam ser melhorados, principalmente em relação ao Tsugari e a Shizuku. Assim como certos desfechos e a execução de alguns clímax, mas ele também possui boas ideias e características que faz o saldo se tornar positivo, como a preocupação do enredo em cada caso possuir uma estrutura e mecânica diferente um do outro, oferecendo uma variedade maior a trama. Os conceitos envolvendo aquele mundo como extermínio das criaturas sobrenaturais em nome do governo e os grupos de execução criados por eles e o fato da obra não se levar muito a sério e ter uma aura mais engraçada e sarcástica em certos momentos, mas simultaneamente manter uma constante atmosfera sombria e macabra que também aprecio. E definitivamente eu não teria problemas em assistir uma segunda temporada e continuar acompanhando a jornada da Aya, caso acontecesse. Então se você curte este estilo de anime de mistério, com doses de terror e elemento sobrenatural na receita, com certeza vale a pena dar uma chance e conferir o que ele tem a oferecer.


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