Banana Fish (2018) | Review


SobreEnquanto estava em um tour no Iraque, um soldado americano chamado Griffon repentinamente fica louco, atira em vários companheiros antes que outro soldado Max coloca-o nas rédeas. As unicas palavras de Griffon foram “Banana Fish”, assim iniciando um mistério que perdura inresolvido por anos. E então quando um estranho homem aproxima Ash, irmão mais novo de Griffon e lider de uma gangue de rua de Nova Yorque, e o entrega um misterioso colar, dizendo um endereço e as palavras “Banana Fish” antes de morrer. Antes que Ash possa descobrir o que está acontecendo, um dos capangas de Dino e um traidor sequestram Skipper, o protege de Ash. Já tendo perdido seu irmão, de jeito nenhum Ash vai deixar Banana Fish levar mais alguém importante para ele.

Análise
Mas afinal o que é Banana Fish? Um mistério que poderia ser maior do que Quem matou Sarah Palmer acabou não sendo algo pra se enrolar muito e logo é revelado ser uma droga que pode ser usada para transformar quem tomá-la em um fantoche assassino. Tudo dito acima poderia ser um baita spoiler e estragar a experiência da surpresa com esse anime, mas ai que está o grande porém, nada disso importa, porque não há desenvolvimento em cima dessas coisas. Então, sobre o que realmente é Banana Fish? Vamos tentar descobrir.

O enredo tem muitos temas, temas até demais, como: máfia, gangues, politica, conspiração militar, lavagem cerebral, prostituição infantil… Mas também aborda bastante sobre obsessão, amor genuíno, vingança, amizade, confiança, inveja e ciúmes… Pois é, uma novela eu confesso. O que o anime faz em sua adaptação é desbalancear o foco entre o drama e o background, fazendo com que todo esse plano de fundo criminal e conspiratório passem na tela em modo fast forward, deixando com que o relacionamento e os conflitos do Ash respirem de uma maneira mais “calma”.

Banana Fish então vai passando de mão em mão ao longo do anime na forma de um código de ligação narrativo entre cada conflito. Como se toda vez que essa palavra é mencionada, algo novo e ruim surge. Ao mesmo tempo, a droga não ganha a importância que deveria no enredo, não apresenta riscos, danos e nem traz mistérios sobre o que está envolvido por trás dela. E por mais que o começo do anime indique que seria dessa forma, logo vemos que é tudo muito mais sobre o Ash. 

Ash é um personagem com duas vertentes: Ele e o mundo, e o mundo e ele… Ou seja, um é o personagem que nós vemos e o outro é o personagem que o mundo dessa história enxerga e tenta vender para nós (que é totalmente desnecessário). Ele tem um passado traumático e cresceu educado pelo mundo do crime. Tem uma grande necessidade por afeto, como ser amado verdadeiramente, que é algo que ele não tem das pessoas que o rodeiam; também é uma pessoa que não deposita confiança em outros. Resumindo, há uma solidão muito grande que o assombra. E eu gosto muito do ponto inicial de sua construção, da ideia de que ele perdeu o irmão e teve que crescer sozinho, se envolvendo com roubos, o que acabou levando para as mãos do Papa Dino. Acrescentando o passado traumático ao personagem, de ser abusado pelo Dino e outros homens, mais a busca pela verdade sobre seu irmão e tínhamos o suficiente para uma grande história.

Mas, para a autora da obra original, isso não parece ter sido o suficiente para fazer com que Ash fosse um personagem bom e interessante, ele tinha que ser mais, tinha que ser incrível e badass com seu passada ainda muito mais traumático para nos comover fortemente com ele. Então a história começar a se descarrilhar e o segundo Ash vai ganhando forma.

Todo esse exagero só me leva a questionar: Para quê? O personagem dentro de sua personalidade e conflitos já era bom o suficiente para criar empatia e fazer com que nós nos importemos com sua história. Colocar ele como alguém prodígio em vários aspectos acaba sendo uma falha e o grande problema dentro do roteiro. 

