Shoujo☆Kageki Revue Starlight #03 – O Palco do Orgulho | Análise Semanal

Esta foi uma semana muito importante para Revue Starlight. Até então, Starlight possuía uma genuína falta de um ponto de entrada emocional para dar um significado à beleza do que vinha sendo mostrado. Ouvir personagens gritando uma com a outra sobre “brilhar” realmente significava absolutamente nada, nem mesmo provocava qualquer tipo de resposta emocional do espectador – eu preciso me importar especificamente com essas garotas ou estar investindo nas bases temáticas de seus duelos, e até agora, nem a escrita do personagem nem o simbolismo vinha ganhando de fato peso;  era entretenimento pela dinamicidade e eloquência de sua arte e trilha, mas não havia efetivamente envolvimento emocional da parte da audiência. Mas, este episódio foi um longo caminho para abordar justamente esses pontos de entrada. 
 
Antes do duelo do clímax, há muita ação de bastidores acontecendo entre as garotas da Academia Seisho. Literalmente no caso de Banana, já que ela quer renunciar a atuar em favor de escrever e fazer trabalhos na produção. Não nos é dada muita introspecção sobre as suas razões para esta decisão (e mais questões são levantadas com uma revelação no final do episódio de que ela é a terceira atriz de seu grupo), mas vemos o choque e a descrença em sua decisão. É claro que suas colegas rapidamente chegam e a apoiam, mas esse recuo inicial de todas é muito revelador.
A série faz a conexão entre Maya, e a estátua de Vênus que esta no patio, e encabeça tudo isso com o simbolismo do cisne em seu palco de duelo. Quando Maya se aproxima de um grupo de suas supostas colegas, elas não são apresentadas visualmente como seus pares. Em vez disso, Maya faz uma pose similar que espelha a estátua de Vênus de Milo ao fundo. A estátua de Afrodite, ou Vênus de Milo, é a obra mais reconhecida da escultura grega, representando a deusa. Maya já está além das demais personagens. Ela é a deusa, por enquanto. Isso é espelhado por sua introdução e apresentação em seu estágio de duelo.
Mesmo fora do ranking de duelo, Seisho tem seu próprio sistema de castas implícito, com as alunas atuantes na Classe A e as alunas de bastidores na Classe B. Como público, sabemos nada sobre a Classe B. Não conhecemos nenhum de seus nomes, e todos os personagens principais estão na Classe A – isso reflete nossa relação real com o teatro, cinema e afins (incluindo animes), onde é mais provável que saibamos os nomes dos atores do que dos escritores, diretores, animadores e etc. Atores são as estrelas, mas isso não significa que eles sejam mais importantes do que todas as outras pessoas que trabalham na escuridão atrás do palco. O relacionamento deles é sinérgico, então estou ansioso para ver se Banana atuará como uma ponte entre os membros vistos e invisíveis do palco, atraindo a atenção de seus amigos e espectadores para os colaboradores tradicionalmente ignorados. E estou duplamente ansioso para ver como isso vai colidir contra um processo de audição que só valoriza meninas como atrizes
 
Em outro lugar, Revue Starlight continua a preencher as personalidades e ambições de seus outros personagens. Maya e Claudine tomam o centro do palco, mas Futaba e Kaoruko recebem algum foco secundário. Isso é bom, porque até agora elas são os membros menos experientes do grupo. Futaba só foi definida por sua indelicadeza e sua colega de quarto narcoléptica, mas ela se interessa por Claudine nesse episódio; mais especificamente pelas frustrações reprimidas de Claudine.
Como a atriz número dois do ranking e uma ex-estrela infantil, Claudine é praticamente a realeza aos olhos de suas colegas de classe, e ela joga junto dessa imagem que elas tem dela através de cada uma de suas afetações extravagantes e galantes. Mas esses gestos mascaram suas lutas internas, que são espiáveis através de suas caretas para Maya, de suas práticas de fim de noite sozinha, e de seu atraso incaracterístico (provavelmente resultado dessas práticas). Ela não é mais uma criança ou uma estrela. Ela está no mesmo nível que todos as outras, e ela foi superada por uma de suas amigas. Futaba se identifica com essa frustração. Ela também quer ser a estrela principal, mesmo que isso signifique forçar seu relacionamento com Kaoruko. Esse desejo é egoísta, mas Claudine é simpática a isso, e o público também pode estar.
Enquanto isso, Kaoruko tem o que só pode ser descrito como uma cena de sedução com Mahiru. Shows de ídols não são estranhos a toques homoeróticos, mas fiquei surpreso com o quão franca e desagradável era essa cena. A primeira caracterização real de Kaoruko (fora a de “dorme” e de “tem doce”) a apresenta como perceptiva e manipuladora. Quando Futaba foge sem ela, ela sabe que é pela mesma razão que Mahiru não pode encontrar Karen; há outra garota na foto. Mahiru tem uma paixão por Karen, o que certamente não é preciso de um detetive para investigar, mas Kaoruko ainda tem prazer em tirar uma confissão dela. E é claro, ela sabe que Mahiru é gentil demais para nomear o problema, e então Kaoruko tem como alvo Hikari. Kaoruko não é malvada, há uma genuína tristeza em seus olhos quando ela fala sobre como Futaba foi embora, mas ela definitivamente tem alguns problemas de dependência que ela está resolvendo da maneira mais fácil. 
 
