O desenvolvimento de Mahoutsukai no Yome é lento. O próprio mangá é feito de vários pequenos arco; isto é, vários acontecimentos e visitas da garota junto ao mago para com seus vizinhos, amigos, colegas e outros desse fantástico mundo mágico que a obra explora tão bem em junção ao mundo dos humanos. Inicialmente a garota vai descobrindo e se fascinando pelas luzes e escuridões do mundo mágico, mas à medida que os eventos – mini-arcos -, avançam, a protagonista vai entendendo melhor o sentido de possuir um vida, de ter pessoas para se apoiar e principalmente sobre os conceitos de família que há muito ela havia esquecido. Seu relacionamento com todos personagens que aparecem durante a narrativa vai sendo fixado e explorado de maneira sucinta ao ponto de valer cada desenvolvimento à parte – mas no decorrer do anime isso não é tão bem feito.
O anime tenta entregar o mesmo ritmo do mangá, mas falha quase sempre na medida ideal para fazer sua narrativa correr. Os pequenos arcos cujo Chise apende lições e vai descobrindo sobre si mesma até são funcionais no início, mas a partir de certo ponto o anime parece estar preso em um looping em volta do relacionamento dela com Elias – que se torna um verdadeiro dilema mal resolvido. Recursos melhores poderiam ter sido usados na adaptação para prender um maior dinamismo à série, o que faltou em muito em toda a prosa da série de Mahoutsukai; os episódios passaram a não fazer efeito em muita gente, e a fórmula que aparenta ser repetitiva para cada novo caso/episódio não passa de uma má direção e processo de adaptação para o anime. Apesar de ser uma história consistente, a narrativa falha em trazer algo a mais e destoar com seu próprio diferencial que é exigido em adaptações animadas, em que precisam de uma boa base base para sua própria naturalidade e experimentação, e ainda em se diferenciar positivamente do mangá com sua adaptação a fim de fazer uma produção animada digna e bem memorável. Mas os problemas da direção não param por aí.
Uma das características mais marcantes do mangá de Mahoutsukai é a forma como sua história diverge em gênero a todo momento, passando de momentos bonitinhos com seres mágicos e dragões até a hora em que contos cabulosos de terror e psicológico são postos à tona em uma nova situação; O anime tentou adaptar, talvez à cara dura, essa mesma característica da sua obra original, mas falhou quase que completamente. Os diversos eventos que deveriam impactar no sentido de terror/suspense, não conseguiram. A inconsistência da narrativa e da própria direção pecaram com a falta de uso ferramentas mais versáteis para uma transfiguração melhor. Não foram capazes de passar a mesma grandiosidade que vários momentos tinham por si próprios.
No começo até estava indo bem. Mas o timming para o terror psicológico foi piorando e a direção se desgraçando. |
Isso vai além de apenas uma direção mal feita. Estes problemas são intrínsecos em uma produção que não conseguiu passar completamente o visual original ao anime, ou sequer um adaptável à altura. A forma em que os desenhos ilustrados no mangá são feitos já passam pela própria forma uma tensão e obscuridade singulares à obra, é uma característica natural do autor que apenas soa bem durante toda os capítulos e não parece ter sido imposta ali. Já na série, os visuais de personagens são inconsistentes e sofreram grotescas mudanças para parecem, quem sabe, mais bonitinhos. O próprio Elias é um grande exemplo de como as feições mudaram: enquanto no mangá seu rosto ossudo é mais sombrio e intimidador, o anime fez de seu ossos uma espécie da cara de cachorro abandonado. Vários outros personagens, cenas e situações sofreram, junto a todos os já mencionados problemas, de um aliviamento visual negativo, que acabou com boa parte das cenas que deveriam possuir mais tensão – matando a diferencial característica exposta do mangá que o faz ser como é.
