The Wedding Eve (Shiki no Zenjitsu) | Review


The Wedding Eve (ou Shiki no Zenjitsu no original) é um mangá Josei publicado pela Panini em Julho de 2016 no Brasil, e originalmente em 2012 no Japão pela revista Flowers da editora Shogakukan. O volume único resume-se a seis contos one-shot diferentes, de drama ao sobrenatural meticuloso.

Todas as seis histórias são sobre o cotidiano de algumas pessoas. A narrativa nos cativa a ler mais de uma vez testando nossa interpretação para todo o contexto e simbolismos presentes nessas tramas, que são comuns, porém complexas e no seu geral bem trabalhadas – o que carece uma dose de análise em seus significados.


A primeira história é a própria The Wedding Eve, que se traduz como “A véspera do casamento” e é sobre um casal de irmãos que estão passando seus últimos momentos juntos antes do casamento da moça. O capítulo que divide o nome com o mangá deveria ser retratado como a história principal, mas infelizmente decorreu mais fraco do que todos os outros em sua narrativa, com um final que não dá pra chamar de conclusivo e que implantou algumas interrogações em nossa mente. O capítulo representa a separação de irmãos – que demonstram ter uma boa relação e serem bem próximos -, a felicidade que por um lado reside na moça que terá uma nova vida e irá se casar, e ao mesmo tempo o abatimento em pensar que a partir daquele casório nada seria mais o mesmo entre eles. 

O segundo capítulo intitula-se Azusa Nigou de Saikai, ou Azusa nº 2.  Essa foi uma das tramas que mais me tocou, pois só no final compreendemos o que de fato acontece. A história é sobre a pequena Azusa que está recebendo seu pai em casa, que por algum motivo só a visita nesse mesma data todos os anos, sempre na ausência de sua mãe. Ele passa o dia todo ao lado da filha enquanto admira seu crescimento e amadurecimento nos afazeres domésticos e vê como a menina está saudável; Isso se prolonga até o final que nos deixa estarrecidos com a inocência e o envolvimento emocional que a história possui – não estragarei a surpresa de quem ler.

Em Irmãos monocromáticos (Monochrome no Kyoudai) temos a que concluir ser a história mais triste desse mangá. Os dois irmãos gêmeos de meia idade estão em um bar conversando sobre uma garota que estudou com eles na adolescência e que faleceu, o detalhe é que ela fora a primeira paixão de ambos. Um dos irmãos era mais solto e popular enquanto o outro vivia no seu próprio mundo e era muito tímido; O ritmo dessa história é mais lento a fim de justamente ganharmos empatia pela dupla, para que em seu final MUITO reflexivo, enternecedor e realístico possamos tirar algumas lições (se eu me aprofundar mais do que isso seria spoiler) para levarmos conosco.

Em seguida, voltando com o mesmo tema sobre casamento inicia-se o capítulo Yume Miru Kakashi, O Espantalho que Sonha. Separado em dois capítulos (é a maior históiria) e situando-se na época de 60 nos Estados Unidos, aborda outro casal de irmãos. Eles foram abandonados pelos pais e quando deixados para a família de seu tio paterno não tiveram nenhuma aceitação, sofrendo até mesmo bullying dos primos. Pela necessidade afetiva que tiveram, começaram a batizar o espantalho que ficava no campo de “mamãe”, e para este que contavam tudo e sempre recorriam nos momentos difíceis.

A narrativa mostra a garota aprendendo sobre o amor, enquanto o irmão mais velho que não aceitava-a com nenhum outro menino pela sua superproteção queria sumir dali, ir embora para capital e ter uma nova vida. No momento presente da história ele volta àquela fazendo do Kansas para o casamento de sua irmã, agora mais maduro e relembrando do passado (boa parte da história é o flashback) enquanto um desfecho ótimo e marcante que foi feliz em sua execução surge. Também tenho que citar as lindas paisagens mostradas ao decorrer do capítulo,  e o retoque sobrenatural dessa história, o espantalho, que era expresso como se realmente tivesse vida e soubesse tudo que ali acontecera. Será a imaginação do protagonista ouvir a voz saindo do boneco de feno… ou não?


O Pequeno Jardim de Outubro, (Juugatsu no Hakoniwa) foi o conto que mais tratou de simbolismos, temas ocultos e sobrenaturais. O protagonista é um homem depressivo, que já não importava-se tanto com a vida e que fora o escritor de sucesso de um único livro, não conseguindo escrever mais nada. Ele sonha repetitivamente com “morte” e com um corvo, este que assemelhava-se com o que mora no poste, na frente de sua casa. Ele também “tem” uma companheira estranha que apareceu do nada em sua cozinha, fato que o intriga a mandá-la embora pois não quer cuidar da filha de nenhum familiar. O que soa estranho são as informações dos crimes recorrentes em sua vizinha, assim como “uma garota que sumiu” há um tempo. O que será que aconteceu? Relendo várias vezes é possível chegar a mais de uma interpretação, que não direi aqui para não estragar a experiência subjetiva, mas o que posso dizer é que essa com certeza é a trama mais tensa desse único volume.


A última história, Em E Então… (Sorekara) é para mim, a história mais conturbada. Trata-se da visão de um gato sobre seu dono e como os humanos são. O felino está sozinho em casa e escuta uma mensagem da secretária eletrônica com uma voz dizendo para o homem (que inclusive, aparenta ser o protagonista do conto The Wedding Eve) correr para o hospital o mais rápido o possível, pois sua irmã foi internada às pressas. A narrativa brinca com aquela velha história de que gatos são más companhias, dando a entender que o gato não vai tentar avisá-lo da mensagem quando o humano chega em casa, porém o desfecho é outro, o gato realmente está curioso com esses seres tão diferentes que são os humanos, e ainda se surpreende com o que aconteceu de verdade uma vez que imaginou o pior da ligação do hospital. 


No geral The Wedding Eve é um bom mangá, a autora manifesta bem sua capacidade de fazer histórias desde leves e bonitas até as mais incomodas e sobrenaturais, de maneira coerente e não fugindo nunca do senso de sua narrativa em que as boas explicações e metáforas se presam. Com certeza é uma peça que vale a pena ter guardada para reler de tempos em tempos, pois as interpretações e lições que podemos tirar desse volume de contos compelativos serão sempre diferentes a cada vez que lermos e amadurecermos. A Panini também fez um bom trabalho trazendo esse mangá para o país (só faltou páginas coloridas!). Esse volume é recomendado a todos, desde aqueles que não gostam dessa cultura, pois apresenta bem os diferentes tipos de história que os mangás podem possuir e não só os esteriótipos mainstream japoneses, além dos que não estão acostumados com esses gêneros, pois são histórias bem escritas e com narrativa diferente do habitual. 
Avaliação: 8/10

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