Shikioriori (2018) – Os Insossos da Juventude | Review

|Episódios: 3 | Estúdio: CoMix Wave Films Fonte: Original Diretor: Haoling  Li, Xiaoxing Li e Yoshitaka Takeuchi 

Sinopse

Um conto em três capítulos em três cidades, Shikioriori explora as alegrias simples da vida  e como o amor não pode ser derrotado pelo fluxo do tempo. Memórias de um macarrão, encontrando seu caminho e um primeiro amor agridoce – tudo isso na cidade da China.
Analise
Enquanto isso, a Netflix consolida um forte controle também sobre a clientela fiel de animes, fornecendo a eles (nós) suprimentos de filmes e séries a cada poucas semanas. A qualidade pode ser discutida em detalhes – mas cada uma das obras é interessantes à sua maneira. Por exemplo, este ano ficamos encantados com o estiloso demoníaco de Crybaby, a aventura visualmente encantadora de The Walkinder ou a reinterpretação do Godzilla em CGI: Uma cidade à beira da batalha.

Shikioriori (Flavors of Youth), é interessante à sua maneira. Não só existe uma reposição da CoMix Wave Films no mercado, esse é o estúdio de animes que recentemente alcançou um sucesso mundial com Kimi no Na Wa. Filme que recentemente, e finalmente, alcançou no Reino Unido mais de 80 milhões de dólares, fazendo dele o filme japonês de maior sucesso por lá. Por um tempo, o longa até liderou a lista das obras de maior sucesso na China, ficando acima das produções internas e das de Hollywood. Olhando para esse gigantesco sucesso fica claro – tal mercado deve ser alimentado. 

Shikioriori é – para o bem ou para o mal – uma rara coprodução chine-japonesa. Agora vamos inspecionar cada uma das três trouxas que compõem essa manta chamada “Shikioriori “.

Memórias passam pelo estômago :
Primeiro, somos levados para Sunny Breakfast; uma viagem (culinária) para o passado. Um homem atraído para Pequim para trabalhar, relembra sua juventude com uma tigela de macarrão, que foi quase esquecida pela vida cotidiana cinzenta. A vida cotidiana e a vida agitada há muito tempo se apossaram dele, sua antiga vida na província é praticamente esquecida. Até que ele come uma porção de macarrão Sian Xiang, e as memórias de sua juventude despertam. Porque em sua juventude, ele comia de novo e de novo, com a sua avó, mais tarde sozinha. A mudança de tempo fica assim clara pela mudança do macarrão. 

Sua base e objetivo são óbvios – é para ser tranquilo, legal, encorajador, manter suas bases e saber de onde veio. Melancolia um pouco vazia. A entrada é o conteúdo, mas já é bastante fina, ainda mais, porque nunca aprendemos nada sobre o protagonista. Além disso, a vida simples é mais uma vez exatamente idealizada aqui. 

Em cada parte da vida desse protagonista, ele nos conta como os macarrões estão sendo feitos gradualmente com menos amor à medida que a China avança em tecnologia e infraestrutura. Afinal, o novo é uma aberração e o velho é a iluminação. Através de cada vez que pulamos no tempo, seu personagem avança nem recua; não há a ideia de desenvolvimento. Ele não tem personalidade, ele é a base na forma pura – “cara que ama macarrão” e “tem uma queda por uma garota aleatória por uns 10 segundos”. Ainda podemos somar monólogos que evidenciam a escrita incapaz de entregar sutileza. Como quase todos os cacos dessa obra – tudo é explicado por sua criação limitada. Afinal, “um curta não tem como desenvolver algo”. Ao menos, essa é a alegação que eu comumente ouvi quando entrava em alguma troca. Uma afirmação que nega e ignora a existência de obras como Furiko. Mesmo com tudo que eu falei, essa é provavelmente a melhor historia. Que ainda se segura na melancolia de seu eficiente tom. 

