Origem da Indústria de animes e sua linha temporal

Animes são produzidos a partir de uma adaptação de mangá, light novel e game, ou mesmo na forma de um projeto de história original. Mas a uma história por trás da indústria de animação japonesa – motivos inerentes para seu início e para seu alcance mundial.

Começo da animação Japonesa

A história da indústria de animação japonesa é bem mais longa do que se pode imaginar. Na verdade, ela estava na vanguarda de tentativas furiosas do Japão para se modernizar no início do século XX com uma série de curtas similares aos achados em outros países, influenciados pelas obras da Disney em grande parte.

O exemplo mais antigo da animação japonesa, Namakura gatana, foi feito em 1917.

Nessa época continuaram sendo criados filmes e pequenas animações de comédia desse mesmo estilo – e até mesmo sobre alguns costumes japoneses da era Shouwa, porém, nada além disso por mais algumas décadas.

O Começo de uma Era
Saltando para o Japão de 1945, a destruição causada pela Segunda Guerra Mundial não estava muito longe da vida cotidiana dos habitantes do país, e a destruição atômica de Hiroshima e Nagasaki eram lembranças muito frescas, de fato. Foi ai, no meio de tal crise que um mangaká chamado Osamu Tezuka criou uma história do menino robô com um coração atômico. Este robô, rejeitado por seu criador para o pecado imperdoável de ser um fracasso (ele nunca cresceu) é resgatado por pessoas que se preocupam e o ajudam, Tetsuwan Atom. (Ou Astro Boy, como é conhecido por aqui).  Essa obra se tornou um sucesso na época pós-guerra, e foi com essa visão oportuna sobre um grande hit que um produtor americano chamado Fred Ladd tomou um olhar para essa história e decidiu que a história poderia realmente vender mais – e fazer um grande sucesso – se fosse produzida e levada para a América. Deu certo. Esse foi o ponto de partida para começar a era primordial para a indústria de animes e mangás, com as inerentes oportunidades dos americanos – que interviam no Japão nesta época pela vitória em Guerra – de capitalizar e tornar essa mídia mais famosa e globalizada.

Astro Boy se tornou um sucesso tanto na América como nacionalmente no Japão, inspirando muitos dos fãs de anime da chamada First Wave (termo usado para a primeira geração de animes da indústria, bem como seus fãs e criadores) como seu próprio autor a continuar. 

Essa obra, no entanto, não foi o trabalho mais longo e importante de Tezuka, mesmo valendo a consideração sua tremenda relevância de ter sido esta a crucial para alavancar a indústria. A “obra de vida” do autor foi Hi No Tori que infelizmente não foi concluída antes de sua morte prematura – houve no entanto, uma versão teatral que concluiu a história com narrativa própria

Houve uma série feita pelo Sr. Tezuka chamada Legend of the Foreste era sobre um pequeno leão branco com orelhas pretas. Essa história partilha de muitos elementos com um filme da Disney conhecido por muitos. O leão na versão dos EUA da série foi chamado Simba. Embora seu nome original fosse Kimba, na história de Tezuka. Há um grande debate sobre o plágio ocorrido ou não pelo estúdio americano, mas a própria Disney já confirmou uma “inspiração” para a criação de Rei Leão – muito embora mais tarde tenha firmemente negado qualquer semelhança entre as histórias, seus produtores afirmaram “oficialmente” que não foram influenciados pelo clássico de Tezuka durante a produção de seu próprio filme. Disseram que as cenas que tinham total semelhança a obra de Tezuka eram total coincidência.

Foi, portanto, um pouco de uma “reversão” na briga entre o cenário japonês e americano quando, um tempo depois, Disney e o estúdio Ghibli anunciaram que o catálogo de filmes de Miyazaki seriam distribuídos pela Disney. Ou seja: a empresa que negava plágio – ou inspiração – de uma obra japonesa fez uma parceria com um estúdio e produtor do mesmo logo depois.

Hits da TV Americana
 Antes mesmo de Osamu Tezuka morrer, outras influências poderosas fizeram sua marca como séries de mangá e séries animadas. Eight ManKaitei Shonen Marin e Tetsujin 28, todos esses estavam a caminho da TV americana em meados de 1960 e 1970.

Nesse mesmo tempo, os personagens das séries de animes começaram a ganhar seu design que hoje é reconhecido pelo mundo todo: roupas, olhos e cabelos diferentes e exagerados. Vale citar que antes as roupas eram de certa forma meio “andrógena”, pois 15% do mercado japonês da época eram espetáculos destinados diretamente para o público feminino, como Sailor Moon.

