Legend of the Galactic Heroes: The New Thesis (2018) | Review

 

|Episódios: 12 | Estúdio: Production I.G (Shingeki no Kyojin, Psycho-Pass, Haikyuu!!Fonte: Novel Diretor: Shunsuke Tada (Kuroko no Basket, Seikoku no DragonarDiretor Chefe de Animação: Takayuki Goto Artista 3D: Tomohiro Shima

Sinopse

No futuro distante da humanidade, dois estados interestelares – o Império Galáctico monárquico e a Aliança Democrática dos Planetas Livres – estão envolvidos em uma guerra interminável. A história centra-se nas façanhas de dois rivais: Reinhard von Lohengramm e Yang Wen-Li – veremos esses dois subirem ao poder e ganharem fama no Império Galáctico e na Aliança dos Planetas Livres.
Análise
Criar um anime magistral é semelhante a cultivar uma flor delicada, requer uma disposição para aceitar as circunstâncias do jeito que são, e não da maneira que desejamos que elas sejam. Lithops, uma flor com baixa dependência de água, pode ter suas peles estouradas se forem saturadas com excesso de líquidos. Da mesma forma, um anime que se esforça por sequências de ação exageradas (por exemplo, animes shounens) mas negligencia as lutas políticas, econômicas e sociais que acompanham esses eventos, estabelece falsamente uma situação dicotômica que raramente, se alguma vez, existe. 

O original The Legend of the Galactic Heroes entendeu esses conceitos extremamente bem, aproveitando todas as oportunidades que podia para detalhar seus personagens, explorar eventos históricos pertinentes e questionar o papel do governo e de seu povo. Se fosse necessário resumir a série original em uma palavra, seria: metódica. Nada parecia apressado, precipitado ou abarrotado em nossas gargantas. Tudo floresceu das sementes de eventos passados. E embora os resultados possam, ou não, ter sido o que esperávamos, tudo se misturava em uma narrativa política mais ampla que é relevante até hoje e, eu suspeito, para muitas gerações vindouras. 

Entrando nessa nova parcela – LoGH: The New Thesis, antes de mais nada, adverto que, isso não é de fato um remake, mas sim uma nova adaptação da novel escrita por Yoshiki Tanaka, (o título do texto ficou pela praticidade). Me chame de pessimista se quiser, mas eu estava legitimamente preocupado com essa série depois de ver o terceiro episódio – que começou recontando a história de Rudolf von Goldenbaum e o nascimento da Aliança dos Planetas Livres; no entanto, o episódio dedicou apenas dois minutos à recapitulação de estilo documentário da guerra entre as duas usinas. Na série original, um episódio inteiro foi dedicado a essa recapitulação e ocorreu muito mais tarde. Não estou dizendo que eu não tenha gostado da apresentação do material dessa maneira, mas parecia que a gradualidade minuciosa da série original poderia ser trocada por uma narrativa mais robusta no “New Thesis”. Felizmente, este não foi o caso. Como a série parece ter encontrado o seu modo correto de entrega: lânguida (sem pressa).
 

Minha próxima área de preocupação está nas duas letras mais temidas da comunidade anime: CG. Fãs de Berserk – incluindo eu mesmo – sabem muito bem o que pode acontecer com um material de origem fantástica quando misturado com animações espalhafatosas. The New Thesis está longe de ser tão terrível quanto Berserk (2016), isso é certo, mas não é sem mácula. As sequências de ação, em particular, revelam inúmeras imperfeições que deixam o espectador um pouco desapontado. Isso pode ser perdoado, na maior parte, considerando que LoGH confia na força de sua narrativa, em oposição a cenas de batalha elegantes. 

Dito isto, no entanto, a animação não é de todo ruim. As paisagens são especialmente lindas, exibindo uma mistura vibrante de cores bonitas. Concedido, paisagens são imagens tipicamente paradas, mas isso não tira a sua beleza. Os desenhos dos personagens podem ser um pouco chocantes a primeira vista, uma boa maioria dos personagens parecem notavelmente semelhantes uns aos outros. Os personagens têm uma espécie de estilo de “menino bonito”. Eu pessoalmente gosto muito dos designs de personagens dos OVAs originais. Na verdade, eu apostaria que, se você tornasse todos carecas em The New Thesis, por uma questão de comparação, seria difícil diferenciar vários dos personagens principais; com exceção de Adrian Rubinsky – ele continua balançando as suas costeletas como se estivesse em 1838. Isso tudo dito, a animação não é flagrante o suficiente para diminuir os inúmeros aspectos positivos do show, nem é excepcional o suficiente para classificá-la como inovadora. É mais ou menos no meio da estrada. 

