Vinland Saga Season 2 e uma odisseia chamada Farmland

Finalmente a continuação da adaptação do épico escrito pelo grande Makoto Yukimura está entre nós. Uma obra cujo a fama e a reputação já a precede tanto que introduções não se fazem necessárias a este ponto. E chega a ser engraçado pensar que mesmo o mangá sendo uma das minhas obras favoritas dentro do universo de animes/mangás, eu nunca tinha feito uma review formal sobre a série até agora. E não há momento mais oportuno para corrigir isto do que comentar sobre o arco que não apenas se tornou o divisor de águas definitivo de toda a história, subvertendo tudo aquilo que esperávamos da série durante o prólogo, como também é sem dúvidas um dos mais polarizantes surgidos nos últimos anos. Esse arco de Vinland Saga chegou ao ponto de ter rachado a fanbase da obra e existir pessoas que até hoje o repudiam com todas as forças, sendo motivo de debate e discussão desde então: o arco da Farmland.

E a outra grande razão de eu ter decidido resenhar especificamente sobre ele é que revisitar este arco durante a adaptação acabou me fazendo repensar uma grande parte de suas mensagens e temas, já que durante muito tempo, eu acreditava que o grande apelo e força deste arco estava resumida a jornada de redenção do Thorfinn e a mensagem pacifista trazida por ele, quando no fim, o Farmland é algo muito mais complexo, rico e intrincado pra se resumir apenas a isso.

E não entendam errado: O Thorfinn ainda permanece como um dos meus protagonistas favoritos e o seu desenvolvimento continua sendo um dos mais incríveis e satisfatórios que eu acompanhei em animes e mangás ever. Mas até mesmo o seu arco permanece como mais um dos vários métodos que o Yukimura usa para poder dissecar uma série de temáticas além do pacifismo, como masculinidade, ganância, desigualdade e principalmente poder e todas as estruturas políticas e sociais que giram em torno dele e de como a violência nada mais é do que uma ferramenta para perpetuar tudo isso e servindo como uma grande expansão de diversos assuntos semeados de forma sutil durante a primeira temporada. Se o principal objetivo do prólogo era nos inserir dentro deste ambiente cruel, grotesco e atroz que fazia as pessoas ali inseridas abdicarem de sua moral ou humanidade em prol da sobrevivência, também conhecido como guerra, Farmland tenta trazer respostas sobre como e porque este ambiente se forma e quem se beneficia com este cenário sendo formado.

Começando com a questão da masculinidade, que é um tema que esteve presente em Vinland Saga desde sempre, vide todo o conceito de verdadeiro guerreiro levantado desde do prólogo e a imensa obsessão de todos aqueles personagens a essa ideologia como morrer em um campo de batalha devido a crença do Valhalla, os seus comportamentos sanguinários e etc. Em farmland, a narrativa explora a temática por um aspecto bem mais introspectivo, voltado em descobrir não apenas a razão destes homens serem tão devotados a isto, como também a consequência de seguir estes ideais à risca. Algo que fica claro logo no episódio 3, na cena da tortura do Thorfinn, seja pela forma como a falta de medo do Thorfinn naquela situação se torna uma ofensa quase pessoal ao Raposa como guerreiro, que faz com que ele utilize ainda mais violência em prol de fazer com que o Thorfinn se sinta intimidado para satisfazer o seu próprio ego, como também a passagem que o Raposa comenta que para mercenários como ele, o grande produto oferecido é a morte, criando essa equivocada ideia de que para eles o medo seria a maior prova que eles obtém respeito, mesmo estes dois sentimentos sendo algo completamente distintos.

Mas a grande síntese desta temática vem através de dois pontos chaves: O arco do Omar, mostrando a desesperada tentativa de seguir estes ideais e ser um guerreiro movido pela sua insegurança de querer ser aceito e respeitado dentro de círculo social, se forçando a fingir ser alguém super parrudo e agressivo, até o momento em que ele descobre da pior maneira imaginável o real significado e forma da guerra e da violência, com o seu assassinato sendo o gatilho para a invasão da fazenda. E o comentário do Askeladd sobre a definição do Valhalla ser o último local em que os “verdadeiros guerreiros” vão e um lugar em que todos são inimigos e que você não pode confiar em ninguém além de si mesmo.

