Maison Ikkoku e o sentimento de pertencimento

Esse processo de transição entre a adolescência e a vida adulta é algo muito marcante na juventude de todos nós. Com menos de 20 anos, a sociedade espera que você já tenha a convicção da profissão que quer seguir e projeta em ti um preparo para tomar algumas das decisões mais importantes de sua vida, como a realização de um vestibular e a escolha de uma faculdade, paralelamente a isso temos a jornada por um emprego, que é sempre difícil, principalmente nesse começo que você não tem experiência. As contas começam a chegar, um planejamento para morar sozinho e a consideração de ter filhos é algo que passa pela sua cabeça, as paixões mais sérias começam a aparecer. São vários acontecimentos em um curto espaço de tempo que te colocam contra a parede e fazem você refletir sobre qual rumo quer seguir em sua vida. Algumas dessas situações eu já passei, e várias outras estou passando nesse momento, talvez por isso eu me identifiquei em muitos pontos com o Godai, personagem principal de Maison Ikkoku, que também está nesse estágio de vida, assim como ele estou tentando ser protagonista dos caminhos na minha própria história.


Maison Ikkoku é um mangá escrito e ilustrado por Rumiko Takahashi publicado pela revista Big Comic Spirits, foi concluído em 15 volumes e serializado de 14 de outubro de 1980 até 6 de abril de 1987. Em março de 1986 ganhou uma adaptação para anime, feita pelo estúdio Deen e dirigida pelo Kazuo Yamazaki, a série finalizou em 1988 com 96 episódios, adaptando toda a trama do mangá. Essa review, com spoilers, é baseada no anime.


A obra conta a história dos moradores da pensão chamada Maison Ikkoku, cujas principais atividades resumem-se em promover festinhas intermináveis na residência, se embebedar e rir da desgraça alheia. A história focaliza especialmente a relação entre Yusaku Godai, um pobre e azarado vestibulando que é constantemente importunado pelos outros moradores, com a Kyoko Otonasahi, a jovem e bela viúva recém-contratada como gerente da pensão; acompanhamos de perto os esforços de Godai para conquistar o coração da Kyoko, com interferência do resto dos inquilinos.

O city pop e a estética calorosa dos anos 80

Um elemento destacável que chama muita atenção no anime logo de primeira é a estética de sua animação, carregando uma fragrância charmosa com cores vivas e cheias de texturas. As grandes produções japonesas dos anos 80 tinham bastante essa aura mais intimista, trazendo um reflexo de que foram produzidas com muita paixão, e isso se reflete tanto nos personagens quanto nas paisagens, onde, por exemplo, diversas cenas de neve, luar e chuva ganham mais força, potencializando o sentimento trazido pelo momento em questão. Em Maison Ikkoku, um simples olhar pensativo refletido sobre a janela ganha outro significado, muitos acontecimentos sutis e delicados tem um impacto diferenciado com o enquadramento certo; um dos melhores exemplos disso acontece no episódio 27, quando o cachorro da Kyoko desaparece, e no final o Godai o encontra, ela só descobrirá isso no caminho para casa quando vê os dois subindo uma ladeira, está num final de tarde e tem um lindo e intenso por do sol, a Kyoko se confunde e vê seu falecido marido na silhueta do Godai, e relembra dos momentos que foi feliz com ele, o cão logo corre atrás dela e os dois se abraçam forte. É uma cena simples, mas de uma intensa poesia.

Além da incrível habilidade e domínio da narrativa da Rumiko Takahashi, essa sensação calorosa é proporcionada também pelo modo de produção de anime dos anos 80 e de todo o contexto social e tecnológico do Japão na época, já que os animes costumavam ser fabricados por um método mais artesanal, eram desenhados a lápis, tatuados e coloridos à mão em papel celuloide transparente e assim fotografados por uma câmera analógica, isso proporcionava movimentos mais suaves dos personagens em tela. O ponto levantado aqui não é para trazer um argumento saudosista e dizer que antigamente era melhor, até porque em cada época a indústria se comportou de uma forma e a apreciação de cada estilo está num campo da subjetividade, o objetivo é celebrar os méritos de um tempo distante e fazer com que ele jamais seja esquecido.

