SSSS.DYNAZENON e o estudo dos traumas coletivos

O Gridman Universe surgiu em 2018 de maneira tímida com a série SSSS.Gridman, que imediatamente se tornou um dos meus shows favoritos da última década, mesmo sem saber que se tratava de uma franquia com universo expandido. Seu diretor, Akira Amemiya, misturou tokusatsus populares junto dos estilos mechas mais ilustres de sua juventude em uma direção introspectiva que buscava uma abordagem íntima do psicológico de seus personagens, inspirado, por exemplo, no que Hideaki Anno fazia nos anos 90 – ele que também fora inspirado em tokusatsus em primeiro lugar. O estúdio Trigger, herdeiro espiritual da Gainax, orquestrou esse projeto que é uma carta de amor à cultura tokusatsu e mecha, indo além dos clássicos conflitos entre monstros e robôs gigantes ao fazer também o estudo de personagem e sua psique nas relações interpessoais. Uma execução muito mais delicada e cuidadosa do que se poderia imaginar em primeira instância; Gridman era a história de uma garota que perdeu a pessoa que amava e criou um mundo digital para escapismo, de modo a extravasar seus sentimentos como refletimos a respeito do final da série.

Um ano após sua estreia, em 2019, o projeto SSSS.Dynazenon foi anunciado, o segundo desse então intitulado Gridman Universe, que até sua estreia não deixava claro se era uma sequência direta do primeiro anime do universo, spin-off ou outra coisa. A questão é que o anúncio de Dynazenon trazia um grande questionamento sobre como essa franquia iria se superar em um novo show; como Dynazenon poderia se destacar tanto quanto Gridman sem parecer apenas uma repetição com a mesma fórmula e apelo. Qual seria a nova motivação para esta série?

SSSS.Dynazenon pode parecer como um spin-off, mas é, como o nome Gridman Universe sugere, outra série nesse mesmo universo; nem sequência, nem uma série anterior, mas um novo conto que assume papel independente, agora com inspiração em mechas como Dyna Dragon do seriado tokusatsu original Gridman: The Hyper Agent. O que quer dizer que esse novo anime buscou muito mais de uma estrutura de utilização de mechas do que tokusatsus como foi com Gridman – apesar de existirem acenos auspiciosos também para tokusatsus em diversos momentos. Além disso, para contribuir, sua estrutura narrativa está direcionada ao estudo de um coletivo de personagens e suas interações, aflições e traumas, sem focar no núcleo de único personagem como foi anteriormente. A própria ideia do mecha principal Dynazenon segue essa linha, pois requer a cooperação e a sincronização de quatro pilotos para estar totalmente operacional. Mas o que faz essas partes que o compõem brilharem ainda mais são seus problemas individuais, desenvolvimento e caracterização. Isso ficou perceptível logo em seu início, quando recebemos um pacote compacto cheio de simbolismo, enquadramento visual, direção e recompensas emocionais poderosas.

Ao contrário de Gridman, onde a maior parte do enredo se concentrava na figura de Akane, SSSS.Dynazenon está comprometido com uma distribuição mais equitativa em querer relacionar todos seus personagens, oferecendo uma proposta muito mais plural em substância e forma. É uma ideia simples, que já apareceu em outros títulos da ficção, mas que, na prática, é muito funcional. A narrativa da série se preocupa em explorar cuidadosamente a psique de todos os elementos de seu elenco e seus relacionamentos enquanto conjunto de indivíduos com problemas, e isso é explorado tanto na narrativa visual quanto no núcleo de seu texto. O fator humano é o protagonista.

Ao mesmo tempo, entendemos o que significa de fato o Gridman Universe, quando a própria introdução desse novo show aposta em um tom e direção muito semelhantes ao que vimos em Gridman, além do fato de existirem inúmeras rimas visuais, prenúncios, metáforas e composições que se repetem entre às duas séries. Longe de ser um recurso forçado e artificial, essa decisão estética e narrativa é extremamente interessante para gerar incógnitas sobre a conexão entre ambas obras, além de destacar a dualidade de tons e causar um efeito espelhado para as séries da franquia que são alternativas em um mesmo universo. A atenção meticulosa aos detalhes, o minimalismo que ostenta e a sua predileção por planos gerais, estética urbana e cenários de grande profundidade, excelentes ao nível de detalhe, facilitam muito a imersão nesse universo que é simultaneamente compartilhado e íntimo. SSSS.Dynazenon é outro trabalho fantástico de direção e storyboard desde o primeiro episódio.