E apenas estes 3 fatores já é o suficiente para criar um ótimo e fantástico paralelo com o que ocorre na nossa sociedade atual, visto que esta ideologia não apenas serve como uma forma dessas pessoas inseguras tentarem ganhar validação através da violência, como também na maneira que elas são incentivadas a abrir mão de qualquer tipo de sentimento de afeto, confiança ou vulnerabilidade em prol de servir a esta imagem completamente bizarra e distorcida de masculinidade. Isso desencadeia em resultados bem catastróficos como nós pudermos ver recentemente, como chacinas e mortes gratuitas e sem sentido feitas em nome desta postura.

E falando em insegurança, chegou a hora de falar sobre o Ketil. É engraçado pensar que na primeira aparição do personagem, algumas pessoas cogitaram que o Yukimura estava passando pano para escravidão por ele ser uma pessoa gentil, justa e muito gente fina pra ser um senhor de escravo, sendo que conforme os episódios progridem, não demora nem um pouco para descobrirmos que essa postura amigável e bondosa não passava de uma fachada para esconder o que ele realmente era: um covarde. Afinal, apesar desse comportamento mais doce e da tranquilidade presente ali, era bem fácil de perceber que ele era condescendente e passivo com diversas injustiças presentes dentro de sua própria fazenda e como já diria o saudoso Marcelo Yuka, paz sem voz não é paz, é medo.

Seja as constantes humilhações sofridas pelo Thorfinn e Einar nas mãos dos “homens livres” presentes na fazenda (que se conecta com a questão da insegurança e falso senso de superioridade citado anteriormente), a punição das crianças ladras, a falta de punição em relação aos homens que destruíram a plantação do Thorfinn e do Einar, a maneira como ele subornava o rei em prol da proteção de sua fazenda e principalmente o fato dele se aproveitar dos seus privilégios criada por essa hierarquia para poder obter favores sexuais em cima da Arnheid. Isso já era o suficiente para demonstrar que ele nunca foi uma pessoa super altruísta, já que ele ainda continuava extremamente dependente desta estrutura de poder e ignorando as injustiças criadas por ela, mesmo que ele tentasse fingir que não.

E a maior prova disso é se perguntar: qual é a primeira atitude que o Ketil toma quando percebe que a sua fazenda está prestes a ser tomada pelo Canute? Justamente mostrar a sua verdadeira face e cometer uma atrocidade atrás da outra movido pelo seu desespero. Seja matando a Arnheid pela sua suposta falta de gratidão ao tentar fugir, mesmo após o mesmo se aproveitar sexualmente dela e se denominar como o seu dono e também por não hesitar em mandar centenas de pessoas para um verdadeiro moedor de carne em prol de um objetivo completamente egoísta, burro e sem sentido. Estava muito claro desde do início que era impossível para eles derrotarem o Canute naquela situação. Além da ironia de ser encurralado pela própria estrutura que tanto se apoiou, como o servo comenta para ele durante a batalha.

Sem contar o fantástico detalhe de como o Ketil manipula essas pessoas a lutarem e morrerem por ele utilizando justamente o discurso do verdadeiro guerreiro, somado a farsa dele ser o “Ketil punho de ferro”, que não só reforça a temática da masculinidade que eu citei antes e de como ele fortalece esta estrutura de poder, mas também demonstra o porquê de você nunca poder confiar plenamente nas pessoas que estão no topo desta hierarquia. Para eles, sua posição social sempre será o mais importante ao ponto de ter a chance deles não hesitarem de fazer qualquer coisa para mantê-la, por mais reprovável que possa ser. Algo que infelizmente também tivemos um grande vislumbre nos últimos anos que se passaram.

Aproveitando este assunto sobre poder, chegou a hora de falar do Canute. Admito que durante a minha primeira lida do arco, eu nunca dei muita atenção a ele, já que eu apenas o considerei como um antagonista eficaz para a série, mas nesta revisita ele também se provou bem mais do que apenas isso. E o motivo é que agora eu o enxergo como uma interessante alegoria das pessoas super poderosas que comandam a nossa sociedade atual, com o personagem podendo ser sintetizado através de duas frases chaves. A primeira sendo a passagem citada pelo pai do Canute durante o prólogo sobre a única função do rei ser servir a coroa e a segunda sendo aquele velho ditado de que todo vilão é o herói dentro da sua própria cabeça.