Também foram se iniciando os conteúdos adultos da época, pois como as maiorias das animações eram para crianças e/ou adolescentes eles pensaram em fazer algo que os adultos pudessem ver para consumir seus produtos depois. Para isso, começou a se marcar uma etiqueta de advertência para aqueles títulos que eram marcados como mérito adulto, os famosos R18.

Já existia a censura para conteúdo exibido na TV, assim como hoje, mas verificou-se que havia muitos pedidos por conteúdos adultos que de fato não regulassem seu conteúdo, de forma a tal que esse selo R18 apareceu para aqueles que estavam dispostos a comprar tais produtos, estando sob idade apropriada para possui-los. Os produtores e chefes de setores das indústrias já sabiam que algumas pessoas iriam comprar tais animes só pelo fato de serem marcados como conteúdo adulto, e isso era bom, uma vez que eles procuravam o lucro.

Animes no final dos anos 70
Como a década de 1970 se aproximava do fim, várias coisas foram acontecendo ao mesmo tempo. Animação para televisão foi em direção a novos títulos e franquias em um ritmo incrível. O bloco The Matsumoto TV Shows mostrava o Capitão Harlock: Pirata do espaço, o drama impregnado e alta aventura como nada visto antes.
Foi neste ínterim que apareceu uma série sobre robôs e guerras espaciais que mudou o rumo da indústria – que desde então nunca mais foi à mesma: Mobile Suit Gundam foi mais do que lutas de robôs gigantes – que até então já existiam antes como o póprio já citado Tetsujin 28 , Gundam tratava como caráter o desenvolvimento como algo muito mais complexo para os padrões da época, além de ser uma série de abordagem sobre raças e transformações.

Gundam não era a única coisa incrível que aconteceu quando década de 70 acabou: Um filme com um personagem popular foi dado a produtor que trabalhou no que foi um dos maiores filmes já feitos a partir de um dos maiores diretores japoneses da indústria: Lupin III: Cagliostro Castelo de Hayao Miyazaki.
  
Este filme chegou muito perto do que se podia se caracterizar como “perfeição” em sua execução à epoca: Ação, ótima trilha sonora, uma grande história e animação impecável -todas as pequenas coisas estavam lá. O anime capturou a essência da figure história Lupin (um ladrão fantasticamente capaz que inspirou o protagonista da série) e seu perseguidor quase igualmente capazes (Inspector Zenigata) ao tratar o público com uma montanha russa de emoções.

Anos 80: “A Era de ouro dos animes”
É comum ver que a maioria dos fãs de anime de hoje em dia não viu a enorme parte dos grandes animes e clássicos feitos durante esta época – que é considerada por todos na indústria como a melhor era para a indústria de animes. A maioria – se não todos – animes e filmes de anime lançados hoje em dia se baseiam na estrutura, nos conceitos ou em alguma fórmula de vários animes destes tempos. Até mesmo vários dos que ficaram popularmente conhecidos mesmo na atualidade, como Dragon Ball, Tonari no Totoro, Doraemon Hokuto no Ken foram lançados nos meados nessa época.

A maior diversidade de animes e produtos estava sendo feita durante este período. Foi o momento das melhores séries de sua época, o ápice da indústria japonesa de animação até então já estabelecida. 
 
Foi um momento de ouro para os fãs passaram por esta época durante a vida. Foi também neste ínterim que Miyazaki surpreendeu o mundo novamente com o seu Nausicaa in the Valley of the Wind e vários outros filmes que fizeram sucesso estrondoso – como o próprio já citado Tonari no Totoro que acabou se tornando a maior bilheteria do cinema japonês por várias décadas.

Foi ao final dos anos 70 e no começo dos 80 que surgiram os vídeos cassete, que tornou possível que animes fossem gravados em fitas e reproduzidos em sua casa através do aparelho. Isso fez um boom no mercado dos produtos da animação japonesa, crescendo quase que exponencialmente.  Foi assim que surgiu o chamado de “OVA“: Original Vídeo Animation (ou OAV: Original Animation Vídeo). Diferente dos dias de hoje, que os OVAs normalmente são vendidos como episódios especiais e produtos para animes já lançados como séries de TV, nesta época estabeleceu-se várias produções feitas somente nesse formato OVA, proporcionando muito mais qualidade e nenhuma censura – não sendo exibidos como séries para TV. Um exemplo de série feita para o formato OVA foi o excelentíssimo The Legend of the Galactic Heroesque brilhou como nenhum outro anime até hoje em sua incrível abordagem político-filosófica junto do melhor do Space Opera.