Outro fator que corrobora com essa atmosfera é a estética city pop, um gênero musical que mistura boogie, disco e jazz e que foi muito popular no Japão dos anos 70 e 80. Muito além da questão sonora, o reflexo do city pop no anime de modo geral está na sua roupagem nostálgica de tempos que não iram mais voltar, valorizando um cenário urbano e o contraste entre o sol e a lua. Para os japoneses um dia ensolarado está associado a juventude e a dias despreocupados, já as noites coloridas carregam uma aura solitária, como se estivesse buscando uma esperança que foi perdida; muitas obras capturam essa estética, e com Maison Ikkoku não é diferente, a cidade como um todo passa perto de ser um personagem na obra, de tanta vida e energia que ela transpira. Um simples caminhar dos personagens nesse cenário urbano é carregado de dopamina, muitas das reflexões, lembranças doloridas do passado, diálogos melancólicos carregados de amor, amarguras e dramas cotidianos acontecem nesses locais. Existe um ar melancólico pairando os personagens nesse ambiente, que o espectador consegue sentir bem no fundo das suas entranhas.

Amor, amadurecimento e saudade

O elenco da série é muito marcante, a começar pelo Godai, o jovem vindo do interior que possui a meta de ingressar em uma boa universidade, por isso faz um cursinho e sempre está “tentando estudar”, já que seus vizinhos sempre resolvem atrapalhá-lo fazendo uma festa no quarto dele. Logo no primeiro episódio somos deparando com essa rotina que muitas vezes é repetida durante o anime. Ele é uma pessoa de bom coração que tem dificuldade em dizer não e por isso muitas vezes as pessoas se aproveitam dele; no começo do anime, até pela sua inexperiência, nos é apresentado um garoto irresponsável, com dificuldade de focar nos seus estudos, que quando descobre que a Kyoko ainda não esqueceu seu marido falecido, fica inconformado, refletindo em seus pensando que ela devia esquecer ele logo e seguir em frente, e mentaliza que quer ser tão bom quanto ele foi, ignorando as dores da Kyoko naquele momento. Durante todo o começo do anime vemos um protagonista cheio de imperfeições, o que só torna cada vez mais impressionante o seu arco de amadurecimento e de aprendizado.

Com o decorrer da trama, Godai vai envelhecendo e lidando com a dura realidade da vida adulta e começa a se dedicar mais em seus estudos, tanto que ele passa em um vestibular e entra numa faculdade, e uma das coisas que mais o conecta a realidade e lhe traz combustível para continuar é seu amor pela Kyoko. Um bom exemplo disso é quando ele sai de um trabalho de meio período numa escolinha infantil para se dedicar a busca de um emprego formal e mais sólido para sua vida, já vislumbrando um futuro com a Kyoko, e esse acaba sendo um processo exaustivo, já que ele procura diversas vagas, vai em muitas entrevistas, e nesse sequência recebe vários “nãos”, e a Kyoko sempre está lá para apoiá-lo e não deixar que ele desista. Outro exemplo de maturidade do Godai é quando ele finalmente consegue um emprego em que vai ganhar bem para trabalhar num escritório, mas ele recusa, pois percebe que não é isso que ele quer para sua vida, tomando uma decisão corajosa em nome da sua felicidade, já que o que ele realmente almejar fazer é trabalhar como professor de escola infantil. Claro que durante todo o anime ele ainda dá algumas deslizadas, até porque muitas coisas estão intrínsecas a sua personalidade, mas toda a jornada de sua evolução é muito bem construída, o homem que entrou no primeiro episódio é bem diferente do homem que saiu no último.

Também temos a Kyoko, uma mulher madura, delicada e que distribui gentileza a todas as pessoas em sua volta, e que está tentando superar o trauma da morte do seu marido, o Soichiro, o qual ela ainda ama muito. Todo aniversário do falecimento dele ela vai ao seu túmulo rezar para seu caixão e conversar com ele, ela claramente não se vê em um novo relacionamento. Mas isso começa a mudar quando a Kyoko conhece o Godai, nos primeiros episódios ela só o tratava como um irmão mais novo, depois começa a nutrir algum sentimento por ele, mas não deixa essa paixão florescer. Todo o arco do relacionamento dos dois é um capítulo a parte, os altos e baixos, a forma como foi conduzida traz um aperto no coração para o espectador. Esse desenvolvimento foi feito de forma bem paciente valorizando cada micro momento que os dois passaram juntos. Um acontecimento bem marcante para mim nesse sentido foi no episódio em que a avó do Godai marcou um encontro dele com a Kyoko; no primeiro momento ele fica irritado por ela estar se intrometendo na vida dele, mas depois aproveita a situação, eles visitam vários lugares, mas estranhamente sempre algum dos seus vizinhos está lá; depois começam a fugir deles, desencadeando um jogo de gato e rato bem divertido, e isso acaba os aproximando, até que chega no final e eles conseguem despistá-los, com finalmente os dois tendo um momento sozinhos, calmo e cheio de ternura passeando num parque juntos, onde só a companhia um do outro importa.