Eiji entra na história como a porta de escape, algo totalmente contrário a tudo que cerca Ash (E talvez propositalmente por isso ele é um personagem japonês, uma pessoa do outra lado do mundo, insinuando a imagem de mundos opostos… Ou talvez não, né). O personagem ajuda a separar os cenários na vida dele, de um ambiente sujo e rodeado de pessoas violentas e criminosos, para algo mais pacifico e acalorado… E isso no anime é bem trabalhado com a coloração e, literalmente, os cenários. Por exemplo, no primeiro episódio, vemos Ash andando por becos sombrios e se abrigando com sua gangue em um bar de porão, as paredes sempre pichadas com e tons escuros nesses locais, mas nos episódios em que ele tem a oportunidade de estar com o Eiji sem os problemas externos envolvidos, esses cenários mudam para prédios ou campos abertos como no episódio em que vai para a casa de seu pai. 

E a paisagem geralmente coloca alguma janela aberta ou valoriza o céu, aproximando mais a analogia de que esses momentos com Eiji são pequenos pedaços do paraíso… Há também o frequente uso do amarelo pra simbolizar essa sensação de estar em um lugar acalorado.

Do céu ao inferno e vice-versa!
Toda essa história do Ash, mesmo com os altos e baixos e suas repetições, nada mais é do que um arquétipo de um pesadelo sem fim, se repetindo vez após vez. E a partir desse ponto de visto muitas coisas, muitos poréns, podem ser relevados por mais que não funcionem tão bem no anime. Coisas como até mesmo os exageros traumáticos e a repetitiva perseguição que prende o enredo num ciclo vicioso da metade até o final.
O uso dos tons e dos cenários comentados mais acima fortificam essa ideia de Sonho x Pesadelo. Também, os próprios personagens principais, sendo o Ash preso ao seu passado e o Eiji a personificação da liberdade e da fuga.

Apesar de toda essa volta chegamos à resposta para aquela pergunta: O que realmente é Banana Fish?, e isso tudo foi importante pra nos ajudar a tentar focalizar o objetivo dessa obra e a avaliarmos dentro dele. Banana Fish, dentro da história, é praticamente um sinônimo para tormenta, que ganha um sentido mais literal para sua metáfora através da droga física: Coloca seus usuários em uma bad trip sem fim para virarem fantoches, algo como controle mental pela canalização do medo. 

E no sentido figurado, a vida do Ash é como se estivesse na bad trip do Banana Fish desde sua infância, crescendo em um interminável dia a dia de abusos, mortes, mentiras e manipulado pelo Golzine que tenta transformá-lo em uma marionete por completo. Olhando por esse ângulo, a construção da trama que ocorre por trás das conspirações maléficas não são tão importantes. O impacto emocional é! Eiji, Max e os demais personagens que estavam tentando ajudar o Ash ganham um papel de testemunhas que acompanharam e presenciaram a luta de uma pessoa para sair de seu pesadelo. 

A direção da Utsumi Hiroko capta essa visão da obra e obrigada a comprimir o material original ela centraliza ainda mais as atenções no Ash. Então, não espere encontrar críticas sociais por baixo dos pesados temas abordados durante a trama, pois estão tudo ali pelo bel-prazer da tragédia. Sim, tudo o que é considerado do mais ruim e asqueroso é somado ao trágico histórico do Ash, perpetuando seu pesadelo.

Há várias interpretações que cada um pode tirar sobre o que esse pesadelo do Ash representa, ou até mesmo não interpretar nada e ver apenas como um conjunto da ficção sem a necessidade de ter algo profundo por trás, e de certa forma, todas as variáveis estão certas. Mas, particularmente se eu tivesse que escolher uma delas, a que mais gosto é a de que podemos traçar uma analogia entre o pesadelo e a selvageria da vida, onde Ash passou tanto tempo na selva que se tornou um “animal” (leia-se dentro do sentido de: sobrevivência, luta por seu território, caça… um ciclo). E então entra a referência sobre o Leopardo citado em As Neves do Kilimanjaro, que trilhou um caminho sem volta enquanto caçava.

