Kino no Tabi #4 e #5 Análise Semanal


Análise Episódio #4

Para os que não se lembram em minha última análise, escrevi que não esperava grandes mudanças na fórmula que Kino vem apresentado até agora. E só bastou um episódio para provar que eu estava errado, o quarto episódio de Kino no Tabi muda tudo, desde a estrutura, os diferentes personagens que figuram como protagonistas, a presença de arcos emocionais completos para os personagens tendo até enorme relevância no episódio. As divergências do que foi apresentado antes são inúmeras, sendo tais mudanças algo completamente inédito mesmo na versão anterior e serão o foco da minha análise, apresentar os méritos e deméritos das inovações desse episódio.

O melhor ponto para começar a discutir essas mudanças, está nos novos personagens cujas as ações seguimos nesse episódio, sendo que a maioria das mudanças provêm disso. O personagem central desse episódio Shizu, aquele mesmo que já apareceu no episódio 2 da série, sendo que Kino e Hermes apenas aparecem mais para o final do episódio. A ideia de mudar os personagens que são o foco da série, é algo que não tenho qualquer problema em si, e apresenta potencial.

Kino e Hermes estão longe de serem ótimos personagens, sendo a caracterização dispensada a eles extremamente básica. No entanto a série falha em desenvolver Shizu como personagem mais interessante, o apresentando como o perfeito exemplo do herói moral genérico. Ele é apresentado como virtuoso, humilde, bondoso, sempre buscando ajudar os outros, altruísta a ponto de chegar a extremos de auto sacrifício, corajoso, ele é um clichê corporificado não contendo muito personalidade fora disso. Se usassem um personagem escrito dessa forma em uma sátira, como versão exagerada de heroísmo, ele funcionaria brilhantemente. Não considero Rinko, seu animal de estimação, relevante o bastante para merecer análise ou ser considerado principal.


O diferente protagonista também modifica radicalmente o tipo de história que será mostrada nesse episódio. Enquanto Kino e Hermes com uma importante exceção se mantém como protagonistas passivos, apenas observando os países aos quais eles viajam sem interferir muito nos eventos apesar de presenciar injustiças, são as ações de Shizu que movem a história desse episódio. O resultado no entanto não é muito inovador em si, nesse episódio se acompanha a “heroica” luta de Shizu para libertar a população desse país da opressão do clã da torre.

No terceiro episódio elogiei extensamente a não aderência a clichês, tanto nos conflitos sendo criados como nas resoluções, já este episódio parece dedicado a seguir o modelo mais formulado possível, tanto de personagens quanto de conflitos sendo abordado. E não algumas das reviravoltas posteriores, como tudo do governo do clã da torre estar sendo feito conforme o melhor interesse do povo em mente, não auxilia muito sendo tal reviravolta em si extremamente formulado, o grande governo tirânico atuando pelo bem maior. Também não contribui para trazer nuance ao conflito, quando o resultado obvio de se continuar o que este governo está fazendo, implicaria na morte de todos os habitantes pela incapacidade de se manter a estrutura do navio no qual eles vivem.

Como todos esses episódios desta série, esse episódio apresenta claras ideias em que busca comentar. O tema principal para estar na necessidade de educação para o desenvolvimento não só de indivíduos mas também de sociedades.  As pessoas desse país descendem de pessoas que nunca tiveram qualquer tutela por parte de adultos em seu desenvolvimento, devido a todos os adultos desse país terem morrido só restando crianças. O resultado dessa criação sem qualquer supervisão adulta, tornou os habitantes desse país incapazes de se desenvolveram e formarem uma cultura saudável, estando seus habitantes marcados por extremo conformismo, obedecendo sem questionar a qualquer ordem do clã da torre, e apenas trabalhando para obter suas necessidades mais básicas, vivendo em indolência sem qualquer estimulo a inovação e a melhora de suas qualidades de vida.

Tiffana (a loli) guia nosso protagonista em suas explorações desse país que se configura como um paralelo ainda mais extremo dessa situação, vivendo em completo ostracismo e abandono de todos a sua volta, que servem para torná-la ainda mais infantil, e incapaz de realizar diversas tarefas como se comunicar decentemente. Como possíveis soluções para esse problema o episódio apresenta duas alternativas. Simplesmente derrubar o governo e usar a força para obrigar as pessoas a saírem do navio que fracassa, por ignorar completamente à vontade das pessoas desse país, e ser incapaz de realmente comunicar para eles a verdade do que vai acontecer nesse país. E o sucesso ao retirar Tiffana dessa situação, que provém de ouvir os desejos dela, de criar um vínculo que a permite amadurecer.


