A incrível produção de Boruto #65

Esse texto foi criado a partir de uma tradução adaptada do artigo do Kevin do SakugaBlog, que pode ser encontrado aqui. Em suma, foram usadas as informações, alguns parágrafos e dados lá disponibilizados. 


O episódio 65 de Boruto chamou atenção da internet na última semana pela sua incrível produção que reuniu talentos do mundo inteiro para uma produção animada incrível e cheia de sakugas e dinâmicas – foi um episódio que se pode chamar ápice na carreira dos seus responsáveis.

O diretor responsável por esse episódio foi Chengxi Huang. Seu primeiro empreendimento na indústria remonta a 2013, quando ingressou no estúdio Candybox – uma empresa de subcontratação com sede no Japão que gradualmente conquistou reconhecimento positivo no campo, ao mesmo tempo em que ajudou a ambientar artistas chineses notáveis ​​como o próprio Huang. Foi através dessa empresa que ele teve a oportunidade de trabalhar em Naruto; não é exagero dizer que ele deve a isso a oferta que recebeu para se juntar à equipe da Pierrot mais tarde. Ele foi capaz de contribuir para a série que o convenceu a perseguir esse sonho em primeiro lugar, e talvez mais importante, aprender sob a pessoa que ele mais admira: Hiroyuki Yamashita (Diretor de vários filmes de Naruto, bem como vários dos seus episódios mais relevantes, e da própria série Boruto e Boruto The Movie).

Huang teve um esforço tremendo para conseguir se tornar diretor de episódio em uma franquia que tanto gostava, e essa realização não poderia ser mais especial sendo na semana de seu aniversário. Boruto #65 foi chamativo pelo seu poder quantitativo. Huang se empenhou incansavelmente para que este episódio saísse, tendo de trabalhar 500 horas apenas em junho para esse projeto, e ainda pedindo a adiamento do episódio para que conseguisse terminá-lo em êxito a tempo. O episódio #65 foi composto de 510 cortes de animação; tenha noção que a média para animes de ação bem movimentados é em torno de 250~300, e que o pico conquistado nesse episódio é similar aos que os episódios de Violet Evergarden da Kyoto Animation conseguem em sua produção (mesmo que este citado não tenha foco na ação, e sim na atuação dos personagens). Esse é o tamanho de esforço feito por Huang para um grandioso episódio, que foi dinâmico e super bem movimentado do início ao fim. Não houve tempo para inatividade, foram 24 minutos dignos de uma produção de filme.
Não é coincidência que tanto esforço tenha sido canalizado para este episódio, é claro. É um momento climático na série, com bagagem emocional que remontou ao seu antecessor Naruto, servindo como o verdadeiro bastão entre os dois animes. Todo este arco está cobrindo conteúdo que foi transmitido em Boruto: Naruto The Movie, o que significa que tiveram que trabalhar de acordo com as filmagens de um filme em que realmente reaproveitaram cenas em várias ocasiões, incluindo algumas cenas neste mesmo episódio. Dito isso, vale então a ressalva que parte do planejamento do episódio já estava estabelecido e não foi um desenvolvimento natural que ocorreu durante sua concepção. O estúdio alocou recursos reservados para ocasiões especiais e o cronograma era sólido o suficiente. Huang entrou em contato com os animadores entre fevereiro e março e o processo de animação começou em abril – embora nem todas as experiências sejam iguais e alguns animadores tenham trabalhado em tempos diferentes de acordo com suas retribuições para o episódio.


Porém, Boruto #65 não conseguiria chegar nesse resultado apenas por causa disso. Por mais que enfatizemos que as séries de anime de TV mais fortes tendem a ser resultado de agendamento excepcionalmente bom e gerenciamento de projetos, esse episódio foi uma um ponto extremamente fora da curva – que foi concluído justamente por ser de uma equipe liderada por Chengxi Huang. Esse foi um momento raro que deve ser bem apreciado.

