Cardcaptor Sakura: Clear Card-hen (2018) | Review

Sobre:
Sakura, agora com 12 anos de idade, começa a escola secundária junto com seus amigos, incluindo Shaoran, que acabara de voltar para Tomoeda. Depois de ter um sonho com uma misteriosa figura encapuzada, todas as cartas da Sakura ficam em branco e sem poder, assim ela começa sua busca para descobrir o que está errado. Ao fazer isso, Sakura e seus aliados descobrem novas cartas, que são transparentes, e as capturam usando uma nova chave.

Análise
Quase 20 anos após o clássico Cardcaptors Sakura que se popularizou no Japão e em vários países, incluindo o Brasil. As nossas queridas já senhorinhas da CLAMP finalmente deram continuidade à obra e não demorou muito para a Madhouse anunciar o anime. “Oh Céus, o que será desse anime?” Pois é, eu fiquei um pouco apreensiva vendo que a minha querida “Mad” já não era mais a mesma de antigamente. Alguns animes lançados recentemente pelo estúdio oscilaram bastante tecnicamente, seja na animação, ou direção, ou roteiro. Eu não queria ver a linda arte do novo mangá da Sakura numa produção ruim. Mas a surpresa não foi pouca.

Nem é porque a qualidade da animação estava muito boa (Mas de fato isso surpreendeu, porque não estava boa, mas MUITO boa). A enorme surpresa que esse anime trouxe foi a quase impossível reunião de boa parte da antiga staff, isso incluindo todos os seiyuus, que hoje tem uma idade média acima de 45 anos – tratando-se daqueles que dublavam as crianças. Sim, é isso mesmo. Esse anime tem um monte de crianças com vozes fofinhas feitas por um monte de marmanjonas e marmanjões (LOL). O mais impressionante nisso, é terem conseguido manter os mesmos tons de vozes, alem da atuação. – Lembrando que, em 2014, no novo anime da Sailor Moon fizeram algo parecido ao preservar a mesma dubladora da Usagi, que trabalhou nas séries da década de 90. E o resultado não ficou bom, a voz da dubladora envelheceu e a personagem ficou audivelmente irritante.
 
A produção é saudosista e perfeccionista, preservando muita coisa como os sons e os os tons de cores do anime antigo. Mas também foi atualizado: os vários itens que se via a Sakura usando no anime antigo que eram claramente para vender brinquedos, agora são objetos com formatos normais e atuais. Pois é, sem laptop da Xuxa, sem secador da Barbie. Sakura virou uma menina moderninha e sua única preferência por alguma frescura é a cor rosa.
A direção também evoluiu muito de lá pra cá, temos enquadramentos mais variados, um excelente uso de CGI, filtros e paisagens lindas usados nos momentos certos e até os episódios fillers são bons. Ah, quem não se lembra daqueles quase 50% de fillers? Para uma criança era sensacional, até porque os fillers de Sakura mantinham a essência natural e toda a estrutura dos episódios cannon do anime (e vendo por esse lado, eram bons episódios), mas para um público adolescente-adulto essa repetição pode ser vista como algo bem cansativo. E, ainda não podemos nos esquecer dela, a personagens made in China que alguém da staff a colocou no antigo anime para “tsunderar” a vida da pobre Sakura. Mei-Lin!
O que difere tanto os fillers de Card-Hen? Precisamente, não muita coisa, esses permanecem na essência e estrutura dos demais episódios como o antigo fazia, a diferença se faz mesmo no amadurecimento dos roteiristas. Ao começar por ela, Mei-Lin. O quê? Achou mesmo que com tanto auto-saudosismo, iriam deixá-la de fora? Por um momento eu desejei muito isso, mas já a foram inserindo em pequenas cenas aqui e ali dela conversando com a Sakura por call ou celular. E pra ser sincera, ficaram muito bem encaixadas, deram uma naturalidade maior e mais teor slice do qual ainda vou comentar melhor. Mas, os responsáveis não se contentaram só com essas singelas participações e então, “puff” ela aparece. (E eu quase me descabelei nessa hora, num rápido ataque de piti). Mas a personagem mudou muito de quem ela era antigamente, a presença dela ficou muito agradável e a amizade dela com a Sakura acabou por ter mais química do que a amizade que Sakura tem com Tomoyo, e ainda arrisco dizer que tem mais química do que o romance com Shaoran. (Yuri lovers, podem shippar ;D).