Essas são apenas algumas da interminável quantidade de rimas visuais presentes.

Yomogi é um estudante do ensino médio que trabalha meio período para não depender tanto da mãe, que após o divórcio está disposta a reconstruir a vida com o novo parceiro; Yume Minami, colega de classe de Yomogi, é uma garota misteriosa com problemas familiares que parece encontrar alguma satisfação quando quebra as promessas que faz aos outros; Koyomi é um jovem adulto desempregado que passa a representar a figura típica do hikikomori na ficção; sua prima Chise, adolescente que mora com ele e não vai à escola e, finalmente, Gauma, um homem extravagante que afirma ser um “domador de kaijus” – aquele que talvez mais se destaque no elenco e que por conta disso tem mais cara de protagonista do que o próprio Yomogi – e que está em busca de uma princesa com quem prometeu encontrar-se há 5.000 anos.

A chave para “invocar” o robô gigante Dynazenon, uma espécie de brinquedo que se transforma, aparece na cidade para enfrentar os kaijus que de repente surgem por ali. É esse o gatilho inerente para o elenco de alguma forma começar a interagir e ter que salvar a cidade. Os personagens vagueiam sem rumo pela vida cotidiana até que um kaiju aparece e lhes dá um propósito: lutar contra os monstros com o Dynazenon. A tensão dramática lentamente se acumula ao longo do primeiro ato normalmente tranquilo e sutil de cada episódio, levando a um final normalmente cheio de intensidade e ênfase sempre que um kaiju é invocado e faz estragos na cidade. Uma pura e catártica alegria.

Yomogi está distante de sua família e recusando todo e qualquer apoio deles, visivelmente o personagem menos interessante inicialmente, enquanto o resto do elenco é envolvente o suficiente; suas vidas, medos e inseguranças são vividamente detalhados através de histórias e cenas íntimas silenciosas que são muito bem compostas pela ótima direção. Confrontados com seu passado, eles devem superar suas inseguranças, conforme novas camadas de seus problemas surgem com o passar dos episódios.

Por que Koyomi acabou trancado em seu quarto e preso ao seu passado, lamentando uma decisão feita nos dias de escola e sem perspectiva do futuro – e como isso é desbloqueado durante a série a partir do encontro dele com uma pessoa conhecida da época; porque Chise não vai à escola e tem um sentimento de não se encaixar; como Yume se abre mais para os outros enquanto tenta arrumar coragem para descobrir mais sobre sua falecida irmã mais velha e a verdade sobre sua morte – graça aos apoios de seus novos amigos -, e a aventura espaço-temporal de Gauma, que ressuscitou após 5.000 anos de sono nesta realidade, com o propósito reunir-se com uma princesa e evitar que seus ex-colegas – agora rivais e vilões – os eugenistas kaiju, assumam o controle dessas criaturas para dominar a humanidade. Muitas dessas questões possuem paralelos entre si, embora não se cruzem necessariamente. Isso vai ficando mais claro ao decorrer da trama.

Os eugenistas são um grupo que também acaba se envolvendo com o elenco principal de maneira direta ou indireta, recebendo atenção narrativa de forma que se torna possível ter simpatia como resultado, afinal também são pessoas de personalidades e problemas próprios. Mujina, por exemplo, demonstra a mesma solidão sem saber que caminho seguir e acaba contrastando com Koyomi e seu desenvolvimento durante boa parte do tempo. A narrativa visual colabora e expressa muito mais alegorias sobre os sentimentos dos personagens do que seria necessário com diálogos expositivos.

O guarda-chuvas formando um coração na primeira imagem, o guarda-chuva apenas de Mujinana segunda. Toda sua utilização para representar os sentimentos deles.

Dynazenon oferece uma premissa simples, que gira em torno do enredo fantasioso de Gauma, mais direta e menos enigmática do que a de Gridman; mas, apesar disso, não está isenta de sucessivas incógnitas que imprimem camadas de desenvolvimento de personagem. Seu mundo agora não gira em torno de um indivíduo – como acontecia em Gridman – mas se expande, abraça o elenco e interconexões sem fim. Prova dessa pluralidade são as diferentes ligações que vão surgindo temporalmente. O conceito de plural também se estende à própria consciência e às ações dos protagonistas, eles têm uma certa responsabilidade ligada ao seu estatuto e às suas ações. Esse aspecto da série também serve de ímpeto para os próprios personagens tentarem resolver seus próprios conflitos.