Eu tenho alguns problemas com essa cena aqui que gostaria de eternizar. Não há nada de errado em curtir algum conteúdo yuri fofo, mas, dado o pedigree de Revue e suas ambições aparentemente rebeldes, eu estava esperando por um pouco mais de coragem, e eu entendi que essa cena não se trata da sexualidade como se fosse um traço dos personagens, mas sim uma coisa complicada com a qual todos nos lutamos; nos descobrindo. Dito isso, Revue não está livre dos tropos de animes decepcionantes, já que a câmera, no fim, ainda permanece no corpo nu de Kaoruko. É uma cena sexualmente carregada, mas há maneiras mais inventivas de comunicar isso (como o pato de borracha hilário e pouco sutil). Resta saber se Revue Starlight endereçará seu subtexto queer além do tradicional ídol skinship, mas explorar relações queer entre personagens tridimensionais já seria um grande começo.
Ao contrário de Karen e Claudine, cuja luz aparece ao lado delas ou cria um caminho à sua frente, Maya é sempre visualmente introduzido como o centro da cena. A luz cai diretamente sobre ela – sendo como o centro ou a posição zero.
Na posição zero deste episódio está Maya. Como qualquer bom ator, ela diz muito pouco, e a maior parte do que aprendemos sobre a personagem vem do enquadramento e do simbolismo da serie. (Também pode haver alguma informação em sua Revue Song.) Ao longo do episódio, nossa atenção é repetidamente atraída para uma réplica de Vênus de Milo com vista para uma pequena piscina. Quando Maya se aproxima de Karen e das outras garotas, ela é enquadrada com esta estátua de modo que ambas estão viradas para a mesma direção de uma maneira similar. Maya interpreta uma deusa em Starlight, mas ela também é a deusa de Seisho – bonita, talentosa, intocável e sozinha. O quarto dela não é cheio de cor e bagunçado como os das outros alunas. É limpo, nu, estéril e ela não tem companheiros de quarto. Todo mundo a reverencia, mas ninguém está perto dela.
 
A arena de duelos de Maya é dominada por pássaros – especialmente cisnes -, escadas e fogos. Ela desce ao palco montando um cisne gigante, lembrando alguns retratos gregos clássicos da deusa Afrodite e reforçando sua ligação com a estátua de Vênus. O cisne também não pode deixar de lembrar o famoso balé “O Lago dos Cisnes” e seu final trágico. Escadas aparecem proeminentemente no que parece ser a cena final de Starlight, onde eles servem uma função hierárquica com os personagens menores no fundo e Maya ocupando o topo. Em sua arena, essas escadas são exageradas de forma mais dramática. Maya afirma seu domínio como a atual Top Star, olhando de cima para Karen e usando todas as vantagens que o terreno alto tem a oferecer. Karen não tem a menor chance, porque esses são todos os movimentos pelos quais Maya passou antes. Em um certo ponto, as escadas se formam a partir de pequenos pássaros, e Maya pisa sobre eles, assim como todas as outras atrizes rivais que ela teve que superar. Maya está sozinha no topo, e as escadas mudam e remontam em formas escaleras para assegurar que ninguém a alcançará. Seu pássaro é um gigante de ouro, queimando com sua paixão. Karen nem consegue subir as escadas, muito menos lutar contra uma deusa. Karen é um avião de papel, uma imitação de pássaros, tentando derrubar uma estátua de mármore. Então ela cai e perde.
Os cisnes e outros pássaros durante seu estágio de duelo também são imagens associadas a Afrodite/Vênus. Maya joga Karen descendo por um lance de escadas para pontuar a arrogância de Karen nesses duelos. Karen volta para um grande cisne, representando também Maya.
Quando ela olha através das penas voando, ela vê Maya na posição zero, ou melhor, no topo da escada. É neste momento que Karen percebe a diferença entre elas. Karen não pode começar a alcançá-la. A musica culmina em senso de perfeita revelação/entendimento. É belo.
Karen tem alegado todo esse tempo que seu sonho é dividir o top com Hikari, mas ela não tem compartilhado esse sonho com a própria Hikari. Até agora, Karen tem lutado sozinha, pulando de cabeça em situações que ela não entende. Claro que ela perde e, naturalmente, Hikari está chateado com ela. Karen tem sido tão egoísta quanto todas as outras candidatas a Top Star, pensando apenas em seus próprios desejos, mas Hikari também não pode fazer muito por conta própria. Ela está disposta a literalmente pegar um pé-de-cabra no Teatro Subterrâneo, mas sua descida à escuridão só a deixa confusa e sozinha. As duas precisam uma da outro, senão terminarão como Maya e Claudine. Estou extrapolando um pouco a partir de indícios de contexto, mas meu palpite é que Maya e Claudine foram boas amigas em seu primeiro ano. Depois que Maya ganhou o maior papel, ela ainda estendeu a mão e seu sorriso para Claudine, como se este fosse o resultado ideal para as duas, já que ambas eram os principais atrizes de sua classe. No entanto, Claudine pode ter se recusado a pegar a mão dela e, em vez disso, declarou uma guerra. Maya, como Karen, achava que duas pessoas poderiam compartilhar os holofotes. Claudine, como Hikari, percebeu que só pode haver uma Top Star. Neste sistema, você só pode ganhar ou perder. Maya é uma vítima de seu próprio orgulho, pensando que ela poderia definir o melhor resultado para todos, e Karen tem seguido o mesmo caminho.
 
