Mahoutsukai no Yome (TV, 2017) | Review

Sobre
Hatori Chise tem apenas 16 anos, mas perdeu muito mais do que a maioria. Sem família nem esperança, parece que todas as portas estão fechadas para ela. Mas, um encontro casual começou a mover as rodas enferrujadas do destino. Em sua hora mais escura, sendo vendida em um leilão do submundo, um misterioso mago aparece diante da ruiva para comprá-la, oferecendo uma chance que ela não poderia recusar. Este mago que parece mais um demônio do que um humano, vai lhe trazer a luz que ela procura desesperadamente, ou afogá-la em sombras cada vez mais profundas?
Análise
Mahoutsukai no Yome transfigurou o mangá para uma animação, logo depois dos OVAs anteriores também do estúdio WIT, em uma série de TV com 24 episódios, que cobriram todos os capítulos lançados até então no mangá e mais um pouco. A série carrega consigo uma bagagem de um mundo mágico misturado com o humano junto de um drama pessoal de uma garota com um obscuro e traumatizante passado, que tenta se superar à medida que os dias avançam – após ter sido comprada em um leilão do submundo por um mago ancião – mesmo que mais problemas sempre surjam por todos os lados.

O desenvolvimento de Mahoutsukai no Yome é lento. O próprio mangá é feito de vários pequenos arco; isto é, vários acontecimentos e visitas da garota junto ao mago para com seus vizinhos, amigos, colegas e outros desse fantástico mundo mágico que a obra explora tão bem em junção ao mundo dos humanos. Inicialmente a garota vai descobrindo e se fascinando pelas luzes e escuridões do mundo mágico, mas à medida que os eventos – mini-arcos -, avançam, a protagonista vai entendendo melhor o sentido de possuir um vida, de ter pessoas para se apoiar e principalmente sobre os conceitos de família que há muito ela havia esquecido. Seu relacionamento com todos personagens que aparecem durante a narrativa vai sendo fixado e explorado de maneira sucinta ao ponto de valer cada desenvolvimento à parte – mas no decorrer do anime isso não é tão bem feito.

O anime tenta entregar o mesmo ritmo do mangá, mas falha quase sempre na medida ideal para fazer sua narrativa correr. Os pequenos arcos cujo Chise apende lições e vai descobrindo sobre si mesma até são funcionais no início, mas a partir de certo ponto o anime parece estar preso em um looping em volta do relacionamento dela com Elias – que se torna um verdadeiro dilema mal resolvido. Recursos melhores poderiam ter sido usados na adaptação para prender um maior dinamismo à série, o que faltou em muito em toda a prosa da série de Mahoutsukai; os episódios passaram a não fazer efeito em muita gente, e a fórmula que aparenta ser repetitiva para cada novo caso/episódio não passa de uma má direção e processo de adaptação para o anime. Apesar de ser uma história consistente, a narrativa falha em trazer algo a mais e destoar com seu próprio diferencial que é exigido em adaptações animadas, em que precisam de uma boa base base para sua própria naturalidade e experimentação, e ainda em se diferenciar positivamente do mangá com sua adaptação a fim de fazer uma produção animada digna e bem memorável. Mas os problemas da direção não param por aí.

Uma das características mais marcantes do mangá de Mahoutsukai é a forma como sua história diverge em gênero a todo momento, passando de momentos bonitinhos com seres mágicos e dragões até a hora em que contos cabulosos de terror e psicológico são postos à tona em uma nova situação; O anime tentou adaptar, talvez à cara dura, essa mesma característica da sua obra original, mas falhou quase que completamente. Os diversos eventos que deveriam impactar no sentido de terror/suspense, não conseguiram. A inconsistência da narrativa e da própria direção pecaram com a falta de uso ferramentas mais versáteis para uma transfiguração melhor. Não foram capazes de passar a mesma grandiosidade que vários momentos tinham por si próprios.

No começo até estava indo bem. Mas o timming para o terror psicológico foi piorando e a direção se desgraçando.

Isso vai além de apenas uma direção mal feita. Estes problemas são intrínsecos em uma produção que não conseguiu passar completamente o visual original ao anime, ou sequer um adaptável à altura. A forma em que os desenhos ilustrados no mangá são feitos já passam pela própria forma uma tensão e obscuridade singulares à obra, é uma característica natural do autor que apenas soa bem durante toda os capítulos e não parece ter sido imposta ali. Já na série, os visuais de personagens são inconsistentes e sofreram grotescas mudanças para parecem, quem sabe, mais bonitinhos. O próprio Elias é um grande exemplo de como as feições mudaram: enquanto no mangá seu rosto ossudo é mais sombrio e intimidador, o anime fez de seu ossos uma espécie da cara de cachorro abandonado. Vários outros personagens, cenas e situações sofreram, junto a todos os já mencionados problemas, de um aliviamento visual negativo, que acabou com boa parte das cenas que deveriam possuir mais tensão – matando a diferencial característica exposta do mangá que o faz ser como é.

Até quando era para era pavoroso Elias mantinha sua cara de coitado.

