Kantan Dakedou, Mendokusai | Review

“Kantan Dakedo, Mendokusai” foi um mangá publicado na revista shoujo Betsucomi, em 2017, por Chia Teshima. Na história, a gente tem como protagonista a personagem Yuuha, uma adolescente comum que trabalha de meio período num posto de gasolina, cenário principal da história. Ela namora outro funcionário do posto, um universitário chamado Kouno. Certo dia, no seu intervalo, ela encontra o introspectivo Kiryuu e acaba sendo confrontada por um aviso inesperado: de que ela não deve continuar com Kouno, porque ele tem outra namorada, ou seja, está traindo-a.

Tanto pela capa quanto pelo andar do primeiro capítulo, da para entender que o Kiryuu tem sentimentos pela Yuuha e imaginar que a obra vai para um lugar-comum do romance, que é trabalhar em cima do famoso tropo do triângulo amoroso. No entanto, Kantan Dakedo, apesar de também abraçar clichés, é um mangá bem curtinho (3 capítulos) e acaba lidando com isso de maneira bem ágil. E, diria, a obra se sustenta muito bem graças ao seu ponto forte: a maneira bacana sobre como trata as emoções dos personagens, com destaque para a protagonista.

Num primeiro momento, é interessante ver que, enquanto digere a afirmação do menino que ela considerava estranho e distante, Yuuha nos revela o sentimento geral que ronda sua relação com Kouno através de seus pensamentos. Vemos que ela tem uma ansiedade constante e uma desconfiança que é anterior à provocação de Kiryuu e que ela lida com isso extravasando na comida (e eu, como alguém que tem compulsão alimentar, entendo completamente). Ela acaba encontrando com o Kiryuu e em algum momento aceitando sua proposta de investigar esse sentimento, seguindo o namorado.

Daí em diante, a maior qualidade do mangá ganha ainda mais destaque. O Kiryuu deixa claro que a ajudou pelos seus sentimentos por ela e, embora isso não seja um tópico discutido, é uma sinceridade apetitosa, que não se esconde através de uma bondade rasa. E o personagem, ainda assim, não deixa de ser um cara gentil, daqueles típicos “princípes” de shoujo.

Já a Yuuha é uma personagem comum da demografia, sem um design muito marcante, mas cuja força de suas reflexões se acha em como ela compreende que a relação com Kouno ficou pior por ela guardar suas inseguranças, tentando afogá-las em comida. Diante disso, ela consegue tomar decisões que geram desafios emocionais, mas que são recompensadoras: mesmo com medo de perder o novo amor, ela se esforça para dizer o que lhe incomoda, abrindo-se para possíveis conflitos. O resultado é um diálogo importante, que cura mal entendidos entre os dois e refresca suas próprias cabeças repletas de inseguranças.

Nem mesmo o Kouno fica para trás aqui, pois o mangá fará ele e Yuuha se encontrarem de novo (impossível não acontecer, eles trabalham no mesmo lugar né) e conversarem sobre o seu passado. Existe até mesmo uma breve troca entre Yuuha e a namorada atual de Kouno. Essa conversa sobre traição, confesso, poderia ser mais desenvolvida, porém, ainda considero uma qualidade a obra ter se disposto a fazer seus personagens encararem essa situação para fechar suas pontas emocionais.

No fim, pode ser só mais um mangá curto de romance, mas, com um olhar atento, Kantan Dakedo, Mendokusai se torna uma experiência curta bem agradável para nos fazer pensar sobre a construção de afetos (até mesmo para além dos românticos).


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