Mob Psycho 100 II #05 – Está Desgovernado | Análise Semanal

Parte da grande coisa de Mob vem em saber que Tachikawa Yuzuru e a equipe que a Bones montou estão voando livremente. E é realmente uma das equipes mais excepcionais na história de animes para TV – estes são animadores, artistas e designers que claramente amam essa série e querem que ela seja a peça central de sua carreira artística. A escrita de ONE tem uma profundidade tremenda – sua visão metódica sobre a adolescência aqui certamente será uma das melhores da história dos animes – e quando você combina isso com a qualidade de produção basicamente inigualável, o resultado é, bem, Mob Psycho 100. 

Por mais estranho que seja dizer, uma das primeiras coisas que passou pela minha cabeça ao assistir este episódio foi “Meu Deus, quanto custou isso!?” Eu raramente me concentro muito nos orçamentos de produção na revisão de animes, mas raramente vejo episódios para TV que parecem remotamente com isso. O dinheiro não pode comprar brilho, isso com certeza – mas, ao mesmo tempo, você pode entregar uma avalanche de sakugas igual vimos esta semana em Mob Psycho sem gastar muito (especialmente pelos padrões de animes para TV). Bones não é como a maioria dos outros estúdios de anime, e Mob Psycho não é como a maioria dos outros animes. Mesmo assim – wow.

Na verdade, os visuais eram tão bons aqui que é difícil se concentrar muito em qualquer outra coisa. A história fundamental de ONE, com seus poderosos temas de alienação e lealdade, foi representada brilhantemente como sempre e esta foi uma poderosa subtrama. Mas na verdade esse lado das coisas era o que nós esperamos desse show (na verdade, eu ainda classifico o episodio de estréia como o mais emocionalmente poderoso até agora nesta temporada). Passamos a esperar uma grande arte e animação também, é claro, mas se a escrita era um antigo Mob, os visuais eram um outro nível.

O espírito da Gainax (e alguns de seus ex-funcionários) certamente é uma presença aqui (as sequências de “mangá em movimento” são super-FLCL, e essas explosões…), mas esta aqui é uma entidade única – Bones, Tachikawa, ONE – nós nunca vimos nada que se pareça com isso; pelo menos desconheço. Na verdade, o estilo de arte nativa de ONE e o estilo de Tachikawa (Death Parade) são bem diferentes, e ele montou a lista dos maiores animadores cel (em papel) e artistas de background das últimas décadas para trabalhar nesta série. Estilisticamente há muito para desembrulhar aqui – em vez de um visual consistente, o episodio está de fato em todo o mapa de uma maneira que funcione totalmente. É ofegante e implacável, um tsunami visual que te pega e te leva deixando incapaz de resistir.

Falar de todo esse banquete visual sem lembrar o histórico Fate/Apocrypha #22 é difícil. Os comprovantes de pagamento de que aquele foi uma das maiores coisas da indústria batê à nossa porta diariamente. Ele é um episodio reconhecido em muito em Mob #05 – há uma sobreposição de pessoal e de estilo que trás essa comparação. Começando com o catalisador inquestionável de tudo: Hakuyu Go – a reputação que ele já construiu para si mesmo apesar de ainda ser um novato – ele trabalhou pela primeira vez em um anime no final de 2013, aos 21 anos de idade – é algo que você deve ter em mente para entender como ele consegue atrair talentos nessa escala. Enquanto sua própria habilidade foi sem dúvida um dos fatores nisso, são as conexões que ele construiu que o impulsionaram para sua posição atual. Ele se cercou não apenas das estrelas em ascensão da indústria, mas também estabeleceu veteranos, e fez questão de provar isso quando os trouxe para ajudar a transformar o confronto de Boku no Hero #12 entre All Might e Noumu, que ele fez o storyboard e dirigiu, em uma luta que os telespectadores nunca esqueceriam. E essa foi sua estréia lidando com parte de um episódio, o único precedente antes dele ter controle sobre Fate #22. Você poderia argumentar que é tudo coincidência, mas torna-se um tanto amador quando compara os créditos que nos mostram que a esmagadora maioria daqueles que o ajudaram em Fate e Boku no Hero, e outros trabalhos, também aparecem aqui, e ainda mais quando outros que tem conexões na industria (ashita, kvin) confirmam que sua rede de conhecidos é o verdadeiro negócio.

Agora olhando os cortes, Sunakohara chama a atenção como um dos mais poderosos; é difícil não achar ele aqui já que seu estilo de assinatura é quase impossível de se perder, sentindo algo como sua visão pessoal do nomeado “kutsuna lightning” – do qual ele se mostrou afeiçoado – embora muito mais rabugento. É uma das melhores peças de animação em tempos! A animação FX em uma contagem baixa de desenhos é uma delícia de assistir; parece cru como o inferno, é um respiro ao pós-processamento que os animadores tem que lidar. Um respiro ao publico e aos animadores. Kazuto Arai, por outro lado, aproveita o impacto e a densidade incorporados em cada corte, particularmente quando se trata de explosões que você quase pode ouvir mesmo quando assiste sem áudio. Apesar da explosão no corte de Arai durando apenas 2 seg seu proveito é total – ele lidou com Mob explodindo algumas criaturas (a explosão através do inchaço é tão nuançado). 