Indo direto às circunstâncias do episódio: A primeira grande tentativa de Huang no storyboard é simples, mas genial em sua simplicidade. O episódio é adornado com um punhado de conceitos puros, como essa transição sem cortes entre o início e o final do flashback usando o próprio Boruto para criar um corte de partida. Uma vez que existem alguns casos em que o obscurecimento parcial é usado como um meio de transição – como usar os efeitos existentes para permitir que Naruto mude elegantemente de forma e ponha um fim aos movimentos de seu filho antes de voltarmos ao combate. Isso pode se transformar em um de seus primeiros traços de direção. Sua entrega emocional foi igualmente simples: fez o que deveria, e foi mais do que suficiente para um episódio que se baseia em sentimentos cultivados por décadas. Como um grande fã, Huang entende o significado narrativo da passagem do bastão na forma de um rasengan,  a técnica icônica da franquia. Um momento importante que se torna ainda mais doce quando você considera o contexto; há apenas alguns anos, Huang animava um excelente corte que passava por personagens enquanto eles levantavam a mão lentamente; Isso foi na abertura 18 de Naruto Shippuden, dirigida com storyboard e supervisão por seu mentor Yamashita. Agora, Huang conseguiu ocupar o mesmo papel e incluir um conceito similar. A mudança para uma nova geração está ocorrendo em vários níveis – não se remete apenas à história.

Se há um aspecto em que o trabalho de Huang supera qualquer expectativa razoável do que um iniciante deve ser capaz, é o storyboard de ação. Ele guiou as mãos dos animadores e nossos olhos como espectadores com uma experiência que faz você estremecer quando você imagina o que ele pode ser capaz em poucos anos. Huang tem a compreensão do movimento que você esperaria de um ás animador, mas ele também provou ter uma compreensão sólida sobre o que torna o fluxo de batalha emocionante em primeiro lugar, bem como conhecimento técnico sobre técnicas de luta. Sua paixão pelas artes marciais e desejo de implementá-las nesta franquia nunca foram um segredo, então uma luta contra um inimigo que eles foram forçados a lutar de perto foi uma combinação perfeita¹

¹ – A coreografia incrível do taijustu usado entre Naruto e Momoshiki foi inspirado em estilos de Kung Fu como Wing Chun e Baguazhang, executados respectivamente pelos personagens. Huang conseguiu trazer seu conhecimento das artes marciais para uma parcela incrível do seu trabalhado de animação, mesmo que tais cenas tenham surgido das mãos de outros animadores. A visão e o conceito foi totalmente dele.

Seu trabalho na animação é muito tátil e ele conseguiu transmitir esse princípio para a equipe que trabalha com ele. Nenhuma dessas ideias enraizadas no realismo impediu um confronto entre personagens no nível de divindades de sentirem-se tão grandiosas quanto deveria, no entanto. Os layouts destacam a escala absurda da luta, assim como os personagens que constantemente entram em quadro para sugerir um espaço ainda maior. Toques de exagero – como agitar o lineart para emular e dar uma ainda maior impressão de força – foram espalhados por toda parte; mesmo através de sua marca registrada expressiva atuando, as caretas que estão presentes entre os 70 cortes que ele pessoalmente fez key animation., mas também dentro de sequências de outras pessoas. Boruto #65 é, para surpresa de ninguém, coberto pelo talento de Huang.
Mas isso não é tudo que existe para este episódio. Tão cruciais quanto os esforços hercúleos de Huang, a menção internacional na introdução não se refere apenas às suas origens [chinesas]. A equipe que ele reuniu inclui pessoas de todo o mundo, começando com seus conhecidos diretos e se estendendo até as pessoas recomendadas por eles. Todos eles fizeram um trabalho tão excepcional que esse texto seria ainda maior se fosse para citar ou dar mérito a cada sequência feira por cada um deles. Weiling Zhan, creditado como Golge, ganhou o amor de inúmeros fãs com sua execução de tirar o fôlego de alguns dos conceitos mais emocionantes do episódio, que Tilfinning conseguiu acompanhar com uma daquelas grandes peças de animação de fundo que percorrem um longo caminho para ilustrar a enorme escala da luta. Embora não possamos desfrutar da sequência do Guzzu em toda a sua glória até que o lançamento em Blu-ray se desfaça do fantasma desagradável, pelo menos a nitidez habitual do Kilocrescent não poderia ser arruinada por artimanhas técnicas. A força superlativa sem esforço transmitida por Hartova Maverick, que se concentra na expressão durante uma batalha frenética pelo encanto da cena de ação indie de Hero e Muggle, o revezamento entre Hiromatsu Shuu, David Bradshaw e a equipe Green Monster de Zhenhua Liu e Optical Core trabalhando sobre a magnitude do confronto, o sentimento de solidez na sequência curta, além das incríveis sequências de Spencer Wan. Mesmo se você se concentrar apenas nas contribuições de artistas não japoneses, não há fim para os cortes excepcionais.

