Kino no Tabi #1 e #2 | Análise Semanal


Para começar um esclarecimento, a nova versão do anime Kino no Tabi – The Beautiful World – The Animated Series, não se coloca como remake ou continuação do anime anterior de Kino no tabi, estando sua existência e histórias adaptadas, não tendo qualquer relação com o antigo. No novo anime ocorrem tanto histórias da novel que não eram contadas na versão anterior de Kino – como o primeiro episódio, assim como contos já adaptadas neste, como o segundo episódio mostrou. Esta separação e falta de conexão entre as séries é algo importante de se ter mente, tanto para decidir assistir e avaliar o anime – é importante não se estender em comparações entre os dois.

Após esclarecer o básico de nossa discussão posso comentar os 2 episódios que já lançaram em si. E infelizmente eles estão longe de serem o glorioso retorno da série que a maioria esperava. O primeiro capítulo em si foi mediano apesar de ter certos aspectos interessantes. Como série, Kino sempre teve como atrativo, pelo menos para mim, a variedade tanto de cenários e culturas, como temática, cada um desses permitindo uma característica e comentário diferentes sobre sociedades. Ao seguir a risca a fórmula de experimentar um país por episódio, está possibilitando-se, em teoria, essa mesma exploração. 


O problema está no conteúdo de seu tema, o que o episódio tem a dizer sobre sociedades não é extremamente interessante em si, ou pelo menos conforme eu o interpreto. O capítulo um trata primariamente de métodos de controle da sociedade, contrastando o controle por meio de leis, e por meio da moral e ética. O pensamento de que práticas mesmo sendo permitidas em lei, tais não seriam permitidas moralmente, a ideia da moral como esse elemento que assegura a sociedade de assassinatos é interessante. O problema é a total incapacidade desse episódio de diferenciar as formas de controle. A proibição do assassinato apesar de ser constantemente dita como não sendo uma lei segue exatamente a mesma forma de uma. A ideia de se cometer homicídio vai gerar como pena a população da cidade tentando te matar não é de nenhuma forma diferente de fórmulas como o de um furto, terá pena de 2 a 3 anos de prisão. O sistema de proibição do assassinato é semelhante ao normativo, com exceção do fato dos estrangeiros desconhecerem o conteúdo dessa regra, ou seja, serem incapazes de cumpri-la conscientemente, ou por medo de punição. Esta incapacidade de separar esses conceitos, prejudica o comentário que é o cerne desse episódio.

Outro tema importante nesse episódio é seu espelhamento da cultura punitivista que marca nossa sociedade. O assassinato do homicida nesse episódio espelha linchamentos públicos na vida real, e retrata nossa cultura de supor o melhor combate a violência, com penas extremamente severas e violentas. O episódio chega a questionar essa mentalidade, na dúvida de Kino sobre se isso realmente se configuraria como uma sociedade segura, trazendo a ideia de isso apenas legitimar outras formas de violência. Mas considero o episódio mais preocupado em simplesmente retratar essa realidade, do que em explorar seus aspectos, e sua ambiguidade moral.



Em relação a como o capítulo estabelece alguns a premissa e os personagens, ele funciona decentemente. Kino suas motivações, seu método e sistema de viagens são bens definidos. A história mostra o bastante para nos deixar interessados em Kino e Hermers e suas aventuras, e ao mesmo tempo consegue manter bastante intriga em relação ao passado e história dos personagens. Em relação a produção, os designs de personagem em si são péssimos, parece que passaram uma camada de características genéricas no design de cada personagem, ao se comparar com os do Kino anterior. A CGI também é mal implementada nas cenas em que aparece. Nenhuma cena de animação se destacou por ser especialmente bem-feita. A ambientação é algo essencial para Kino no no Tabi como obra, esse tom atmosférico e contemplativo que a serie carrega é importantíssimo no sucesso, e o escasso uso de animação e música para emular esse tom, são o aspecto que esse episódio mais falha.


Apesar de minhas constantes reclamações em relação ao primeiro episódio, não o considero especialmente ruim como uma introdução. No entanto, não posso dizer o mesmo do segundo, que apresenta poucos elementos que funcionam. Para começar, todas as lutas do coliseu foram pessimamente adaptadas. O tom desses momentos foi simplesmente errado. Todas as cenas de lutas do coliseu carecem completamente do clima de seriedade e brutalidade, que essa arena onde lutas até a morte são realizadas para o prazer da audiência, deveriam passar. Estou falando de um local onde brutalidades e mortes são uma pratica usual, e nenhum dos embates contém a mínima violência, as lutas são lidadas em segundas pela Kino, impossibilitando a existência de qualquer tensão e perigo sobre a vida dos participantes e da protagonista. As lutas estão mais próximas do cômico do que do dramático, nada nelas passa a ideia dessa prática ser esse espetáculo grotesco e aterrorizante, algo que posso dizer que a versão anterior de Kino conseguiu transmitir.


Essa bizarra ambientação e atmosfera passados nesse episódio, acompanham sua maior falha, algo compartilhado na versão anterior de Kino. Este episódio não entende o maior atrativo de Kino como série, a razão para ele ser tão valorizado. Tal não é encontrada em suas raras cenas de ação, mas sim em como ele explora seus temas, como seu formato de conhecer uma diferente civilização por episódio permite mostrar uma enorme amplitude temática, e fazer comentários sobre os mais diversos aspectos da sociedade (ou pelo menos essa sempre foi minha visão sobre a série). Tornar cenas de ação e embates algo com tanto foco nesse capítulo apenas funciona contra o anime, e o afasta de aspectos possivelmente mais interessantes, como realmente explorar o reino, a sociedade que permite formas tão extremadas de lazer, e a população que realmente obtêm prazer com esse tipo de ação. Mas não, esse reino não existe fora desse coliseu, pois não temos a possibilidade de ver absolutamente nada de seu funcionamento.


O segundo episódio esteve em seus melhores momentos quando explorou a resolução do conflito. Não a luta entre Kino e Shizu, mas o ato de atacar a causa do problema, o ato de matar o rei, se aproveitando das leis desse próprio reino que permitem a morte de espectadores; o ato de criar lei para atingir a lei para atingir todo o público com a mesma violência, e a forma como eles tiravam diversão ao vislumbrar pessoas praticando. O ato da Kino não conseguindo conter sua frustração, tanto com o que ele acabou realizando e causando nesse pais, tanto com a brutalidade que ele foi obrigado a presenciar, ajudam muito a demonstrar a personalidade dela. Isso demonstra que apesar de o quão insatisfatório a maioria desse episódio se demonstre, tinha um propósito, algo que ele queria construir com isso. Mesmo assim tais não compensam a total falta de qualidade da maioria dele.
Avaliação – Episódio 1 : ★ ★ ★ ★ ★ 
Avaliação – Episódio 2 : ★ ★  ★ ★ (+++)