Os rumos incertos de Love Live Superstar!! 2

Sendo lançada em um curto intervalo de tempo após o início do Nijigasaki Gakuen no final de 2021, a quarta fase da franquia Love Live se mostrou muito bem sucedida ao continuar esse processo de renovação que Love Live estava passando, entregando aquela que foi sem dúvidas a temporada mais cômica e descontraída da franquia até aqui. Love Live Superstar!! compensa a ausência de profundidade do seu elenco com bastante carisma e um entrosamento e química fora de série dentre o quinteto da Liella, fazendo a experiência se tornar bem divertida.

Dito isso, tenho que admitir, estava bastante receoso com esta segunda temporada. Não só por saber que quatro novas personagens seriam introduzidas ao elenco principal, o que poderia afetar toda a dinâmica criada pela primeira parte, como também pelo imenso gosto amargo deixado pela continuação do Nijigasaki Gakuen, que pareceu abandonar todas as qualidades presentes em seu início ao entregar a temporada mais bagunçada e mal estruturada de toda a franquia. Mas após finalmente assistir, eu devo dizer que ela me deixou bem dividido, já que se por um lado ela é muito superior à continuação do Nijigasaki Gakuen, por outro é bem inferior a sua própria primeira temporada.

É uma pena que a continuação seja inferior dessa forma, pois ela se inicia muito bem, aparentando ter uma noção maior do apelo dessa fase de Love Live. A aura cômica e despojada que fez a primeira temporada ser tão divertida é mantida, mas também há a introdução novos conflitos para fazer a trama continuar cativante. A inclusão da Kinako na Liella e a dificuldade de acompanhar o ritmo das veteranas, desencadeando em um mini arco da Kinako passando por esse processo de adaptação e se entrosando no grupo, é bem agradável de se acompanhar.

E falando nisso, o quarteto de novas personagens introduzidas se saiu bem melhor do que eu esperava, por mais que não tenham o mesmo nível de carisma do quinteto principal. O anime as utiliza para experimentar um humor mais caricato, com reações e posturas mais espalhafatosas e histéricas do que a primeira temporada. E por mais que eu admita que essas piadas não funcionam sempre, e que em alguns momentos elas se tornam um pouco irritantes ou meramente vergonha alheia, felizmente a trama começa a equilibrar estas piadas. A composição das personagens vai ficando mais orgânica e natural com o passar do tempo, tornando-se outro ponto positivo na série, mesmo que algumas destas transições e mudanças de personalidade sejam um tanto repentinas ou abruptas.

Eu aprecio a tentativa de darem espaço e tempo de tela para elas brilharem, resultando em bons momentos que criam episódios bem satisfatórios, como o Mini arco da Kinako já citado acima; ou ainda o episódio da Shiki e da Mei sendo honestas uma com a outra e entrando na Liella; e principalmente o episódio 7, da viagem das calouras e o contexto do porquê da Natsumi ser tão obcecada em dinheiro. A tentativa de criarem o trabalho em conjunto entre as novatas também é bem interessante e poderia ter sido ainda melhor se não tivesse tido o corte com aquela passagem de tempo ridícula com a Natsumi já estando no grupo. Perderam a chance tanto de aprofundar a Natsumi quanto explorar mais a química e o entrosamento das calouras como uma equipe. Ainda assim, a temporada até esse momento ainda estava sendo uma experiência bastante proveitosa, até chegarmos na segunda metade, e o anime ter uma queda brusca de qualidade e começar a ruir.

O primeiro defeito e mais crucial deles é o ritmo. A trama joga uma série de arcos dramáticos de uma forma quase aleatória e sem conter nenhuma construção sólida para fazerem os desfechos funcionarem, lembrando bastante os piores momentos do Love Live Sunshine. Um exemplo é o clímax emocional da Sumire e da Keke do episódio 9, mesmo que a cena individual seja bem comovente e poderosa, a única razão de nos importamos com ela é pela dinâmica criada na primeira temporada. A segunda temporada não explora esse dilema da Keke ser forçada a retornar a Xangai caso perca o Love Live e não reforça nada para fazer com que este momento tenha mais impacto e força. E se o ponto forte do Love Live Superstar nunca foi o drama, dar ênfase a esse elemento com a fraca execução que foi aplicada só faz tudo se tornar ainda pior.

Tem também o arco da Magarete. Suas aparições são bem dispersas e quase sem propósito na trama, ela é disparada a pior personagem de toda franquia até aqui, uma garota super boçal, arrogante e narcisista cuja única função é desmerecer qualquer pessoa que apareça na frente dela. E isso para logo depois descobrirmos que o motivo dela agir dessa maneira é por ela ter fracassado em ter entrado em uma escola de música, resultando na garota descontando toda a sua frustração em tudo e todos. Simplesmente a tornando uma personagem antipática, patética e chata, para depois a obra querer que eu sinta empatia por ela nos episódios finais, um baita tiro no pé, considerando que também não existe nenhuma nuance emocional que faça ela se tornar uma personagem mais interessante ou suportável.

A partir disso, temos o conflito final sobre o intercâmbio da Shibuya, de longe a pior parte de toda essa temporada. Levam dois episódios inteiros para mostrar ela saindo da Liella em prol de estudar em Viena apenas para anularem tudo isto logo depois, justificando que o convite foi rejeitado e fazendo todo o arco ser absolutamente inútil e irrelevante. A escrita desse conflito não é das melhores e não agrega nada de relevante na construção/desenvolvimento da Shibuya ou da Chi, encerrando a temporada da forma mais anticlimática e decepcionante possível. É ainda mais frustrante ao perceber que este tempo poderia ter sido usado para desenvolver outros arcos como o da Natsumi ou o da Keke e Sumire citados acima ao invés de desperdiçar em um conflito tão fraco como esse. Afinal, se você não tem a coragem de entregar o desfecho condizente para este cenário, por que se dar o trabalho de fazer, então?

Estou bem receoso com o que seguirá nesta fase Love Live Superstar!!. Por mais que esta temporada tenha sido decente, com bons momentos e ideias durante a primeira metade, e que as calouras tenham superado as minhas expectativas, as decisões equivocadas e os fracos e mal estruturados arcos dramáticos da reta final impediram ela de alcançar o completo potencial que tinha. Sem contar o ritmo inexplicavelmente apressado em certos momentos. Considerando essa queda brusca que a parte final teve, não negarei que tenho medo da terceira temporada acabar se provando uma bomba relógio entregando um desfecho que ponha tudo o que a fase construiu até aqui a perder. Torço para que eu esteja errado.


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