Embora, é claro, o objetivo da internet seja quebrar barreiras, não quer dizer que os animes dependam exclusivamente de talentos estrangeiros, deve-se mencionar que jovens japoneses igualmente talentosos em posições semelhantes também foram recrutados; Ren Onodera, que já se destacou ao lado de Sute na brilhante terceira abertura do Black Clover, foi encarregado de fazer parte de uma cena tão exigente que até mesmo uma equipe como essa teve que voltar à versão dos eventos do filme. A inspiração de Norio Matsumoto e especialmente Yutaka Nakamura com a percepção de pessoas como Toshiyouki Inoue que Huang detectou de animadores como Gem é honestamente palpável em seu trabalho, muitos deles receberam influências e conseguiram canalizar os conceitos de seus ídolos efetivamente em fazer um trabalhado de qualidade.

Depois de toda essa celebração de jovens talentos vem a parte complicada, que é apontar que, por mais valiosas que fossem as contribuições de todos esses artistas em ascensão, eles não teriam alcançado esse nível sem o apoio de veteranos. Tatsuya Yoshihara é um líder da animação digital que passou anos liderando equipes de jovens e consistentemente descobrir novos talentos. Sem o apoio adequado do estúdio e um fluxo regular do pessoal experiente, dos quais vários outros não foram citados aqui, seria impossível criar um ambiente onde os recém-chegados possam dar o seu melhor. Isso é algo que Boruto também não consegue fazer regularmente, mas é inegável que foi feito um grande papel neste episódio.
Em conclusão a isso tudo, esse foi um trabalho sensacional, um ponto fora da curva na indústria de animes para TV, graças a um grande esforço de um diretor capacitado e determinado. A direção, layout, storyboard e todo dinamismo das cenas de ação, bem como a sutileza para os momentos mais amenos e emocionais foram feitos de maneira expressiva e totalmente bem animada, fluída. Este possivelmente será o episódio de anime mais bem animado de 2018, dificilmente conseguirão bater Boruto #65 pelo que resta ser lançado ainda. Esse episódio entra no páreo entre um dos episódios mais bem feitos de toda franquia Naruto – se não for o melhor -, e se torna um grande exemplo para a indústria de animação em geral. Independente da história de Boruto ser boa ou não, pois não é a discussão aqui e sabemos de todas suas deficiências e deméritos, mas é sim um mérito como episódio individual único.

De alguma maneira, este episódio remete ao Fate/Apocrypha #22, que foi incrivelmente bem animado e feito expressivamente por jovens animadores da webgen – o que se tornou sem dúvida o episódio mais bem animado do ano de 2017. Aqui, tivemos um recém-chegado diretor não nascido no Japão, que já havia ganhado reconhecimento como animador, montando uma equipe com representação internacional para criar um episódio espetacular notoriamente influenciado pelas tendências modernas. Mas, mais ainda, Boruto #65 conseguiu o que essa execução através do apoio de pessoal mais antigo e mais experiente, descansando em camadas sobre camadas de mentorias dos veteranos. Essa capacidade de reunir diferentes gerações de pessoas em todo o planeta é a força real no centro deste episódio. Aqueles que se juntaram à indústria por causa desta série, trabalhando ao lado daqueles que a produziram primeiro, não importando sua nacionalidade – tudo pelas mãos de um incrível diretor chinês. Este foi Boruto #65.
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