Pokémon: Paldean Winds – O apelo de bons designs de personagens em um mundo vivo

Ao lado da série principal de Pokémon, que originalmente seguia Ash e seus amigos e que agora introduziu um novo conjunto de personagens, temos visto projetos de animação únicos emergindo para a franquia. Exemplo disso é “Pokémon: Twilight Wings“, lançado após o jogo de Pokémon Sword and Shield. Para mim, esta série foi a melhor de 2020 e, com certa folga, é a produção mais impressionante já feita no universo de Pokémon.

Seguindo essa tendência recente, chegou o primeiro episódio de “Pokémon: Paldean Winds“. Inspirada nos jogos Pokémon Scarlet and Violet, essa série curta de quatro episódios foca em Ohara, uma jovem flautista sob o peso da expectativa, visto que seu pai é maestro de uma orquestra. Além dela, conhecemos personagens como Aliquis, que vive à sombra das expectativas de seu irmão, e Hohma, um entusiasta dos Pokémon, que, apesar de parecer despreocupado, é profundamente envolvido em seu próprio universo. Mas, com as apresentações feitas, vejamos o que torna “Pokémon: Paldean Winds” excepcional!

Mais uma vez, a equipe interna do WIT Studio foi responsável pelo design dos personagens e pela trama. O relacionamento entre os estúdios WIT e OLM, responsáveis por diversas produções de Pokémon, é bastante próximo. De fato, eles já realizaram projetos conjuntos diversas vezes. E uma das pontes entre esses dois estúdios é a filial WIT do produtor Ibaraki (por meio do qual animadores associados ao estúdio WIT, como Masaaki Tanaka, participaram da produção do filme “Pokémon: The Power of Us“). Especificamente para “Paldean Winds”, o produtor de animação foi Kazuki Yamanaka, que também trabalhou em SpyFam, um outro projeto da WIT. Um indicativo dessa colaboração é a escolha de Keisuke Okura como animador chefe, que já tinha um papel proeminente como animador principal em SpyFam.

O título de “animador chefe” mal captura a importância central de Okura no projeto. Ele foi um elemento chave na maior parte das sequências de ação e na emocionante cena de perseguição que acontece no final do episódio. A animação dessa cena é maravilhosamente expressiva, e Okura consegue balancear de forma habilidosa dois elementos aparentemente opostos: o peso e o exagero cartoon.

Veja como somos capturados pela postura do Arven e pelo peso de seus gestos: desde o impulso vigoroso de seu pulo inicial até o momento em que, durante uma corrida frenética, ele quase tropeça, cambaleando em seus próprios pés e se reerguendo. Cada ação carrega uma gravidade convincente, tingindo a cena com uma atmosfera palpável de realismo e urgência. Em contrapartida, a forma básica de Arven se contorce em exageros cartoonish, infundindo a sequência com um elemento de humor e expressividade amplificada. Esta mescla de estilos distintos dá vida a uma cena em que o terror se manifesta não em palavras, mas puramente no movimento do personagem.

Mas acima de qualquer outra coisa, esse primeiro episódio de “Paldean Winds” é uma vitrine espetacular do talento do diretor Ryohei Takeshita. Sua paixão por câmeras, iluminação realista, senso de humor aguçado e habilidade para criar momentos carregados de conflito e emoção estão todos presentes. Já na cena de abertura, Takeshita combina uma abordagem de POV furtivo com uma incrível sensação de escala, além de mesclar com perfeição iluminação realista e cenários 3D bem integrados.

Eu diria até que Takeshita usa a iluminação para dar uma sensação tangível de espaço e tempo. Seja na maneira como a luz solar parece sempre capturada e filtrada por alguma colina de neve em cenas montanhosas, ou como os interiores são iluminados por fontes de luz natural e artificial, o resultado é sempre um ambiente que é tanto visualmente deslumbrante quanto emocionalmente evocativo. Essa habilidade em dirigir cenas assim não só justifica os apelos das pessoas para que ele encabeça projetos mais longos e significativos, como também me mantém ansioso e na expectativa para ver o anime original que ele está trabalhando.

Mas como a cena de abertura mostra também, Takeshita também tem uma aptidão para manusear layouts tridimensionais de uma forma que vai além do comum. Ele não apenas usa este recurso como uma ferramenta para dar profundidade às cenas, mas ele o faz de maneira tão eficaz que os espaços retratados – sejam eles os terrenos da academia ou as paisagens montanhosas – parecem locais onde você poderia realmente “entrar”. Isso é um feito impressionante porque a animação, por sua natureza 2D, muitas vezes luta para dar uma sensação de espaço realista.

E obviamente, a iluminação de Takeshita não atua isoladamente; ela se relaciona intrinsecamente com a paleta de cores. Ele usa a iluminação e a cor em conjunto de forma particularmente eficaz nas cenas das montanhas. Aqui, o contraste entre as colinas nevadas e o céu azul profundo não é apenas esteticamente agradável, mas também contribui para a atmosfera e o tom da cena. As cores frias e a iluminação nítida e clara estão lá para evocar uma sensação de isolamento, beleza e até mesmo perigo.

Seria uma negligência digna de ser preso pela “polícia sakuga” não destacar o design de personagens feito por Takashi Kojima. Como esperado, o trabalho de Kojima não se limita apenas à estética. Seus personagens são desenhados pensando na sua capacidade de se moverem de forma livre e energética, parecendo dinâmicos e atraentes tanto em movimento quanto em quadros estáticos.

Como um designer de personagens de primeira linha, Kojima entende como poucos a forma que design de personagem deve servir não apenas como um retrato visual, mas também como uma ferramenta narrativa e expressiva. O talento de Kojima, nesse sentido, poderia estar justamente em sua habilidade de combinar forma e função de uma maneira que parece tanto “fácil” ou “intuitivo” quanto infinitamente carismática. Ele não apenas cria personagens visualmente atraentes, mas personagens que “vivem e respiram”, que têm a capacidade de se expressar e de se mover de maneira que complementa e enriquece a narrativa geral. Enquanto assistia, tentei encontrar alguma maneira de descrever o apelo desses personagens (mais especificamente Ohara, também chamada por mim de “o ser mais fofo de todos os tempos”), e acho que o que mais chega perto é a ideia de um “carisma sem esforço”, e resulta de anos de experiência e refinamento, uma capacidade de ir direto ao coração do que faz um personagem ser memorável e amado.

Pokémon: Paldean Winds episódio 01 serve como mais uma das provas de que os curtas de Pokémon continuam sendo o palco perfeito para mostrar as estrelas em ascensão da indústria. É seguro dizer que todos os aspectos deste episódio foram executados de forma magistral: Takeshita, com seu manuseio exemplar de layouts tridimensionais e iluminação sofisticada, faz o universo de Pokémon sentir-se tão tangível que quase podemos tocá-lo. E Kojima que, por sua vez, infunde cada personagem com uma vitalidade que transcende a tela – ​​um efeito realçado por animadores talentosos como Okura.

“Paldean Winds” se torna, assim, uma adição memorável ao mundo de Pokémon e um destaque na carreira já impressionante de Takeshita; e sendo possível que ele, apesar de ocupado com seu próprio anime original, contribua mais com os próximos episódios, me deixa ansioso para ver o que ele e sua equipe nos reservam.


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