Toda a pureza de Adachi no Shimamura

Quando anunciado, Adachi no Shimamura foi um dos animes que eu mais estava torcendo para dar certo. Principalmente por ser mais uma adaptação de um yuri (ou GL, como preferir chamar), que sempre acabam chamando a minha atenção, mesmo tendo algumas adaptações como Citrus e Netsuzou Trap que acabam se provando uma falha no fim do dia. No entanto, devo dizer que felizmente Adachi não está nessa categoria, é uma série que se provou como uma bela e agradável surpresa em meio a temporada onde estava sendo exibido, em que talvez a sua maior qualidade tenha sido conseguirem criar essa história de romance muito doce e inocente, mas ainda assim consegue soar crível e verdadeira, ao invés de algo irreal e inverossímil.

O principal fator para isso acontecer é sem dúvida o elenco de personagens. Especialmente a Adachi, sendo de fato a personagem que rouba a cena durante praticamente toda a obra, ao ponto de mesmo algumas pessoas considerando-na uma Tsundere, penso que rotulá-la como tal um equívoco, já que ela vai além disso. O problema de Adachi não se resume a negar os seus sentimentos ou rejeitar a Shimamura por orgulho, mas sim, o medo e a insegurança de transmitir esses sentimentos, com anseios que conseguem ser tão palpáveis que acaba sendo muito difícil você não sentir empatia ou remorso da garota em algum momento durante a obra. Além da questão da rejeição, há o medo da suposta estranheza que poderia surgir caso a Shimamura não fosse homossexual, o que poderia desmanchar a amizade delas. Mesmo nas entrelinhas, a obra mostra que a Adachi não teve a melhor das criações, além do fato dela sempre ter sido isolada, a mãe dela é um tanto ausente, e não se preocupa em tentar entender ou oferecer qualquer tipo de suporte e conselho para ela, ao ponto de deixar ela até um tanto abandonada; isso só agravava a carência e a dificuldade de se expressar da Adachi. 

A Shimamura também foi uma personagem intrigante, era curioso o quanto ela parecia uma espécie de versão muito fria e impassível da Yuu de Yagate Kimi Ni Naru, especialmente pela imensa indiferença na forma como ela tratava as relações com as pessoas ao seu redor e a maneira que ela nunca tentava se abrir ou até mesmo confiar em alguém, mantendo essa distância em que ela cita durante a obra; ou a questão dela preferir cortar as relações do que tentar reparar algum problema, caso aparecesse, que só fazia toda a relação entre a Adachi se tornar algo ainda mais delicado, visto que por mais que ficasse evidente que a Shimamura gostava da Adachi como amiga e tudo mais, eu sempre ficava incerto se o sentimento era algo realmente recíproco, já que ela nunca demonstrou estar apaixonada pela Adachi durante a obra quase inteira. Este ponto só me deixava curioso para saber o desfecho, além de fazer com que esse ritmo e progressão muito lento se tornasse algo muito orgânico, fluído e convincente para o que a obra estava apresentando, sem ser arrastado, cansativo ou forçado como acontecia em outras obras de romance.

Outro destaque que tenho que exaltar é a produção. Todo o staff parecia muito focado em criar um clima consistentemente etéreo para toda a obra. Desde cenas como o do Karaokê, em que no momento em que elas cantam, a cena se transforma em uma espécie de flashback, transitando com cenas ocorridas após isso, que soava como se fosse uma espécie de fluxo de consciência; assim como as trocas dos formatos de tela cheia para Widescreen durante determinados momentos com as narrações em off, como no encontro de natal, que dava a mesma sensação; até momentos onde a fotografia se destacava como nas cenas do galpões, com esse tom muito azulado, que dava uma atmosfera bem relaxante e um tanto aquática, ao ponto de criarem um paralelo bem interessante no episódio 11, em que quando a Adachi está sozinha e deprimida, soa como se estivesse chovendo dentro do local, com as gotículas encostando na tela; fora as várias cenas e composições que têm essa estética psicodélica e até um tanto abstrata às vezes, que só reforçava ainda mais essa sensação de que todos os sentimentos delas estavam sendo representados através do que seriam sonhos ou devaneios das próprias personagens. Eu gostei bastante, é quase como se eu estivesse vendo uma versão experimental e introspectiva da direção de Asagao no Kase San.

Em geral, gostei muito do anime. Tirando certos aspectos, como a questão de alguns personagens que não foram tão bem aproveitados e desenvolvidos na trama, foi uma série bastante consistente e concisa naquilo que ele quis explorar. Ao ponto de que mesmo não sendo uma obra tão excêntrica e ousada como Yuri Kuma Arashi, ou tão meticuloso como o já citado Yagate Kimi Ni Naru, ainda assim conseguiu ter aspectos e elementos que conseguiram fazer do anime uma obra que eu considero bem marcante dentre as adaptações do gênero. Muito bom.

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