Tensei Shitara Slime Datta Ken (2018) – Deixará Saudades | Review

Análise
Slime Datta Ken, uma história sobre um homem quem após ser assassinadom reencarnou como um Slime em outro mundo. Sim, um Slime! Será que devemos levar isso a sério? É claro que não. O próprio autor, Fuse, disse em uma entrevista que começou essas história puramente por diversão, não havia planejamentos e temas definidos, ou seja, era apenas algo que ele achava divertido e escreveu para praticar. A história acabou crescendo enquanto o autor foi se deixando levar.

O mais interessante nisso tudo é que cada elemento novo que surge no enredo, parece ser tirado de algum jogo ou anime antigo. Mesmo que os elementos de RPG sejam fortes em animes do gênero Isekai, aqui eles soam diferentes, como se fosse algo mais nostálgico e natural, puxando algumas influências da época do super Nintendo.

Também há muitas influências de vários animes, como alguns elementos de Dragon Ball, personagens que parecem ter saído de Naruto, etc. Até mesmo obras ocidentais parecem ser referenciadas, por exemplo, anões que parecem ter saído de Hobbit e o fato de como o Gabiru lembra o Jar Jar Binks de Star Wars (LoL).

Conversando com um de nossos redatores, o Aria, estávamos comentando sobre essas influências e a sensação de que há sempre algo familiar nos personagens e nas suas personalidades. E bem, que Fuse é um baita Otaku não fica dúvidas, sua paixão por mangás fica evidente no ultimo arco do anime onde vários mangás são citados numa curta brincadeira do autor. Mas, essa paixão não é algo que fica apenas nas citações ou semelhanças visuais, Ao longo de todo o anime podemos sentir isso no jeito como a história vai se desenvolvendo e nesses personagens. Tudo soa como uma grande sátira de Fuse ao revisitar, provavelmente, histórias que o marcaram. 

O bel-prazer de um autor.
Acredito que alguns de vocês, queridos leitores, já fantasiaram com a ideia de escrever uma ficção e talvez, quando consomem algum entretenimento, encontram algum elemento nele que dê à vocês essa vontade de criar uma história usando-o. No geral, as histórias nascem de influências, sejam elas dos entretenimentos que vemos ou das coisas que nos rodeiam no nosso dia-a-dia. Já pararam pra pensar, como seriam as histórias de vocês? Se olharmos, de uma maneira muito mais sintomática, nossas fantasias podem contar muito sobre nós mesmos, coisas sobre nosso ambiente, estado emocional, medos e sonhos.

Tensei Shitara Slime nasce como um bom exemplo desse tipo de história, foi criada de forma despretensiosa como já mencionado. Mas a nossa experiência com essa obra é a que a torna algo interessante de se ver, por exemplo: os fatores nostálgicos, encontrar as referências e influências, e a divertida forma como o autor vai brincando em seu próprio mundinho sem se importar tanto com opiniões externas. 

De uns tempos pra cá, o “Isekai” vem se popularizando bastante e trazendo uma onda de obras do gênero, tantas que já começou a saturar. E claro, muitas pessoas passaram a ter preconceito com esse tipo de anime ou mangá. Mas Isso não é algo novo, meu primeiro contato com o gênero foi com o filme História Sem Fim quando ainda era uma pirralhinha, e eu amava esse filme e lia livros achando que poderia entrar em algum mundo de fantasia. E o filme não mentiu para mim, eu de fato entrava, através de minha imaginação!

“Outro Mundo” não era algo que se encarava como um gênero, acredito eu, apenas como fantasia. E houveram muitas histórias boas desse tipo nos filmes, desenhos ocidentais e animes. Em Fushigi Yuugi, um anime que tem alguns elementos semelhantes aos de História Sem Fim, a protagonista no final da história, encara o mundo fantasioso que conheceu como um escape da vida rotineira e estagnada que levava, mostrando uma diferente (talvez, não nova) interpretação ao gênero. Da mesma forma como as histórias nos leva para outros mundo através de nossas imaginações, as vezes ficamos tempo demais nas nossas fantasias e isso começa a se tornar prejudicial. 

Mas os tempos mudaram e o gênero foi ficando cada vez mais aleatório e confuso. Tudo agora entra com elementos de RPG, ou um mundo com um harém de garotas que ficam nuas com o soprar do vento, ou um mundo cheio de rapazes bonitões e sádicos que maltratam e ao mesmo tempo amam a protagonista (Ok, eu sei que Fushigi Yuugi é meio assim, mas não estou falando dele >.<). O caso é: o gênero se tornou uma forma muito mais direta e nada sútil de escape, e ao mesmo tempo, é meio que só isso. 

Não há muito do que se tirar da maioria – “maioria” não significa “todas”, ok? – dessas obras, porque o elemento “isekai” é usado de forma muito leviana. Isso faz com que eu compreenda as críticas e todo o preconceito que algumas pessoas tem com esse tipo de anime. Porém, sempre tem algumas obras diferente nesse meio e não deixam de serem divertidas. Hinamatsuri e Hataraki Maou-sama são dois animes muito bons e divertidos que brincam com o gênero fazendo o Isekai reverso. Mas, e Slime que não parece ser muito diferente da massa… Será?

