Os mistérios de Yuukoku no Moriarty

Admito que na época em que estava sendo exibido, Yuukoku no Moriarty foi uma obra que ficou fora do meu radar e que não tinha me chamado a atenção, ao ponto de que nem sabia ao certo qual era a sua temática ou premissa. Mas, recentemente, decidi dar uma chance para a série. Devo dizer que foi uma experiência um tanto peculiar, pois, ao mesmo tempo em que considero que o anime tenha conseguido ter aspectos surpreendentemente bons, também teve elementos um tanto duvidosos que fez com que a minha opinião ficasse dividida.

O primeiro ponto que me chamou a atenção foi a sua proposta. É uma obra de mistério em que ao invés de acompanharmos a história pela visão dos investigadores, nós acompanhamos a jornada dos criminosos. Nesse caso, do William e todo o seu grupo, e como eles executavam todos os seus crimes contra os nobres, com a condução desses planos sendo a principal qualidade da obra para mim. Mesmo o anime incorporando uma narrativa episódica com os casos durando apenas 1 episódio, com alguns sendo estendidos a no máximo 2 episódios, ainda conseguia manter um ritmo que faziam as histórias soarem divertidas e intrigantes, não apenas lhe deixando curioso para saber como que o William conseguiria executar esses planos, mas também fazendo todo o desenrolar da trama soar bastante convincente na medida do possível. Claro que existiam algumas conveniências aqui e ali, mas nada que me tirasse da trama ao ponto de atrapalhar a experiência – o que devo dizer que foi algo que eu não esperaria, pois, considerando o curto tempo de duração, era algo que poderia dar muito errado. O anime conseguiu contornar muito bem essa parte, fazendo que seja uma série bem fluída e fácil de se assistir.

Por outro lado, teve a forma em que eles abordaram os seus personagens, e é esse segmento que se torna o grande calcanhar de Aquiles da obra. Toda essa ideologia e os métodos deturpados do William poderiam criar diversos debates e conflitos morais a respeito tanto das suas ações, quanto da consequência de seus atos, o que poderia ser algo que agregaria ainda mais a narrativa. Ao invés disso, porém, a narrativa decide explorar isso da forma mais rasa e irresponsável possível, pois não apenas exaltam o William como esse grande herói, mas também sempre fazem questão de reafirmar em todo episódio que toda a metodologia usada por ele é algo indubitavelmente correto, sendo sem dúvidas o ponto que mais me incomodou durante todo o anime. Por mais que a qualidade de Death Note e Code Geass seja aberta a discussão, ao menos é inegável que eles tinham muito mais consciência do que os seus personagens eram e do que eles representavam e em mostrar o quão danosas podiam ser suas atitudes.

Todos os vilões de Moriarty são simplesmente terríveis com toda essa composição forçada, tosca, caricata e totalmente unidimensional de serem nobres absurdamente soberbos e desprezíveis que odeiam pobres porque sim. Os diálogos são completamente genéricos e artificiais, com direito a um deles ameaçarem uma criancinha de morte apenas para mostrar o quanto eles são malvados e merecem ser mortos pelo William e reforçar que o ele faz é de fato certo e correto. Além dessa retratação dos nobres se tornar algo inverossímil de tão exagerada que ela é, não é como se o William fosse muito superior do que os nobres que ele tanto despreza, visto que além da sua motivação vir apenas da questão dele ser um sociopata e focar o seu instinto assassino “em quem merece”, o fato dele se aproveitar do abalo mental das vítimas e fazer eles matarem em nome dele é algo um tanto covarde e totalmente reprovável. Ele definitivamente não faz isso apenas pela bondade e altruísmo no seu coração, mas sim por ser uma forma de nunca ser pego ou descoberto, fazendo as outras pessoas sujarem as mãos no lugar dele. Isso é algo que a obra não deveria ignorar, e muito menos exaltar como correto, visto que Moriarty não possui nenhum pingo de auto consciência ou preocupação de retratar o quão prejudicial esses métodos poderiam ser não apenas para as pessoas manipuladas por ele, mas até mesmo para ele próprio.

Em relação à produção, ela é boa. Por mais que ela não seja uma produção memorável ou acima da média como outras obras do ano passado, como Eizouken, Kaguya, Akudama Drive ou Great Pretender, ela consegue ser bem eficaz em grande parte do seu tempo, com direito a certas cenas isoladas de destaque. Como o assassinato na estufa, com o seu efeito monocromático que dá um tom bem macabro, misterioso, e sombrio a cena, também  utilizado na cena do palco no caso do navio, onde a trilha sonora cria uma atmosfera bastante sufocante e opressiva, que achei bem legal. Assim como a cena onde o Blitz começa a ser perseguido pelos policiais, em que eles intercalam as cenas com a caçada humana que ele fazia com suas vítimas, que foi um paralelo bem bacana. E o episódio 10, em que o Sherlock começa a delirar em descobrir a identidade do William, que consegue ter umas sequências de cenas bem interessantes que consegue transpor bem a obsessão do Sherlock em relação ao William, que também vale destaque. Além de momentos onde a fotografia fazia questão realçar bastante o vermelho, que dava a sensação e atmosfera de um filme de terror. Mas, fora isso, o anime apenas fica na sua zona de conforto e não se arrisca muito mais, o que, novamente, não faz se tornar tão memorável, ma também não fracassa em entregar o que a obra pede no momento em que precisa, fazendo ela estar na média.

No fim, Moriarty é um anime decente. É aceitável. É engraçado pensar em como o anime conseguiu fazer o mais difícil: desenvolver os diversos casos de mistérios de uma forma satisfatória no curto período de tempo, que admito ser algo que achei admirável. Por outro lado, fracassou em reduzir todas as nuances e camadas que um personagem como o Willian tem ao aspecto mais superficial possível, com a narrativa estando mais preocupada em mostrar o quão ele é incrível e superior em relação a absolutamente todo mundo, ao invés de explorar todos os conflitos morais que o personagem poderia trazer. Até o Sherlock, que deveria ser o personagem que faria o contraponto com ele, ser retratado como essa pessoa imatura e infantil que nunca estará no nível do Willian, apesar de também ser um gênio, tanto que a obra vende ele como alguém tão perfeito, chegando em um momento em que tudo acaba se tornando até um tanto previsível, já que você sabe que o William sempre acabará saindo por cima, sem nunca ser surpreendido por nenhum obstáculo ou precisando lidar com nenhum dos males causado pelas suas ações. Com a segunda temporada anunciada, eu torço para que o anime consiga expandir mais esses dilemas e, quem sabe, aproveitar melhor a rica proposta que tem em mãos.

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