Apesar da ideia potencialmente interessante, quase nada no episódio parece contribuir com esses temas. A maioria do episódio é gasto em estabelecer personagens, e o relacionamento entre Tifanna e Shizu (o qual eu irei falar em detalhes a seguir), longas explicações sobre o que está havendo nesse país, sendo especialmente agravantes, o despejamento de exposição de Hermes no final do episódio e convolutas e inúteis cenas de ação que apenas servem para contradizer alguns temas do episódio. O problema do governo do Clã da torre parece ser filosófico, eles governam porque as pessoas são completamente incapazes de manifestar o desejo de governar e até do ato de tomar conta de si mesmas.

Não é à toa que eles simplesmente desaparecem quando Shizu demonstra o desejo reinar sobre esse povo. Simplesmente derrota-los fisicamente não resolve o problema apresentado por eles, que provem da falta de vontade desse povo. Tais cenas são completamente inúteis por não auxiliarem a resolver o problema, algo que o episódio parece concordar, pois elas não levam a lugar nenhum.

E a existência ou até a necessidade de uma força para lidar com rebeldia interna contradizem completamente tudo o que está sendo implicado sobre a população deste país. Qualquer conteúdo temático ou comentário que esse episódio parece disposta a fazer, parece mais uma nota de rodapé com pouquíssima relevância. No final do episódio ele mal explorou o básico de tal ideia, e a única coisa que pude tirar disso afinal, é que um bando de crianças sendo abandonadas sozinhas, nunca conseguiram se desenvolver e formariam uma civilização de adultos indolentes e preguiçosos. Realmente isso é uma perspectiva muito e interessante sobre a sociedade.

Nunca achei que teria que escrever em detalhes sobre os personagens sobre um episódio de Kino no Tabi. Os personagens nesta serie estão longe de ser o foco, que busca pela premissa em si a explorar grandes ideias, guerra, religião, ciência, culturas, economia, usando os personagens normalmente apenas como exemplos para o tópico estudado, sendo que pequenos e pessoais conflitos dificilmente são abordados.

E depois desse episódio que apresentou tentativas de desenvolvimentos dramático dos personagens tão mal executadas que chegaram a ser dolorosas de se assistir, estou feliz que esse seja o caso. O núcleo emocional desse episódio, o relacionamento entre Tifana e Shizu fracassa espetacularmente. Tifana mal consta como um verdadeiro personagem, ela é um objeto fofo que está envolvida em situações trágicas para chocar a audiência, mas não contem qualquer personalidade. Quando no final ela começou a contar como não tinha nada no mundo além de relação dela com Shizu eu fiquei abismado, nada no jeito como ela interage com ele, demonstra que ela se importa tanto.

Na verdade, apesar de vários momentos compartilhados pelos dois, nenhum deles demonstra maior relevância emocional para o vínculo entre eles, algo que pelo menos faria a audiência ligar minimamente para a forma melodramática com que a história parecia se resolver. Chegou a um ridículo que a situação estava tão dramática a ponto de ela tentar se matar, pois achava que teria que viver sem o Shizu, e mesmo assim eu não sentir absolutamente nada com a situação toda. Reconhecer suas falhas, e escrever histórias de forma a evita-las está longe de ser uma vergonha para um escritor.

Kino funciona mesmo sem a necessidade de personagens bem trabalhadas devido à variedade de cenários e temática, por isso espero que em futuros episódios a serie se abstenha de conter foco em drama e desenvolvimento de personagens, algo que que a autora está realmente demonstrando não ser muito capaz de criar.

Existe um aspecto relevante do episódio anterior, que eu esqueci de mencionar em minha análise, mas felizmente ele se aparece de novo no último episódio. A regra dos 3 dias de permanência em cada país, algo estabelecido logo no começo da série, parece ter sido completamente abandonada nos últimos dois episódios, sendo que em ambos Kino permaneceu por mais tempo nos países.

Quanto a isso eu tenho duas teorias, como ambos os países que contradizerem a regra até agora estão na verdade em movimento, talvez isso seja o caso deles não valerem, pois neles ainda contaria como estar viajando, sendo apenas um diferente método de viagens. Outra ideia seria o obvio caso de a regra não valer mais, o que levanta questões sobre qual seria a necessidade de estabelecer essa regra que simplesmente deixará de existir depois de 2 episódios, sem ter qualquer repercussão.

