No Game No Life: Zero (2017) | Review

Sobre
Seis mil anos de Sora e Shiro existirem, a guerra consumiu a terra rasgando os céus, destruindo as estrelas e ameaçando acabar com a humanidade. Em meio ao caus e a destruição, um jovem chamado Riku leva os humanos para o amanhã em que seu coração acreditava ser ideal. Um dia, nas ruínas de uma cidade do território dos Elfos, ele conhece Schwi, uma andróide Ex-machina que pede para Riku ensiná-la o que significa ter um coração humano.


Análise
O filme de No Game No Life Zero, que estreou em 2017 com a mesma staff – constituída pela diretora Atsuko Ishizuka e o estúdio Madhouse, faz um importante papel em explicar muito da construção do universo da obra – o que faltou durante a execução da série de TV da história principal e, portanto, fez do longa uma história superior.
 
É importante dizer que mesmo o filme sendo tecnicamente uma história que se passa antes do conjunto principal da obra, é interessante ter conhecimento sobre No Game No Life para um melhor proveito e entendimento daquilo que o filme propõe. Spoilers sobre o que acontecem na série principal não são dados, mas a execução e narrativa fazem mais sentido para os conhecedores do anime.
 
NGNL Zero por definição apresenta uma estrutura muito mais interessante e direta do que a série para TV, e os porquês disso são bastante simples e diretos: No filme é explorada a forma como esse mundo de disputa de jogos foi construído, como ele chegou naquela condição atual e quais passos foram necessários para isso. Enquanto isso, na série de No Game No Life tais perguntas ficam na cabeça o tempo todo e não são respondidas durante os episódios. O filme. além de mostrar um história própria, dispõe da construção do mundo de abrangente e quase funcional.
Passando-se durante uma guerra mortal entre todas as raças que dividiam aquele mundo, fazendo-o posteriormente tornar-se aquilo que já conhecemos, a história carrega um protagonista bem mais sério e interessante. Um jovem magoado e atormentado por todos amigos e outros humanos mortos em guerra, os sacrifícios humanos levados pela intenção de um futuro melhor que é incerto. Paralelamente, a heroína ex-machina, Schwi, carrega consigo os elementos mais simplistas de relações humanas e romance para o elenco. Diferente da série que exacerba seu fanservice a todo momento, aqui o seu uso simplório não é utilizado como recurso de roteiro para chamar atenção e/ou tentar prender o espectador de maneira desesperada, e sim por uma inocência descontraída da narrativa. A história é bem mais séria, e os pequenos momentos de descontração cômica, seja pelo alívio de humor ou pseudo-fanservice, fazem-se funcionais.
 
A história e desenvolvimento do filme, embora interessantes pelo alto nível de ambientação entre o planeta em guerra entre as raças, sacrifícios e o ato de sobrevivência acima de tudo, possui notórias falhas e problemas durante a execução como um todo. Um ponto a ser notado, embora não seja necessariamente um dos motivos negativos do filme, mas uma observação curiosa, é que durante a execução não ocorrem as partidas de jogos como era de costume na série para a disputa de alguma coisa. A história está lidando aqui com a guerra que desencadeou o mundo que passou a ser disputado pelos games, então no momento presente do filme tais partidas não aconteciam. Ainda assim, o sentimento por jogos é quase saciado com os flashbacks do protagonista em seu passado que revelam o grande interesse por jogos, mas suas disputas de xadrez com Schwi são cortadas e não agregam relevância ao entretenimento do filme, acabando com a oportunidade de mostrar o início das ansiedades por vitória – mesmo que em partidas simples e sem recursos mágicos que só seriam desenvolvidos e usados mais tarde.
 
Outro ponto, que com certeza é negativo, é o excesso de cenas rápidas com o protagonista indo em vários lugares de uma hora para outra e sem o consenso lógico do que está acontecendo; o tempo de filme não permite uma maior clareza de todos acontecimentos e nem sequer uma melhor explicação da ambição de todas – ou ao menos das mais relevantes – raças pelas conquista das guerras. A própria causa principal da guerra e origem de certas raças que movem a narrativa de roteiro durante todo o filme é bem mal explicada – embora todo o resto apresentado durante o longa se mostre ao menos razoavelmente bem escrito e mais interessante do que na série de TV.
No entanto, essa movimentação e agilidade do filme, que são causados dentre outras coisas pela pressa da adaptação, tornam-o bem mais dinâmico e positivamente ativo como deve ser um filme do gênero. O que é narrado é interessante e ainda por cima explica várias coisas da obra No Game No Life – fazendo deste quase o maior ponto positivo que o filme poderia ter para todo a conjuntura. Não só isso. O desenvolvimento psicológico pessoal de Riku como personagem-chave para o desfecho do filme é interessante e notoriamente bem trabalho com a ajuda de Schwi que estabelece uma relação interpessoal e romântica muito agradável. A garota-máquina aprende a lidar com sentimentos humanos em meio ao moe como persona, e é graças ao interesse da Ex-Machina pelos humanos que o roteiro passa a correr de maneira tão eficaz. Schwi cria empatia e sociabilização até um grandioso e lindíssimo desenvolvimento final – o maior ponto positivo do filme, ao meu ver – que mais do que tudo, mostra como a garota é tão humana. 
 
Esse casal, apesar de bem diferente de Sora e Shiro na possível comparação paralela pela pseudo-semelhança visual, é interessante e trabalham de forma mais profunda e série para o relacionamento  e narrativa. São sem dúvida bons personagens.
 
Tecnicamente falando, a direção por um lado conduziu bem a parte mais dramática e impactante do filme, mas passou pelos já citados problemas da rápida intersecção de cenas se maneira quase confusa às vezes. A trilha sonora foi um ponto notório e muito legal durante o filme, e a produção em geral usou muito do CGi tanto para animação como para o background em si, e mesmo que nada mal, as cenas e cenários poderiam ter tido mais da animação tradicional em 2D e com mais cortes bem animados. Não foi o auge da animação da Madhouse.
No Game No Life Zero é muito interessante para quem conhece a série principal e quer ter uma noção mais bem escrita e trabalhada de como funcionava aquele mundo, assim como os motivos para ele ser da maneira atual na série. Apesar de imperfeito e com problemas de execução, o filme no geral é bom e para quem se deixar levar pelo emocional pode ter grandes surpresas. É um entretenimento dinâmico e bem válido – muito superior ao anime de TV em sua escrita.