Tokyo Ghoul:re (2018) – Detalhes Fazem Boas Estórias | Review

|Episódios: 12 | Estúdio: Studio Pierrot Fonte: Manga Diretor: Odahiro Watanabe Compositor: Takeshi Takadera Roteiristas: Aaron Dismuke e Monica Rial

Sinopse

Dois anos se passaram desde o ataque da CCG ao Anteiku. Embora a atmosfera em Tóquio tenha mudado drasticamente devido ao aumento da influência da CCG, ghouls continuam a representar um grande problema, pois passaram a ser mais cautelosos, especialmente a organização terrorista Aogiri Tree, que reconhece a crescente ameaça da CCG à sua existência. 

A criação de uma equipe especial, conhecida como “Esquadrão Quinx”, pode fornecer a CCG o empurrão necessário para exterminarem os residentes indesejados de Tóquio. Como humanos que passaram por cirurgias para usar as habilidades especiais dos Ghouls, eles participam de operações para erradicar essas criaturas perigosas. O líder desse grupo, Haise Sasaki, é um meio Ghoul meio humano que foi treinado pelo famoso investigador de classe especial Kishou Arima. No entanto, há mais sobre esse jovem do que aparenta; memórias desconhecidas agarram-se a sua mente, lentamente o lembrando da pessoa que ele já foi um dia – Ken Kaneki.

Análise
Como alguém que leu o manga – Tokyo Ghoul e Tokyo Ghoul:re – tenho o dobro de ressalvas que uma pessoa que está apenas assistindo os animes tem. Por isso, tentaria espulgar qualquer comparação; sei que se faz válido uma comparação com o material de origem, mas acredito que isso se encaixe melhor em um texto aparte. Não farei dessa critica um texto “anime vs manga”.

Antes de chegarmos aqui tivemos outros dois animes: Tokyo ghoul, que foi apenas raso em tudo, e o apenas muito ruim “Tokyo ghoul Root A” – que ainda que tenha ocorrido em estagnação e uma progressão preguiçosa de personagem, ainda tinha algo a ser dito. Lembram-se dos finais das duas primeiras temporadas de Tokyo Ghoul? Eram poemas sombrios e angustiantes sobre Kaneki confrontando o mal dentro e fora de si mesmo, sondando as profundezas de sua psique. Em “Root A” caminhando propositadamente ao longo do último trecho de sua jornada rumo à morte certa.  A música e o visual foram artisticamente trabalhados para refletir o estado mental de Kaneki, cheio de medo, desespero, com raiva e quantidades insuportáveis ​​de peso em seus ombros.

Tokyo Ghoul:re, assim como nas duas primeiras temporadas, é um show que teve a oportunidade de ser mais, mas finalmente se tornou mais um banho de sangue. A discriminação social e a perseguição são uma questão que atormenta a humanidade desde que a conhecemos, remontando aos textos e manuscritos históricos mais antigos. Sempre que um grupo social se sente ameaçado ou simplesmente não compreende as normas sociais de outro grupo, a hostilidade se torna sempre presente. E apesar de nossos avanços e proezas técnicas, essa reação primitiva ao desconhecido ainda é um problema nos dias de hoje. É só, simplesmente, assistir as notícias e eventos atuais para ver que se desdobram em uma base diária. Devido a esse conflito constante, há muitas histórias que tentam esclarecer o assunto com comentários sociais de uma forma ou de outra. Que venha na forma de uma música como o que John Lennon, Bob Dylan e artistas similares produzem. Todo meio narrativo abordou essa questão de uma forma ou de outra. Animes não são uma exceção, com todos os anos dando origem a pelo menos um título que segue esse caminho.

Tokyo Ghoul :re tornou-se o título para 2018, com a história de uma subespécie conhecida como Ghouls e o relacionamento de cabo de guerra que eles têm com os humanos. Uma configuração muito semelhante a outros títulos de anime como Shiki, Parasyte  e outros. TG teve a opção de examinar e explorar mais temas como o existencialismo, a condição humana, o darwinismo social e a ética humana. Mas o problema comum que a maioria mostra, assim como Tokyo Ghoul, é não ser capaz de transmiti-los adequadamente. Em vez disso, foi simplesmente uma ideia que ficou no banco de trás para que pudéssemos fazer outra ação/festa do gore, não diferente de outros shows como Gantz, Deadman Wonderland, Terra Formars etc. Nenhum dos temas são explorados, não passando do nível da superfície – temas esses que estavam lá simplesmente para tentar adicionar alguma profundidade a um show que claramente faltava.


Em vez de seguir nosso protagonista Kaneki e usá-lo como um intermediário para explorar todos os temas multifacetados que o show sugeria, nós somos apenas provocado de vez em quando quanto à sua mente atormentada. Esta é uma maneira barata de não percorrer corretamente as etapas corretas de fornecer caracterização em camadas. Então, quando ele está presente, temos um interruptor de personalidade em vez de um personagem que recebe qualquer forma de desenvolvimento. Ele é simplesmente um persona bidimensional que se move de um lado do gradiente para outro. 