Por herdar e homenagear a essência dos mechas e tokusatus, Dynazenon obviamente mostra sequências de robôs gigantes lutando contra monstros estupidamente maiores. Cada kaiju tem um poder e design distinto, um real apelo em homenagem às séries clássicas, pensados ​​de forma muito criativa. Certos poderes kaiju testam a mente, as memórias e o trauma dos personagens. Se alguém enfrenta um obstáculo, seja físico ou mental, isso fica evidente na forma como lutam como Dynazenon. Se um deles estiver com algum problema e, por consequência, desligado do robô, não funciona. Parte de seu crescimento como equipe é lidar com problemas individuais juntos. Começando como estranhos aleatórios, eles se tornam bastante unidos ao passar dos episódios.

Não só diversos quadros de grandes composições que se assemelham a pinturas, mas há uma ótima utilização da iluminação para criar uma plastificação e passar a sensação que de fato os personagens estão pilotando uma versão gigante de seus brinquedos.

A aparência grotesca pode ou não agradar a quem assiste, mas é uma boa variedade de designs muito bem utilizados com o CGi do estúdio Graphinica com o apoio total dos talentosos artistas do estúdio Trigger que entregam sequências bem animadas e boas composições em todos os episódios.

Todos os robôs, brinquedos e derivados que surgem são bem pensados para fazer propaganda de suas figuras comerciais. As poses dos robôs e dos kaijus sempre são legais e a fotografia do anime utiliza talentosos artistas especializados em frames de impacto para inserir diversos quadros maravilhosamente desenhados e causar forte impressão com a mais pura empolgação na hora da ação.

Exemplo de sequência com inspiração no estilo Kanada por Gen Asano, Ichigo Kanno e Yuuto Kaneko.

O destaque da ação de boa parte das cenas de batalha da série é a atuação no estilo Kanada entrelaçada em diversas sequências, inclusive no confronto final. É muito inteligente a forma como utilizam o tamanho limitado dos cockpits, permitindo que os personagens se movam rapidamente “para dentro”, uma sensação diferente de vai e vem nesse espaço para adicionar um toque extra de emoção, além de todas as sequências com frames de impacto: normalmente com a utilização de traços vazando dos personagens e contornos grossos e bem detalhados entre as animações-chave. 

Mesmo com a utilização de storyboards padrões para uma série de mecha em boa parte das batalhas, em que já se espera que o robô surja fazendo uma pose legal e anunciando um grande ataque, por exemplo, a composição de cada sequência de ação é feita com paixão e capricho absoluto de artistas declaradamente fãs de obras do gênero, tudo isso é uma homenagem afinal; o trabalho de animação, trilha sonora e storyboard sempre entregam um resultado no mínimo empolgante se você está engajado com a história. É difícil não se empolgar com a música do Dyanzenon enquanto ele se transforma; as variações nos designs dos mechas e suas transformações são igualmente bem executadas, alguns até mesmo referenciam figuras antigas diretamente como é o caso do Gridknight Fight.

São muitas sequências bem animadas que intercalam 2D e 3D em puro êxtase e dinamismo de batalha. Cena animada por Gen Asano, Kazuki Ito e Kenta Yokoya.

Um acerto de SSSS.Dynazenon é que não há explicações prolixas para poderes, kaiju e robôs, tão pouco uma exposição completa acerca dos eugenistas ou do passado de Gauma – apesar de darem pistas o suficiente no episódio 10 para isso ser debatido e os fãs interpretarem como desejam – afinal, este não é o foco da narrativa (nem tudo precisa ser explicado, aceite!). Se recebemos novas informações, é por testemunhá-las, em vez de ouvir explicações a respeito. Os elementos de ficção científica, como os mecanismos de controle, mantêm uma lógica interna que é comum a outras obras e clássicos do gênero. Amemiya encontrou seu nicho e o refinou, a utilização de um roteiro mais pessoal abre espaço para explorar todo o trabalho de personagem e suas conexões ao invés de perder o tempo com exposição sobre a casca do seu universo. É claro que, se tratando de arte, é importante ter interesse na obra para enxergar o que ela quer propor e então desfrutar de sua execução.