Afinal, por mais que o Canute apresente esta grande convicção de querer mudar o cenário de guerras que o país está passando, fica cada vez mais evidente que conforme os episódios avançam, mais este objetivo parece se tornar algo secundário em prol de conseguir mais poder e influência. Ele utiliza de métodos bem rasteiros, antiéticos e reprováveis para adquirir tal objetivo. Seja na forma para ascender ao trono, o assassinato do próprio irmão e o plano para invadir a fazenda. E o ponto chave disso é o Canute constantemente parecer querer se convencer que estes atos de violência estão sendo feitos em prol deste bem maior da paz ou para ajudar alguém, mas sempre tendo alguma segunda intenção por trás que demonstra que a razão não se resume apenas a um ato de bondade ou altruísmo. Algo bem similar ao ocorrido com Ketil, só que através de um outro parâmetro.

Então o resultado disso não apenas faz com que o caráter do Canute pareça cada vez mais distorcido, perdendo o foco de seu objetivo por estar ludibriado pelo poder, como também mostra que quando você tem pessoas que obtém um nível tão grande de dominância ao ponto de estar acima da lei e não ter ninguém para impedi-las, elas podem se tornar extremamente perigosas. É muito fácil usarem suas próprias réguas morais de julgamento para decidir o que é certo e errado. E com isso, atos atrozes são facilmente justificados em suas mentes através destes conceitos vagos de paz ou de algum outro ideal. Além dele também servir como uma ótima dualidade com o Thorfinn, já que ao invés de uma redenção, o Canute passa por um processo de desconstrução, abraçando cada vez mais a violência e esta estrutura opressiva na qual ele se encontra e comanda. Logo, mesmo funcionando como alegoria, ele também possui nuances em sua composição que o torna bem humano, que eu gosto bastante.

E depois de todo este contexto, finalmente chegamos no Thorfinn e na polêmica e controversa cena da audiência entre ele e o Canute. E o primeiro ponto a se comentar sobre isto é que todo o seu arco de desenvolvimento e pacifismo não está resumido a um mero pacto de não agressão, já que além de todo trauma ocasionado pela guerra e pelas inúmeras pessoas que ele matou, a série também se foca no Thorfinn descobrindo sobre todo esse aparato social e político criado para oprimir as pessoas menos favorecidas e se abdicando de todos esses fatores como uma maneira de ir contra esta sistema de alguma forma. Tanto é que um dos principais métodos encontrados por ele é rejeitar totalmente a violência ao saber que recorrer a esta alternativa só irá retroalimentar esta estrutura de agressão, mesmo que a obra mostre que usá-la seja inevitável em certos momentos.

E por mais que muitas pessoas ridicularize a decisão do Thorfinn na audiência de fugir caso o pedido desse errado, por segundo elas, serem algo muito fantasioso e sem absolutamente nenhum compromisso com a realidade, o que mais existe na nossa sociedade atual são pessoas que tomam a exata mesma postura do Thorfinn em relação a isto. Considero essa cena um paralelo com a maneira que grupos que sofrem preconceitos estruturais agem dentro da nossa sociedade. Afinal, todas essas pessoas sofrem uma imensa e constante violência sistêmica não apenas verbal, mas também física (que poderia ser uma analogia aos 100 socos do Thorfinn), e mesmo assim, você não tem nenhuma grande mobilização por parte destes grupos focados em matar ou fazer atentados as pessoas ou instituições que propagam esse preconceito.

E isso acontece não só por eles saberem que fazer estas chacinas não irão resolver nada, já que isso só daria munição e pretexto para estas pessoas e instituições preconceituosas atacarem de volta de forma ainda mais violenta e brutal, como a grande prioridade destes grupos é oferecer apoio e suporte criando uma comunidade para acolher aqueles que sofrem desta violência. Exatamente aquilo que o Thorfinn decide fazer quando fala que vai fugir para Vinland, já que o objetivo é justamente criar um lugar onde esta opressão não exista e acolher as pessoas que sofreram pelos males da guerra, revelando assim o real significado de ser um verdadeiro guerreiro, que na visão da obra, seria o ato de perseverar e a obstinação de criar um local mais justo, apesar destas imensas agressões sofridas. Desmentindo inclusive essa interpretação de que é impossível de ter esse comportamento na vida real, já que independente destas opressões, existem pessoas que ainda se esforçam e lutam de forma pacífica para ganharem seus espaços, reivindicarem seus direitos e tentar quebrar esse ciclo de violência através da conscientização e da denúncia destes atos.