Fim da “Era de ouro”
O fim da “Era de ouro” veio com o mercado que estava se tornando saturado e a economia japonesa que, já em declínio por algum tempo, foi ficando pior. Após isso, as empresas mudaram a partir do mercado de animes para começar a produzir bastantes jogos de computador. Mas Isso também não quer dizer que não houveram grandes execuções de filmes neste momento.
Totoro, como já abordado mais acima, foi lançado ao final da Época de ouro, juntamente com Kiki’s Delivery Service.

Há quem argumente que 1988 foi o último real suspiro para grandes filmes da animação japonesa. Foi o ano em que tanto Akira e Totoro chegaram às telas.

Ainda assim, o mercado estava mostrando sinais de colapso. As fitas OVA começaram a mofar nas prateleiras das lojas. Quando a série mais relevante na televisão era Saint Seiya torna-se evidente que as coisas não estavam boas. Era evidente que seria necessário algo muito extremo para a indústria de séries de TV virar a mesa. Felizmente, havia uma empresa que podia e faria isso.

Gainax – Uma abordagem diferente para Produção e Comercialização
Até então, a Gainax tinha sido tratada pela indústria dos animes com certo desprezo. A opinião popular considerou que os envolvidos no estúdio Gainax eram um bando de pessoas que não eram bons o bastante para a indústria – até por isso formarem-se como um grupo independente que se tornou um estúdio.

Curiosamente, esta opinião estava longe da verdade neste momento: eles criaram algumas das séries mais memoráveis ​​já feitas, com habilidade técnica e com freqüência surpreendente. Gunbuster, por exemplo, foi uma paródia do gênero mecha  maravilhosamente bem feito e com um final verdadeiramente satisfatório.

Wings of Honneamis também foi um grande filme para a época. Um dos maiores e únicos filmes já feitos nesse período. Porém, com isso tudo vinha à mente uma pergunta: Como eles conseguiam com tão pouco orçamento – uma vez que eram até então um estúdio independente –, com trabalho árduo e prazos apertados fazer essas grandes execuções? Isso tudo veio da diferente abordagem de mercado que o estúdio proporcionou para a indústria.

No verão de 1990, a época já era marcada pela Fourth Wave. Fãs americanos foram descobrindo anime através de histórias em quadrinhos e fitas de vídeo pirateadas. O mercado japonês estava sendo marcado neste momento por uma história que retratava o final de 1800. Esta nova série mudaria tudo. A tal série foi chamada de Nadia. 
Esse anime foi inovador. Contava várias histórias diferentes com algumas concessões aos hábitos mais desagradáveis ​​da humanidade. E pode-se dizer que o anime bombou na América, o que foi surpreendente. pois quando as mídias dos EUA finalmente descobriram o anime, ele foi retratado como “material adulto”

Anime nos anos 90
Pode-se dizer que entre 1991 a 1995 aconteceram grandes mudanças. Mais uma vez, a falta de criatividade, em grande parte, parecia a ficar cada vez maior até quando veio a inovadora concepção e execução. Até 1995 não houveram tantos grandes sucessos. Ainda assim, animes foram em grande parte à deriva, uma vez em que ao passar do tempo foi impulsionado por apenas grandes sucessos ocasionais. Porém, a tecnologia de animação tinha avançado muito nesses quatro anos.

 A partir de 1995 tudo melhorou. Novamente, a Gainax fez um belo e incrível trabalho para a época com sua obra Neo Genesis Evangelion.

A partir deste momento, surgiram vários animes que ficariam marcados na história e que até hoje fazem um grande sucesso. Não só Evangelion como, Cowboy Bebop e sua enorme aceitação e fama pelo ocidente; mas também outras séries mais populares como Digimon, Pokemon, Yu Yu Hakusho, One Piece que também fizeram seus nomes – sejam por bem ou mal.

A industria cresceu exponencialmente, se tornando um dos pilares mais importantes para a economia japonesa, pois conseguiam derivar vários produtos e serviços a partir dos animes. Desse ponto em diante, essa indústria e cultura já estava estabilizada na América e já começava a se espalhar pelo mundo se tornando o que é hoje, com demandas cada vez maiores dessa mídia como produto. O resultado disso a partir do novo século que se inciava, vocês já sabem.

Referências

– History Of Anime In The US
– A Brief History of Anime
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