Nausicaa e a aceitação do desespero

Autor do texto: Kaybleiber

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Ter sua própria identidade é algo que muitos autores procuram em seus trabalhos, alguns passam a carreira inteira buscando uma autoralidade, são essas conjunções de elementos que os tornam únicos e fazem seus nomes serem lembrados por gerações. Quando pensamos no Inio Asano, logo imaginamos obras que retratam o amadurecimento da juventude associado a dramas psicológicos e um forte realismo narrativo, já no caso do Mitsuru Adachi, vemos comédias românticas baseadas no cotidiano com um tom de pureza e diálogos deliciosos. Nem sempre as pessoas veem essa identidade com bons olhos, às vezes essa repetição constante e padronizada se desgasta rápido, caso do Zack Snyder, por exemplo, que usa e abusa de câmera lenta e um ar sombrio em seus filmes de super-herói, mas aí o problema não está no conceito e sim em como é executado. Se acomodar e repetir a fórmula no automático sem criatividade é sentença de um rápido desgaste, e felizmente uma das pessoas que mais se afastam desse problema é o Hayao Miayazaki, ele é um dos diretores e escritores mais lembrados quando pensamos em identidade, seja na sua mensagem, estética e narrativa, e muito dessa fama se deve a Nausicaa, que foi uma das primeiras e a mais longas obras que ele trabalhou a tocar nessa temática pró-ambientalista e pacifista, e se engana quem acha que a mensagem do mangá se resume apenas a esses conceitos.

Kaze no Tani no Nausicaä é um mangá escrito e ilustrado por Hayao Miyazaki, publicado na revista Animage, concluído em 7 volumes e serializado de 9 de outubro de 1982 até 10 de fevereiro de 1994. Em 1984 foi adaptado para um longa animado com direção do Miyazaki e produção do Isao Takahata, o filme surgiu antes do estúdio Ghibli, que posteriormente comprou os direitos da obra, a animação compila até o 2º volume do mangá. Essa review, com spoilers, é baseada no mangá.

Na trama, a humanidade se esforça em sobreviver num mundo em ruínas, divididos em pequenas populações e impérios, isolados um dos outros pelo mar da corrupção, uma floresta com plantas e insetos gigantes, tudo nesta floresta é tóxico, incluindo o ar, esse cenário calamitoso foi causado mil anos atrás após os 7 dias de fogo, um evento que destruiu a civilização humana e a maior parte do ecossistema da Terra. Nausicaa é a princesa do pequeno reino do Vale do Vento, que tenta compreender melhor estas florestas nocivas aos humanos, ao mesmo tempo que tenta salvar seu povo da ação militar dos reinos vizinhos.

A história da publicação

O contexto histórico da publicação do mangá é recheado de percalços. Em julho de 1981, Miyazaki apresenta a Tokuma Shoten diversos esboços de uma animação com uma história de um garoto em terras devastadas, a ideia foi mal vista pela empresa e não foi para frente, mas essa premissa entrou em contato com Toshio Suzuki, o então diretor da revista Animage, figura imprescindível na estratégia de marketing e no sucesso da companhia, ele propôs que essa ideia virasse um mangá, que assim seria mais fácil promover uma adaptação a um estúdio de anime. Com certa desconfiança, Miyazaki exigiu 3 condições para fechar o acordo, a primeira é que ele poderia pausar o mangá a qualquer momento caso iniciasse algum projeto com animação, a segunda é que a total liberdade criativa seria garantida, com a editora podendo cancelar a série caso não vendesse bem, e a última é que ele não desenharia já pensando em como adaptar para anime, ele queria liberdade para poder experimentar outras técnicas artísticas.

As condições foram aceitas e assim seguiu a publicação da obra, esses acordos mostram como o Miyazaki nunca levou o mangá de Nausicaa como sua prioridade, seja por motivos criativos ou financeiros, seu grande interesse sempre foi o mundo das animações. Muito se especula que uma série de acontecimentos mercadológicos impactaram o destino de alguns acontecimentos do mangá, como seguir o hype de protagonistas femininas por causa da revolução do shoujo e de ter uma narrativa mais adulta. Após uma relação conturbada com a revista Animage para adaptar o mangá para anime, Miyazaki finalmente cedeu e disse que só aceitaria Nausicaa em animação se ele fosse o diretor, e assim aconteceu, naturalmente a obra foi um grande sucesso. Miyazaki chegou a dizer que Nausicaa servia como uma válvula de escape para suas ideias mais sombrias, permitindo que ele produzisse conteúdos mais alegres para anime.