Até quando era para era pavoroso Elias mantinha sua cara de coitado. |
O uso da direção, no entanto, conseguiu acertar aqui e ali em alguns momentos-chave em que consistia em fazer uso da trilha sonora e de momentos mais… bonitos. Não foram todos, e nem sequer os clímaces dramáticos foram tão impactantes como deveriam, mas relativizando em termos gerais, houve certa competência para trabalhar em alguns momentos que soavam mais fáceis pelo visual que a série tomou para si. Os clímaces dos diversos arcos foram inconsistentes entre si próprios, passando dos mais simples, funcionais e aos próprios “anticlímaces”. Dentre eles, vários não atingiram nenhum tipo de impacto ou empatia à quem assistia, e isso acontece também porque não são todos espectadores que se prendem na história de Chise ou do mundo ali criado, fortalecendo uma quase completa antipatia com os clímaces, ou com o simples fato de Chise conseguir resolver quase tudo na base da conversa. Se já existe uma dificuldade para alguns de criar tal empatia, o fato do ritmo narrativo do anime ser problemático piora ainda mais a situação, tornando o anime chato para muita gente.
Apesar desses grandes problemas de ritmo narrativo, direção e adaptação – que pisotearam o anime em fazê-lo não muito mais do que apenas na média de animes da temporada – os dois maiores pontos positivos da obra também são válidos de destaque , embora não sejam mérito do anime: ambientação e background de personagens.
A ambientação de Magu’s Bride é ótima, e seu contexto mágico misturado ao humano, com tantas exploradas de vertentes mágicas, difusão entre magos e feiticeiros, bem como todos os seres mostrados, introduzidos e explicados fazem da história um ambiente no mínimo muito interessante; o anime, pelo menos, conseguiu repassar parte dessa boa ambientação e imersão de mundo mágico, mesmo que com recorrentes problemas que destruíssem qualquer tipo de aproveitamento total do que a obra tinha a oferecer. O segundo ponto, não menos importante, é o bom desenvolvimento pessoal que boa parte dos personagens possuem, que são de uma complexidade notáveis. Dizer que os personagens de Mahoutsukai no Yome são superficiais é o maior cúmulo do absurdo do qual alguém poderia se submeter ao se referir a obra, tanto que é com o grande e profundo desenvolvimento pessoal de Chise e Elias, que é por natureza própria complicado, confuso e tão real como se poderia ser com duas pessoais reais, que o anime se enrosca em um dos seus maiores problemas, como já citado acima. Todas personas envolvidas na história são interessantes, misteriosas e servem muito bem para o meio mágico construído com histórias próprias bem escritas, complicadas e decentes. Só é uma pena que o anime não tenha passado isso tão bem.
O desfecho final da série tem seu valor pela forma da protagonista de encarar o mundo, mas também é cercado de problemas que fazem aqueles que já perderam interesse não acharem tão interessante – é nesta forma que Mahoutsukai foi finalizado, deixando a desejar e tornando para muitos um anime mediano e talvez sem impacto algum. E isso não é culpa da obra propriamente por si só.
Direção – O maior problema da obra. Apesar de ter sido eficaz no início do anime, com bons arranjos de cenas e até certo impacto em alguns momentos, ficou extremamente inconsistente na segunda metade do anime e começou a se perder em meio ao foco narrativo; no final do anime já apresentava pouquíssimo brilho – existiram cenas interessantes ainda na segunda parte, mas foram ínfimas. No geral, uma direção que pendeu de boa, para mediana e então fraca. Uma das maiores inconsistências no anime.
Roteiro – O plot do anime é bom, mas pelas adversidades já apresentados acabou se tendo problemas e entrando em uma narrativa problemática ao longo do tempo. Seria injusto, no entanto, dar uma nota baseada apenas nos problemas de direção e adaptação ocorridos, excluindo as virtudes do decente mundo mágico criado, bem como os backhistories interessantes de personagens. A nota poderia ter sido maior se o anime permitisse.
Produção Visual – Juntamente da direção, a produção visual foi outra que sofreu da inconsistência durante a execução da obra – isso sem incluir os problemas na adaptação de visual que também já foram explicados, o que contribuiu para a falha das devidas tensões que deveriam ser passadas.
Trilha Sonora – Bem feitas, as soundtracks ajudaram a uma imersão de um mundo fantasioso e mágico em diversos momentos, ao mesmo tempo que ajudaram de uma maneira ou de outra em vários dos clímaces.
Entretenimento – O fator mais pessoal daqui. Eu, pessoalmente, não perdi total empatia com o anime em nenhum momento, mesmo reconhecendo a decadência – em vários sentidos – durante a série. Ainda assim, não deixei de admirar os desenvolvimentos interessantes de Chise e outros personagens, a compreensão dos sentimentos passados pela garota e pelo mago fizeram várias ações e eventos fazerem sentido – mesmo que o anime não tenha ajudado na execução.