The Promised Neverland | Primeiras Impressões

Nick: Mesmo a partir da capa do primeiro volume ou do material promocional, fica claro que The Promised Neverland não é a sua propriedade padrão Shonen Jump. O estilo de arte base favorece linhas de trabalho delicadas, quase vacilantes e rabiscos evocativos. A arte de seu material fonte evoca um estilo visual de algo como um livro ilustrado infantil. Frente a isso, vem as minhas ressalvas quanto a esta adaptação. Na frente de tudo aqui temos o diretor Mamoru Kanbe, que dirigiu o bom “So Ra No Wo To” mas também mais uma enorme pilha de porcarias, e a decisão de ir com o mesmo estúdio de Boku no Hero para os fundos do programa me parecia uma decisão seriamente equivocada. Neverland exige um toque delicado e ornamentado, e a adaptação errada poderia facilmente roubar essa história de sua beleza tonal e estética. 

Mas, e então, como a adaptação se sustenta? Muito bem, eu diria. A substância narrativa real deste episódio parece tão convincente quanto era na forma de mangá, quando fomos apresentados a Emma, ​​Norman e Ray, juntamente com todos os outros órfãos da Grace Field House. Nossa heroína Emma é central e se aproxima de nós, sorrindo, não oferecendo nenhuma implicação de um claro conflito ou objetivo. A vida de Emma é fácil e alegre aqui – embora ela e seus irmãos, órfãos, tenham que fazer testes diários, ela é realmente uma das melhores para eles, e além disso, eles passam o tempo brincando no campo e sendo regados com carinho por sua “ Mãe”/”Zeladora”. A maior parte deste episódio é voltado para uma demonstração de suas vidas inicialmente encantadas. E embora eu achasse que havia respingos ocasionais de exposição desajeitada (especialmente na primeira cena), na maior parte do tempo, esse episódio revelou o contraste entre a natureza de Emma e a substância de seu mundo, a fragilidade e o mistério deste lugar, com um toque simpático. 

E no que diz respeito ao design visual e direção, esta adaptação faz um excelente trabalho em adaptar os desenhos incomuns de personagens de Posuka (o artista do manga) para animação. Este esforço foi liderado pelo designer e diretor de animação Kazuaki Shimada. Vendo como havia pouca esperança de conseguirem combinar as coisas aqui com a qualidade ilustrativa da arte original, de Posuka Demizu, eles optaram por confiar em um verdadeiro fanático por animação com um talento especial para atuações expressivas. Consequentemente, este foi um episódio absolutamente repleto de saborosas animações de personagens. Além disso, o storyboard e o ritmo shot a shot fazem um ótimo trabalho de incutir cenas com uma sensação de terror à espreita; alguns shots são realizados apenas o tempo suficiente para se sentir ameaçador, enquanto outros cortam tão rapidamente que o espectador fica imediatamente desorientado. Como uma cereja no bolo (tá mais para algum ingrediente) existe o uso com perfeição das cores para moldar o clima. Um episodio que habita na sensação de tensão construída, arrastando as coisas o máximo possível antes de nos deixar entrar nos detalhes. 

No fim, é um bom episodio quando falamos de fato de substância narrativa mas é excelente quando quando falamos do seu todo (execução). E eu não poderia exigir uma receita diferente dessa, afinal Nerverland é justamente feito de uma direção afiada; é onde está a maior parte de sua substância. Felizmente, o bastão para animação é passado de uma forma valorosa. Este provavelmente será um dos passeios mais emocionantes desta temporada.

Avaliação:      

GapsoJá fiz um texto apenas falando do mangá de Neverland, quando ainda estava em seu início, então não vou me apegar em detalhar a forma estrutural diferente do comum que essa obra possui em relação a outros títulos da Jump. Vamos falar da estreia propriamente em si. O anime começou com uma certa exposição de diálogos, herdados do mangá, para orientar e contextualizar os acontecimentos e situações presentes, essa introdução ocorreu razoavelmente bem através de diálogos mais e menos expositivos ao decorrer do episódio; a linha tênue pela qual a série tenta narrar os fatos através dos diálogos acerta mais em alguns momentos do que em outros.

O mais chamativo do episódio, no entanto, com certeza é a direção e animação. O storyboard de Mamoru Kanbe brinca com a realidade das crianças e a direção sensibiliza suas inocências, ao mesmo tempo que geram desconforto a partir de transições rápidas e não naturais, mesmo nos momentos mais calmos, como quando as crianças brincam de pega-pega – estes elementos cuidadosamente articulados foram um capricho do episódio. Até mesmo a cena final, repentina, da “Mãe” aparecendo a partir de um barulho propositalmente abrupto, em um frame escuro em que sua expressão malévola de desconfiança se destacava, serviu para mostrar o potencial de ameaça dessa personagem para o futuro. Isso sem precisar apresentar diálogos ou uma cena mais extensa para passar a mensagem e a tensão. A junção da animação muito bem trabalhada com a trilha sonora nos momentos da surpresa emocional também tiveram o destaque no trabalho do staff do episódio. A construção das cenas com atuação de personagens, envolvidas nas partículas animadas na cena do caminhão, por exemplo, demonstram isso: houve o cuidado do Ken (Yoh) Yamamoto e outros vários talentos que trabalharam nessas cenas para expressar a delicadeza e o apavoramento de crianças vendo monstros da melhor maneira que se era possível. Pode-se levantar questões sobre o estilo escolhido da direção para com a animação, mas quanto animação, foram cenas objetivamente bem-feitas.

O que me preocupa na questão visual é como serão feitas as artes de fundo ao decorrer da série, provavelmente será um dos aspectos mais difíceis de se adaptar. Isso porque o artista do mangá é um ilustrador e não um mangaká propriamente, seus planos de fundo tendem a brincar com as perspectivas distorcidas para deixar o leitor desorientado, e isso ocorre até mesmo com o character design que ele fez para a série, que na adaptação em anime divide opiniões – embora eu não veja problemas com isso. O episódio inicial não mostrou nenhuma bela arte nas paisagens e planos de fundo da série.

Neverland estreia bem principalmente pelo seu potencial de produção. A narrativa ainda precisa caminhar melhor e encontrar uma forma de não soar corrido o bastante e nem tão auto evidente em todos os momentos, mas há um certo potencial visivelmente presente na série. 
Avaliação:      ★ (++)

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