O mundo pós apocalíptico do Miyazaki

A construção de mundo no mangá é muito rica, são vários os elementos desenvolvidos no tempo certo e de maneira profunda, Miyazaki criou esse mundo distópico com várias leis e conceitos próprios cercando a mitologia daquele universo. A vegetação e as florestas são de extrema importância na obra, pois elas liberam miasma no ar, uma toxina venenosa que pode matar um ser humano em minutos, forçando assim as pessoas a usarem mascaras nesses lugares, por isso a civilização comum tem repulsão e evita esses locais. Mesmo assim, existem povos que moram nessas florestas e encaram ela de forma sagrada, muitas das ações nocivas das plantas são consequências da imprudência do ser humano, como os fungos que ameaçaram destruir toda vida daquele mundo, mas que foram parados justamente pelos insetos e pela floresta, eles se sacrificaram para equilibrar o desiquilíbrio causado pela sociedade, e assim estancar a confusão, medo e o ódio presente no coração dos fungos. Os insetos também são fundamentais na trama, existem várias espécies deles na floresta, contudo o mais importante é o ohmu, criaturas misteriosas para as pessoas; eles possuem uma aparência amedrontadora, mas são as mais nobres criaturas, são seres vivos puros cujo objetivo é curar as feridas da terra e cuidar da natureza.

Existem muitos povos presentes no mangá, cada um com sua própria cultura, eles adoram deuses diferentes, tem línguas diferentes, tradições diferentes, alimentações diferentes; Miyazaki se preocupou em criar contextos e costumes específicos para cada comunidade. Entre os vários povos, existe o vale do vento, que é onde mora nossa protagonista. É um país pequeno que se assemelha a um campo do norte da Europa onde as pessoas vivem com certa dificuldade, mas que possuem um senso de comunidade e uma união muito forte, eles só conseguem manter sua autonomia por causa de sua nave armada, as tradições dizem que o líder do vale do vento deve servir ao imperador como piloto de guerra. Um dos grandes combustíveis políticos e bélicos que movem a trama para frente é o conflito entre os dorokianos e os torumekianos, ambos se odeiam e estão em guerra, os torumekianos perderam força e influência por causa do imperador, eles são aliados do vale do vento, com seu avanço territorial expulsaram uma parte dos dorokianos, um povo liderado por sacerdotes e que fala outro idioma, eles estão em minoria, pois muitos foram feridos pela guerra e não tem para aonde voltar, eles produzem ohmus e plantas artificialmente para usar como armas contras do torumekianos, muita dessa irresponsabilidade de brincar com a vida gera consequências desastrosas no mangá, ameaçando o status quo da humanidade.

Outra tribo presente na obra é o povo da floresta, que escolheu se isolar da civilização e viver pacificamente na floresta com harmonia com os insetos e a vegetação, usando seus recursos de maneira justa e ponderada, eles mostram que o mar da corrupção pode ser perfeitamente habitável. Temos também os domadores de insetos, um grupo pequeno que usam os insetos no seu dia a dia para caçar e fazer outras atividades, é um povo ignorante e marginalizado pelas outras civilizações, mas a floresta não os pune, pois, embora usem os insetos, eles os amam verdadeiramente. Existem também outros países que circulam ativamente no universo de Nausicaa, como o povo de pejitei, que foram massacrados pelos torumekianos, temos também o povo de eftal e outras tribos menores. Uma das grandes qualidades de Kaze no Tani no Nausicaä é que a obra consegue trabalhar e desenvolver vários núcleos ao mesmo tempo, sem ficar confuso ou cansativo; em certos momentos estão acontecendo várias coisas importantes em diferentes lugares e com diferentes personagens, geralmente um está ligado ao outro e vai desencadear uma consequência em outro núcleo, o mangá não fica enchendo linguiça com conflitos paralelos que não levam nada, tudo tem um propósito, e a forma como são conduzidos esses diversos núcleos contribuem na construção narrativa e temática da obra. Miyazaki se preocupou com os mais pequenos detalhes, além dos pontos abordados, as naves são engenhosas, as roupas dos personagens combinam com o contexto que eles estão vivendo, quando ele quer retratar florestas e paisagens cheias de vida mostrando a riqueza da vegetação ele consegue, quando ele quer mostrar também ambientes mais áridos, sujos e pobres ele faz com brilhantismo, tudo o contexto que circulam os personagens está representado de maneira profunda e detalhada.

