A 2ª temporada de Megalo Box trouxe um início muito forte e expressivo, definitivamente despertando meu interesse em ver que direção a história será levada. Considerando como a primeira temporada acabou, em certo tom de alegria, o novo ato da história desta vez se inicia com Joe no fundo do poço.
O intervalo de cinco anos entre as duas narrativas trás dúvidas sobre o que pode ter acontecido para Joe ter desabado tanto. Sabemos que ocorreu um tufão catastrófico e possíveis outros problemas originados pela mudança climática, visto que nevou no deserto, além do retorno de Joe para o box underground e o sumiço das crianças que o acompanhavam naquele final. Ele, que agora é conhecido como Nomad e irreconhecível como o grande gearless Joe, provavelmente perdeu Nabu – um dos seus pilares emocionais e racionais, para essa tragédia exposta. Joe se encontra em um estado em que sua sua saúde, emocional e orgulho foram destruídos.
Joe Nomad tornou-se um dependente de analgésicos e aparenta estar em um modo letárgico. Remédios e bebida são aquilo que abafam temporariamente sua dor, por isso constantemente acaba tendo alucinações sobre Nanbu. Joe sente culpa nessa aparente morte de seu companheiro; mesmo que ainda não saibamos o que aconteceu, todas essas alucinações pesam muito e desestabilizam o pugilista que constantemente entra em conflito consigo mesmo durante o episódio. A natureza viciante do consumo das drogas e suas alucinações se tornaram demais para resistir. É honestamente doloroso.
No fundo, Joe ainda tem orgulho das envolventes e honestas disputas no ringue, mas ele está completamente preso em uma realidade em que as partidas se resumem a entretenimento, apostas e manipulação – o que inclusive pode estar conectado com o que aconteceu neste ínterim das temporadas para ter levá-lo à desgraça; com seu retorno às lutas underground, está sendo extremamente inflexível e sem tolerância às manipulações e ao jogo sujo. Ele provavelmente carrega algum um peso consigo em relação a isso.
Outro ponto a se observar é que Joe está pobre e novamente vivendo uma vida miserável, apenas viajando pelo país lutando contra oponentes claramente muito fracos do que ele, que já alcançou a fama e que poderia facilmente conseguir lutas melhores e dessa forma ganhar mais dinheiro. Isso pode demonstrar que o motivo de Joe estar tão estagnado atualmente é muito mais profundo do que apenas o que acontece com suas habilidades dentro do ringue.
Houve também uma alegoria narrativa sobre o lobo que o nômade Joe encontra neste episódio. Em seu primeiro encontro durante a viagem, o lobo estava tão confiante de que Joe não seria capaz de matá-lo que ele se manteve firme e não foi atingindo. Mas parece que ele estava apenas sendo temerário, afinal, quando Joe retornou à estrada, viu que o lobo acabou morrendo, provavelmente nas mãos de algum outro piloto. Sabemos o que lobos representam desde o início desta história. Esse é um claro sinal da morte do “Gearless Joe” que tínhamos conhecido.
As composições simbólicas destas cenas de Joe vendo o lobo morto e depois o enterrando, quase como quem encara o espelho e reconhece o próprio estado que se encontra, não foram as única boas decisões da direção e produção desta estreia da segunda temporada. A produção toda se mantém firme e com a mesma estética grunge e antiga de antes, mesmo com a mudança na direção chefe de animação / design de personagens. A animação dentro do ringue e todas composições foram muito bem executadas, não deixaram a desejar neste primeiro episódio ao colocar peso na existência de Joe com a utilização de sombras, palheta de cores, direção e a própria animação do personagem.
Enquanto isso, a trilha sonora original, assim como a narrativa, tomou um tom mais melancólico, maduro e calmo. São músicas que encaixam nessa nova temática de Megalo Box e que me lembram a outras famosas obras que podem ter elementos em comum (como Logan e The Last of Us), sob uma ótima execução e arranjos que compuseram as cenas mais impactantes deste início.
Temos com Nomad: Megalo Box 2 o que aparenta ser uma jornada de redenção do nômade Joe, talvez aos moldes clássicos que já conhecemos, mas sem perder o brilho da sua própria execução. Muito curioso para saber o que virá em seguida.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
