Entrevista com o Diretor de Pokemon: Twilight Wings, Shingo Yamashita | Parte 1 de 2

Olá pessoal, estamos de volta aos negócios e, desta vez, trazemos uma entrevista com o diretor de Pokemon Twilight Wings, Shingo Yamashita, publicada originalmente na edição de setembro de 2020 da revista Weekly Famitsu, e traduzida tradução direto do japonês. Desde já lamentamos se houve algum mal entendido durante o processo de tradução. 

Esse artigo trata-se da parte 1 da entrevista. Confira aqui a parte 2.


ENTREVISTAMOS O RESPONSÁVEL PELO PLANEJAMENTO E PRODUÇÃO
DE “TWILIGHT WINGS” SOBRE A OBRA POR TRÁS DAS CENAS 

Perguntamos com mais detalhes sobre a produção da série para o diretor Yamashita. O diretor Yamashita fazia animações de fortes cenas de lutas e batalhas, então é imperdível como ele se dedicou às essas cenas. Fizemos uma enquete com o público que já viu a série para essa reportagem e conseguimos reunir “As perguntas que quero fazer para o diretor Yamashita”. Perguntamos para ele, mesmo podendo ser difíceis de responder! Confira quais foram as respostas do diretor.

Diretor Yamashita Shingo

Diretor de animação multitalentoso. Na época que era animador, fazia storyboard, elaboração das cenas e até filmagens finais.

“Twilight Wings” foi construído junto com o público.

— Como você se sente após a publicação de todos os 7 episódios?

Yamashita: Após a publicação, fiquei pesquisando a palavra “Hakumei” (do título original de Twilight Wings em japonês, Hakumei no Tsubasa) nas mídias sociais (risos). Fiquei feliz pela quantidade de comentários que teve. Durante os 3 dias após o episódio 7, “Sora”, ser publicado, fiquei tão focado em ler os comentários de todo mundo que nem consegui trabalhar…

— (Risos). Realmente foi muito comentado. Teve algum comentário que te marcou?

Yamashita: Alguns comentários do tipo “Nossa, parece que eu criei isso” me marcaram. Acredito que esses comentários demonstram a vontade do público de querer assistir esse tipo de animação de Pokémon, e “Twilight Wings” conseguiu alcançar bem essa expectativa. Achei muito interessante e fiquei feliz com isso.

—  Nossa! Então, isso significa que o que foi produzido e a expectativa do público por uma série assim se encaixaram?

Yamashita: Desde a publicação do episódio 1, vimos muitos comentários falando “Esse ponto é bom” ou “Gosto dessa parte”, e vendo toda essa reação, deu certo em refletir isso na produção em tempo real.

— Então acredita que a reação do público foi o motivo da série ter tido um resultado tão satisfatório?

Yamashita: Éramos nós da produção que estávamos criando a série, mas acredito que de alguma forma, o público contribuiu junto também. Pode ser que devido a isso, a série foi tão bem recebida. A sensação de realização foi tão grande que mesmo após 2 semanas que o episódio 7 foi publicado (a entrevista foi realizada no dia 24 de agosto de 2020), ainda não consigo me concentrar no próximo trabalho (risos nervosos).

— “Twilight Wings” era um dos assuntos mais comentados desde quando saiu a notícia que iria ser produzido. Você imaginou que a série seria tão comentada assim?

Yamashita: Foi mais do que imaginamos. No entanto, tem uma cena no episódio 7 “Sora” que ficou marcada na minha cabeça desde a etapa do planejamento, e se isso desse certo, achei que a série ficaria boa.

— Qual seria essa cena exatamente?

Yamashita: É a cena que o John estava no estádio e não conseguia ficar em pé, porque o Charizard do Leon se transformou em Gigantamax e fez tremer todo o chão. Isso foi o que eu senti jogando. Mesmo que o chão trema no jogo, os personagens não se movem por nada. Mas penso que é muito difícil ficar em pé com todo o tremor. Desde o início, queria muito colocar essa sensação.

— Ouvindo assim, é muito difícil mesmo (risos).

Yamashita: O John é uma criança e está doente, então é normal que ele caia, mas por outro lado, o Leon se mantém em pé, então mostrar essa contradição e construir uma relação entre os dois foi o que pensei no começo. Queria que o Leon fosse uma pessoa inalcançável, mas que fosse admirada.

— Então várias ideias soltas de cenas são pensadas desde o início.

Yamashita: Alguns conseguem já pensar nas falas ou no imageboard, existem vários tipos de pessoas, mas eu sou do tipo que já imagina desde o começo as cenas soltas que irão interligar os personagens. Então, nesse sentido, já consegui prever qual seria o ápice do episódio 7, “Sora”. Mas… Por outro lado, fiquei muito preocupado se o episódio 1 seria bem recebido.

