Tocando O Grande Mundo em Kono Sekai no Owari e no Tabi | Review

|Capítulos: 12 | Autores: Nishioka Kyoudai (irmãos Nishioka) | Serialização: AX (2002-2003)|

Muito prazer, eu sou Leo Medeiros, o novo estagiário do HGS Anime. Eu me ofereci como novo escritor do blog, na abertura dada pelo site no início deste mês. Por enquanto, estou em período de testes e darei o meu melhor para trazer boas análises a vocês. Abaixo, segue o texto enviado por mim para a vaga. Boa leitura!

Análise
É próprio dos irmãos Nishioka causar refluxo. Suas histórias fast-food são atrativas, não há quem negue o sabor de sua gordurosa substância. Mas quem disse que o fast-food é fast mesmo? O modo de consumo e o preparo rápidos são capas enganosas de um livro doloroso em suas páginas. A ingestão de fast-food e comida condimentada é um dos principais causadores de refluxo (no Brasil, mais da metade da população está acometida por essa doença). Mas não é como se você não soubesse. Só de olhar para a arte do mangá (a esquisitice; o ar macabro; os flertes com o cubismo) já é possível sentir que essa história não vai desgrudar tão cedo de você. Algo incomoda. Embrulha o estômago, instiga o olhar. Como um podrão de esquina. 

Nas obras da dupla, personagens acorrentados a vidas monótonas, empregos ruins, falsas necessidades sociais conduzem narrativas mergulhadas na solidão e apatia do ser humano contemporâneo. Com Kono Sekai no Owari e No Tabi não é diferente. Seu começo – que não começa – traz um homem transtornado por um dia acordar ciente de que acordou – uma primeira e assustadora fuga da robotização em que vive.
No começo que de fato começa o cenário contesta a liberdade atestada pelo personagem no capítulo anterior. A rua de sua casa agora segue um caminho com outros caminhos tanto para a esquerda quanto para a direita. Inúmeras possibilidades que fazem esse homem sem nome se perder e se questionar sobre o que verdadeiramente sabe sobre o lugar onde vive. Nessas misteriosas esquinas, um encontro fundamental para a história ocorre; não é só o barco abandonado na beira do rio, é, também, a infância, descortinada brevemente nesse momento de verdadeira liberdade, quase como um reencontro com uma vontade simples de viver.

Agora, no barco, a “Jornada Para O Fim do Mundo” (tradução do título do mangá) dá início. O leitor, sem escolha, embarca junto. É fisgado. Sentimos a pequeneza humana, a grandeza mundana. Sentimos um medo primitivo ressurgir suas garras quando em contato com novas civilizações, sem a proteção do Estado (uma figura importante para o assunto aqui tratado). O medo de ser comido, um canibalismo eminente, estendido na história através de uma escrita fascinante cheia de suspense. Cinco ou seis capítulos de agonia que culminam num irônico destino. 
A massa de pessoas parece um gigante se machucando. Essa loucura provavelmente só acabará quando sobrar só uma pessoa.”
O mangá não trata unicamente sobre a grandeza, mas sobre a distância – que o mundo, grande mundo, criou. A distância, produto da burocracia. Quando um processo começa aqui, passa por ali, por alá, acolá, termina acolê… Como se aproximar das pessoas? Criamos uma desconexão insustentável. Somos donos de um barco já sem controle, prestes a afundar.
Kono Sekai no Owari e No Tabi acaba, mas não acaba. A arte dos irmãos Nishioka cria confusões, desamarra nossos cadarços. Dá respostas, criando incertezas. O que aquilo significa? Essa cena, por quê? A digestão aqui é coisa complicada. Da azia, queima. Ficamos absortos nesse mal-estar. Um refluxo de 12 capítulos, de uma intensa experiência que parece não ter fim.  

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