A Kyoko é outra personagem que também teve uma bela curva de aprendizado. No episódio 52, ela se toca que não está mais pensando tanto no Soichiro, então decide visitá-lo para dizer ser muito grata por tudo que viveram, mas que também não dá para ficar presa ao passado, que surgiu outras pessoas na vida dela e que essa vida de gerente do Maison Ikoku a faz feliz. Pela primeira vez na obra vemos uma Kyoko se sentindo livre, mesmo com toda pressão de seus pais que ela case logo, pedindo para sair do Maison e tentando controlar sua vida. Chega um ponto da história que a Kyoko não esconde mais que escolheu o Godai e que tem um sentimento forte por ele, ela só não deixa isso explicito, um pouco por ela ter esse medo de estar enganada, de descobrir que o Godai talvez não a ame tanto assim, e bem no fundo ela diz que se começar a amar o Godai significará que seu amor pelo Soichiro não era real; a Yagami acha isso covardia, uma desculpa para não admitir seus verdadeiros sentimentos. A conclusão do caminho da relação dos dois só vai se dar no final do anime.

Além dos dois, Maison Ikkoku tem uma galeria de personagens memoráveis. Caso da Akemi, uma jovem ruiva provocante que não se importa em andar por aí com uma camisola transparente e de se aproveitar do Godai, embora ela se faça de durona com um jeitão independente que não se apega a ninguém e só quer saber de farra; ela possui um lado mais sensível, que poucos personagens conhecem. Temos o Yotsuya, um sujeito estranho que vive espiando e roubando comida de Godai, a ponto de cavar buracos na parede que divide seus quartos. Ele possui um emprego misterioso que não conta para ninguém, e também é bem carismático e o mais engraçado do anime. Outra coadjuvante de presença é a Ichinose, uma senhora que vive bêbada, que adora dançar a todo instante, sempre aproveitando os momentos que a vida lhe reserva. Ela também serve como ponto seguro, dando diversos conselhos com seu olhar mais experiente pro Godai e pra kyoko. E por último dos personagens principais temos o Mitaka, ele é um professor de tênis que dá aula para a Kyoko e a Ichinose, e também é um rival do Godai em busca do coração da Kyoko; ele vem de uma família rica onde cursou uma das melhores universidades do país. A disputa entre ele e o Godai é bem saudável, os dois estão bem determinados para ficar com a mão da gerente do Maison, ele é um cavalheiro e trata as mulheres como umas damas. Mais para frente tem todo um arco muito bem construído envolvendo-o com seu tio devido a um planejamento de um casamento arranjado com a Asuna, uma jovem doce e meiga que também é de uma família rica. Existem outros personagens orbitando a história, como a Kozue, Yagami e o Kentarou, e que também tem seus momentos de destaque.

Os dilemas do cotidiano e o acolhimento da melancolia

A forma como a obra levanta e desenvolve as pautas cotidianas, evidenciando os anseios e dramas da juventude e do começo da vida adulta é de uma realidade e sensibilidade ímpar, o espectador consegue se relacionar com os conflitos dos personagens com muita facilidade. O maior caso disso como foi citado anteriormente é o Godai, um garoto do interior inexperiente tentando a vida numa cidade maior, buscando um emprego para ter uma estabilidade financeira e mais respeito social; visando seu objetivo de construir um futuro com a Kyoko, dele passando por diversas entrevistas e levando vários “nãos” na cara; do Godai tomando a decisão de se mudar temporariamente pro cabaré para se focar nos estudos de professor, mesmo que isso desperte uma incerteza em sua mente, pelo medo de não ter um amanhã caso não passe na prova. Também vemos inúmeros dilemas em outros personagens, caso da Kyoko onde seus pais ficam a pressionando para se casar logo, e ela cheio de dúvidas sobre se conseguirá se conectar com alguém profundamente depois do que aconteceu com o Soichiro; é mostrado também as dificuldades de gerir uma pensão, ela encontrou diversas dificuldades para tentar manter firme o negócio, seja por falta de estrutura do local, dos pais pedindo para ela se mudar ou até dos vizinhos fazendo muita bagunça. Um episódio bem sintomático dessa abordagem do anime é o 11, mais focado no Kentarou e na sua dificuldade de se enturmar com as outras crianças; vemos também ele desabrochar e ter sua primeira paixão, o grande mérito do anime e na forma que ele trabalha o crescimento dos personagens e os seus conflitos internos e mundanos do dia a dia.

