A fantástica fábrica de garotas mágicas: Junichi Sato

E aí, minha gente. Como estão? Espero que dispostos a ler (e comentar!) sobre Mahou Shoujo.

Mahou shoujo, ou Garotas Mágicas se preferir, é um conceito que existe na cultura pop japonesa há mais de 50 anos e já passou por muitos ciclos. Listar nomes relevantes para esse pseudogênero, de um jeito ou de outro, renderia bastante conteúdo. No entanto, poucas figuras na indústria são tão emblemáticas quanto o diretor Junichi Sato, considerado por muitos como o “pai” do gênero mahou shoujo. Claro, essa alcunha é atribuída muito mais pela sua presença dentro do gênero do que necessariamente por qualquer fator revolucionário ou coisa do tipo. Até porque, Junichi Sato tem um estilo próprio que está consistentemente presente na maior parte das obras em que sua participação foi mais efusiva. Digo isso em especial porque o diretor Junichi Sato é a grande referência aqui, mas o homem é quase um “faz-tudo” dentro da indústria, tendo trabalhado não só como diretor, mas também como diretor de animação, diretor chefe, storyboarder, roteirista, diretor de som, produtor e até mesmo compositor — entre outros trabalhos menores.

Ojamajo Doremi (1999)

A carreira de Sato começou no início dos anos 80, com seu primeiro trabalho em animação sendo em 1983, onde ele trabalhou como assistente no anime Bemubemu Hunter Kotengu Tenmaru, da nossa digníssima Toei Animation. A partir dali ele foi aproveitando as oportunidades que obtinha e fazendo trabalhos menores até que surgisse a chance de, enfim, trabalhar em um grande projeto. Por um acaso, esse projeto seria nada mais, nada menos que Sailor Moon. A obra que ganharia uma popularidade mundial impulsionou a carreira do Junichi, que teria oportunidades de sobra após o clássico dos anos 90.

O diretor é especialmente conhecido por trabalhar em obras voltadas para o público feminino, o que os japoneses denominam como “shoujo”, e claro, os próprios mahou shoujos que, até aquele ponto, eram majoritariamente voltados para o mesmo público, salvo exceções como Cutie Honey.

Shin Shirayuki-hime Densetsu Prétear (2001)

Ele ficou muito conhecido por conseguir emocionar o público nos trabalhos em que participa, além de sempre trazer essa figura da personagem feminina mais alegre e/ou maternal. É notável também sua capacidade de executar uma boa quebra de expectativa, conduzindo suas obras de forma mais branda para que você se sinta relaxado, para então trazer algum momento mais dramático ou trágico que realmente te marque emocionalmente. Foi o curioso caso da primeira temporada de Sailor Moon, onde seus dois últimos episódios chocaram as crianças e chegou até a ser destaque nos jornais da época — parei para assistir o anime tempos atrás e digo que até hoje são, realmente, episódios bem interessantes. A fim de curiosidade, Sato atuou como diretor até meados da segunda temporada de Sailor Moon, onde ele então passou o bastão para um rapaz que foi seu aluno, conhecido como Kunihiko Ikuhara. Ele ainda chegou a participar de vários episódios de Sailor Moon até o término da série antiga, mas já trabalhando também em outros projetos e visando a continuidade da sua carreira.

Sailor Moon (1992)