A mudança no número de dias não é o problema, a passagem de tempo em ficção, o número de dias horas, horas meses ou anos é algo completamente arbitrário, não observamos esse tempo passando com os personagens, mas sim uma manipulação do autor, que demonstra apenas os eventos considerados relevantes, e dá uma ideia de continuidade aos acontecimentos, mas sim a desnecessária ambiguidade, em relação a elementos preestabelecidos.

Avaliação: ★   ★ ★

Análise Episódio #5

O episódio 5 de Kino no Tabi se apresenta como oportunidade perfeita de falar em detalhes de um aspecto, que eu infelizmente não falei o bastante em Kino, o visual.

Quanto a isso é importante esclarecer que ao criticar a animação do novo Kino eu não o estou fazendo baseado apenas em critérios técnicos, animação serve como meio de contar as histórias e visualizar as ideias do autor, como ela auxilia e melhora a história que o autor está querendo mostrar, é de muitas formas mais importantes que o quão tecnicamente bons seus aspectos técnicos são.

Minha crítica não busca questionar a serie pela ausência de impressionantes cenas de sakuga, ou de esplendorosos efeitos especiais, tais apesar de ser sempre bom contar com a presença deles, não são estritamente necessários, ou agregariam tanto nessa história. O que suscita a pergunta que eu estou tentarei resolver, se a direção, animação e produção, estão conseguindo elevar o material sendo apresentado?

Um método de resolver essa pergunta, é observar como a serie lida com o aspecto visualmente mais importante dessas histórias, e que realmente se coloca como o real ponto de interesse, o mundo sendo apresentado nessas viagens.

E que infelizmente é uma área que a série não está lidando bem. Ao chamar de medíocre a arte dos fundos da série eu estou sendo generoso. Ela se destaca mais pela incapacidade de se fundir corretamente com os personagens em primeiro plano, fazendo parecer que os personagens não estão no cenário sendo apresentado em alguns momentos, do que por suas qualidades.

Ela simplesmente não apresenta o mínimo detalhamento, ou é dada a Ênfase necessária em diversas cenas, o que é triste pois esse é de longe o aspecto que o Kino antigo melhor trata em sua apresentação e que é essencial para história que a série queria contar, essa eterna viagem de exploração de uma infinidade de civilizações e países.

Fazer o mundo parecer grandioso detalhado e ao mesmo tendo mantendo mistério e intriga sobre o que ele pode conter, serve para criar algo que se valha a pena viajar para se conhecer e explorar. É essa ideia dessa infinidade como atrativo desse universo que a serie se encontra completamente incapaz de transmitir visualmente que mais me aborrecem, em relação ao novo anime de Kino no Tabi.

Seu maior atrativo é a constante introdução de novos locais e cenários, mas ele nunca consegue transmitir a grandiosidade da jornada sendo realizada, ou me deixar interessado no mundo pelo qual estamos viajando. A nova serie também apresenta um estilo mais “realista” de designs, tanto a representação de florestas, cidades, montanhas estão em contraste mais próxima da realidade, do que as simbólicas e surreais localidades que o Kino anterior continha, que de certa forma o fazia lembrar mais um conto de fadas.

Esse aspecto mais realista do novo Kino apenas serve para torná-lo menos interessante, tirando seus aspectos mais bizarros e misteriosos, que de novo de certa geravam esse interesse em relação ao desconhecido, de conhecer esses locais estranhos e bizarros (a diferença de design do rei do coliseu nas duas obras sendo o maior exemplo) só tendo um visual mais mundano e sem graça como resultado.

Outro ponto muito importante na apresentação visual da série é sua representação de diálogos, sendo estes uma parte até predominante na série, especialmente nesse episódio. E sendo franco, a serie nem está tentando nesse quesito, cada uma das cenas de diálogo é extremamente entediante visualmente, consistindo em realizar a técnica de contra campo a utilizando da forma mais básica possível.

Ótima cinematografia é essencial para manter cenas de dialogo interessantes, apesar de nenhum evento estar ocorrendo em tela. Bakemonogari sendo o maior exemplo disso, a direção impecável utilizou desde ângulos inusitados de apresentação, velozes cortes entre cenas, rápida velocidade de falas, e até interrupções com enormes caixas de informação escrita, só para manter as cenas de dialogo longas que marcam a série interessantes, tirando o máximo de seu aspecto visual.