A frase “não há lugar melhor que o nosso lar” é de uma sabedoria imensa. Quando se é criança você adora ir para casa dos seus amigos, passar vários dias, muitas vezes só quer distância de sua casa, mas aí você cresce e percebe que nenhum local no mundo é tão confortável e te deixa tão à vontade quanto seu próprio cafofo. Quando era guri eu praticamente só me interessava em animes com muita porrada e ação, passou um tempo então fui atrás de tramas mais densas com um roteiro mais refinado; hoje dou muito valor para um bom slice of life que toque meu coração de uma forma que nada conseguir tocar, e foi isso que Maison ikkoku fez, me trouxe um sentimento de pertencimento muito verdadeiro. Me senti um morador daquela pensão em muitos momentos, participando das festas e das curtições daqueles personagens, era um genuíno sentimento de ter encontrado um lugar para chamar de lar. Muito disso se deve tanto a sua estética quanto pela forma como a obra encara os dramas da rotina e dos momentos humorísticos e românticos; toda a comédia envolvendo o cachorro, a rivalidade do Godai com o Mitaka, o Yotsuda servindo como um excelente alívio cômico, os capítulos especiais onde reunia todos os principais personagens como o de praia, piscina, baseball e festivais. É uma condução tão assertiva e com um domínio tão forte da narrativa que a Rumiko Takahashi executa, que fiquei em todos esses episódios com um sorriso enorme na boca, me divertindo horrores e nem vendo o tempo passar.

Apesar da força desses momentos cômicos e do impacto que eles geraram em mim, a principal razão desse sentimento acolhedor ter sido tão evidente na minha experiência se deve ao fato dessas passagens com ar melancólico que o anime possui terem me tocado profundamente. O desenho começou mais leve e focado na comédia romântica, mas com o tempo foi se aprofundando na sua temática e na forma de conduzir as relações interpessoais, trazendo uma melancolia sublime e muito delicada, onde muitas vezes conseguia ressoar no meu âmago, invocando esses sentimentos de memórias de um passado que não existe; uma junção de felicidade e amargura, essa luta por propósito na vida, de valorizar o hoje e acreditar que apesar de todas as dificuldades as coisas vão dar certo; de aproveitar esse momento porque um dia ele passa e não volta mais, de que um dia você encontrará uma pessoa que te complete e te mostre que a vida vale a pena. E junto desses momentos a trilha sonora intimista com músicas de baroque pop e sunshine pop dos anos 60 potencializam essa emoção, você sente esse quentinho no coração e uma certeza que você está seguro nesse momento, vislumbrando um futuro de maior esperança.

Quando o mal-entendido vira regra, e não exceção

Infelizmente nem tudo são flores. Um elemento constantemente levantado na trama é o uso do mal-entendido para mover o roteiro, quando isso acontece tendo uma micro repercussão através do impacto contido em episódios isolados não chega a ser um problema, vira até uma boa ferramenta cômica, o problema é quando isso ocorre repetidas vezes para guiar as atitudes e as motivações dos personagens. Para piorar, algumas dessas cenas são forçadas e não conseguem se explicar de maneira coerente, isso considerando a própria noção de lógica que o anime estabeleceu; a Rumiko Takahashi às vezes cai no erro de ir para o caminho mais fácil e preguiçoso, criando artifícios de roteiro muito básicos para desencadear conflitos entre os personagens, sendo que se eles conversassem por 5 minutos de maneira franca tudo se resolveria e ficaria esclarecido tranquilamente. Isso ocorre como um problema de fato em dois momentos críticos da obra, para exemplificar trarei alguns exemplos. Em um deles, Godai fez uma confissão para Kyoko numa fita cassete, com um discurso sincero e do coração dizendo tudo que sente por ela; e também deu um recado para uma de suas alunas que estava apaixonada por ele, recusando de maneira educada, que no caso também gravou na fita. Acabou que ele trocou as fitas, a Kyoko ficou com raiva dele por achar que ele a sacaneou e os pais da criança acharam um absurdo um professor mandar um recado como aquele para uma criança. Só que o Godai não ficou sabendo dessa troca, os pais não avisaram para a pré-escola o que aconteceu, e nem os vizinhos do Godai que ouviram a fita avisaram também a ele, sendo que esse é o povo mais fofoqueiro de todo anime. No final, acabou criando um distanciamento do Godai com a Kyoko por um motivo besta e que não tem lógica.