Fuse levava Slime apenas na brincadeira até certo ponto, como se a imaginação dele o pegasse pelas mãos e o levasse mostrando as coisas divertidas de sua mente. Aos poucos, ele foi descobrindo esse mundo até perceber que estava criando uma civilização e definiu esse como o tema de sua história. Bem, isso é engraçado.

Mas o que é exatamente o Isekai de Fuse? Em paralelo com o que falei sobre o bel-prazer  e com o que acabei de dizer ali em cima sobre o gênero, Slime não se trata apenas de coisas que o autor gosta. Slime representa seu próprio estado de criação: Rimura tem os poderes do escritor (coisas como apagar e reescrever coisas em sua história); o acesso à informação digital; poder dar nome aos personagens e fazê-los se desenvolverem; não tem uma forma física em sua história ao mesmo tempo que pode ser quem quiser. 

Todo o percurso seguinte no anime, nós seguimos o Slime descobrindo o mundo a partir das influências que o autor tem. E notamos que ele vai revisitando gêneros diferentes na sua obra. Por exemplo, depois de uma fantasia a la Tolkien com exercito de Orcs contra várias raças que se uniram nesse mundo, vai entrando uma pegada mais battle shounen com os Lord Demons aparecendo. Depois, mudamos para uma história mais school em universo mágico. E no episódio 24 aprece um personagem que parece ter saído de Hellsing Ultimate. Resumindo, é como se Slime (o escritor) estivesse revisitando seus gostos e selecionando o que ele quer em sua cidade (sua história).

No entanto, um bom enredo não é feito apenas de boas intenções, será que tudo isso funciona? Well… quantas vezes devo ter citado a palavra “divertido” ao longo do texto? Essa é a melhor definição que posso dar pra esse anime, não é uma obra onde a questão estrutural ou construção de seus personagens importe tanto, até porque a maioria de seus personagens são unidimensionais e isto está longe de ser um problema. O importante é que essa obra seja divertida, dentro de sua proposta e o que ela representa, e se ela consegue isso significa que funciona. A experiência que tive com Tensei Shitara Slime foi algo de good vibes, há poucos momentos tensos na obras e ela é levada na maior parte do tempo de uma forma bem humorada e com um pensamento mais pacifico. 

Veja, mesmo com conflitos, poderes absurdos e bastante ação, Slime não é um personagem que vem para chutar bundas e ver quem é mais forte, mas pelo contrário, ele procura por soluções que arrisque menos a vida de seus amigos e ponha outras em risco, evitando o máximo de vítimas possível. O anime proporciona dessa forma um entretenimento mais leve, mas que não deixa de ter bastante ação e os sentimentos de um battle shounen.

Adaptação
Não menos importante, a produção do anime também conta muito para que essa experiência funcione. Segundo o autor, algumas coisas na história teriam de ser mexidas para facilitar a adaptação em anime, e ele teve que reexaminar a estrutura de da obra – provavelmente para fazer cortes e adições. Não tive contato com o material original, mas vi uma ou outra reclamação de o anime estaria rushando. Claro que conhecer o material original muda a percepção, e às vezes destoa a opinião em relação à sua adaptação. Porém, o anime não passa em a impressão de que o roteiro está acelerado, mesmo que os arcos sejam curtos. isso porque o ritmo da série se mantém bem equilibrado e dosado. A única parte que deixou a sensação de que algo estava faltando foi em seu arco final, em que a relação do Rimura com os alunos da Shizu e a solução para os problemas deles foi curta. Foi um pedaço onde poderia ser melhor explorado.

A animação tem um papel fundamental também, e eu diria “diretamente”, na proposta da série. Se tratando de um anime aventuresco e fantasioso, a arte consegue vender essa realidade através de cenários bem coloridos, mas sem filtros exagerados com um certo tom de realismo, até porque isso não combinaria com sua temática. Ao contrário disso, o background todo tem bem cara de desenho mesmo. Com seu character design também não é diferente, os personagens são bem coloridos e caricatos, e gostei bastante dos traços, desde às roupas até as diferentes raças. São coloridos, mas nada visualmente brega. 

É uma animação, no geral, bem feitinha. Bastante ação e poucos moldes em CGi, além dos efeitos. Não tem muitas cenas memoráveis aqui e partes das batalhas se resumem a luzes e explosões pra lá e pra cá, ainda que legais, o bom é que a série não se resume a isso, então esses momentos são minorias. Entre as lutas vale ressaltar um pouco da carência do diretor em lidar com cenas de ação. Na luta entre Rimura e Ifrit, se perdeu um pouco a noção de ritmo e essa luta acabou deixando uma sensação densa, como se estivesse lenta e sem vida. O bom é que ele melhora depois e de todas, essa foi a única que me deixou realmente incomodada. 

As aventuras de um Slime construindo um país e explorando o mundo, isso é algo legal de ver. É uma série divertida e uma boa opção para aquele momento em que presamos descansar o corpo e a cabeça depois de um dia de trabalho. Confesso que sentirei falta dos seus episódios semanais. E estarei ansiosa pela 2° temporada que já foi anunciada XD

Direção: 6,5/10
Roteiro: 7/10
Trilha Sonora: 6,5/10

Aspectos Visuais: 7/10
Entretenimento: 8,5/10


Nota Total: 7,1 (Bom)

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