Horimiya #01 – Análise Semanal

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Masashi Ishihama é, sem sobre de dúvida, um dos mais talentosos diretores de anime de todos os tempos. Apesar disso, ele sempre me pareceu um talento brilhante vagando em busca de um projeto digno de seus poderes. Embora ele tenha feito um trabalho distinto em programas como Persona 5, diversas ED e OP (sendo na verdade um dos melhores na história do anime nessa área) e episódios para shows como Occultic;Nine e Shigatsu wa Kimi no Uso, fora da obra-prima absoluta Shinsekai Yori, ele realmente não teve mais a chance de elevar a escrita que corresponda a seus pontos fortes visuais. E baseado principalmente na forte reputação de seu material original, geralmente considerado como um dos melhores romances dos últimos anos, Horimiya parece estar aqui para trazer alguma gota de justiça a este mundo.

Minha opinião sobre a estreia de Horimiya é bem direta – gloriosa. Começando com a OP, o episódio em si, a ED – isso era apenas uma aula em si. Até agora, a narrativa sutil, mas emocionalmente rica, de Horimiya se provou perfeitamente capaz de combinar os talentos do diretor Ishihama. Sua manipulação magistral de luz e sombra, cortes rápidos, composições íntimas, colagens fragmentadas – procurando aqui não evocar o mal-estar existencial de Shinsekai Yori, mas inseguranças, ansiedades, fobias sociais.

Em termos de história, acompanhamos a estudante modelo e popular Hori Kyoko, e o pária-social Miyamura Izumi. Embora na mesma classe, seus mundos raramente se cruzem na escola – Miyamura é basicamente anônimo para Hori, uma criança quieta e estudiosa que pode ser um otaku, mas dificilmente digno de consideração. A melhor amiga de Hori é Yoshikawa Yuki, e o cara com uma paixão inconfessada por ela é Ishikawa Tooru. Nossos protagonistas se aproximam quando Miyamura ajuda o irmão mais novo de Hori, Souta, depois que ele cai ao ser assustado por um cachorro. Hori então conhece um outro lado de Miyamura, o que nos revela a ponta do novelo-de-lã do ponto temático que o episodio construiu. Como observa Hori, todos têm um “lado secreto de si mesmos que não querem que ninguém veja”. É óbvio no caso de Miyamura e seu lado impulsivo de estilo alternativo, mas não é menos verdadeiro para ela, uma vez que a mãe substituta desalinhada que ela interpreta em casa está tão distante de sua imagem popular.

As circunstâncias conspiram para forçar os dois a revelar seus lados secretos um ao outro, e Hori rapidamente percebe que essa é uma forma sutilmente poderosa de intimidade, quer ela tenha pedido ou não por. Os dois fizeram muitas suposições um sobre o outro com base em suas personas escolares, e descobriram que eles não são apenas os mesmos fora do campus, mas que também gostam um do outro. “Eu acho que não quero que ninguém mais veja você assim” comenta Hori, e o mesmo vale para Miyamura – “eu também não quero que ninguém mais veja esse seu lado” – com a mais caseira Hori. “Parece que esse momento pertence a mim e a mais ninguém”. Horimiya fornece o que pode muito bem ser a qualidade mais importante para fazer um programa apelar para mim: diálogo que vem de um lugar humano genuíno, ao invés de convenções ou arquétipos.

Tanto Miyamura quanto Hori parecem pessoas genuínas complicadas e agradavelmente bagunçadas. Miyamura tem alguns problemas de autoestima; seria totalmente justo dizer que a revelação de que ele mesmo fez seus piercings no ensino médio com um alfinete é um sinal disso, assim como o fato de que ele não tem outro motivo para usar óculos em vez de lentes de contato além de não querer ser notado. Enquanto Hori se sente igualmente insegura e vulnerável emocionalmente. Tudo isso somado, a declaração de Hori de que o que mais à perturbava sobre a conversa de Miyamura com Ishikawa era que ele sugeriu que ela estava apenas sendo caridosa ao permitir que ele entrasse em sua vida, era doloroso de uma forma emocionalmente sutil e profunda (a cena encontrava nas mãos e pés uma janela emocional muito apropriada e discreta para suas ansiedades, antes de chegar nas partes mais diretas). De Evangelion à Oregairu, “a absurda dificuldade da genuína comunicação humana“ tem sido a minha musica na arte a anos e Horimiya parece disposto a perfurar isso.

No geral, acho que a dinâmica familiar fácil que surge entre Miyamura e os irmãos Hori é provavelmente a parte mais vendedora da série até agora. O que não é um aspecto específico – é o resultado direto dos layouts internos detalhados do show, diálogo naturalista e ênfase em algumas vinhetas de tarefas mundanas.

As produções de Ishihama são sempre lindas, mas Horimiya até agora parece encontrar um cenário muito mais apropriado para ele demonstrar seu forte senso de teatralidade e compreensão tanto de belos enquadramentos quanto do uso de direção como uma ferramenta para transmitir intimidade. Basta olhar para algumas das sequências do episodio – a primeira conversa entre Miyamura e Ishikawa usa uma única janela e o posicionamento de personagem para transmitir desconforto, evocando uma verdadeira janela emocional. Fotos como essas implicam em uma sensação de isolamento através de seu vasto espaço vazio, bem como uma espécie de barreira emocional pelo objeto entre os personagens.

Os designs de personagem são esguios e angulosos – com todos os personagens parecendo adolescentes um pouco mais velhos – apropriados para uma serie que se sente muito mais nítida e observada do que a tarifa usual de romcom. Os rostos são expressivos, e a animação cuidadosa dos personagens é impressionante, com cenas de destaque como Miyamura correndo até os ovos e conversando com Ishikawa possuindo uma grande fluidez de linguagem corporal. O enquadramento e a composição das tomadas do programa também são impressionantes, como mencionei – a sequencia da confissão cuidou de enquadrar a perturbação do momento pelo uso do foco-rack e filtro granulado que Ishihama ficou tão conhecido por; além do enquadramento irregular, cortes rápidos, closes desconfortáveis e personagens isolados em quadro. Era facilmente a cena mais descaradamente Ishihama ao lado da abertura (mais uma de suas conquistas neste departamento).

O primeiro episódio de Horimiya apresenta seus personagens com tanta graça e, em geral, é transmitido com uma sensação de atmosfera tão palpável, que me senti inteiramente levado para o seu mundo. Seus personagens ganham vida por meio de relacionamentos assumidos, diálogo sutis e adorável animação de personagens, e o mundo em que eles habitam transborda de possibilidades e incertezas. Acho que encontramos o drama de personagens essencial desta temporada/ano (bem, Wonder Egg Priority está chegando).

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