Logo na reta final, tivemos mais algumas cenas parecidas com essa, como quando o cachorro do Mitaka e a da Asuna fizeram sexo e a fêmea ficou grávida, mas o povo do Maison e o Mitaka entenderam que a Asuna que estava grávida. Nesse cenário, o Mitaka se viu numa situação que ele precisava se casar com ela, e assim aconteceu, e só depois que o Mitaka descobriu que era a cadela que estava grávida, olha o nível que o mal-entendido chegou. Logo depois rolou uma sequência de mal entendidos envolvendo o Godai, Kyoko, Kozue e a Akami, com um beijo que só foi uma brincadeira, um pedido de casamento falso, uma ida ao motel que nada aconteceu… definitivamente a Rumiko não poupou a mão na criação dessas situações mal explicadas, em muitos delas os personagens tem dificuldade de tomar atitudes para esclarecer a situação. Outro problema do anime que felizmente só ficou no começo da obra foi o das insinuações indelicadas, para dizer o mínimo, do Godai tentando encostar na Kyoko, isso mostra como o machismo é mais estrutural do que a gente pensa, principalmente no Japão dos anos 80, mas com crescimento do Godai enquanto ser humano, essas coisas pararam de acontecer.

A angustiante poesia do adeus

Apesar dos problemas, Maison Ikkoku tem com folga bem mais qualidades que defeitos, e o fim do anime juntamente com a conclusão do arco dos personagens foi de uma beleza tocante, honrou toda a trajetória que eles passaram ao longo da obra. O desfecho do Mitaka foi espetacular, dele tendo uma conversa franca com o Godai, o aconselhando para ele cuidar bem da Kyoko, mesmo o Godai sendo a última pessoa que ele queria ver naquele momento. A forma como o Mitaka finalmente aceita a Asuna de coração é linda, dele falando que muitas vezes sorrimos pros outros para disfarçar nossas tristezas e frustrações e esconder nossas feridas, e a Asuna percebe isso e tenta o máximo que ela pode para curar esse coração ferido e preencher esse buraco que ainda existe em seu coração; e no fim o Mitaka fica contente por ela ser a pessoa que vai acompanhá-lo pelo resto de sua vida. O fim da Kozue também é lindo, dela se casando com um amigo de infância da sua escola, e finalmente conseguindo dizer “obrigado” e adeus ao Godai.

É claro que eu não podia terminar essa review sem falar da conclusão do Godai e da Kyoko, e não poderia ter sido mais satisfatório. Foi algo que todo mundo que acompanhou o anime estava esperando, no momento que finalmente os mal entendidos são resolvidos é quando o Godai puxa a Kyoko e diz que só existe ela no mundo dele, e que a ama completamente de corpo e alma. Nessa reta final finalmente ocorre uma declaração de ambas as partes, de um aceitando as diferenças do outro a fim de construir uma relação juntos, vemos uma conversa bem madura e calcada na realidade e nos dilemas de se ter um relacionamento sério e verdadeiro. Nessa mesma conversa a Kyoko fala que nunca esquecerá o Soichiro, de que ele foi sua primeira paixão e seu ponto seguro, então o Godai responde dizendo que não poderá ser um substituto dele, mas que dará o melhor que ele pode oferecer com todas as suas forças, em busca da felicidade dela; assim a Kyoko conclui esclarecendo que não espera que ele seja igual o Soichiro, que ela o ama bem do jeito que o Godai é, assim o Godai a abraça por trás enquanto neva na rua, firmando de vez essa camada de união e proteção entre ambos. Logo após vemos o Godai se formando e conseguindo um emprego como professor de pré-escola, algo que ele sempre sonhou, e com a ajuda de sua avó, eles conseguem se casar e anos depois ter um filho juntos.

Eu nem tenho palavras para descrever como foi recompensador acompanhar Maison ikkoku, foi uma experiência mágica que tenho certeza que não terei igual com outra obra. Esse final me preencheu de várias maneiras diferentes, eu senti um vazio e uma ansiedade quando terminei que a muitos anos eu não sentia, me vi órfão do dia a dia dos personagens, dos vizinhos do Maison abusando o Godai, dele se forçando em busca de um futuro próspero e dos vários núcleos românticos e cômicos que essa história trouxe. Comecei o anime achando que 96 episódios seriam muitos e que em algum momento ia saturar os conflitos, e terminei querendo muito mais, pensando na obra a todo instante. O mais difícil é se despedir de tudo isso, da companhia que Maison Ikkoku me fez durante as várias madrugadas que passei vendo, do sentimento acolhedor que ele me trouxe, mas no fim o que me reconforta é saber que levarei essa obra pelo resto da minha vida.


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