Aya to Majo (2020): A nova fantasia 3D da Ghibli

Sobre
Na Inglaterra dos anos 1980, uma mulher que diz que está fugindo de bruxas, deixa sua filha, Aya, em um orfanato com apenas uma fita cassete para se lembrar dela. Dez anos depois, a menina sente que está no controle do orfanato e não quer morar em nenhum outro lugar. Essa decisão sai de suas mãos quando um casal estranho a escolhe, apesar de seus esforços para dissuadi-los. Aya torna-se a “mãozinha extra” para uma bruxa e um individuo bizarro e irritado que controla de demônios chamado Mandrake – mas ela rapidamente decide que aprenderá a fazer magia e, eventualmente, terá o controle desta casa também.

Análise
Antes de falar sobre o filme, é importante lembrar de ele adapta um romance escrito por Diana Wynner Jones — que já teve seu trabalho adaptado em anime pela Ghibli anteriormente com Howl’s Moving Castle – e essa história está inacabada; a autora faleceu antes de terminar a obra original de Aya to Majo. Dessa forma, os personagens e a direção do filme vão soar insossos, pois sua narrativa carece de um clímax e desfecho, passando a sensação de estar incompleto ao seu término. Poder-se-ia, então, questionar o motivo da escolha de uma obra inacabada para uma adaptação animada, mas me parece muito clara a homenagem que a Ghibli concede a autora com esta animação, depois de tudo o que ela deu e inspirou em tantas décadas com suas histórias.A história trata-se daquele clássico conto sobre o órfão adotado por uma família de índole bastante questionável e gostaria com certeza de escapar de seu novo lar. Não apresenta relações e desenvolvimento humanom comumente encontrados em filmes passados do estúdio; é uma narrativa simples. A dinâmica da série funciona, no entanto, pelo carisma da protagonista Aya em ser manipuladora e afrontosa enquanto possui uma inocência infantil.

Ela é uma garota bastante precoce, leitora ávida de romances mais avançados do que sua idade, mas também bastante capaz de encantar ou manipular as pessoas aos seus caprichos; no começo do filme ela está totalmente convencida de que controla o orfanato e pode conspirar contra qualquer um para cumprir suas ordens, se houver tempo suficiente. Essas suas características se contrapõem ao possível clichê da garota tentando fugir do novo lar com seus novos “pais vilões”.

A corpulenta bruxa Bella Yaga e a anormalmente alta e magra Mandrake — os pais adotivos da garota — tornam-se seus novos alvos de dominação, e desta vez vemos como ela os coloca sob seu controle. Absolutamente nada de estranho a perturba muito, e no espírito clássico de histórias infantis, ela nunca parece se sentir ameaçada ou ficar à mercê de ninguém, apesar de estar em uma situação que deveria ser muito perturbadora. Afinal, ela é a garota que acabará no comando. A forma como Aya lida com a sequência de eventos e descobre os meios junto do seu companheiro gato para usar a magia e os vilões ao seu favor, a fim de tomar controle da situação, é a parte mais divertida do conto.Também é fácil notar que magia de Aya To Majo têm presença e potencial, mas não são elaborados. Isso também faz que o mundo e o cenário do filme sejam muito menores do que os de outros filmes do estúdio.

A história progride em um ritmo evidentemente relaxado para um filme que tem apenas 82 minutos de duração e termina rápido demais, o que contribui para sequer passar uma sensação de preocupação ou perigo real para a afrontosa Aya. Até mesmo uma das revelações mais legais — e maiores irônicas — do filme não é bem elaborada a tempo, pois a conclusão do filme — e não da história, já que está inacabada — logo chega. Os poucos minutos amarram o enredo em uma velocidade vertiginosa. A cena final que deveria ter sido a preparação para uma reunião emocionante quando a mãe da protagonista finalmente retorna é, em vez disso, um encontro morno.

Colocando olhares na produção do filme, temos a informação de que ele foi, em teoria, produzido inteiramente pela equipe mais jovem do estúdio sob direção de Goro Miyazaki, afastando a contribuição dos artistas mais velhos. Isso explica a diferença drástica do filme com qualquer produção anterior da Ghibli, propositalmente pensada pelo Miyazaki filho que já disse em entrevistas que não queria somente fazer “cópias bem-feitas” dos filmes já criados com o estilo carimbado da Ghibli — o que o fez optar pela computação gráfica.

O longa utiliza técnicas de CGi mais inspiradas em desenhos ocidentais, talvez especificamente nos desenhos europeus que também não possuem tanto orçamento empenhado em sua execução. Os personagens são mais arredondados e com senso de profundidade, em um ambiente bem detalhado e até boas expressões faciais — Aya mostra verdadeiramente um show de expressões e caretas durante todo o filme.

Por outro lado, além da pobreza em efeitos especiais — apesar desse filme não exigir muito disso em boa parte do tempo —, a modelagem 3D dos personagens aparenta uma plastificação endurecida; muitos elementos que deveriam ser leves e naturais aparecem rígidos com movimentação reduzida — característica que pode ou não ter sido consequência do curto prazo de produção e baixo orçamento disfarçado pelo estilo adotado por Goro. Os cabelos dos personagens talvez sejam os exemplos mais claros do que estamos falando.

Os rascunhos no encerramento no filme dão uma ideia de como poderia ser o filme na estética 2D convencional da Ghibli.

Ainda assim, o trabalho no detalhe de alguns cenários e a paleta de cores ajudam a garantir algum charme na estética geral do filme mesmo quando se misturam com os elementos 3D dos personagens que podem soar desagradáveis para alguns espectadores.

Partindo para as composições, eu não diria que a trilha sonora possa competir com as maravilhosas músicas de Princess Monoke, Howl’s Moving Castle, My Neighbour Totoro, Porco Rosso e outros clássicos, mas ainda é muito agradável. Ela é entregue por Satoshi Takabe, que anteriormente colaborou com Goro Miyazaki em From Up On Poppy Hill e Ronja the Robber’s Daughter. As composições variam entre os tons leve, alegre e sentimental, exatamente o que seria esperado de um filme claramente planejado para ser amigável para o público mais jovem. Mas ainda há tons de rock leve tocados pela banda da mãe de Aya.

Apesar de apressar as coisas no final por um problema evidente e circunstancial, possuindo um mundo menor do que outros filmes da Ghibi, Aya to Majo é um longa despretensioso em que é possível se divertir ao se permitir — todos os personagens têm uma dinâmica forte que é a essência do filme. Como sempre, uma produção Ghibli que serve como entretenimento para todas as idades apesar do seu apelo juvenil e do estilo de animação mais ocidental e menos esteticamente cara de Ghibi — o que poderia afastar as pessoas que dizem que não possui a mesma essência de outros filmes. Se fizer a sua preferência, apenas curta o filme pelo que ele é.

Agradecimento especial aos apoiadores:

Victor Yano

Apolo Dionísio

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