Mas talvez haja outro caminho. Enquanto Karen e Maya estão lutando, Claudine e Futaba têm sua própria batalha. Não há adereços de palco elaborados, nenhuma Revue Song e nenhuma posição zero. Futaba perde, mas as duas dão as mãos com sorrisos em seus rostos. É uma audição não para uma girafa assustadora, mas sim para si mesmas. Talvez Karen e Hikari também possam descobrir uma maneira de contornar a injustiça inerente do sistema de classificação Top Star. Elas só têm que fazer isso juntas.
Certamente o esforço emposto nos personagens, no design e nos simbolismos são o ponto alto aqui. 
Até agora, Revue Starlight, tem tido muito cuidado e detalhes colocados em cada cena. Nos episódios 1 a 3, tendo como exemplo, a sequência da transformação mudou sutilmente mais e mais. Durante o episodio 1, as máquinas da sequência pareciam novas e funcionavam rapidamente. No entanto, através do episodio 2 e 3 a velocidade das máquinas diminuía e nesse episodio 3 havia até pequenas imperfeições na criação e ferrugem em algumas máquinas. Quando o metal quente está sendo pressionado em 3 lâminas, no episodio 1 as lâminas estão limpas, mas no episodio 2 e 3 elas têm manchas e mais ferrugem ao redor delas.  Também neste episodio houve detalhes como pássaros constantemente cercando Maya, até mesmo há pássaros na cortina de seu quarto. Ou ainda, uma cena em que Junna está pesquisando sobre girafas como se fossem alienígenas.
 
Este foi outro episódio fantástico de Revue Starlight. É o primeiro a não ser encenado pelo diretor principal, Furukawa, então não tem a profundidade e a densidade de seus olhos para composição de cenas, mas ainda assim é bastante envolvente. Eu sou um fã de adicionar de forma bem humorada mais drama romântico para o segmento de vida escola, e o humor aqui ainda está no ponto. Há uma edição particularmente inteligente e um timing cômico quando Hikari mantém Karen cativa no galpão de equipamentos. Pensar nisso de forma literal é realmente engraçado – uma protagonista presa em um galpão por sua ex-namorada para impedi-la de lutar contra uma garota que monta em um cisne gigante em batalha. O destaque do episódio continua sendo a cena do duelo, que é magistralmente coreografada e impressionantemente animada, sem contar a trilha que é a base de tudo aqui. A música de Maya é a minha faixa de duelo preferida até o momento, profunda e operística de uma forma que se encaixa como ela abraçou seu papel como vilã. E a nova ED é adorável também, um pastiche deliberado de “Fly Me To The Moon”.
 
Maya termina seu duelo com Karen casualmente, reivindicando a posição central e dizendo: “Posição zero, isso é Tendou Maya”. Não é apenas o título de Top Star e a posição zero de Maya, mas o imaginário específico desses teatros (que existem e podem procurar no youtube pois são muito interessantes, os Takarazuka)  em seus estágios de duelo também a estabelece como o status para Karen eventualmente derrotar. No entanto, este duelo, a “Revue of Pride” também serve para mostrar a própria arrogância de Karen – ela tem alegado lutar por ela e Hikari para ficarem no palco juntas, mas ela não se preocupou em nenhum momento em falar com Hikari. Estou animada para ver como Karen crescerá com essa derrota, e como ela e as demais garotas se uniram para lutarem em conjunto.  
 
Avaliação:      
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