O elo que une todos os povos

Eu tenho uma conexão e um carinho muito forte com a Nausicaa, quando eu penso em uma personagem feminina forte da ficção ela é a primeira que me vem à mente. Para fazer essa review eu reli o mangá, e desde a primeira vez que eu tive contato com essa personagem eu fiquei completamente encantado, esse sentimento começou no anime e se estendeu para o mangá, e nessa segunda leitura confirmou e intensificou mais ainda a admiração que eu tenho por ela, Miyazaki é mestre em trazer essa representatividade através do protagonismo de personagens femininas importantes e empoderadas, e a Nausicaa foi a primeira delas, ela tem um coração enorme, de muita bondade onde quase sempre se preocupa mais com os outros do que com si mesma; ela ama as plantas, os insetos e os humanos da forma mais pura e verdadeira possível. Desde o começo ela se preocupa com os ohmus, tenta entender o lado deles e fica se perguntando como será que eles observam o mundo, só pelos olhos consegue sentir se eles querem atacar ou não, se estão com raiva ou se estão chorando, ela também consegue ler o vento e sentir os corações dos seres vivos, se conectando com eles e ouvindo as vozes dos insetos e das florestas na sua mente. Ela foi a primeira mulher a se tornar líder do vale do vento, as pessoas da vila a respeitam e a veem como líder e uma inspiração a ser seguida.

Embora ela seja vista por muitos como uma heroína que vai salvar o mundo, a Nausicaa possui muito humanidade, não se acha melhor do que ninguém, e como todo ser humano, comete erros. No começo do mangá, ela era muito impulsiva e em uma parte do seu interior carregava um ódio por estar conectada e poder sentir as mesmas coisas que os ohmus sentiam, ela compartilha a dor deles, pois os ohmus sempre foram atacados e odiados pelas pessoas, por isso ela tinha medo de se descontrolar, em muitas ocasiões teve medo da guerra, mas seu forte senso de justiça e sua vontade de ajudar as pessoas deram forças para ela continuar, a princesa do vale do vento até já chegou a ser questionada se amava mais ou dava mais atenção para os insetos e florestas do que para seu povo no vale, mas depois que saiu do vale do vento, amadureceu, entendeu suas responsabilidades e foi mais firme em suas decisões, sempre procurando o bem coletivo de todos.

Num momento crítico do mangá, a Nausicaa encontra um bando enorme de ohmus indo se sacrificar para parar o fungo que está exponencialmente se espalhando, para assim curar as feridas da terra, ela então começa a passar por conflitos existenciais de culpa, percebendo que não pode fazer nada para impedir que os ohmus morram, por causa da ganância e do egoísmo humano. Ela atravessou uma crise devido a esse sentimento de impotência e da enorme pressão que existe em seus ombros, então decidiu ir até o ponto central dos fungos para se sacrificar junto dos ohmus e assim virar parte da floresta; ela foi confrontada pelos seus demônios internos que a acusou de ter responsabilidade em tudo de ruim que está acontecendo com a natureza, que as mãos dela estão cheias de sangue. Foi então que no seu momento de maior vulnerabilidade, Nausicaa sentiu o coração da floresta, percebeu que ali era o lugar que acalmava seu coração, sem ódio e amargura que o ser humano contemplava, foi onde se sentiu mais em paz com si mesma, e junto da orientação da floresta, finalmente compreendeu que sua hora não havia chegado, que ela ainda tinha muitos benefícios para trazer a humanidade.

Depois de muitas transformações, do julgamento daquela sociedade, momentos de dúvida e de coragem, de ter passado perto da morte, de ter salvado muitas vidas, as pessoas finalmente entenderam que a Nausicaa é a floresta em forma humana, ela é o centro dos dois mundos e o elo que une todos os povos, ela conseguiu conquistar as pessoas por sua coragem e altruísmo, por procurar o equilíbrio e sempre pensar no melhor para à terra e seus habitantes, e assim recuperar a austeridade e harmonia entre os reinos. Mesmo com muito peso em suas costas, sofrendo com a saudade de casa, a morte de seu pai, dos insetos e de milhares de pessoas ela se esforça para seguir em frente e procurar o melhor para os seres vivos. E claro, por ser uma pessoa só, ela nunca conseguiria fazer tudo que fez sozinha, muitas pessoas a ajudaram, tanto fisicamente quanto espiritualmente, mostrando que ninguém vence sozinha.