O amor e o domínio da equipe por esses gêneros é tanto que eles exemplificam isso diversas vezes ao fazer sátiras sobre, mas mantendo todo o respeito como carta de amor que é: a reação indiferente do restante daquela sociedade ao fato de que monstros e robôs gigantes estão destruindo cidades é um bom exemplo. Não há pânico social e tão pouco vítimas e grandes ameaças reais ao mundo. Dynazenon adora brincar com esses fatores de expectativas em relação às outras séries da categoria, e ao próprio SSSS.Gridman que é ambientado em mundo onde as cidades se auto-reparam após cada ataque.

O catártico episódio 10 (spoilers adiante)

Abrindo uns parênteses na análise macro, como arrependimento por não ter feito um texto para este episódio em particular anteriormente, vamos entrar bem brevemente nas questões do fantástico episódio 10. Se preferir, pode pular direto para a próxima parte da batalha final (com spoilers) ou a conclusão nos últimos parágrafos.

Assim como aconteceu no incrível episódio 9 de SSSS.Gridman, o mundo dos sonhos foi utilizado em Dynazenon no episódio 10 a partir da aparição de um Kaiju que prende os personagens dentro de uma ilusão. Neste mundo ilusório, cada personagem enxerga uma oportunidade de redenção em cenários já vividos em seu passado. O melhor de tudo é que ambos episódios deixam a marca registrada do incrível novato Kai Ikarashi, artista que estreou no brilhante episódio 09 de Gridman como storyboarder, retornando no décimo episódio de Dynazenon para trazer um estilo nada ortodoxo, como a mesma base de direção abstrata do 9º de Gridman, resultando em uma execução incrível em todos os aspectos. É uma mudança radical no estilo da animação, experimentação metafísica utilizada de modo extremo para refletir ao máximo o interior de cada personagem; em simultâneo, encaixa-se no contexto narrativo de modo que mesmo quem não aprecie tais composições experimentais consegue entender que o contexto de mundo dos sonhos e ilusões, em que algo certamente está errado, é bem representado pela mudança estilística de sua execução. O Kevin do SakugaBooru tem um artigo completo apenas sobre as questões técnicas desse incrível episódio e as pessoas envolvidas.

Narrativamente, o episódio 10 de Dynazenon faz com que o elenco retorne para momentos-chave que estão diretamente relacionados a esses seus arrependimentos e ao núcleo narrativo de cada um. É uma oportunidade de se redimir ou de fato ter algum tipo de redenção com algum evento passado que deixou cicatrizes. No entanto, o protagonista Yomogi é o único que possui diretamente uma ligação com a realidade durante essas ilusões, uma vez que ele corre e salta entre os sonhos dos outros personagens e se machuca ao quebrar o vidro que separa os passados de cada um (o mundo das ilusões) da realidade. Koyomi adquire também a cicatriz de S e Yume junta seus ankhs novamente após entender sua irmã e voltar para realidade. Sinal de trauma superado e relacionamento restaurado com sua irmã, enquanto os outros personagens vivem situações passadas que tendem a curar suas angústias ou prendê-los pela nostalgia ilusória. 

Em certo momento, próximo do fim da série, os quatro personagens com mais destaque no elenco principal possuem compartilham da cicatriz em formato de S.

Toda essa execução tem as ideias e supervisão de Ikarashi, que exagera para brincar com as ilusões óticas e abstração que a animação permite enquanto mídia, utiliza poses exageradas, mistura a falta de fluidez realista com angulações distorcidas, mas que, ao mesmo tempo, soam como movimentos mais orgânicos do que o que estamos acostumados em animação. Os limites são testados novamente e o estilo Kanada continua marcando presença.

Sequência absurda de Ken Yamamoto no episódio 10 utilizando algumas das técnicas e conceitos mencionados.

O resultado é uma experiência emocional que atinge o auge do desenvolvimento de boa parte do elenco, assim como também serve como uma reflexão que refresca o espírito de todos eles que passaram o dia nesse mundo irreal, enquanto Yomogi passou o dia pulando de sonho em sonho, até enfrentassem o kaiju responsável por tudo ao fim do dia. O que resta, após isso, é um confronto final que definiria a conclusão da obra.

Batalha Final

A batalha final de Dynazenon se resume a uma luta com os eugenistas, é claro, com o elemento distintivo desta última vez sendo que eles estão todos unidos em seus próprios kaijus combinados, o gestalt definidor do elenco principal. Mas não é apenas o poder de trabalhar em conjunto que permitiu a vantagem ao grupo Dynazenon, mas sim a própria compreensão de seus aliados e de si mesmos, a partir do que ocorreu no ápice de seus desenvolvimentos – episódio 10 – que os empurrou para frente.

