Just Because! – As Incertezas da Juventude | Impressões Finais e Review

Deixo aqui minha analise do último episodio de Just Because! mesclado da minha review final sobre a obra.

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Just Because! é uma melancólica história sobre amadurecimento, situada em um instáveis triângulos amorosos. A obra trabalha justamente a ansiedade da iminente mudança. Um grupo de estudantes do ensino médio, alguns dos quais são amigos de longa data, e outros mal se conhecem. E tudo entra em conflito quando o principal personagem, Eita, entra nessa nova escola e se reúne com seu antigo amigo Haruto. Onde este anime se destaca é em sua descrição realista do final do ensino médio. Os personagens são preenchidos com uma imensa incerteza e nervosismo, sobre como suas vidas vão mudar à medida que se afastam um do outro para perseguirem diversos objetivos vagos.

A maioria dos animes que lidam com este assunto tendem a apresentar personagens estranhamente confiantes que são decisivos sobre o que eles querem fazer com suas vidas após o ensino médio, e outros tendem a priorizar conveniências sobre o realismo – como todos os personagens indo para a mesma faculdade e ficando juntos para sempre. Falando mais especificamente sobre o último episodio: Abrimos o capítulo descobrindo que Eita falhou em seu exame. Em um sentido prático e logico isso faz total sentido, afinal Eita só começou a estudar nas últimas semanas, e antes disso ele estava acomodado com sua carta de aceitação.

Mas mais do que isso, seu fracasso também foi uma escolha natural de um ponto de vista narrativo – sua falha não só consertou a troca de faculdades, mas também deu a Eita um motivo para hesitar em confrontar Mio sobre seus sentimentos. E essa hesitação do protagonista ainda fez com que a sua confissão ficasse para os últimos segundos do episodio, dando um maior impacto ao momento.

Toda a fotografia de Just Because! é exemplar.

Configurar um episódio final no último dia do ensino médio é um cacoete óbvio em animes escolares, mas muito eficaz aqui em Just Because!.

Toda a construção do anime possibilitou o espectador sentir, junto dos personagens, esse sentimento de alívio e ansiedade que vem atado a graduação. Há também a sensação de que todos se sentem um pouco fora do lugar, e isso é perceptivo nos pequenos detalhes.

A ambientação desolada de uma escola em seus últimos minutos é encantadora, a obra consegue passar um real sentimento de adeus. Nunca mais eles verão essas salas, esses professores, e até mesmo esses colegas.

Ainda tivemos o primeiro clímax, que foi indiscutivelmente o melhor momento do episódio, na última cena do Eita e da Ena juntos. Ena paradoxalmente ganhou e perdeu a competição: perdeu porque sua foto não ganhou, mas ganhou porque a foto dela de seu colega de clube ganhou. O que significa que o seu clube sobrevive.

Realmente apreciei o fato da foto da Ena não ter ganhado o concurso. Ena procurou capturar a vitalidade do Eita em uma fotografia, mas em última instância ela era que brilhava naquele momento. A escolha deliberada da obra em colocá-la um ano atrás do resto do elenco, e enquadrá-la inicialmente quase como uma espectadora de seu próprio drama foi revertido no final, onde ela se viu entranhada no meio de um romance que não pertensia, e no fim sendo a que mais, se não a unica, que sofreu.

A obra entrega o prêmio mais como um consolo para a personagem, uma compensação pela rejeição formal do Eita. E no momento da rejeição que Just Because! mostra o que sabe fazer de melhor – através de expressões dizer o que os personagens estão sentido, sem precisar usar de palavras. Nesse capitulo tivemos o retorno da gloriosa animação sútil. E, especificamente para os nossos personagens, o retorno dessa atuação delicada significava que agora podemos analisar os sentimentos confusos de personagens como a Mio, que sempre se expressa mais através de suas mudanças de postura e expressão, do que de suas palavras.

Mesmo a rejeição de Ena acabou por ser seu próprio tipo de recompensa dramática, já que o lindo enquadramento de suas lágrimas aliviava todas as dificuldades emocionais que ela vinha suportando. Esse lindo momento foi seguido por uma sequência ainda mais impressionante, já que o confronto do primeiro episódio de Eita e Haruto foi repetido, de forma invertida.

O design de som minimalista se mostrou presente nesse momento, com apenas a onda de vento interrompendo a tarde gelada, sendo possível ouvir perfeitamente os tênis entrando em contato com a areia do campo. E quando o inevitável golpe de Eita chegou, a canção de abertura caiu logo em cima, levando eles a um último climax antes do encontro final de Mio e Eita, igualmente belo.

O fato do Eita e da Mio passarem o episódio inteiro sem se encontrar parece um aceno irônico da obra para os espectadores, é uma recompensa tão inevitável quanto desejada; e a obra mantem isso até o ultimo momento. No geral, este foi um ótimo final, que conseguiu suprir todas as minhas especificativas.

Just Because! consegue ser atmosférico do começo ao fim – personagens sozinhos no trem durante a noite tem um tom frio e melancólico, e as cenas mais quentes são de dois velhos amigos que jogam um jogo sem um sentido factual, e para eles esse jogo é a coisa mais significativa de todo o universo.

O elenco vai progredindo, constantemente construindo suas confianças em torno de si. Este crescimento de personagens é totalmente satisfatória, ao mesmo tempo sendo confortavelmente discreto.

E este episodio final consegue amarrar a obra lindamente, fazendo uma ligação direta com o primeiro episódio e fechando o ciclo. Esse final não só fez Just Because! recuperar o seu brilho visual, mas também foi um final que entregou tudo que o anime construiu, oferecendo finais que são fundamentalmente corretos e verdadeiros para esses personagens.

Just Because! foi uma obra encantadora, um exercício de drama minimalista que conseguiu capturar consistentemente um momento emocionalmente importante na vida de todas as pessoas, que é a juventude. Uma fase da vida onde você acaba vivendo em um estado de “apenas porque”, onde você faz faculdade apenas porque seus familiares querem, onde você escolhe determinada profissão apenas porque é mais fácil. Passando por cima dos motivos, fazendo as coisas “Just Because!” e esperando encontrar uma razão apaixonante por trás de suas ações.

Adorei todos os membros deste elenco, e embora seja triste dizer adeus, todo essa obra demonstrou justamente que todos os adeus são um novo começo.

Nota Final: 8,5 (Bom/Ótimo)


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