Além da Nausicaa, o mangá é repleto de bons personagens e uma das principais é a Kushana, ela é comandante e a quarta filha do imperador do reino torumekiano; ela é forte, inteligente, tem uma personalidade de impacto e é muito impiedosa. Existe um conflito dela com seus irmãos, ela suspeita que eles pretendem traí-la a qualquer momento para eliminar uma concorrente da coroa no reino. Kushana possui uma visão armamentista e tem repulsão aos insetos, ela é uma líder nata, mantém firme a lealdade e admiração dos seus soldados, e esse sentimento é reciproco. Ela possui uma forte rivalidade com a Nausicaa, a respeita como uma guerreira, mesmo as duas tendo visões de mundo diferentes, elas se ajudam e trabalham juntas. A Kushana é uma mulher fria, com uma visão pessimista da guerra, contudo, no fundo, a comandante tem um bom coração, e sua convivência com a Nausicaa ajuda a florescer esse lado, do meio para o final do mangá ela se depara constantemente com seu povo perecendo, vários morrendo em batalhas, por isso Kushana carrega um forte sentimento de vingança em seu coração contra seu pai que quer vê-la morta e contra os dorokianos, mas ela não demonstra fraqueza perante seus soldados para não os desestimular. Muito dessa personalidade dela vem porque quando era criança seu pai mandou uma bebida envenenada para ela, mas foi sua mãe, a imperatriz que bebeu, e acabou perdendo a sanidade; sua mãe fez de tudo para proteger sua filha, a Kushana cresceu nesse ambiente hostil, foi forçada a amadurecer cedo para se proteger, sempre ficando alerta ao seu redor, pois sabia que não podia confiar em ninguém.

Durante a guerra, em muitos momentos de vulnerabilidade, a Kushana precisou controlar seu ódio e medo para sobreviver, ela começou a carregar uma enorme tristeza se perguntando se alguma porção da terra restará humanidade depois que a guerra acabar, e que caso aconteça os vivos vão sentir inveja dos mortos. Nessa jornada interna, ela abriu os olhos e começou a reconhecer seus erros, o arco de crescimento dela é incrível, começou promovendo a batalha com um espírito de vingança e poder, e terminou condenando esse ciclo de ódio e violência interminável; ela acredita não ter mais redenção, mas depois percebe que o mesmo sangue que antes a sujou pode lhe purificar. Outro personagem importante é o Kurotawa, braço direito da Kushana, é um guerreiro obstinado que faz de tudo para conseguir o que quer; inicialmente ele queria usar a Kushana em seu benefício próprio, mas cria um vínculo com ela e começa a servi-la com lealdade. Entre alguns outros personagens fundamentais para trama temos o Yupa, um velho espadachim que é amigo e foi professor da Nausicaa, ele é muito sábio e sabe usar as palavras, outro senhor que é amigo da Nausicaa é o Mito, aviador que a acompanha em várias missões, temos também o Asbel, guerreiro e mecânico honrado que tem ódio dos torumekianos, pois eles atacaram seu país, Pejitei, no começo ele também atirava e atacava os insetos para se proteger, mas por causa da Nausicaa começou a entender a importância deles. Os vilões de uma parte do mangá são o Miralupa e o Namulith, ambos são irmãos e imperadores dorokianos, um é imortal e tem poderes místicos e o outro é um ser normal, mas possui muita maldade no coração. Embora eles tenham sua importância a trama vai para um caminho muito além deles.

O que seria da luz se não existissem as trevas?

Kaze no Tani no Nausicaä foi uma das primeiras obras que o Miyazaki abordou várias das suas temáticas e elementos que seriam constantes em sua carreira, com uma mensagem pacifista, valorizando a fauna e a flora, condenando a atitude egoísta e individualista do ser humano, mostrando sua paixão por aviação, e colocando nas suas histórias uma protagonista feminina de destaque. A própria condição que se encontra o universo da obra é consequência das tolas atitudes da sociedade, onde a civilização industrial saqueou as riquezas do solo, poluiu o ar e remodelou as formas de vida a sua vontade, resultando em cidades queimadas e mergulhadas no desespero e terras estéreis devastadas se tornando a normalidade, mil anos após acontecer tudo isso o ser humano não aprendeu a lição e continuou punindo a terra e os insetos, e continuaram a guerrear entre si. Essas atitudes desencadearam o daikasho, que é o desequilíbrio ambiental fazendo as florestas começarem a ferver e assim erguer um tsunami para cobrir a terra e destruir a vida humana. Chegou um ponto no mangá que a situação estava tão calamitosa que um grupo de refugiados preferiu aguardar em seu lar esperando o fungo os matar do que ficar vagando ser rumo numa terra sem vida, com os gados mortos, sem grama, para enfim eles serem libertados dos impostos altos, das guerras e das doenças.