 

A trilha sonora é muito boa em sua maior parte. Pode não ser tão grande quanto a original, mas ainda tem uma ótima sensação de ficção científica e space opera que captura perfeitamente o tom e a configuração da série. O tema de abertura “Binary Star”, de Sawano Hiroyuki, é de mãos dadas o melhor tema de abertura de 2018, já que faz um trabalho magistral ao capturar o tom e o cenário da série. Pode não ser tão magistral quanto os originais da série OVA, mas ainda é uma abertura incrível que eu realmente adorei. A ending “Wish” por “Elisa” é um final maravilhoso que define perfeitamente aquele clima bonito ao terminar um episódio deste show, mas a música final às vezes soa como uma versão orquestral do primeiro tema de abertura original – “Skies of Love”.

Alguns dos meus problemas com Logh está em sua construção de mundo. Honestamente, são os personagens, os temas e a política que impulsionam essa série e não a construção de mundo. Na verdade, é melhor não entrar em detalhes muito profundos com a história, porque alguns aspectos dela fazem zero de sentido. O Império existe porque o autor original achava que o conceito desse reino medieval espacial era legal. Ele não estava pensando sobre como isso poderia acabar acontecendo e isso leva a algumas falhas sérias de lógica. Por exemplo, a logística de por que 90% da população humana em 2600 são alemães étnicos nunca é explorada nos romances ou nos OVAs e faz pouco sentido. Os alemães étnicos são atualmente apenas 2% da população humana em 2018 e projetam-se abaixo de 2% até 2100. Mesmo se assumirmos que a exclusão de genes inferiores de Rudolf Goldenbaum visava não-alemães, o que nunca é declarado em nenhum material, ainda é logisticamente impossível que tão poucos matem tantos, mantendo uma sociedade e uma economia estáveis. Mas, se a série não vai dar a mínima para a lógica de sua construção de mundo porque nós deveríamos? 

Logh é essencialmente uma história sobre os conflitos entre dois estados – o Império Galáctico autocrático e a Aliança Democrática dos Planetas Livres. A história toda explora muitos temas políticos e filosóficos diferentes; trazendo a mesa perguntas que dialogam sobre a melhor forma de governo e a filosofia para se viver. É realmente fascinante na maior parte do tempo, e ainda é muito relevante para o mundo em que vivemos, apesar de ter sido escrito em 1982. Os lados dos conflitos não são retratados em preto e branco (a forma mais barata), o programa tem uma preocupação em mostrar a moralidade do conflito. O Império e a Aliança podem surpreendê-lo. É claro que grande parte disso está bem no futuro do show, mas até agora os aspectos políticos foram bem tratados.

Em termos de prazer, a série pode não ter atingido sua glória anterior de ser uma obra-prima (ainda não, pelo menos), mas ainda carrega a aura de ser um Ginga Eiyuu Densetsu que todos conhecemos e amamos. Houve alguns soluços aqui e ali, como a cena dos sprinklers para afastar os “Cavaleiros Patriotas” e a perseguição aleatória de carros com Yang e Jessica; mas, como um todo, a série tem sido uma fonte de grande entretenimento. A captura da Fortaleza de Iserlohn, na minha opinião, foi o momento marcante da primeira temporada. Esse momento destacou o gênio sutil de Yang para contornar os líderes “corajosos” de Iserlohn, usando nada mais do que alguns homens astutos e um plano bem concebido. Considerando que a maioria dos animes perpetuam o mito de morrer na espada com honra, é animador ver uma série que compreende que é mais apropriado lutar outro dia – como Oberstein – do que morrer na obscuridade.

Doze episódios de uma série que durou 110 episódios em seu conjunto original, é semelhante a mergulhar os dedos dos pés na água de uma piscina. O show ainda tem um longo caminho a percorrer para superar as OVAs em qualidade e para muitas pessoas isso seria impossível. Mesmo assim, sinto que The New Thesis é uma série de alta qualidade que fica muito menor do que merece por conta do monstro ao seu lado. Dependendo de quanto tempo eles planejam fazer essa série, e da qualidade dos episódios, eu poderia me ver revisitando essa pontuação para chegar a um “9”. Não, não acredito que The New Thesis possa tomar o lugar do clássico de 88-  acredito ter sido, e ainda ser, o melhor anime já feito nesses 101 anos de industria (não favorito, mas sim o melhor). Talvez eu esteja apenas sendo pessimista, mas há algo a mais nesse meu ceticismo; clássicos não nascem simplesmente porque são bons, eles nascem por conta das inúmeras estruturas que os seguraram em suas épocas – são fatores tão específicos que é difícil prever ou tentar fazer um clássico. Seja como for, ainda há um trabalho significativo a ser feito. Considerando o histórico da maioria dos remakes hoje em dia, The New Thesis é nada menos que excelente em sua abordagem. Mas estamos apenas começando – esperançosamente.

Direção: 8 – Ótimo

Roteiro: 9 – Excelente
Produção visual: 7,5 – Bom
Trilha Sonora: 7,5 – Bom
Entretenimento: 8 – Ótimo
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