Horimiya #03 – #04 e os Caminhos Para o Romance Convincente – Análise Semanal

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Episódio 03

A sensação de mal-estar juvenil domina o primeiro segmento de Horimiya desta semana, com uma sequência da infância de Miyamura. Mesmo as cores parecem desanimadoras – roubadas de sua riqueza usual, bordas pretas emolduram claramente a sequencia como uma memória triste. Miyamura é enquadrado como silencioso e sozinho, preso em um limbo social.

Rotulado como “estranho”, “sombrio” e “assustador” desde o ensino fundamental, ele se tornou o recorrente último garoto a ser chamado para situações em grupos. “Estranho” é uma daquelas palavras carregadas, quase tanto quanto “normal”. Ambos são um fardo para as crianças à sua maneira, e é um rótulo, uma vez afixado pode ser muito difícil de descolar. Especialmente quando, no caso de Miyamura, é basicamente verdade. Todos nós somos estranhos à nossa maneira, mas, como um adolescência impopular implacavelmente atolado em autoconsciência, ele está mais em contato com esse lado de si mesmo do que a maioria. E a verdade é que é impossível se encaixar na sociedade se você for diferente. Isso se transforma em dúvidas que nunca vão embora, e vemos isso na suspeita de Miyamura sobre aqueles que parecem ser seus amigos. Sério, como alguém poderia ser meu amigo de boa vontade? É uma pergunta que crianças como Miyamura costumam fazer a si mesmas, e crianças como Miyamura nunca conseguem entender o poder ou a extensão disso.

Essa é a base de todo o personagem de Miyamura, e este é o episódio em que eu realmente gostaria que a história tivesse desacelerado um pouco, porque explica muito de como ele reage às pessoas ao seu redor, incluindo Hori. Parecia que estávamos passando por pelo menos dois episódios de material aqui. E além do ritmo extremo fazer com que muitas cenas parecessem apressadas ou fora do lugar, também diminuiu significativamente o impacto das sequências de camaradagem no final do episódio.

Acredito que o episódio realmente teria funcionado melhor se tivesse se limitado a explorar os sentimentos e inseguranças de Miyamura, mas também sinto que ele na verdade merecia ter todo o episódio para si, embora o segmento com Remi e Hori também tenha valido a pena, pois mostrava como Hori pode carecer de inteligência emocional, não estando totalmente ciente de seus próprios sentimentos, e que Remi é realmente menos inocente que seu arquétipo. Ainda assim, sequencias como a de quase confissão e as mãos silenciosamente apertadas de nossos protagonistas eram uma bela demonstração do quão charmoso todo esse elenco é e, até agora, sendo um exame de relacionamentos genuínos e autênticos.

★★★★

Episódio 04

O que mais me marcou no quarto episódio de Horimiya foi o quão bom ele foi para todos os seus personagens – cravando de vez essa série como uma narrativa de drama conjunto verdadeiramente forte com um elenco acima de tudo profundamente amável. Miyamura e Ishikawa acabam compartilhando sua pausa para o sorvete com Sengoku, em uma sequência que mais uma vez demonstra o talento único deste anime para um diálogo natural. Eles comentam sobre a mudança na cor de suas línguas e seus tamanhos, brincam sobre o harém de Sengoku em baixo de um ar-condicionado, etc. Este grupo de personagens tem um forte senso de química, e é tão bem retratado pelo trabalho de expressão e a atuação de personagens, que a maioria das cenas de Horimiya realmente parecem ser de um grupo de amigos passando algum tempo juntos – que também é um ponto fundamental do seu romance.

Na verdade, a aceitação direta da amizade casual e incondicional é o que já parece ser a arma não tão secreta de Horimiya. Horimiya não é um programa sobre pessoas que se odeiam, mas são forçadas pelas circunstâncias a eventualmente se respeitarem – é um romance sobre pessoas que praticamente já começam curtindo a companhia uma da outra. Hori é uma personagem que não tem medo de compartilhar seus sentimentos, e é muito claro em seus comentários e ações que Hori e Miyamura valorizam a companhia um do outro.

Francamente, é um pouco enlouquecedor para mim que tantos romances pareçam resistentes a abraçar esse estilo, já que romances construídos a partir de relações genuínas e imediatas oferecem tantos benefícios narrativos e emocionais. Se você construir um romance a partir de uma série de mal-entendidos, ou através de pessoas sendo, de forma infeliz, forçadas a dividir um espaço, você falha em capitalizar não apenas como é naturalmente gratificante ver personagens curtindo a companhia um do outro, mas também perdendo o caminho mais natural para um romance convincente e gratificante no sentido narrativo. Os romances mais memoráveis não são amores predestinados que devem lutar para se alcançarem (o que resume os meus problemas com o estilo-Shinkai de romance) ou inimigos em disputa que de repente se amam – os melhores romances são aqueles em que você consegue ver todos os passos cativantes ao longo do caminho, como Ookami to Koushinryou ou Katanagatari ou Toradora.

Depois de passar a maior parte do tempo ilustrando a importância de ter pessoas que nos valorizam incondicionalmente através de Miyamura e seu velho amigo, Shindou Kouichi, o episódio cinco termina com uma reafirmação catártica do vínculo emocional genuíno de Hori e Miyamura – ainda embrulhado por uma confissão amorosa.

“Por que você nunca está aqui?”, diz Hori, lembrando de seus momentos enfermos sozinha – ela nunca recebeu nenhum apoio além de um indiferente “eu sei que você aguenta”. Hori tenta muito, muito ser forte; ela age como se tivesse tudo sob controle, mesmo coisas que um colegial não deveria ter sob controle. Apresentando força apesar de todas as forças dispostas contra ela é possivelmente um dos motivos que fez Miyamura se apaixonar por ela; mas em um raro momento como este, ela demostra que não se sente forte, que na verdade ela é insegura e vulnerável e precisa do apoio de um amigo. Miyamura reconhece esse sentimento mais do que qualquer um. Ouvindo isso, Miyamura só consegue dizer “Eu não vou a lugar nenhum”, que era tudo o que Hori almejava por ouvir. E, então, com a série dispensando mais uma vez os clichês do drama romântico, temos a confissão de Miyamura, que veio de um lugar simultaneamente humano e bem fundamentado; parecendo refletir, em algum nível, a apreciação e aceitação de Miyamura por todas as partes confusas e socialmente não aprovadas que Hori tem de si mesma.

Os episódios desse anime voam para mim – ele está fazendo tantas das minhas coisas favoritas de uma forma tão confiante que já parece um lugar familiar. Depois de tentar ver o primeiro episódio do intragável Mushoku Tensei fico feliz por existirem muitas coisas além do anime adolescente, por existirem obras sobre pessoas genuinamente boas e relacionamentos humanos reais.


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