E talvez seja por isso que certas pessoas até hoje repudiam tanto este arco, já que a constatação abordada na história é algo que pode ser bem difícil de ser aceita, visto que é muito mais cômodo e confortável acreditar que todos os males poderiam ser erradicados caso conseguíssemos exterminar todas as pessoas que propagam estas ideias. Mas, infelizmente, o mundo nunca é tão simples e conveniente e não há como causar esta mudança apenas com a violência, especialmente quando na maioria das vezes quem obtém o poder são justamente aqueles que propagam esta opressão e de quem espalha estes ideais sempre podem ser substituídas dentro deste sistema. E daí que vem a importância de encontrar outros métodos além deste recurso para lutar contra estas estruturas, por mais difícil que possa ser. Tanto que a única ressalva que eu tenho com a cena é o Thorfinn falar que o Canute é uma boa pessoa, que admito que foi uma forçada de barra e a desistência do Canute, que eu assumo que é a parte que mais exige suspensão de descrença, apesar de eu ainda poder considerar que a razão desta atitude do Canute pudesse vir de toda essa questão dele ainda querer se achar um herói que está lutando pela paz que citei anteriormente. Mas não julgo quem tenha achado essa decisão do Canute algo inverossímil. Mas fora isso, eu acho esta cena muito boa e muito mais significativa do que as pessoas querem admitir.

Inclusive, vocês perceberam o quanto que todas estas temáticas estavam constantemente interligadas durante a análise? Isso é um indício do quão intrincado e bem amarrado é todo o roteiro, já que toda a trama do Farmland segue uma estrutura de ser um único enorme arco linear com várias e várias subtramas sendo desenvolvidas de forma simultânea. E o resultado é diversos diálogos, flashbacks, construções e desenvolvimentos de personagens sempre virarem formas que o Yukimura encontra de manter a narrativa em constante expansão, deixando ela cada vez mais rica, densa e profunda.

Vide o flashback da Arnheid, cuja decisão do Gardar abandonar a vila em prol de lutar pelo território de ferro não só remete a esta questão do guerreiro e da masculinidade, mas também da ganância e do horrível preço que ele paga por ter priorizado o dinheiro ao invés da sua família. Ou a ótima adição original do flashback do Sverkel, que faz um comentário sobre como a sua passividade e o conformismo fez com que uma garota inocente morresse, justificando o seu comportamento mais humilde com os escravos da fazenda e o porque dele abdicar da sua imensa riqueza e o seu contraste com o Ketil. O flashback do Einar sobre o tema da opressão e toda a sua jornada na série reforçando esta ideia de lidar com estas violências diárias e o quanto a interação dele com o Thorfinn o muda como pessoa. O paralelo sobre o mantra do “Entulhe” durante o primeiro e penúltimo episódio. Eu poderia passar o dia todo citando cada linha de diálogo incrível que este arco possui, mas como o texto já está enorme, eu só digo que uma escrita ótima e tão elaborada como esta é algo que realmente não vemos todo dia, ainda mais quando era tão fácil o Yukimura se perder no meio de tantos personagens e temas.

