Mary to Majo no Hana (2017) | Review

Direção: Hiromasa Yonebayashi (Karigurashi no Arrietty, Omoide no Marnie) | Roteiro: Hiromasa Tonebayashi e Riko Sakaguchi | Estúdio: Ponoc

Sobre
A história é sobre uma garota chamada Mary, que se mudou para a casa de sua tia-avó, em uma região um tanto isolada da cidade grande em um meio campestre. A garota foi enviada para a casa da tia primeiro que seus pais para não perder o início do ano letivo que está para começar, mas enquanto isso ela continua morrendo de tédio.
 
Em uma tarde, ela vê dois gatinhos no quintal, e ao  segui-los ela acaba encontrando uma bela flor azul no início de uma floresta próxima. Ao levar para a casa, naquela noita essa flor acaba liberando uma terrível e poderosa magia. Ao mesmo tempo, um dos gatinhos some, enquanto o outro chama atenção da garota para o desaparecimento de seu par e guia Mary até uma vassoura mágica que a leva para sua aventura em busca do gatinho perdido.

Análise
Mary to Majo no Hana é um filme longametragem animado, inspirado na história The Little Broomstick da autora britânica Mary Stewart. O longa foi produzido no estúdio Ponoc, criado a partir de ex-representantes do estúdio Ghibli – possuindo como relevante característica um estilo de produção muito parecido com o estúdio do grande Miyazaki.
 
Porém, apesar de Mary to Majo ser uma forma de reconstrução do estilo contemplativo visual do querido estúdio Ghibli, com parte de sua equipe de produção sendo ex-funcionários do clássico estúdio, o filme animado é só mais um entretenimento bonitinho que não vai mais adiante.
 
Esse pode ser considerado como mais um daqueles filmes que agradariam um público infantil por simplesmente aplicar uma mini aventura colorida e bem fantasiosa, mas que em uma segunda análise praticamente não possui um propósito. Apesar da narrativa aparentar qualquer potencial, a história é superficial. O inicio do anime é marcado pelos desastres da protagonista em tentar ajudar nos afazeres na casa de sua tia-avó, mas isso é totalmente sobreposto pelo achado da flor azul e daqueles gatinhos que introduzem finalmente o elemento mágico à história – sem nenhuma explicação real do que acontece por ali ou qual a origem disso tudo.

Na noite em questão ocorre o desaparecimento dos gatos. que finalmente inicia a aventura da garota que trata de ir à floresta procurar pelo animal, deixando de lado todo seu início atrapalhado e mudando a conjectura para uma garota mais determinada e corajosa para se aventurar por um nevoeiro hostil em uma floresta densa. Daí em diante, o anime cria um confuso desenvolvimento narrativo pelo fato da garota chegar em uma prestigiosa academia mágica, em que ao invés dela simplesmente dizer que está ali por engano, acaba fingindo ser uma aluna poderosíssima de bruxaria, ao mesmo tempo que cria-se uma lei sem conceito, tardia, para que “invasores” serão punidos por estar no espaço do colégio. O uso desse elemento, que na verdade é uma regra bizarra do colégio que acaba convenientemente sendo apresentada naquele momento, tenta consertar de certa forma o fato da garota não se revelar uma inocente acidentalmente por ali, sendo que ela poderia simplesmente ter ido embora desde o início. Mas, é claro, é mais oportuno para o desenrolar da história que as coisas se mantenham assim.

A partir de tudo isso proposto, assegurando uma enrascada à personagem para que salve um determinado personagem, o cerne da história se mostra à volta da diretora da faculdade e mais um professor tentando conseguir a tal magia sagrada que veio da flor, a fim de fazer experimentos para conquistarem poder e dominar essa fonte superior de magia. Eu não consigo deixar criticar o quão enfadonho é a história que, a priori mostra uma escola mágica enorme, complexa, elaborada e colorida, para tudo acabar se resumindo apenas a dois únicos professores (acima) que querem fazer testes não muito corretos para conseguir resultados mágicos melhores. Esses “vilões” são tão rasos, e a história ignora tanto o fato de que deveria existir outras entidades mágicas ou mesmo professores por ali, que todo o desenvolvimento acaba girando apenas em torno da pequena Mary convenientemente conseguindo salvar um personagem das mãos desses dois tão “maléficos adultos” que têm suas ambições resumidas a tomar uma magia de uma farota e fazer experimentos. Entidades mágicas tão poderosas tiveram que esperar uma garotinha inocente encontrar a magia sem querer ao invés de darem um jeito de procurar. Tudo bem.
O do filme final é quase que literalmente uma volta à estaca zero, a falta de profundidade facilita resumir que no final tudo volta a ser como era, e é fácil cogitar que isso tudo nem precisava ter acontecido para começo de conversa; é uma rotação na aventura que não faz muito esforço em ser grandioso, e acaba no fim servindo como uma espécie de desperdício de potencial, um anime visualmente agradável com personagens medianos e vilões rasos. Não que não haja filmes da Ghibli que também sejam apenas bonitinhos, que não abordam a história em toda sua complexidade ou proposta de mundo – em que poderia fazer algo bem mais decente, mas não foi uma escolha interessante do ponto de vista crítico que venho a utilizar fazer um filme dessa espécie logo no primeiro projeto da Ponoc. A Ghibli se consagrou como estúdio pelas suas narrativas lindas, seus filmes encantadores e de temas cativantes, para só depois então abrir um leque seguro de produção em que poderia-se fazer apenas animações mais leves e agradáveis – ainda que se fossemos comparar, esses filmes da Ghibli também não seriam tão convenientes como Mary to Majo o tempo todo. 

Não acredito que seja uma deficiência narrativa da história original, mas sim da própria alteração e compressão da história para essa adaptação animada que foi, neste ponto, infeliz em fazer uma história realmente relevante ou que se pudesse tirar proveito como desfruto; Não é uma história interessante em que você de fato sente uma abordagem de criação de mundo, problema significante, desenvolvimento do espaço e objetos, e resolução do problema – no mais básico dos casos.

É claro que os resultados do filme foram ótimos nas bilheterias, todos ficaram animados em ver uma espécie de nova era pós-Ghibli com um longa tão fielmente parecido com os clássicos já conhecidos enquanto produção e visual. Mas, para um público de massa é fácil agradar com filmes desse tipo. Isso não invalida a crítica já exposta, que como observado é uma última análise sobre o quão raso tudo foi a construção e a narrativa, e muito menos invalida o ponto de que esse filme deve fazer mais sucesso com os mais novos pela sua fantasia que não precisa fazer sentido e toda sua expressão colorida.
Mary to Majo é mediano, apesar de muito bem animado. É realmente um notório esforço visual para lembrar e assemelhar-se bastante com o estilo animado da Ghibli, mas em contra partida é um anime que no máximo serve como entretenimento, se você não estiver a fim de realmente parar para pensar sobre o que acontece durante o filme. É bem esquecível. Como dito anteriormente, pode agradar um público mais novo por fazer sentido no máximo para tal, mas nada além disso. Vale a pena dar uma olhada e matar o tempo pela bela produção de animação, mas se for para ver o ‘estilo Ghibli’ com [ou sem grande] história, recomendo assistir aos próprios filmes desse estúdio consagrado.