Mob é por natureza um show de introspecção, e isso não é negado nem mesmo em um episodio como esse. Toshiyuki Sato trás a melhor animação de personagem do episodio, e talvez a melhor em termos gerais, puxando uma atuação cheio de nuances. O timing da animação no começo captura a estranheza inicial da situação antes que a sinceridade comece a se estabelecer – evocando a sensação de uma atmosfera de honestidade. Este combate no alto animado por Hakuyu Go, é outro grande negocio neste episodio. Ótima perspectiva, ângulos ​​e modelos de personagens. É já sua assinatura o trabalho de combates no ar, e esse projeto se sente como uma influencia do Nakamura (estou para trazer um artigo sobre ele, yutaka nakamura, aguardem). A escolha de modelo na hora de simplificar Mob foi no ponto. Os animadores da Webgeração já foram criticados como um grupo de artistas capazes de nada além de regurgitação simples de peças chamativas de ação, sem nenhuma consideração por muito mais. Um argumento que, embora exagerado, ainda valeria a pena levar em consideração, mas também um que é simplesmente falso agora. Go mostra boas performance de personagem, Mob estava em um dos seus momentos mais “badass”, certamente. Fechando os destaques maiores temos Yasunori Miyazawa, com um corte de deformação poderosoNão poderia esperar algo diferente de um colaborar do Yuasa – ele entende todo o processo da técnica, deixando-a polida e poderosa, passando por uma erosão brutal dos personagens e de suas linhas. 

Vale tomar nota globalmente de alguns cortes menores onde Mob está sendo socado por essa realidade onde ele se encontraOs segmentos de Mob neste mundo são uma peça de tom simultaneamente bela e opressiva – um trabalho dos magníficos storyboards de Hakuyu Go. Meu desejo no fim do episodio foi de poder ter pelo menos mais 20 minutos de seu trabalho nesse sentido. Os sentimentos de Mob são totalmente reconhecíveis sem palavras. O personagem é enquadrado como silencioso e sozinho, preso em um limbo de acordar com a quase falta de luz e cores lavadas. Há de fato muito para desembrulhar, mas é realmente impossível tocar em tudo aqui porque isso é um monstro colossal! 

Um dos meus conceitos visuais favoritos aqui (e eu vou assumir que isso é uma coisa do One) é representar a presença de Mogami no mundo dos sonhos através de uma variedade de bichos rastejantes. “Entre na minha teia”, disse a aranha para a mosca –  e Mob foi voluntariamente; ele é muito um tolo compassivo para conseguir abandonar uma garota que nunca conheceu para o destino dela. Se for para eu ser honesto, achei que a sequência dos sonhos se acelerou um pouco demais – eu gostaria de ter visto um episódio inteiro (ou talvez ainda mais) dedicado a Mob tentando lidar com seus poderes. Certamente vai mais ou menos como você esperaria – Mob ainda é socialmente desajeitado e fisicamente fraco, mas agora ele tem que enfrentar o mundo basicamente desarmado. E Minori é uma grande força entre seus algozes .

Está bem claro para onde Mogami está indo com isso para ser honesto, e pode até haver um pequeno grão de honestidade dele dizendo ao Mob que vê algo de si mesmo no menino, e quer evitar que ele cometa os mesmos erros. É claro que a esmagadora massa de motivação para Mogami é egoísta, para transformar uma criança que ele percebe que é um espertalhão assustadoramente poderoso em um acólito. Tão terrível quanto as coisas estão indo para Mob lá, parece que os jogos mentais literais de Mogami estão mudando ele – algo dentro de Mob parece quebrar, embora reveladormente não é quando ELE mesmo é ameaçado por Minori e sua equipe de valentões, mas quando um gato de rua que ele está alimentando é.

O que teria acontecido se o Covinhas não tivesse invadido Minori e acordado Mob? Suponho que nunca saberemos, embora seja um pouco creepy imaginar. Acontece que Matsuo é um jogador chave aqui – é a sua dose psíquica que permite ao Covinhas ultrapassar a barreira de Mogami. Como Reigen diz, ele se recusa a fugir porque é “burro” e confia em Mob – e Mob é burro porque confia no Covinhas e no Reigen. Mas a confiança é a chave de tudo para Mob, e é difícil exagerar a importância do Reigen ter aparecido em sua vida, dando-lhe alguém em quem confiar. Esta é a grande coisa sobre a qual Mogami estava absolutamente correto – Mob teve muita sorte de ter sido cercado por boas pessoas que se preocupam com ele.

Quando tudo está terminado, é claro que Mob perdoa Minori – ele tem um recipiente infinito de bondade, então ele está sempre preparado para ver isso em outras pessoas. Ele acredita em seu poder de mudar, mas a luta interna dele é acreditar em si mesmo – não se tornar mais amável ou mais altruísta, mas na verdade valorizar a si mesmo e seus sentimentos. Isso é o que alguém como Mogami nunca consegue entender, e é por isso que Mob é capaz de carregar os fardos que ele carrega, permanecendo puro mesmo quando se esforça para se tornar a pessoa que ele quer ser. Isso, e a insana equipe de apoio no local que a boa fortuna/sorte permitiu ficar atrás dele.

Não há necessidade de segurar os elogios para este episodio, que corre para ser o melhor episódio animado de 2019, um dos maiores lançamentos em termos gerais, e mais um momento genuinamente significativo para esta indústria. O que diabos o resto da temporada poderia fazer depois disso? Mob Psycho 100 II é um caminhão desgovernado que dificilmente alguém terá a coragem de tentar parar. 

Avaliação:       

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