O uso da direção, no entanto, conseguiu acertar aqui e ali em alguns momentos-chave em que consistia em fazer uso da trilha sonora e de momentos mais… bonitos. Não foram todos, e nem sequer os clímaces dramáticos foram tão impactantes como deveriam, mas relativizando em termos gerais, houve certa competência para trabalhar em alguns momentos que soavam mais fáceis pelo visual que a série tomou para si. Os clímaces dos diversos arcos foram inconsistentes entre si próprios, passando dos mais simples, funcionais e aos próprios “anticlímaces”. Dentre eles, vários não atingiram nenhum tipo de impacto ou empatia à quem assistia, e isso acontece também porque não são todos espectadores que se prendem na história de Chise ou do mundo ali criado, fortalecendo uma quase completa antipatia com os clímaces, ou com o simples fato de Chise conseguir resolver quase tudo na base da conversa. Se já existe uma dificuldade para alguns de criar tal empatia, o fato do ritmo narrativo do anime ser problemático piora ainda mais a situação, tornando o anime chato para muita gente.

Apesar desses grandes problemas de ritmo narrativo, direção e adaptação – que pisotearam o anime em fazê-lo não muito mais do que apenas na média de animes da temporada – os dois maiores pontos positivos da obra também são válidos de destaque , embora não sejam mérito do anime: ambientação e background de personagens.

A ambientação de Magu’s Bride é ótima, e seu contexto mágico misturado ao humano, com tantas exploradas de vertentes mágicas, difusão entre magos e feiticeiros, bem como todos os seres mostrados, introduzidos e explicados fazem da história um ambiente no mínimo muito interessante; o anime, pelo menos, conseguiu repassar parte dessa boa ambientação e imersão de mundo mágico, mesmo que com recorrentes problemas que destruíssem qualquer tipo de aproveitamento total do que a obra tinha a oferecer. O segundo ponto, não menos importante, é o bom desenvolvimento pessoal que boa parte dos personagens possuem, que são de uma complexidade notáveis. Dizer que os personagens de Mahoutsukai no Yome são superficiais é o maior cúmulo do absurdo do qual alguém poderia se submeter ao se referir a obra, tanto que é com o grande e profundo desenvolvimento pessoal de Chise e Elias, que é por natureza própria complicado, confuso e tão real como se poderia ser com duas pessoais reais, que o anime se enrosca em um dos seus maiores problemas, como já citado acima. Todas personas envolvidas na história são interessantes, misteriosas e servem muito bem para o meio mágico construído com histórias próprias bem escritas, complicadas e decentes. Só é uma pena que o anime não tenha passado isso tão bem.

O desfecho final da série tem seu valor pela forma da protagonista de encarar o mundo, mas também é cercado de problemas que fazem aqueles que já perderam interesse não acharem tão interessante – é nesta forma que Mahoutsukai foi finalizado, deixando a desejar e tornando para muitos um anime mediano e talvez sem impacto algum. E isso não é culpa da obra propriamente por si só.

Direção – O maior problema da obra. Apesar de ter sido eficaz no início do anime, com bons arranjos de cenas e até certo impacto em alguns momentos, ficou extremamente inconsistente na segunda metade do anime e começou a se perder em meio ao foco narrativo; no final do anime já apresentava pouquíssimo brilho – existiram cenas interessantes ainda na segunda parte, mas foram ínfimas. No geral, uma direção que pendeu de boa, para mediana e então fraca. Uma das maiores inconsistências no anime. 

Roteiro – O plot do anime é bom, mas pelas adversidades já apresentados acabou se tendo problemas e entrando em uma narrativa problemática ao longo do tempo. Seria injusto, no entanto, dar uma nota baseada apenas nos problemas de direção e adaptação ocorridos, excluindo as virtudes do decente mundo mágico criado, bem como os backhistories interessantes de personagens. A nota poderia ter sido maior se o anime permitisse.

Produção Visual – Juntamente da direção, a produção visual foi outra que sofreu da  inconsistência durante a execução da obra – isso sem incluir os problemas na adaptação de visual que também já foram explicados, o que contribuiu para a falha das devidas tensões que deveriam ser passadas. 

Trilha Sonora – Bem feitas, as soundtracks ajudaram a uma imersão de um mundo fantasioso e mágico em diversos momentos, ao mesmo tempo que ajudaram de uma maneira ou de outra em vários dos clímaces. 

Entretenimento – O fator mais pessoal daqui. Eu, pessoalmente, não perdi total empatia com o anime em nenhum momento, mesmo reconhecendo a decadência – em vários sentidos – durante a série. Ainda assim, não deixei de admirar os desenvolvimentos interessantes de Chise e outros personagens, a compreensão dos sentimentos passados pela garota e pelo mago fizeram várias ações e eventos fazerem sentido – mesmo que o anime não tenha ajudado na execução. 

Mahoutsukai no Yome é uma história interessante, lenta, cheia de personagens interessantes, e com várias lições e tramas exploradas em meio a um mundo bem criado. No entanto, a série decaí muito durante sua execução – especificamente na segunda parte – com uma grande inconsistência no visual e em sua direção que não consegue trabalhar bem com a narrativa diversificada, lenta e quase incomum que a obra possui. O melhor a se fazer é ir ler o mangá, que embora também seja lento tenha seus problemas para quem não consegue criar empatia facilmente, é bem superior ao anime. Dizer que a série vale como entretenimento poderia ser uma mentira, tudo depende de como será o seu apego com os personagens e a ambientação ao longo dos episódios; a primeira parte pode até ajudar nisso, porém o problema vem depois. No geral, é um anime mediano que peca muito em não conseguir mostrar toda sua capacidade, e seu atrapalhado processo de adaptação tem a culpa nisso. Fiquem à vontade para assistir, mas com ambos os pés atrás.

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