Skip to Loafer e o gradual processo de adaptação

Sendo mais um anime produzido pela P.A Works neste ano, a adaptação em anime de Skip to Loafer se tornou um dos animes que mais antecipei na temporada de abril de 2023. Não apenas porque Buddy Daddies, exibido no início do ano, foi uma inesperada e ótima surpresa, sendo um dos melhores animes originais do estúdio em um bom tempo, como também por parecer que este seria um retorno a abordagem mais tradicional do gênero de slice of life por parte do estúdio. Animes contendo uma grande ênfase na vida cotidiana fez o estúdio se tornar bem reconhecido na década passada, com obras como Hanasaku Iroha, Shirobako, Sakura Quest, dentre outras. E felizmente, estas expectativas foram atingidas, já que Skip to Loafer consegue com bastante louvor cumprir todos os requisitos que eu poderia pedir de uma obra deste tipo.

Afinal, como todo bom slice of life que se preze, a sinopse da série é bem simples. A protagonista Mitsumi tem que sair da sua pequena e interiorana vila e se mudar para casa da sua tia em uma grande metrópole para estudar em uma escola de elite em prol de cumprir o seu sonho de se tornar prefeita de sua cidade natal. Por mais casual e descompromissada que esta premissa possa parecer a princípio, a obra se aproveita deste cenário tanto para explorar o lado mais divertido, suave e doce da Mitsumi se adaptando a este novo ambiente no qual ela está inserida, quanto a tecer comentários mais reflexivos e pungentes sobre as relações humanas. Skip to Loafer trabalha uma grande apreciação sobre o mundano e a importância que pequenos atos e momentos cotidianos podem trazer para nós por mais banais que aparentem ser a primeira vista, fazendo com que a história se revele bem mais elaborada do que se apresenta inicialmente.

Esses pontos são realçados através do seu elenco que, em sua maioria, é bem notável. E o grande destaque claramente é a dupla Mitsumi e Shima. Não apenas por serem bem carismáticos e pela química entre eles ser ótima, já que enquanto ambos se tornam cada vez mais próximos e íntimos um com outro, mais magnética as suas interações se tornam, como também por certas características em suas composições que deixam o casal ainda mais envolvente. A Mitsumi mesmo sendo uma personagem bastante fofa, gentil e adorável, também é um tanto ingênua e insegura, que acaba criando certas dificuldades de se relacionar com as pessoas neste novo ambiente. E o Shima, por mais que siga este arquétipo do galã super gente fina e popular, trás uma aura bem misteriosa e um tanto melancólica devido ao seu nebuloso passado e de que mesmo estando rodeado de pessoas, ele nunca parece estar disposto ou a vontade para se aproximar ou confiar em alguém de verdade, até a chegada da Mitsumi fazer ele lentamente mudar esta percepção. Além de personagens coadjuvantes como a Murashige, a Makoto, o Kanechika e a Fumino também serem bons suportes que expandem as dinâmicas da série de uma forma bem agradável.

E se o elenco consegue trazer este constante senso de leveza, a escrita cria um contraste reflexivo apresentando cenas e passagens que trazem uma aura mais introspectiva, mas sem deixar de lado a elegância e a sutileza. Vide a ligação da Mitsumi para a Fumino e toda a pauta sobre amizade no episódio 2 ou as interações da Makoto e da Murashige no episódio 3, que evocam essa ideia de que o seu pré julgamento a alguém pode impedir você de criar laços e a importância de tentar superá-los de alguma forma. O diálogo entre a Mitsumi com o Shima no episódio 4 quando o seu passado de ator mirim é revelado e o quão importante demonstrações de apoio podem ser por mais simples que sejam também é um bom exemplo. Assim como o foco na Takamine durante a segunda metade deste mesmo episódio, retratando uma personagem complemente obcecada com estudo e tempo ao ponto da sua rotina ser super calculada e até cronometrada, mas que devido ao encontro com a Mitsumi, consegue apreciar a beleza e o valor presentes na atitudes simples e nestes momentos de respiro do cotidiano através da postura mais relaxada. Esses são momentos bem inspirados e que enriquecem ainda mais a série.

E a produção também não fica pra trás, conseguindo transmitir a atmosfera aconchegante da obra de uma forma bem eficaz. Especialmente se considerar que por mais que as cores e os cenários tragam uma aura mais sóbria e contida, isso é contrastado com determinadas imagens, detalhes ou planos de fundo usado para reforçar os sentimentos dos personagens que dão mais cor e identidade visual mais própria a série, somado aos character designs também serem ótimos sendo bem bonitos, expressivos e agradáveis. Além de sequências como o sonho do ônibus da Takamine no episódio 4 ou a cena da Mitsumi vestida de astronauta no episódio 3 que tem uma pegada bem mais psicodélica e quase absurda, que eu apreciei bastante, além da direção ser bem sólida e consistente nas composições de cenas mais casuais por todo o anime.

Tanto que o maior defeito que eu posso ressaltar é a Ririka, que foi uma personagem bem desinteressante, sendo praticamente um mero recurso narrativo durante a reta final para desenvolver um conflito com o Shima que não deixa uma grande impressão. Sobre a Mika, também acho que seu o desenvolvimento poderia ser mais elaborado. E ainda senti falta de espaço de certas personagens secundárias como a Makoto, Murashige e principalmente a Nao, que mereciam mais atenção e destaque dentro da série. Sério, precisamos de mais cenas da Nao-chan.

E dito isso, ótimo anime. Novamente a P.A Works provou que é neste tipo de obra que o estúdio parece ter mais inspiração e prática, pois mesmo ele sendo um anime bem leve, fácil e acessível de se assistir, ele também possui aspectos e nuances que pode lhe fazer pensar ou refletir. E mesmo que ele esteja longe de ser um anime revolucionário dentro de seu gênero, ele consegue ter carisma, coesão e autenticidade o suficiente para ser uma obra bem satisfatória, envolvente e memorável, se provando como um forte concorrente para ser o meu slice of life favorito de 2023 e uma grande recomendação para quem aprecia obras deste estilo. Muito bom.


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