Todos os outros personagens são tratados superficialmente. Em vez de se concentrar em moldar o elenco já considerável, eles introduzem uma infinidade de novos e menos do que um punhado se aprofundam nos padrões básicos. O resto é um território de “leia o mangá”, uma vez que eles supostamente desempenham um papel importante na trama, mas nunca recebemos nenhum tempo de tela com eles para nos importarmos ou até lembrarmos seus nomes. Essa grande dependência do material de origem reflete apenas no roteiro abaixo do ponto e a falta de execução adequada. Em vez disso, você se lembra deles apenas por sua presença extravagante ou personalidade semelhante à caricatura. 

A história é padrão, mas a maneira como a apresentam sem nenhum respiro é deplorável. Não é sequer preciso ter lido o material base para perceber o conteúdo sendo afogado aqui; nunca é concebido a chance de :re dizer algo. O ambiente do mundo continua subdesenvolvido, já que nunca vemos a preocupação pública em grande escala que deve vir com um dilema tão grande ou mesmo os temas comuns a essa configuração, como a discriminação social. O mais perto que chegamos disso é a forma das autoridades de cumprimento da lei, mas elas são consideradas um grupo sinistro exagerado, de modo que você nunca sente o peso por de trás de suas ações. O único momento dedicado à construção do mundo veio do primeiro punhado de episódios da 1ª temporada, e mesmo assim não foi dado o tempo devido para se instalar por causa do ritmo errático. Tudo parecia apenas uma gigante peça de teatro com uma profunda moralidade cinza e algumas brigas de galo. Eles querem que você questione quem está certo e quem está errado, mas quando isso realmente acontece, parece risível e infantil.

Se alguma vez houve uma área onde “Root A” merecia créditos, seria no departamento de som. Com timbres de músicas bem cronometrados que proporcionavam um certo ‘soco’ a cada cena que a acompanhava e faixas vocais bem compostas que trouxeram ênfase para momentos que normalmente não carregariam qualquer peso por conta própria. Mas, nem mesmo isso “:re” se preocupou. Aqui temos faixas jogadas de qualquer maneira, e até mesmos uma evocação a “Unreval” – quase que um “presente” aos fãs por terem continuado a acompanhar uma serie tão deplorável. Ou talvez uma derrota admitida; independente do que isso possa ter provado foi triste. Existe a possibilidade das trilhas sonoras serem boas isoladamente, mas, sinceramente, não tenho a menor vontade de procurá-las para ouvir. Posso estar em minoria aqui, dado o consenso geral a respeito da abertura, mas eu pessoalmente gosto dela; bem como eu gostava da abertura de “Root A”.

A arte e a animação são resumidos pelo estúdio a cargo delas –  Pierrot. Há muitos casos em que fica instável e até teve vários episódios inteiros em que a qualidade caiu do começo ao fim. Mesmo para cenas em que você acha que iriam investir um pouco mais, como a luta de Haise vs Takizawa, ainda continham soluços perceptíveis mesmo para olhos destreinado.

Os detalhes são a força vital sobre a qual realmente se constroem grandes histórias, a verdadeira alma que pode criar ou quebrar algo especial. Terei que quebrar minha promessa e fazer uma comparação do anime e manga. Gostaria de trazer a mesa um momento em especifico do anime: quase na metade do segundo episódio, Haise confronta Urie e seu papel como líder. Uma cena importante no manga. E a direção dessa cena é sem graça e principalmente – sem inspiração; isso define muitas cenas aqui. O tapa é entregue com pouca convicção se comparado ao tapa no ego que Haise entrega a Urie no manga. Ainda no material fonte, esse tapa é então refletido no desprezo que Urie começa a mostrar desafiadoramente encarando aquele que seria seu superior. A arte de Ishida é magnifica. O desgosto de Urie é tão palpável e a reação de seus colegas a essa indiscrição é igualmente forte. E o que o anime entrega paralelo a isso? Alguns minutos de pura inexpressividade. E ainda temos o corte a cena de Haise chorando em seu quarto – um flagrante das infinitas descaracterizações que a serie entrega. Esse choro é um ataque interno que Sasaki está enfrentando pelo peso de seu papel dentro da batalha e dentro de sua equipe. Tudo isso prejudica esses personagens; há muito mais vida neles do que foi reconhecido aqui.

O diretor Odahiro me deixou sem nada de positivo para dizer sobre essa adaptação. Odahiro Watanabe não tem que seguir um livro de regras para adaptar o manga de Tokyo Ghoul, mas ele não está nem continuando a interpretação da série de Mikasano (roteirista da segunda temporada) adicionando algo novo,  tão pouco  está colocando pensamentos nos detalhes mais finos que definem o trabalho de Ishida como um trabalho de painéis e diálogos. Tokyo Ghoul :re, no fim, não é nada; pior do que isso… ele não tenta ser nada. 

Direção: 1 (Horrível)

Roteiro: (Muito ruim)
Produção visual: 3 (Ruim)
Trilha Sonora: 4 (Fraco)
Entretenimento: 3 (Ruim)

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