E quanto a produção, eu só tenho a dizer que o Shuuhei Yabuta teve o maior comeback que eu já vi na indústria até hoje. Eu não consigo compreender como o responsável por dirigir um dos piores animes que eu vi na vida conseguiu dar conta de uma obra da magnitude de Vinland Saga com tanta maestria dessa forma em um espaço tão curto de tempo, porque o cara estava inspirado. As cenas mais dramáticas e marcantes como a do Valhalla, a audiência do Canute e Thorfinn e o ultimo diálogo com a Arnheid conseguiram ser tudo o que eu esperava, sendo tão catárticas e impactantes quanto eu me lembrava, com algumas até mesmo excedendo as minhas expectativas, vide a morte do Gardar, que conseguiu ser incrivelmente bela de uma forma que eu nem sequer esperaria. Eu não me lembro de ter ficado tão mexido com essa cena no mangá quanto aqui. As cenas de batalhas foram bem sólidas e consistentes, assim como as composições mais casuais e os cenários. Acho que talvez a única ressalva é algumas cenas não serem tão viscerais quanto no mangá, vide a cena dos 100 socos, mas eu estou deveras impressionado com o resultado final e o quão bom ele foi, mesmo com todos os problemas de cronograma dos bastidores e de como a direção conseguiu achar o ritmo certo para adaptar tudo isso de forma tão satisfatória.

E a direção não foi o único destaque nesta adaptação, já que o Yutaka Yamada também demonstrou um grande avanço na trilha sonora em comparação à primeira temporada, deixando o tom épico e extravagante do prólogo consideravelmente de lado e entregando um de seus trabalhos mais minimalistas até então. E mesmo tendo algumas faixas mais grandiosas em cenas como a invasão da fazenda, muito da força da trilha está calcado principalmente em melodias de piano que variam e se moldam de acordo com suas respectivas cenas.

Diversas faixas possuíam um tom bem ambiente com as notas e acordes sendo tocadas com longos intervalos de tempo entre uma e outra, criando uma aura mais meditativa nas divagações do Thorfinn e do Einar. Outras tinham um tom mais gentil, como a “saída” do Thorfinn do Valhalla e o icônico discurso do não tenho inimigos para o Einar, com a melodia de piano sendo suavemente coberta por delicados arranjos de cordas que evocava uma aura mais morna e aconchegante. Mas o ápice foram as faixas dramáticas como na cena da morte do Gardar, com a faixa constantemente mudando a sua velocidade de acordo com cada cena, sendo triste, bela e eufórica ao mesmo tempo e principalmente as trilhas do flashback da Arnheid e Sverkel, que você tem estas rápidas, cintilantes e oscilantes notas de piano florescendo conforme a cena avança que é absolutamente deslumbrante e emocionante, sendo uma das minhas faixas instrumentais favoritas já compostas pelo Yamada até aqui. Sem dúvidas, um forte concorrente que possivelmente entrará no meu top 5 de trilhas sonoras favoritas do ano.

E acho que a última coisa que falta pra se falar sobre esta adaptação é que de ela é indubitavelmente o meu anime favorito do ano e eu não consigo pensar em algum cenário que este posto possa ser roubado em 2023, pois parafraseando o Alan Moore, um verdadeiro autor não cria uma obra que o público quer, mas sim, uma obra que o público precisa. E considerando todo o atual cenário político e social que nós vivemos no mundo, não consigo pensar numa obra que represente melhor esta frase que o arco da farmland. Seja pelo quão ousada, corajosa e desafiadora foi a mudança de tom e temática da série e o quão ótima e incrível foi esta transição. Seja pelo quão humanos, fascinantes e bem compostos são o elenco no geral. Seja pelo quão ricos, profundos e multi camadas são os comentários sociais feitos aqui. Seja pelo quão impecável e extremamente bem estruturado é o seu enredo.

E principalmente por o Makoto Yukimura ter sido capaz de criar diversos paralelos da nossa sociedade contemporânea dentro um contexto histórico específico, mostrando o quanto vários problemas daquela época foram e ainda são perpetuados até os dias de hoje, mesmo após séculos e séculos, de uma forma extremamente perspicaz. E ao mesmo que isto traga um aspecto muito triste para a obra, mostrando de forma muito crua e seca o quão injusto, cruel e perverso o mundo pode ser, ele também lhe mostra que é exatamente por isso que você deve continuar lutando e fazendo o seu melhor para tentar mudar este horrível cenário de alguma forma, nem que seja sendo gentil com as pessoas que sofrem com esta violência que nos rodeia. Ele consegue ser comovente, poético, trágico e impactante, mas também belo e inspirador como poucas obras conseguem e eu só fico muito feliz e grato dela ter ganhando uma adaptação com toda a pompa que ela merece e que mais pessoas poderão ter a chance de apreciá-la. Excepcional.


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