Apesar dos pontos positivos, eu não diria que o conteúdo original é tão bem encaixado no roteiro. Há várias mudanças temporais em relação às informações importantes que o enredo precisa fornecer para ir movendo o plot. O anime acaba ganhando uma narrativa mais calma e jogando revelações mais para frente, sendo que dava para ter encaixados elas no tempo certo, sem modificar as cenas. Mas isso também é um 50/50, ao mesmo tempo que algumas coisas perderam a naturalidade, outras ganharam naturalidade.

Mas porque tornar Sakura um anime mais Slice? Me perguntei várias vezes se o publico alvo para Sakura seria o infantil ou o adulto. Bem, sabemos que por se tratar de uma continuação que depende bastante dos conhecimentos da primeira temporada, boa parte do público que acompanhou esse anime já é adulto. E acredito que muitos, assim como fizeram alguns conhecidos meus, quiseram ou ainda querem ver Clear Card-hen pela nostalgia. E provavelmente ficaram muito satisfeitos, pois a produção do anime resgatou quase tudo que podia do antigo anime, por isso temos o mesmo elenco de seiyuus, boa parte das antigas OSTs e os mesmos sons (como o mágico barulhinho das asas do Keroberos). E, alem disso, o roteiro é aproveitado para revisitar alguns episódios antigos, como o da peça teatral da Sakura; o do encontro no aquário; o do pinguim escorregador do parquinho. Reformulando esses episódios bem marcantes assim como as cartas estão sendo refeitas.

Mas não dá pra seguir a estrutura do anime antigo que se repetia bastante e com metade do episódio voltado para a ação da Sakura tentando capturar alguma carta. Aqui, as capturas da Sakura são reduzidas e conforme ela vai ganhando mais cartas, ela também leva ainda menos tempo para capturar as novas. Dessa forma, o anime poderia até ser reduzido em 1 cour, mas os espaços são bem preenchidos com cenas do dia-a-dia.

Há muitas cenas de chá; a rodinha de amigos da Sakura reunidos para piqueniques ou nos intervalos da escola para comerem juntos e jogarem conversa fora. Bem, eu não consigo imaginar um grupo de crianças de 12-13 anos reunidas e com tanta educação e etiquetas, ainda mais tomando chá e compartilhando bentos e sobremesas refinadas. Eles parecem até minis adultinhos. Isso me faz pensar: “esse é o anime que eu quero que meus filhos vejam”.

Sendo assim, o slice é bem aplicado, tem muitas cenas agradáveis e por mais infantil que Sakura soa, há uma postura bastante madura aqui para ser apreciada.

E assim como boa parte dos pontos colocados possuem seus prós e contras, que podem ser facilmente invertidos de acordo com o publico alvo, o roteiro também é encaixado nisso. Há alguns diálogos no anime muito expositivos, cenas como as do Kaito que fica se explicando. Mas também, há aqueles diálogos que forçam um mistério, de um personagem não falar o que está acontecendo propositalmente. Coisas como essas pesam muito na qualidade de um roteiro, porém no ponto de vista de uma criança é essencial ter esse conteúdo mais mastigado. Por conta disso, se torna um tanto relativo apontar essas características como um defeito.

Por outro lado, a história aqui é muito mais interessante do que no antigo anime. As capturas das cartas passam a fazer muito sentido conforme as coisas se desenrolam, como os lugares em que aparecem e o porquê. A própria existências dessas cartas fazem da Sakura muito mais do que uma personagem aparentemente unidimensional, muitos dos sentimentos confusos que ela sente, os medos e receios, tudo resulta na criação de novas cartas. Um episódio em que gostei muito é o da carta da ilusão, que por sinal é um episódio filler. Ali é bem explorado o lado infantil da mente da Sakura e como a incompreensão do que está acontecendo se desenvolve gradualmente para o medo, aumentando drasticamente o poder da carta e mudando a realidade para algo tempestuoso.

Sakura Cardcaptor Clear Card-hen talvez não seja um anime tão energético como seu antecessor, mas muita coisa amadureceu aqui por mais singela que essa evolução aparenta ser. Mas, a história não acabou aqui, o anime está aberto para continuação assim como o mangá também está ativo, há muita coisa para acontecer assim como o clímax dessa nova jornada e uma tragédia predestinada. O que será que nos aguarda?

Direção: 8.5 (Ótimo)
Roteiro: 6.5 (Mediano/Bom)

Produção Visual: 8.5 (Ótimo)
Trilha Sonora: 7.5 (Bom)
Entretenimento: 7.0 (Bom)

Nota Total: 7,6 (Bom)

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