Jujutsu Kaisen 0: Cuidado com as amizades… | Review

Assistimos ao filme de Jujutsu Kaisen 0 a convite da Crunchyroll e da Sony Brasil, a quem agradecemos muito a oportunidade. O filme lança nos cinemas brasileiros em 28 de abril de 2022, não perca essa experiência no cinema mais próximo de sua casa! Abaixo, segue o texto do nosso membro Leo Medeiros.


Histórias são maneiras de nos transmitirem e nos fazerem questionarmos valores. Nas histórias shounen, a amizade é um dos tópicos mais comuns e de maior importância, visto seu público alvo. Ela acaba, porém, por ser um recurso controverso, uma vez que a sua frequência e eficácia deixam os autores confiantes demais para usá-la como motor de suas narrativas, indiscriminando seu poder. E esse parece ser o caso de Jujutsu Kaisen 0.

A amizade é o centro da trama do longa, que adapta o volume 0 da obra homônima de Gege Akutami. Somos separados de Itadori, Nobara e Fushiguro, mas ainda temos a presença marcante de Gojou Satoru e do grupo formado por Maki, Toge e Panda; e, claro, não podemos esquecer do nosso novo protagonista, Okkotsu.

Okkotsu é um jovem “convidado” (leia-se, levado por livre e espontânea pressão) por Gojou para a Escola Jujutsu. O motivo é a existência de um espírito amaldiçoado em seu corpo, chamado Rika-chan, que embora o proteja, o faz de forma violenta e acaba por condená-lo à solidão ao não deixar que ninguém se aproxime do seu hospedeiro. Nessa nova jornada, então, o objetivo de Okkotsu é não só conseguir conter e dominar Rika-chan, como também enfim conseguir fazer amizades e viver uma vida normal (na medida do possível sendo um feiticeiro).

O problema disso na execução do filme já começa na apresentação do drama de Okkotsu. Ao invés de um esforço audiovisual em transmitir o peso da solidão dele, somos jogados a uma demonstração de força e temperamento de Rika contra pessoas causando mal ao Okkotsu. Embora não seja incoerente abordar o medo do rapaz em relação a esse poder dentro dele, é estranho e narrativamente fraco que conheçamos isso diante de uma cena um tanto genérica de briga com valentões. Para um recorte curto como um longa, era preciso mais poder da direção para comprar o drama do personagem.

Depois de um ponto de largada frágil, vemos que Jujutsu Kaisen 0 trabalhará num compasso bastante confortável e reconhecível em começos de histórias sobrenaturais de luta: Okkotsu irá, além de conviver com Maki, Toge e Panda, fazer missões com cada um deles separadamente para conquistá-los — e controlar Rika. É uma fórmula que não cabe exatamente mal num filme, porque, se pensar bem, 1 hora e meia dá basicamente uns três episódios, e não é irreal pensar um episódio para a integração de cada personagem no elenco. Entretanto, essas missões são basicamente situações forçadas ao extremo para o Okkotsu de alguma forma conquistar essas pessoas. É estranho, porque existe uma razão até para Toge e Maki (o Panda é meio que só um cara legal o suficiente para simplesmente gostar do Okkotsu) gostarem do garoto, mas essas razões acabam sendo menos importantes que a força dramática dos combates. É como se cortassem a parte da convivência — que, para mim, é a parte mais importante.

Mais estranho até, na verdade, é que não existe solidez nas razões do Okkotsu para se apegar aos novos amigos e não é muito abordado o quão capaz de lidar com relações ele é. Tem um vão aí. Quando cheguei ao clímax e “eu quero proteger meus amigos” foi a maior determinação do protagonista, honestamente só consegui pensar o quão ambiciosamente apressado o filme é — e como Okkotsu acaba por ser tão substancialmente ruim quanto Itadori, mas sem um pingo do carisma deste.

Rika e Okkotsu é outra relação que me incomoda. Eles pouco conversam como hospedeiro e maldição, diferentemente de Itadori e Sukuna, o que é estranho no final quando parece que a relação deles evoluiu. A gente vê o ponto em que a intenção de Okkotsu muda em relação à Rika, mas não o ponto em que eles começam a se tratar de forma diferente (até porque mal vimos como eles se tratavam antes disso).

Passando para outro ponto, o worldbuilding de Jujutsu Kaisen continua confuso. Esse trecho até nos traz algumas referências e horizontes (que não quero dar spoiler do que se trata aqui), no momento em que começa a numerar algumas entidades do universo, nos dando uma ideia de aonde reside a maior força dele, mas ainda é pouco, principalmente se também pegarmos a primeira temporada e vermos que nada disso foi posto em questão além dos inúteis níveis de maldição (no fim das contas, não importa, porque eles só vão enfrentar tipos especiais afinal). Ademais, tem essa maldita escola que simplesmente não parece uma escola. Lógico que eu não quero a repetitividade de Boku no Hero, mas o mínimo de esforço para eu ver alunos e uma organização que lembre uma escola seria bom; se ficamos carentes disso na primeira temporada do anime, aqui não é muito diferente.

A escolinha do barulho, que tem uns 4 alunos.

Mas isso tudo é culpa da staff do anime em si? Não necessariamente. O material original é que parece fraco mesmo. Aliás, se algo vale seu ingresso aqui são as sequências de ação alcançadas graças ao diretor Sung Hoo Park e a sua boa equipe. Nesse sentido, você não vai se decepcionar, principalmente no clímax. Ação boa, do nível da primeira temporada, garantida!

Infelizmente, um ponto de largada frágil, relações mal desenvolvidas, mais um vilão filósofo de bar e uma abordagem genérica tornam o saldo de Jujutsu Kaisen 0 mais negativo do que positivo.


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