A frustrante 2ª temporada de Love Live Nijigasaki Gakuen

Quando a terceira fase da franquia Love Live estreou no fim de 2020, por mais que a repercussão do público tenha se tornado sem dúvidas uma das, senão a mais, polarizante na franquia até aqui, também se tornou particularmente uma das minhas temporadas favoritas. A aura mais sóbria, introspectiva e contida da primeira temporada de Love Live Nijigasaki Gakuen não apenas demonstrava uma certa maturidade em relação aos seus temas, mas também uma mudança de tom e abordagem dentro da franquia que se provou bastante bem-vinda e necessário, vide o que ocorreu no Love Live Sunshine, mas ainda conseguindo manter a essência que a fazia ser tão atraente. Com isso, eu obviamente não tinha motivos para duvidar que eles conseguiriam entregar uma continuação a altura, especialmente por todas as ideias e conceitos trabalhados até então terem apresentado potencial para serem expandidos e explorados em uma segunda parte, ainda que a primeira temporada tivesse tido um final bem autossuficiente. Mas eis que a segunda temporada finalmente veio, e o que o foi entregue se provou o exato oposto do esperado, com o resultado sendo… bleh. 

Eu nem sei por onde começar. Toda a coesão e a estrutura criada na primeira temporada não está presente aqui, ao nível desta ser provavelmente a primeira vez em Love Live em que a música não é um elemento relevante na trama. Claro que as apresentações ainda foram mantidas, mas o desenvolvimento das personagens como artistas, as discussões sobre o que os grupos representavam para aquelas personagens ou os diálogos presentes na primeira parte sobre a música como forma de expressão ou libertação para os seus sentimentos… tudo foi retirado quase que por completo. Este último ponto, inclusive, era justamente a temática que fazia os arcos das personagens se conectarem e que tornava a trama uniforme e bem amarrada.

E nada foi colocado no lugar para substituir, fazendo as apresentações se tornarem totalmente vazias e avulsas, já que elas não possuem mais nenhum peso ou significado por trás. Principalmente no episódio final, onde apresentações foram emendadas em sequências de todo o grupo por 10 minutos seguidos, talvez como uma tentativa de celebração a jornada das personagens até aquele momento, mas que no fim foi acabou sendo arrastado e sem propósito. Não é como se tivesse tido alguma superação ao longo do caminho para tornar este momento significativo, parecendo nada mais do que um mero recurso para esconder a falta de ideias do que qualquer outra coisa.

Eu não me incomodaria tanto com isso se eles entregassem bons desenvolvimentos como compensação, mas até a escrita se tornou muito aquém e abaixo do padrão estabelecido na temporada anterior. Os “arcos” dessa segunda temporada são totalmente fragmentados e mal arquitetados, como no caso da Lanzhu, que foi sem dúvidas o ponto mais frustrante dessa temporada. A introdução da personagem no episódio de estreia é bem boa e a personalidade dela também era bem legal. A percepção bastante individualista dela como artista tinha tudo para criar um contraste com o ponto de vista das garotas da Nijigasaki, mas ela praticamente vira uma figurante e a obra se esquece totalmente dela até o episódio 9. Todo o potencial da personagem é desperdiçado, ao ponto de não ter sequer um background sobre a razão dela ter se tornado uma idol ou o porquê dela ter tanta aversão de se apresentar em um grupo.

A obra apenas decide usar esse cenário como pretexto para criar o “arco” das QU4RTZ, que é bem medíocre. O quarteto em questão não possui nenhuma dinâmica ou interação interessante entre si, ao ponto delas próprias admitirem isso no final do episódio. E ainda parece algo sem sentido, já que a apresentação falha naquele que deveria ser o seu principal propósito: mostrar para Lanzhu o quanto ela está equivocada na sua perspectiva e convencer ela a se juntar a equipe. O anime insiste em criar outros grupos secundários diferentes, mas isso não funciona e soa apenas redundante, visto que com exceção do grupo da Shioriko, Mia e Lanzhu, que possui um paralelo sobre todas terem se contido em virar idol devido a um trauma, e a resolução destes conflitos ser justamente elas decidirem formar um trio, não existe nenhuma razão muito clara que justifique a criação dos outros grupos. Nenhum deles possuem uma identidade, objetivo claro ou distinto, repetindo apenas as mesmas coisas já feitas no grupo principal, se tornando algo bem irrelevante no conjunto geral. 

