As Influências Familiares em Nanoha (2004)

Nanoha é uma propriedade muito importante na recente história de garotas mágicas/mahou shoujo, foi um programa muito importante em combinar com sucesso fundamentos clássicos de narrativas de garotas mágicas com ação shonen e construção de ficção científica,  fazendo dela um precursor claro para programas reverenciados como Madoka e Symphogear. Além disso, sua franquia vem recebendo novas sequencias, spin-offs e adaptações de mangá desde 2004, tornando-se uma propriedade bastante única dentro da esfera de animes tarde da noite. Nanoha claramente impactou muito do que veio depois. Mas, então, sobre o que é NanohaNanoha construí um cozido temático relativamente robusto, embora tudo se associe à “importância da conexão humana”. Então, hoje, vamos reservar um ensaio para mergulharmos na primeira temporada de Mahou Shoujo Lyrical Nanoha e ver Nanoha se conectando! 

Nanoha é um programa sobre família e conexão humana acima de tudo; a própria família de Nanoha, nossa protagonista, é ilustrada com especificidade incomum, enquanto todos os problemas da personagem secundaria, Fate, se originam de sua incapacidade de escapar do alcance de sua mãe. Nanoha, o programa, entende que os laços familiares não são inerentemente positivos, mas são inerentemente poderosos; para Nanoha, esse poder se manifesta como um grande senso de autoconfiança e preocupação com as pessoas ao seu redor, enquanto que, para Fate, esse poder impede que ela procure escapar de um relacionamento profundamente abusivo. O poder e a ambiguidade das famílias é um tema que destaca muitas das minhas obras favoritas, desde a parte que eu mais curto do inquietante Monogatari até a pungente de Uchouten Kazoku, e Nanoha faz um excelente trabalho de ilustrar esse conceito complexo e inescapável. Eu já vi alguns shows que lidam com o abuso familiar tão bem, e poucos programas ilustram como uma casa estável pode garantir sua força com a sutileza e o foco de Nanoha. 

As conversas compassivas de Nanoha com sua família apresentam um ideal de conexão, enquanto as conversas dolorosamente bem observadas de Fate com Arf demonstram outro tipo muito válido de família (o material entre estas duas pode ser o melhor do show em geral – eu sinto que pelo menos alguém na equipe de roteiristas do programa tem que ter lidado intimamente com abuso familiar, porque droga, é real). Nanoha é uma heroína de mahou shoujo/garotas mágicas profundamente confiante e segura de si. Ela tem momentos de dúvida ou culpa, mas ela se elevou acima deles de uma maneira que não parece ser imerecida, mas mais apenas reflete sua extrema força como pessoa. E é o fato de que ela não foi apenas apoiada, mas genuinamente acreditada por seus amigos e familiares que a instigaram com tal força pessoal; é a visão da própria Nanoha, e da serie, que ela não poderia fazer nada mais justo com essa força do que compartilhar sua confiança com outra pessoa. E ela escolhe compartilhar com Fate. Em outros termos, Nanoha trata todos como um amigo em potencial e acredita que a comunicação sincera é fundamental. Isso é um reflexo de sua educação. Seja por meio da família com a qual nascemos ou da família que escolhemos, todos precisam desse senso de confiança e apoio. 

Eu simplesmente amo um dialogo de Arf com Fate em “vou falar mal dela [sua mãe]! Porque eu me preocupo com você!”, porque dolorosamente me lembra de conversas igualmente ineficazes que tive com amigos – você pode descrever o abuso que eles estão sofrendo, e eles podem até mesmo reconhecê-lo, mas eles estão comparando esse abuso contra todo o amor que uma vez sentiram e ainda sentem pela sua família, algo que eles têm certeza de que podem recuperar se fizerem alguma coisa certa. E então Fate lhe dá a pior resposta, uma que eu também já ouvi muitas vezes – “Me desculpe se eu estou fazendo você se sentir mal. Vou tentar esconder melhor a minha dor.” Mas é claro, não é isso que Arf quer. Através da tentativa de alcançar a parte maltratada, você acaba se sentindo culpado por ajudar, porque claramente os deixa profundamente desconfortáveis de serem forçados a considerar e racionalizar seu próprio sofrimento.

Nanoha é o tipo de programa que nunca está ocupado com narrativas evidentes – se concentrando constantemente em uma variedade de pequenos momentos incidentais, e tendendo a ter apenas um grande “enredo” por episódio. Esse é um estilo narrativo perfeitamente razoável, e essa conversa fenomenal entre Fate e Arf demonstrou facilmente seu valor. 

As situações que cercam essas personagens parecem incomumente bem observadas em ambos os lados; o relacionamento de Nanoha com sua família é ilustrado por meio de cenas incidentais copiosas convincentes, enquanto o tempo de Fate com sua “mãe” contém algumas das ilustrações mais brutais e imediatas de abuso familiar e suas consequências psicológicas que eu vi em anime. E ambas as situações se beneficiam do truque estilístico de Nanoha, sua tendência a estender certas cenas muito além de sua “necessidade narrativa” teórica, a fim de criar uma ilustração mais convincente de uma experiência vivida genuinamente.

Essa tendência incomum do programa de passar mais tempo do que o esperado sobre conversas aleatórias pode ser exemplificada em uma discussão sobre a Nanoha, entre Alisa e Suzuka. Normalmente a conversa terminaria em “eu sei que ela está em apuros, e estou brava que ela não confia em nós!”, mas Lyrical Nanoha continua no contraponto de Suzuka, “todo mundo guarda segredos, e como amigas nós só precisamos esperar e apoiar ela.” O fato de que isso é apresentado menos como um conflito singular (Alisa está zangada com Nanoha), e mais como um elemento vivo de amizade sem resposta certa e clara, faz essa sequência e ambos os personagens parecerem muito mais reais. Permitir que seus personagens simpáticos discutam e discordem genuinamente é uma maneira fenomenal de separá-los como pessoas, e não apenas ferramentas de uma narrativa. 

Em termos estéticos, o anime não é inerentemente atraente, mas muitas vezes ele consegue aproveitar ao máximo, usando as cores agressivas de Shinbo e layouts complexos para um efeito dramático excelente. Como composições que enfatizam os momentos de separação de Nanoha através da cor, distância física e isolamento no quadro. Esse contraste na iluminação continua por meio de uma foto inteligentemente composta das amigos de Nanoha olhando para sua sala de aula. Ela permanece envolta em azul, enquanto elas são banhados em luz. Escolhas usadas para dar muito mais peso ao relacionamento de Nanoha com suas amigas. Nanoha oferece espetáculos visuais engajados e momentos emocionais com nuances satisfatórias, todos construindo para Nanoha finalmente conectar-se com a tão extensamente sofrida Fate. Por fim, o verdadeiro conflito deste programa não é “derrotar a mãe da Fate”, conforme parece, é “convencer Fate a aceitar as mãos que a alcançam”.Através do contraste de suas personagens, Mahou Shoujo Lyrical Nanoha demonstra as diversas influências que nossas famílias podem proporcionar, juntamente com a garantia de que, em última análise, temos o poder de escolher quem nós vemos como família; “aproveite a força e o orgulho de sua família se puder, mas se não for, sinta-se à vontade para encontrar sua própria família que realmente apoie e ame você”. Esta não é uma história sobre liberdade, guerra, tecnologia ou qualquer outra coisa que tende a definir narrativas de ficção científica – é uma história sobre família e sobre como encontrar um lugar onde você possa se desenvolver da melhor maneira possível.

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