Oregairu 3 #10 | Análise Semanal

Oregairu está enfim caminhando para os “finalmentes”, e com isso temos vários pontos para se analisar com relação ao que os personagens [não] estão decidindo, além dos fatores implicantes.

 
Yukinon tem muitos problemas, mas o que chama a atenção nesse capítulo é sua família. Ela provavelmente acredita que eles serão um fardo para Hachiman se ele assumir um papel maior em sua vida. Se isso de alguma forma te lembra do conflito entre os Montéquios e Capuletos, eu ainda ousaria em dizer que o enquadramento dos dois personagens ao final do baile foi por acaso – Hachiman está na sala de controle, a “varanda”, enquanto Yukinon olha pra ele do palco, conexão com uma famosa cena da obra de Shakesphere.
 
Mas deixando as simbologias de lado, é possível observar, ao longo do episódio, momentos que sugerem que Yukinon está extremamente relutante em deixar Hachiman. A primeira evidência é como ela traz de volta a brincadeira entre os dois. No último episódio, ela não se sentia confortável para falar com Hachiman diretamente, apesar de estar bem na frente dele e recorrer a Iroha como intermédio. Agora, ela o provoca da mesma maneira que sempre fazia. Isso mostra que Yukinon está tendo dúvidas de última hora (como você esperaria de alguém que simplesmente abandonou tudo). Ela está tentando lembrar Hachiman do que eles já foram – dois amigos que amavam e confiavam na companhia um do outro. A briga deles foi a marca de seu relacionamento, e é possível que no fundo de seu coração, Yukinon esperasse que outra rodada devolvesse o que eles perderam.
A segunda evidência surge em sua cena juntos no corredor, que por sinal tenta climatizar bem o ambiente com a direção utilizando elementos já vistos em outras composições mais íntimas. Quando Hachiman sai da festa e caminha sozinho pelos corredores, Yukinon chama por ele, e ela agarra seu uniforme. Ela segue agradecendo não apenas por sua ajuda durante o baile, mas também por toda a ajuda que ele deu a ela desde que se conheceram. Yukinon então se desculpa por tudo que ela o fez passar, já que não teria passado por tantos problemas se não fosse por sua dependência por ele. Hachiman responde que também causou muitos problemas para Yukinon, e os dois estão quites. Mas depois de agradecê-lo uma última vez, ela fala sobre trabalhar duro para seguir em frente por conta própria. Sua entrega trêmula aqui é outro indicador de sua relutância, o que é ainda reforçado pela ironia de como ela continua a agarrar-se ao uniforme do protagonista enquanto tenta terminar a frase. O que deve ser o maior sinal, no entanto, é que seu domínio sobre ele não vacila, mesmo quando ele se despede e se move para deixá-la. Ela literalmente, fisicamente, não consegue deixar Hachiman. Além disso, é ele quem tem que soltar o dedos para ela.
 
O fato de Hachiman se soltar sugere que ela ainda tem, naquele momento, traços de dependência em relação a ele. Mesmo em seus momentos finais juntos, Yukinon precisa de Hachiman para atender às suas necessidades.
Aquela nossa conclusão sobre a co-dependência ser utilizada como uma desculpa para essas crianças que não sabem se resolver dialogando foi finalmente mencionada por Haruno, que colocou exatamente desta forma. É uma desculpa para terminar as coisas, o tempo todo mentindo para si mesmos que suas respostas estavam corretas. Haruno mostra que a co-dependência, além do “fato”, é uma figura de linguagem descrevendo o impasse que o trio se encontra em relação aos seus sentimentos. A co-dependência foi parcialmente causada pelo desejo de Hachiman de estar com Yukinon, juntamente com o desejo de Yui de estar com Hachiman. 
 
Agora que Hachiman e Yukinon “cortaram os laços”, ele finge que nunca houve uma amizade verdadeira entre os dois. Isso é o que Haruno quer dizer quando menciona que ele nunca sabe quando desistir. Considerando como os membros do Service Club acabaram, sua afirmação de que ninguém ficaria satisfeito com sua persistência também não está errada.
 
Depois de Hachiman perseguir Haruno, ela diz algo como “O desejo que ela fez nada mais foi do que um ato de compensação”. Aqui, Haruno afirma que Yukinon desejava que Hachiman se apaixonasse por Yui, a fim de diminuir sua culpa por separar o Service Club. Haruno deixa tudo muito claro. Não importa quanto Hachiman tente omitir a verdade (ou não consiga expressá-la). Não importa se eles fingem que está tudo bem. Não importa quantas mentiras sejam inventadas, Hachiman nunca será capaz de se enganar. É isso que ela quer dizer com o fato de que ele não consegue ficar bêbado. 

Depois de ouvir as palavras de Haruno, Hachiman não consegue mais mentir para si mesmo. Ele deve corrigir esse erro que cometeu. Isso serve como uma boa configuração para a conversa que Hachiman tem Hiratsuka-sensei posteriormente.
Outro ponto a se observar é que, neste episódio, talvez Haruno tenha revelado seu verdadeiro eu pela primeira vez. Apesar de colocar um exterior duro e bancar a advogada do diabo para guiar o trio principal na direção certa, a narrativa outra vez tenta humanizá-la. Haruno está quebrada por dentro; ela nunca teve a liberdade de escolha e nunca viu nada genuíno. Ela é a personificação do cinismo e do niilismo, representando o que Hachiman teria se tornado se não conhecesse a sensei e Yukinon.
 
Todos os esforços de Haruno ao longo de sua vida estavam prestes a ser invalidados pelos desejos de Yukinon. Se Yukinon conseguir convencer sua mãe e encontrar algo genuíno (com Hachiman), Haruno finalmente será capaz de dar um passo à frente e ser ela mesma pelo menos uma vez; Haruno seria salva, assim como foi com Hayama.
Por fim, a conversa da Hiratsuka sensei com Hachiman é difícil. No entanto, é importante esclarecer o papel que as palavras podem desempenhar na transmissão das intenções de Hachiman. Para Hachiman, não é apenas por causa das intenções enganosas das pessoas que ele não confia nas palavras. Simplificando, ele não acredita que ‘eu te amo’ pode resumir corretamente seus sentimentos por Yukinon e passar a mensagem. Hachican sente outras emoções, como respeito, alegria, conforto, nervosismo, etc. quando está perto dela. Ele pode vomitar quantas palavras precisar até que Yukinon finalmente entenda sua intenção e ainda tente mostrar a ela seus sentimentos por meio de suas ações. Só depois disso ele conseguiria dizer ‘eu te amo’ normalmente.

Além disso, não há muito mais espaço para Yui, que apenas ainda tenta forçar uma situação aonde eles continuariam do jeito que estão para a a amizade não se romper, por mais falso e superficial que fosse. Seus diálogos sobre “poder continuar assim” remetem a isso. Ela não tem escolha a não ser sorrir e observar enquanto as pessoas com quem ela se preocupa se afastam umas das outras, ou então depois decidem ficar juntas. Hachiman também terá que fazer uma escolha crucial – partir o coração de Yui – se quiser Yukinon. A citação de Hiratsuka-sensei sobre ser incapaz de evitar machucar os outros é cirúrgica e simplesmente real. A hora da decisão final se aproxima.

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