— Por quê? Qual ponto te preocupava?

Yamashita: Colocamos vários pontos no episódio 1 que seriam só explicados no fim da série. Como estava sendo publicado um episódio de cada vez, isso só seria visto quase meio ano depois. Então fiquei inseguro se ia ser bem recebido. Então o episódio 1 ter sido muito bem comentado nos deu segurança para continuar com a produção da série.

—  Realizamos uma enquete pelo famitsu.com após a publicação de todos os 7 episódios com as pessoas que viram “Twilight Wings”. Vamos continuar a entrevista agora vendo o resultado dela. O que achou vendo esse resultado?

Yamashita: Previ que o episódio 7 “Sora” fosse o mais popular mesmo, mas o episódio 3 “Aibou” estar em segundo lugar é uma surpresa. “Twilight Wings” foi produzido para se diferenciar das outras séries de Pokémon, mas o episódio 3 foi desenvolvido mais para o lado dessas séries já existentes. Muitos parecem ter gostado da relação entre o Hop e o Wooloo. E o desenvolvimento da Oleana no episódio 5 “Hisho” foi bem avaliado, então isso significa que os personagens do “Pokémon Sword e Shield” são encantadores e isso fica muito bem evidente.

— A série foi diferenciada com as outras séries e filmes existentes?

Yamashita: Sim, mas achava já que ficaria naturalmente diferente se eu criasse algo que eu estava imaginando. Como criador, não sou muito homogêneo e normalmente acabo adicionado elementos “normais” nos trabalhos. Recebi um pedido para que a obra não seja como as outras já existentes, então foi divertido mostrar todo o meu potencial.

— Na enquete foi respondida qual é o personagem favorito do público. O Leon e o Raihan lideraram.

Yamashita: Sabia que o Raihan seria popular, mas estar em segundo lugar me deixou surpreso. Ele nem teve um episódio para ele e só apareceu na cena de batalha do episódio 7 “Sora”… (risos). Nesse sentido, a Oleana estar em quarta posição é uma vitória. Acredito que isso seja porque muitos receberam bem o episódio 5 “Hisho”.

— Foi surpreendente ver como a Oleana foi desenvolvida no episódio 5.

Yamashita: O episódio da Oleana deu trabalho. Durante as reuniões do roteiro, foi proposto em elaborar a história dela com as pessoas da empresa, mas achei que isso não daria muito certo com a personalidade da Oleana. O Rose é muito importante para a Oleana, então ela teria que se envolver de alguma forma com ele. Então criar um episódio com base nisso foi difícil.

— Dos personagens, o Leon é o mais popular. Qual ponto foi desenvolvido para construir a personalidade dele?

Yamashita: O personagem que mais gosto é o Leon também (risos). Foi complicado elaborar a personalidade alegre de campeão com os sentimentos confusos que estão dentro dele. “Twilight Wings” é uma obra em que os personagens possuem um lado fraco e vão crescendo ao longo da história. Mas se fizéssemos isso com o Leon, estaríamos destruindo a imagem que os fãs tem de Leon. Então pensamos as maneiras de como transmitir os sentimentos dele, de uma forma que não ficasse tão explícita.

— Então isso foi o motivo de ter apresentado o Leon aos olhos de outros personagens.

Yamashita: Isso mesmo. Por exemplo, fica fácil de entender se vermos a relação de John e Leon. Dentro da história, não é explicado em palavras do motivo do John gostar do Leon, mas podemos descobrir assistindo toda a série. Acompanhando isso, conseguimos entender a profundidade da personalidade de Leon. Pode até ser difícil entender isso, mas os fãs de Pokémon são todos muito espertos (risos). Acredito que todos os pontos soltos que acabei colocando na história foram concluídos por eles.

Nessa era das mídias sociais, para a obra se tornar popular é importante não transmitir tudo.

— Nas outras séries já existentes também, os fãs têm feito várias considerações. Por ser um dos criadores da série, o que você sente vendo isso?

Yamashita: Sinto uma felicidade enorme. Acredito que os fãs fazerem várias considerações e isso ser compatilhado é necessário nessa era das mídias sociais para que a obra se torne popular. Acho que “Pokémon Sword e Shield” virou um sucesso mundial devido a isso. Por isso, devemos criar respeitando esse ponto. Mas isso significa também que o criador precisa de muita coragem.

— Como assim?

Yamashita: Para os fãs fazerem as considerações é preciso que o criador não apresente as respostas na obra. No entanto, se isso for mal elaborado, o público pode avaliar a obra como “Chata e sem muita explicação” ou “Mal feita”, sem conseguir captar o que os criadores queriam. Eu já pensava nessa maneira de como tornar uma obra popular, mas senti isso com bem mais força enquanto trabalhava em “Twilight Wings”.


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