Dr. Stone | Primeiras Impressões Julho 2019

Leo: Dr. Stone estreou dum jeitinho bem Shounen Jump. E isso foi um problema. 

A necessidade desse tipo de obra de vender seus mundos fantasiosos no primeiro capítulo normalmente se manifesta com uma narrativa expositiva, de linha temporal clara onde toda sequência de eventos é mostrada a fim de conduzir o leitor consigo por essa nova realidade. O recente Kimetsu no Yaiba vende assim seu mundo de onis e caçadores; Boku no Hero, com seu mundo de heróis e vilões; nem mesmo o “desconstruído” Hunter x Hunter escapa, absorvendo-nos para o encantador mundo dos hunters. Magi é um dos poucos  exemplos de maior confiança numa ambientação gradual e começa com um foco maior nos personagens (também, verdade, desvendar seu mundo é um de seus principais motes).  

A escolha de Dr. Stone de introduzir os personagens na sociedade antes da petrificação funciona unicamente para moldá-los. O peso dramático do processo de petrificação é quase nulo pelo pouco tempo que se tem para criar uma sensação de perigo, de que vamos perder algo – ou que pelo menos os personagens vão. Portanto soa muito mais efetivo, tanto para ambientação quanto para o ritmo da história, se o show já partisse do mundo pós petrificação e confiasse na capacidade do espectador de entender um contexto através das ações. Tomemos como exemplo Neon Genesis Evangelion. O primeiro episódio não faz questão de nos explicar nada, apenas de estabelecer, através das interações e pouquíssimos diálogos expositivos, o que ocorre e que relações existem neste mundo, similar ao nosso mas com suas particularidades. É tão confuso e vivo pra nós entrar nessa história quanto é pro Shinji ter que entrar na porra do robô. Interações entre Senkuu e Taiju seriam suficientes para entendermos a amizade dos dois e como a vida se dá nesse mundo reiniciado. Uma cena do Taiju com a estátua de Yuzuriha nos despertaria dúvidas, vontade por respostas, que um flashback ou posteriormente no episódio ou na história (não precisava ser necessariamente no primeiro episódio) contaria, carregado de muito mais força narrativa e emocional. 

Na verdade, toda a maneira como Dr. Stone lidou com a petrificação é esquisita. Três mil anos dentro da casca sem morrer não é difícil de aceitar nem de arrumar uma explicação convincente. Agora, acreditar que eles não enlouqueceram mesmo estando conscientes da passagem do tempo? Complicado. A razão do Senkuu conseguir é insossa, a do Taiju você engole fazendo careta. Taiju, aliás, que é aquele cara que, após três milênios de solidão dentro duma casca de pedra, só conseguiu pensar uma coisa na hora que saiu: na mãe? No pai? Na família? Amigos? Não, foi na crush. Um conflito tão melodramático, forçado e insustentável uma vez que, como dito antes, as escolhas de Dr. Stone serviram um prato sem tempero (e, convenhamos, é só bem ilógico). 

À parte dos defeitos, Dr. Stone é atraente. Oferece um conceito único e personagens carismáticos. A interação de Taiju e o menino Senkuu são vivas e realçam o contraste instigante entre o senhor cérebro e o cara forte e extrovertido. Dez bilhões por cento de certeza que o espectador, seja o experiente ou o que acabou de chegar no mundo dos desenhos japoneses, será conquistado por esses dois. A comédia é eficientemente dirigida e as mirabolâncias químicas, interessantes. Taquei pedra, mas, admito, me prendeu. Vale seguir essa jornada.

Avaliação:     

Nick: A premissa de Dr. Stone parece uma mudança do foco habitual da Shonen Jump. “A reinvenção da sociedade” soa inerentemente fascinante, e esta estreia realmente captura a força inerente de sua ideia central.

Se de fato Senku não é o protagonista de Dr. Stone, é porque Ooki Taiju é. Senku é um cientista maluco adolescente, com uma arrogância ao grau de dez bilhões por cento em relação a qualquer coisa. Ooki é o seu oposto completo, um bruto aparentemente simplório que, apesar de tudo, é bondoso e está em paz com suas limitações. A primeira metade deste episódio concentra-se na liderança para o colapso da sociedade, como nossos protagonistas, Senku e Taiju, demonstram suas personalidades e amizade firme no contexto de Taiju confessando a sua paixão. Embora eu não tenha sido imediatamente vendido pela personalidade de Senku (seu orgulho e suas falas fazem com que pareça que ele está basicamente se sentindo usando frases de efeito, em vez de realmente se comunicar), Taiju rapidamente se mostra um brutamontes e um personagem extremamente charmoso. A propensão de Shonen por gritar alto geralmente apenas me irrita, mas a autoconsciência de Taiju e seu entusiasmo sincero me conquistaram, e ele serviu como um excelente avatar do público assim que Senku começou a explicar seus experimentos. E a segunda metade deste episódio é basicamente apenas um avanço rápido após o outro, com os esforços do par para destilar um antídoto de petrificação que cai em algum lugar entre o apelo de um arco de treinamento inteligente e um jogo de Minecraft.

No que diz respeito à produção, Dr. Stone parece polido e atraente, com uma arte de personagens arrojada e de linhas grossas e um trabalho de expressão geralmente envolvente. Cabe saber se ele será capaz de traduzir seus conflitos em grande parte cerebrais em dramas visualmente convincentes, mas o design visual deste episódio foi certamente forte o suficiente para evitar qualquer tipo de obstáculo dramático.  
Eu consigo enxergar o problema das pessoas com o anime. Ele é o tipo de conjunto arquetípico que vai repelir as pessoas pouco receptivas a convenções, contudo seu fantástico conceito central e design visual polido lhe garantem uma firme recomendação para quem gosta do gênero.

Avaliação:     ★ (+++)

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