Os eugenistas, que renasceram há 5.000 anos, ainda estão presos ao passado, como é possível observar com Mujina furiosa agindo como se controlar monstros fosse a única coisa que ela pode fazer na vida ou Juuga ainda se esforçando para entender por que Gauma os traiu. Eles estão muito preocupados com essas questões passadas, como exemplifica Sizumu, em dado momento do episódio final, que fica em silêncio e se questiona sobre o motivo de Yomogi, que tem o potencial para ser um poderoso usuário Kaiju, não abraçar esta causa se juntando aos eugenistas.

Gauma, ao contrário, é o usuário Kaiju que causa todo o impacto sobre os jovens que estão seguindo para os próximos estágios de suas vidas. No final Gauma acaba falecendo, mas ele alcançou um entendimento saudável com sua própria mortalidade anteriormente negada. Ele finalmente entende porque lhe foi confiado o Dynazenon, podendo assim deixar de ficar obcecado pela princesa e encontrar novos laços para fazer sua vida valer a pena viver com seus amigos, sua experiência juntos gravou cicatrizes em seus corpos (duas imagens acima) para que eles nunca se esquecessem de seu tempo como a equipe Dynazenon.

Ele não poderia alcançar a princesa neste mundo, mas ele poderia alcançar outro grupo de pessoas detidas pelo desenvolvimento que precisavam dele para formar essas conexões consigo. Há uma implicação ambígua no final de que o Dynazenon revivido no mundo digital – aparentemente o mesmo mundo de SSSS.GRIDMAN – poderia trazer Gauma de volta com ele, mas até que o recém-anunciado próximo projeto de sequência dê continuidade a isso, é a confirmação menos importante de seu destino; Gauma vive principalmente no futuro dessas pessoas que ele reuniu e as cicatrizes que fizeram juntos é sua imortalidade.

O episódio final, depois dessa última batalha, ainda encaixa um corte de quase um minuto de dois personagens cruzando a ponte e conversando enquanto os créditos surgem em tela e separam o ato da batalha final do epílogo seguinte; uma demonstração da delicadeza da direção que é um dos grandes pontos fortes de toda a série tanto no aspecto macro como individualmente em cada episódio.

Com o epílogo, passado 3 meses, vemos o fechamento do ciclo. Sendo o único adulto no grupo, faz sentido que Koyomi tivesse o progresso mais claro entre os personagens do elenco. Seu crescimento é bem definido, não necessariamente quando ele consegue um emprego como auto realização, mas na forma como ele fez isso. Por outro lado, em comparação com seu crescimento nítido, temos sua prima percebendo que já não se interessa tanto em ser uma hikikomori e tenta seguir adiante. É um pequeno passo, mas. mesmo assim. um passo adiante, principalmente porque sozinha ela não conseguiria. Chise revelando que Yume a salvou em um episódio mais ao início da série demonstra isso. É uma cena poderosa subjacente ao tema de Dynazenon e é paralela à cena de Gridman, onde Rikka e Akane têm uma conversa semelhante (uma das imagens que exemplificam as rimas visuais entre as séries, no início do texto, demonstra essas cenas).

Yume isolando-se.

Os problemas de Yume ao lidar com sua irmã falecida é o primeiro gancho temático forte que examina os temas do trauma e o avanço ao deixar superar o passado. Ao vê-la lutando desesperadamente para encontrar respostas, se reconciliar com a pessoa que ela perdeu e os arrependimentos que ela carrega, Yomogi encontra seu caminho enredado e extasiado, juntando-se aos problemas da garota sendo como um farol. Embora Yomogi tivesse problemas com os pais devido às mudanças em sua vida familiar, ele serviu de equilíbrio para as questões pessoais de Yume. Na verdade, Yomogi age cordialmente com o namorado de sua mãe neste fim, enquanto Yume ainda busca períodos de isolamento ao interagir com seus outros colegas de classe. É apenas através de sua conexão previamente forjada com Yomogi que ela é conduzida de volta de dentro de si mesma, enquanto o próprio Yomogi a procura especificamente como a pessoa que ele mais gosta de ter por perto.