Falando em animes mahou shoujo que Junichi trabalhou, que é o foco desse texto, ele ainda viria a trabalhar em Mahoutsukai Tai!, incluindo tanto as animações quanto o mangá; dirigiu o simpático Yume no Crayon Oukoku e, ao fim do século XX, também dirigiu o super clássico Ojamajo Doremi junto com o diretor Takuya Igarashi. Decidindo deixar a Toei Animation, Sato começou a apostar em obras realmente criadas por ele mesmo, ou seja, criando tanto o mangá quanto dirigindo o anime. Foi o caso de Shin Shirayuki-hime Densetsu Prétear, uma obra que já apostava nessa ideia da “desconstrução” e de tramas mais complexas, com reviravoltas e tudo mais. Afinal, a quebra de expectativa é algo que ele sempre soube fazer direito. Apesar de Prétear ter sido uma boa obra, foi só na sua tentativa posterior que se pode dizer que o Sato acertou em cheio, quando ele, junto da Ikuko Itou, criou Princess Tutu. A obra, que completa 20 anos nesse ano de 2022, é inspirada no clássico bailet dramático O Lago dos Cisnes, sendo um trabalho muito mais carregado seja no drama ou na leitura das mensagens da obra. Seu projeto mais ambicioso até então deu certo e, saindo um pouco dos mahou shoujo, ele prosseguiu para criar Kaleido Star e, possivelmente sua maior criação, a adaptação em anime de Aria. É interessante ressaltar que as obras diretamente criadas pelo Sato tendem a ter um aspecto artístico muito forte. Prétear é inspirado nos clássicos contos de fadas, Princess Tutu é inspirado tanto no bailet quanto no próprio teatro, já Kaleido Star se inspira no espetáculo circense e por aí vai.

Princess Tutu (2002)

Nos anos seguintes, Sato ainda dirigiria outros mahou shoujo como Fushigiboshi no☆Futagohime e Umi Monogatari. Isso porque nem mencionei as curtíssimas passagens que ele teve em outros animes mahou shoujo como Shoujo Kakumei Utena, Uta~Kata, Shugo Shara! ou Six Hearts Princess, pois apesar de serem trabalhos bem pontuais, como fazer storyboard de um episódio ou ser supervisor, ainda sim, é uma demonstração do prestígio que ele tem no meio, ao ponto de sempre pintar esses convites para participações especiais. É justamente falando em participações especiais que, em 2018, 18 anos após sua saída da Toei Animation, ele foi convidado a ser diretor de Hugtto! Precure.

A lendária franquia de mahou shoujo da Toei estava comemorando seus 15 anos naquele ano e essa nova temporada seria algo fora da curva. Junichi Sato era o nome para um projeto desse tamanho e não deu outra: foi um sucesso absoluto. Uma quebra de muitas barreiras no que se trata a todos os temas abordados no anime, conseguindo tocar em tópicos sensíveis sem se esquecer do seu público alvo. Ele ainda trabalharia no storyboard de um episódio de Tropical-Rouge! Precure, mas desde então esteve empenhado em trabalhar na direção de Waccha PriMagi!, que, até o momento da publicação deste texto, ainda está em lançamento. Então, chegando no momento atual da carreira de Junichi Sato, é emblemático notar que ele está trabalhando em mais um mahou shoujo para o seu currículo.

Hugtto! Precure (2018)

E é isso. Tive a ideia de escrever esse texto, pois, há 30 anos, alguém teve a brilhante ideia de colocar esse cara como diretor de Sailor Moon e desde então ele vem nos proporcionando muitas obras memoráveis, seja na direção, seja no roteiro. É importante frisar, no entanto, que a carreira dele não é só os mahou shoujos, na verdade, o Junichi Sato tem um currículo muito extenso em diversas áreas da animação japonesa. É admirável a trajetória dele dentro do “gênero” mahou shoujo, mas ele é alguém que trabalhou em obras como Neon Genesis Evangelion, Macross 7, Gegege no Kitaro, Cowboy Bebop entre outros clássicos renomados. É por isso que senti que escrever esse post dedicatório a ele, que, com 62 anos hoje, ainda tem muita história para escrever pela frente, se assim ele desejar. Ainda que mahou shoujo já tivesse décadas de vida quando ele estava começando a sua carreira, sua forte dedicação em trabalhar e criar obras dentro do nicho permitiu que seu nome fizesse sim, parte dessa história. Não dá para passar pela história dos mahou shoujo sem passar pelo nome Junichi Sato. E, por hora, é o que eu gostaria de passar para vocês. Espero que, ao menos, vocês saiam desse post sabendo quem é Junichi Sato!


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