Um desfile:
Um pouco mais é oferecido em um pequeno desfile. O segundo episódio, A Small Fashion Show, nos apresenta duas irmãs compartilhando suas vidas. A mais velha trabalha como modelo e, como tal, também está em demanda. A mais jovem é cheia de admiração e sonhos de se tornar uma estilista – sem trair sua irmã. A audiência, portanto, espera uma mistura de drama familiar e um retrato de uma indústria de moda implacável. Mas a historia é um pouco mais ambiciosa que isso, e certamente algumas toneladas de vezes menos poderosa. Tratada com vários clichês, o que torna a história bastante intercambiável – o tempo e o lugar não desempenham nenhum papel aqui. 

Shikioriori, com medo de dar algum sabor as suas historias, entrega novamente personagens subdesenvolvidos. Uma modelo que está lutando para se tornar velha demais para a indústria, demonstrado por sua pequena rivalidade entre ela e uma modelo mais jovem. Seu relacionamento com sua irmã é excessivamente adoçado, elas raramente compartilham uma conversa significativa além de: “Você é estúpida!” As pessoas gritam com ela, ela vomita muito por causa dos padrões de beleza, então ao invés de tentar trazer as questões da “indústria da moda é superficial e trata mal as modelos”, acaba apenas por ela voltar a ser modelo e dizer o quanto adora seu trabalho.

Uma historia de amor que o Shinkai deveria processar:
O amor em Xangai é realmente universal. Semelhante ao macarrão da primeira historia, existe aqui um despertar das memórias da própria juventude. A história que mais é parecida com os filmes de Shinkai, porque até o character design da protagonista feminina foi roubado da de Kimi no Na Wa. Shanghai Love conta uma pequena história de amor sobre duas pessoas ocas, e também contendo um terceiro amigo que anda por aí sem motivo. O amigo deles é mais grosseiro com o único traço de personalidade de “ele é chato”, mas felizmente o filme não se preocupa em desenvolvê-lo apesar dele ser um aborrecimento recorrente. Recebemos nessa historia um casamente perfeito de dois personagens unidimensionais – remontando pela centésima vez o conto da princesa no castelo e o principie ao resgate – a historia ignora a ideia de desenvolvê-los. A protagonista se mostra abusada pelos pais em vez de desenvolvimento real. Na verdade, a personagem ainda me atraiu nos primeiros instantes por algumas sutis emoções, mas nada disse se mantem por muito tempo. Ela é apenas uma menina bonita em perigo, um dispositivo de enredo a fim de alcançar a manipulação emocional desprezível. 

Normalmente, backgrounds de personagens fazem parte de uma boa parte dos cacos que os compõem, mas em Shikioriori (o abuso familiar da protagonista), é apenas uma faceta de sua personagem que se sente menos como uma parte de sua personalidade e mais como um valor superficial de choque e uma desculpa para separar tudo em duas pistas. Todo o conflito desta vinheta é basicamente o protagonista ficar separado da menina que gosta por razões inventadas. Então, anos depois, eles se reconectam e o protagonista monologa “esquecemos como falar uns com os outros”, o que implicaria constrangimento. Mas em vez disso, ele é apenas um idiota e a trata como uma idiota sem motivo, tornando-o ainda menos simpático. A ideia do abismo que criamos com a falta de contanto, é interpresante ainda que mal articulada. Fechamos, ainda, com uma reviravolta que anula todo o conflito. Talvez seja difícil distinguir se é estupido ou hilário o conflito da história inteira se basear em um mal-entendido planejado. Em vez de mostrar desenvolvimento, eles acabam passando pela regressão. Uma torção final que anula tudo até ali. Pelo certo sucesso que o show alcançou, talvez eu esteja com uma opinião completamente torta, mas: no fim, Shikioriori é isso – o fruto do que o mercado aparentemente quer, o tipo de produto que vemos e revemos – o produto de um algoritmo de estúdio. Um algoritmo que priorizou sua estética, tão binária quanto sua escrita. E uma arte revestida dos melhores filtros – que eu sinceramente não poderia me importar menos. Mas, certamente sua maior força é o senso de melancolia; isso ninguém pode tirar do programa. 

Nota Final 1: 6 (Decente)
Nota Final 2: 5,5 (Mediano)
Nota Final 3: 4 (Mediano)

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