A diretora não foi mencionada mais acima de uma forma leviana apenas para puxar uma ligação para essa parte do texto. As informações que encontrei sobre ela me mostram que ela não é muito experiente, o que trás uma palavra mais positiva para descrever sobre seu trabalho aqui, algo como “esforçada”. Ela trabalha bem a parte visual durante o anime inteiro, tais como enquadramentos, composição e comunicação por meio deles. Ela também tem sensibilidade para trabalhar com momentos que exigem mais suavidade e sentimentos, como os momentos entre o Ash com o Eiji ou o clímax de todo o stress do Ash que o leva à depressão.

Porém, a obra acaba oscilando muito em seu ritmo, ela freia nos momentos que a interessa, mas acelera em outros. Em alguns episódios seu desinteresse por partes que envolvem a subtrama politica, conflitos e cenas de ação, chegam ao ponto de deixá-los completamente descarrilhados, com cortes secos e cenas desconexas, trazendo uma incoesão indigesta.

Os problemas com o ritmo poderiam ser evitados se contassem algumas coisas no roteiro, como o arco em que querem dessecar o cérebro do Ash, entre outras repetições narrativas.
No melhor dos casos, não adaptar tudo! Se eu fosse recomendar entre o anime de Banana Fish ou o mangá, eu com certeza recomendaria o mangá sem nem mencionar o anime. Isso porque as coisas funcionam muito melhor lá do que aqui. Veja, por causa da compressão no roteiro, praticamente todas as cenas no anime perderam uma ligação mais natural, por exemplo, os diálogos descontraídos. O anime acaba ficando objetivo demais no roteiro e em suas ideias, e isso prejudica muito a imersão, que é algo essencial, até mesmo para miniminizar o incômodo que a repetição narrativa possa trazer. 

Mas quiseram ser tão “fiéis” ao material original ao mesmo tempo que cautelosos demais com o investimento que acabaram colocando um sobrepeso no tempo do anime. Mesmo com uma produção de altos e baixos que podemos apelidar de trapalhada, a minha maior crítica é quanto ao período em que a história foi encaixada. Uma obra dos anos 80 que carrega consigo as influências ocidentais dos filmes de ação daquela época ser atualizada para os dias de hoje foi, sem sombra de dúvidas, o maior erro que poderiam cometer. Esse roteiro de Banana Fish não se encaixa na era da tecnologia da informação!

Apesar deste texto soar negativo em sua maior parte, esse anime está longe de ser ruim e eu também não odiei ele por mais que algumas escolhas tenham me deixado muito frustrada. No geral, a obra funcional em diversos aspectos: Ela é divertida, sentimental, contém personagens carismáticos e relações interessantes, e tem uma boa animação e uma direção de arte que faz um trabalho incrível. É uma série suficientemente competente em entreter e causar diversas reações com suas reviravoltas, além de ter um seguimento de causa e consequência durante todo o percurso, que é uma de suas características mais positivas. O anime de Banana Fish é bom, no entanto se querem tirar um proveito muito maior da história, de sua naturalidade e a atmosfera de uma época que condiz muito mais com seu enredo (até mesmo nos seus exageros), recomendo o mangá.

Direção: 6,5 – A diretora se esforça e faz um excelente trabalho com determinadas cenas e episódio, mas em outros ela larga a mão. Além do mais, não sabe trabalhar muito bem com cenas de ação.

Roteiro: 6,5 – O roteiro é comprimido, come qualquer naturalidade que deveria ter entre as ligações das cenas. Também há exagerados na história e sua estrutura passa a se repetir da metade para o final. 

Animação: 8,0 – A animação flui muito bem, há alguns sakugas aqui e ali e cenários incríveis… Não há muito CGI também, mas quando tem, em sua maioria é bem usado e o mais importante, há uma harmonia entre os elementos. Porém tem suas inconsistências que aumentam na reta final, mas felizmente, nada grotesco ou incômodo.

Trilha Sonora: 7,0 – A OST casa muito bem com as cenas e ajuda a ditar o ritmo da série, amenizando o que é o maior problema do anime. Mas não é um Ost que se destaque e seja memorável, e as vezes não combinam com a temática da série.

Entretenimento: 8,0 – O mais importante, a série é divertida. Ela tem ação, tem romance, conspirações e momentos cômicos que funcionam muito bem. Apesar de seus problemas aqui e ali, Banana Fish definitivamente não é chato. 

Nota Final: 7,0