Embora tenham suas semelhanças, a conclusão temática do anime e do mangá são bem diferentes. O anime segue principalmente essa visão do parágrafo anterior, já o mangá se aprofunda bem mais em outras questões. No volume final, a Nausicaa está aprisionada num reino de fantasia que parece o paraíso criado pelo cão de guarda imortal do povo antigo, ele está tentando acabar com o espírito dela para deixá-la presa nesse local, e para isso revela as verdades escondidas daquele universo, de que embora a humanidade anseie por um mundo purificado, nunca iremos sobreviver nele, que o corpo humano é diferente do que já foi um dia; foi então que a Nausicaa percebeu que o ser humano modificou a vida por livre arbítrio. Na época dos sete dias de fogo, quando o mundo estava banhado em poluição e falta de esperança, aquela sociedade que era muito avançada tecnologicamente procurou um meio de refazer o ser humano e outras formas de vida para retornar o mundo ao que ele foi um dia, com técnicas para cristalizar matérias contaminas e as inverterem em substâncias inofensivas, e isso gerou o mundo que a Nausicaa vive hoje. O objetivo desse povo antigo era criar um ecossistema para limpar o mundo, que tivesse um objetivo específico, mas esse conceito em si vai contra as leis da natureza, teoricamente era um plano perfeito para o renascimento, mas as tolices humanas continuaram, o niilismo e o desespero se espalhou fazendo as coisas darem errado. A conclusão de tudo isso é que a humanidade deve abraçar e aceitar seu presente, mesmo com as mudanças, e se nós tentarmos moldar nosso presente baseado nos nossos desejos individualistas e egoístas, em vez de nos adaptarmos naturalmente a ele, vamos perecer.

Na reta final do mangá, Nausicaa acessa a cripta e entra num debate filosófico com o espírito divino presente na cripta, ele pediu para ela ajudá-lo a trazer esse mundo de purificação, uma vida perfeita que não vai existir mais dor e sofrimento, pois antes dos 7 dias de fogo a humanidade só conhecia a morte, o desespero, a pobreza, guerra e as doenças, e que criar esse mundo artificial e idealizado onde os seres vivos são imortais curaria todas as mazelas da vida e assim o ser humano conseguiria coexistir em paz. A Nausicaa é contraria a isso, ela sabe que ele está procurando destruir esse mundo atual para criar esse reino idealizado, e que mesmo que tenhamos sido criados artificialmente nossas vidas são sempre nossas, viver é se adaptar, estamos em constantemente evolução e aprendizado, todos mudam, sejam as plantas, os insetos e claro o ser humano, e que o universo é constituído de um equilíbrio entre a pureza e o sofrimento, e negar isso é negar a vida real, a tolice e a dor não deixara de existir em uma realidade que o ser humano exista, pois a imperfeição faz parte da nossa essência, de quem nós somos, e que ninguém pode mudar isso. Está errado esperar um mundo perfeito, que mesmo que o desespero exista, a felicidade e a iluminação estão aí para trazer esse contraste, a cripta nega a acreditar que a humanidade vai ser extinta e que a morte vai ser algo presente, mas a Nausicaa explica que a vida é assim, tudo tem um início, meio e fim, e que precisamos aceitar essa realidade. A forte convicção e a verdade presente em seu coração fizeram a Nausicaa expulsar esse espirito e fazer ele voltar a escuridão de onde veio.

Essa é a mensagem final do mangá, de que a vida continua, mesmo não sendo da forma ideal que muitos imaginavam, a floresta que foi danifica vai crescer de um novo jeito, os seres humanos vão reconstruir seus lares, é necessário aceitar essa nova realidade, buscar se adaptar e fazer o melhor possível que estiver a seu alcance, pois a mudança é imprevisível e imparável, o nosso grande mérito enquanto espécie é aceitar e conviver com essas diferenças tentando fazer nosso melhor, aceitar o bem e o mal, nossos defeitos e qualidades, invés de reclamar e negar a realidade. Também não quer dizer que temos que nos acomodar e não tomar atitudes, mas sim que precisamos andar conscientemente procurando um futuro próspero.


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