Yume e Yomogi estão juntos no sentido formativo, mesmo que, como acontece com a maioria dos elementos desta história, fique ambíguo se eles estão oficialmente namorando ou não – apesar de que Yume pedir para ele chamá-la pelo primeiro nome seja um indicativo -, mas ainda se encontram em lugares diferentes avançando e lidando uns com os outros.

Essa é a mensagem sobre a natureza solidária do trauma compartilhado, representado com Yomogi e Yume segurando suas cicatrizes que possuem tanto significado, um ao lado do outro, e esperando que fiquem com elas para sempre. Dynazenon passa uma mensagem que é profunda desde aquela franquia de décadas atrás: apesar de todos os problemas, você não está sozinho.

SSSS.DYNAZENON

Dynazenon não foi especificamente sobre a jornada árdua por um personagem singular, mas uma obra sobre várias pessoas em diferentes fases de suas vidas, e como este momento que passaram juntos os afetou. SSSS.Gridman começou com a tomada de Gridman e seus assistentes se separando em estrelas espalhadas, apenas para passar a série se unindo com o propósito de ajudar uma pessoa. SSSS.Dynazenon, enquanto isso, termina seu conflito final espelhando a sequência de dispersão desse brilho, continuando a mostrar como essas pessoas separadas seguirão seus próprios caminhos a partir do que conseguirem em suas experiências juntas. As siglas de S.S.S.S. dos títulos concretizam este fato enquanto contrastam ambas séries: enquanto em Gridman era Special Signature to Save a Soul (Assinatura especial para salvar uma alma), em Dynazenon é Scarred Souls Shine like Star (Almas com cicatrizes brilham como estrelas).

SSSS.GRIDMAN x SSSS.DYNAZENON

Além disso, Dynazenon é uma obra de artistas apaixonados pelo projeto. Pode não ser um grande orçamento para atrair a atenção do público geral, afinal é também um produto nichado, mas o que tem de talento, ambição e coração fica muito claro e transborda em tela em vários momentos. Ainda assim, brilha tecnicamente ao olhar dos atenciosos e entusiastas; cada momento, plano, linha de diálogo têm um significado, ele supera a maioria com uma edição e direção atenciosa, enquadramento cuidadoso de cada storyboard, atuação expressiva do personagem e linguagem corporal detalhada e arte de fundo complexa. Sinceramente, a quantidade de boas composições e sequências é tão absurda, mesmo nos atos mais simples de cada episódio, que se impossibilita demonstrar em um único texto; é a experiência de assistir atentamente que mostrará enfim toda essa fenomenal execução.

Seus criadores não esconderam que tudo é propaganda para o original Gridman: The Hyper Agent, uma carta de amor para um tokusatsu dos anos 90. Mas, quer você tenha experimentado isso ou não, quer pegue as incontáveis ​​referências a outros títulos do gênero, tanto Gridman quanto Dynazenon têm uma habilidade incrível de atraí-lo e deixá-lo tão animado quanto qualquer entusiasta desses gêneros. De certa forma, o maior triunfo dessa franquia tem sido sua capacidade de se vender, pois, usa todos os aspectos do anime a seu favor, projetando uma obra de arte que revela mais informações através de seus visuais do que através de um simples diálogo. Muitas cenas são cortadas antes que o diálogo termine, interrompendo abruptamente todos os sons de fundo. Cada corte é proposital; dá-nos uma noção de como os personagens se sentem e em quais informações significativas devemos prestar atenção.

Como todo grande anime de ficção científica, a história que SSSS.Dynazenon conta é menos sobre robôs gigantes lutando contra monstros e mais sobre a condição humana. Menos enigmático e mais sólido em sua simplicidade, é sobre a conexão de um grupo de pessoas, arrependimentos do passado, encontrar um propósito na vida e seguir em frente. Efetivamente transmitindo uma vasta gama de emoções com criatividade, direção absurda e escrita sólida; de uma equipe de artistas apaixonados pelo que estão fazendo, com espírito tanto de homenagem às antigas séries como de identidade própria. Dynazenon não se esforça para emular os clássicos. Em vez disso, ele confiantemente cria seu próprio nicho no gênero mecha – habitando um espaço entre o realismo e a fantasia científica. Amemiya e sua equipe fazem uma expansão muito positiva do universo, principalmente para quem se sente atraído pela sua proposta; SSSS.Dynazenon não é SSSS.Gridman e isso é a melhor coisa que poderia ter acontecido. É uma excelente obra.

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