E este é um dos problemas mais persistentes nessa segunda temporada. Há vários momentos com boas ideias, mas executados de uma forma bastante apressada e abrupta, como a revelação da Setsuna no episódio 6. O backstory da Shioriko no episódio 7 e o conflito da Ai com a melhor amiga no episódio 4 também são exemplos claros de cenas que deveriam funcionar, mas que devido à ausência de construção e de uma escrita mais inspirada, se tornam algo tedioso e sem peso. Também não é possível sentir um senso de progressão em relação à narrativa, já que também há um grave problema de ritmo; parece que a trama nunca sai do lugar, visto que os supostos desenvolvimentos são tão superficiais que não é como se desse para sentir alguma diferença muito significativa que já não tivesse sido elaborada na temporada anterior. Além disso, as interações entre o elenco também ficarem muito a desejar, vide o episódio 10, uma tentativa de criar um episódio cômico e repleto de piadas, mas que falha terrivelmente devido à falta de entrosamento entre as personagens.

E para não dizer que tudo foi horrível, existem momentos em que os roteiristas parecem resgatar o brilho e a qualidade da primeira temporada, como a apresentação teatral improvisada da Ayumu e da Setsuna no episódio 5 que é bem legal; a decisão do grupo de não tornar o clube de idol oficial, provando que a motivação delas terem virado idols foi unicamente pessoal, sem ter algum fator externo como a escola falindo, também é algo bem refrescante na franquia; os dois episódios iniciais como citei anteriormente introduzindo a Lanzhu, que foi bacana; e principalmente o episódio 9, focado na Mia e na tentativa de impedir a Lanzhu de desistir da carreira, disparado o mais bem escrito dessa temporada. Com destaque para os diálogos entre Mia e Rina, ótimos ao fazerem uma observação bem pertinente sobre a consequência de você se pressionar devido às expectativas que as pessoas depositam em você. Mas mesmo esses episódios não conseguem chegar ao nível dos pontos altos da primeira temporada, como os episódios focados na Rina, na Shizuku ou até mesmo da Kazumin, por exemplo. Além de que, no fim das contas, esses momentos bons são tão dispersos e isolados que não é o suficiente para compensar o quão chato é o restante dos episódios. 

No fim, estou bastante frustrado e triste com esta continuação. Principalmente porque devido às várias ideias apresentadas aqui, na teoria deveria ser algo ótimo e fantástico. É como se tivessem tentado trabalhar todas as personagens ao mesmo tempo, simplesmente arremessando tudo na parede para ver se alguma coisa acertava o alvo, sem nenhum senso de polimento ou direção. O resultado é a temporada mais desorganizada e mal concebida da franquia inteira, o que é um grande feito, já que eu nunca pensei que existiria algo mais desajustado dentro dela do que a segunda parte do Love Live Sunshine.

Sem contar que a escrita, construção e desenvolvimento está muito abaixo do padrão de qualidade estabelecido na primeira temporada, ao ponto da coerência ser algo quase inexistente, transformando-a apenas em uma imensa bagunça. Talvez a única luz do fim do túnel nessa situação tenha sido Love Live Nijigasaki Gakuen 2 não ter feito nada tão horrível ao ponto de anular ou alterar tudo aquilo que foi construído na primeira temporada, dando assim oportunidade para fingirmos que ela não existiu e considerar o final da primeira temporada como o encerramento definitivo da fase. No fim, a grande definição desta continuação foi: irrelevante.


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