Uma interpretação do final de SSSS.Gridman

SSSS.Gridman acabou com uma repercussão interessante pelas grandes referências à antiga série, a tokusatsus e mesmo ao gênero mecha. O episódio final, principalmente sua última parte, abriu um leque de interpretações e hipóteses do que poderia ter ocorrido, o que ocorreu de verdade, mesmo com algumas facetas muito bem explicadas durante a série. Este texto não será uma análise completa do anime – pois o mesmo deverá sair em breve pelo Nick -, também não me estenderei aos detalhes da espetacular produção de animação deste episódio, mas abordarei uma interpretação do final que escrevi a partir de uma reflexão do que foi executado e do que discuti em alguns cantos.
O final me abriu algumas interpretações. A série toda pode ter sido um “sonho” da real Akane, ela estava literalmente dentro de algum mundo que ela criou – a partir de seu sonhos – graças ao amor pelos tokutasus e mecha. O que mais gosto de acreditar, no entanto, é que os alienígenas da série antiga, ou o próprio Alexis especificamente, a colocaram diante deste “mundo virtual” permitindo que a garota manipulasse sua própria realidade para florescer sua emoções – ou então ela criou a relação com os seres intergalácticos ao usar este mundo como escapismo para a realidade após ter deixado para trás uma pessoa que amava. Alexis concedeu a ela este poder, e a existência dessas criaturas faz sentido uma vez que a série se passa no mesmo universo do antigo Gridman.
O motivo disso é um tanto óbvio. A Akane real, mostrada no final do último episódio, não era só uma fã de tokusatsus, kaijus e talvez da própria séria antiga de Gridman, mas também uma hikkikomori esclusa, isolada. Ou pelo menos ela estava nesta forma no momento. Não é difícil pensar que ela tem ligação direta com a personagem Akane da antiga série de Gridman. Desta forma, com ajuda de Alexis, a garotacriou um mundo em que não tinha falhas, em que todos a idolatravam – e ela ainda poderia conciliar o seu gosto pelos Kaijus em ter um quarto repleto de action figures e a própria habilidade de criá-los, destruir e consertar a cidade sempre que quisesse resetar suas vontades egoístas. Para além disso, visualmente a garota pegou para si a estética que considerava perfeita: seios e um corpo em geral farto, uma idealização sexualizada do que ela acreditaria que todos iriam gostar.
As pessoas dentro desse mundo representavam partes dela. Rikka, como já dito, era a alegoria a pessoa que ela “perdeu” e queria ser amiga no mundo real. Yuuta representava uma parte mais justa de Akane, inspirado diretamente no símbolo de justiça advindo das séries [Gridman e Tokusatsus] que ela tanto gosta.
Dentro dessa matrix de idolatria da Akane, todos queriam estar próximos a ela. Rikka tinha um papel mais central nesta parte por ser a representação do que a personagem ansiava ter ao lado. Yuta, a parte mais honesta e de justiça de Akane, era a “falha” desse sistema no entanto. Enquanto Rikka adorava Akane, sendo um script rodando monotonamente (ao menos no início), em que a real Akane queria ser amada e queria uma amiga igual, Yuta tinha mais adoração e guardava seus sentimentos para Rikka – como foi possível perceber por quase toda a série, e mesmo por uma cena específica deste último episódio em que ele, isolado na sala, troca olhares com ela (acima) – formando uma rejeição ao deus deste lugar, Akane. O fato de Yuta ser único a não respeitar cegamente a programação “adorar Akane” nesse mundo permitiu ao Gridman criar uma conexão mais próspera com ele. Yuta era como uma pequena parte da Akane que realmente gostava de si própria no mundo real, ao invés do que ela se tornou fantasiosamente nesse mundo. E foi graças a isso que Gridman pôde agir, a auto aceitação ocorreu graças a este lado da própria garota, em seu mundo, que permitiu que ela saísse de seus transtornos mentais a partir de uma dose de justiças e batalhas contra Kaijus.
A batalha final representou a síntese disso: A justiça – Yuta no seu ápice de conexão com o próprio Gridman – derrotou Akane (e, consequentemente, Alexis que era a representação da depressão da garota que cada vez a afundava mais neste mundo), fazendo com que a auto-aceitação da garota viesse logo em seguida: Por ter conseguido sua própria valorização, graças a Yuta/Gridman, na cena final Akane despertou de sua matrix e retornou ao mundo real.
Mas, antes disso, na cena final do mundo 2D, Akane com Rikka simbolizaram bem como a garota tinha voltado a si mesma ao se arrepender de tudo que fez, por ter sido imatura, egoísta, insensível. Rikka, além disso, queria ficar na presença de seu deus literal neste momento. A personagem teve um desenvolvimento próprio nos episódios finais e percebeu melhor que ninguém essa situação toda, ela já não era apenas um script monótono nesta parte. Rikka percebeu que Akane tinha que ir, percebeu o quão imprudente era para Akane ficar trancada dentro desse mundo virtual. Rikka já sabia neste momento que hora de seu deus retornar ao seu mundo (o mundo real) já tinha chego, a personagem apenas apreciou seus últimos momentos junto daquela que considerava sua amiga – fazendo novamente um paralelo com Akane e sua auto aceitação.
Concluímos, dessa forma, que SSSS.GRIDMAN é  uma história de uma garota nerd e  introvertida que, depois de deixar para trás a única pessoa que amava, ficou tão dominada pela vida real que buscou refúgio emocional em um mundo digital próprio criando também um ser intergaláctico que conversava com ela. Uma história sobre escapismo que não a condenava, como era naquele mundo fabricado onde ela conheceu pessoas – todo o elenco do anime, e principalmente Rikka – criada como alegoria da pessoa que ela perdeu, mas que ao final também a empurrou para finalmente seguir em frente. A cena final da série, com imagens da vida real de Akane acordando em seu quarto bagunçado (imagem acima), fecha o tema de maneira exímia.
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