Kino no entanto em sua apresentação parece ignorar que há meios de melhorar tais cenas. Não há desculpa do pouco esforço visual em tais cenas ser devido ao foco estar em apresentar cenas de ação, nos quais a animação seria ótima, ou seja nos momentos que realmente contariam se aplicando aqui. No episódio quinto não há qualquer cena de ação ocorrendo, e as cenas de ação que a serie contem, também são mediocremente animadas. 

E nem vou tocar em questões como a capacidade transmitir informação (show do not tell) sem a necessidade de necessariamente dize-la por meio de longas cenas de diálogo, que esse episódio também parece ignorar, já que ter longas cenas recheadas de tanta exposição e com informar sendo jogada para audiência, que fazem até as infames cenas de conversas em cafés e restaurantes em sword art online, parecerem moderadas em comparação, parecem ser as únicas formas possíveis para o novo Kino.

Me voltando mais para o episódio em si agora, eu tenho problemas em acreditar como alguém revisou o roteiro desse episódio, e achou esse screenplay ok para ser transformado em um episódio de anime. A partir do momento em que se faz a transição para o segundo país, a narrativa perde qualquer senso de progressão ou estrutura.

A história desse episódio passa a consistir de um grupo de personagens do novo país que Kino visita nesse episódio falando sem parar e sem qualquer motivo, ou interesse da protagonista, explicando o passado triste de um habitante desse país. Além do quão conveniente esse cenário se apresenta, aparentemente vários habitantes do país, apenas batem o olho na Kino e decidem compartilhar alguns segredos extremamente relevantes, o que ocorre é que não estamos observando uma história envolvendo os personagens aqui. 

Nosso protagonista não exerce qualquer escolha ou desejo nessa situação, ela apenas fica quieta ouvindo personagens explicando sem parar, a progressão dessa história apenas acontece de forma completamente artificial e independente de qualquer vontade dela, não há qualquer estrutura para os eventos apenas longos   despejos de mais detalhes sobre o passado que estamos conhecendo.

Na verdade o episódio lembra mais uma quest de RPG, na qual o personagem que você comanda entra, por que não tem escolha, e um monte de NPCs vão lentamente te revelando informações. Essa narrativa bizarra não ajuda a construir nada, arcos de personagens, narrativos apenas serve para forçar os temas do episódio, se esquecendo de todo o resto.

O conceito que está sendo trabalhado aqui, se consiste de mentiras. A união e a razão para os dois países que visitamos estarem reunidos no episódio é temática, os dois apresentam perspectivas diferentes sobre o tema. As mentiras do primeiro país que visitamos se encontram em seu passado remoto, na qual seus habitantes criaram uma mitologia completamente divorciada da realidade em volta da figura do seu fundador.

Essa necessidade de criar símbolos de um suposto passado glorioso da nação, que são os objetos que vemos no museu, pode servir a diversos propósitos na estrutura de um estado. Os mais comuns sendo para fomentar o nacionalismo e unificar a população ao redor desses ideais, aspectos que tristemente o episódio não decide focar.

No entanto a consequência que ele foca é em seu potencial inspirador para futuras gerações, por meio de uma criança que se encontra tão motivada por essas histórias, que decide ela mesma seguir os passos desse líder e começar a viver como viajante. Essa enorme mentira, que consiste essa visão idealizada do passado também contém seus malefícios, a motorrad do fundador desse país, pela necessidade manter essa mentira a todo custo, é obrigada a se manter enclausurada no museu eternamente, nunca podendo escapar daquilo que ela descreve como um inferno.

As mentiras do segundo pais apresentam uma diferença importante, elas não pertencem mais ao passado longínquo do país e incidem na atualidade e vida dos indivíduos, refletindo a diferença entre os dois países, um deles sendo um governo estabelecido a muito tempo e estável, o outro sendo um que se acabou de se criar por meio de uma revolução. Nós acompanhamos a história de um par de amantes que são colocados em diversas situações em que eles são obrigados a mentir para todos, incluindo um ao outro.

Estas servindo para demonstrar a importância e até a absoluta necessidade de mentiras para tentar se conservar e manter aquilo mais se importa, e sendo o jeito pelo qual os dois amantes alcançam a felicidade em suas vidas. O que leva a questionamentos sobre a absoluta preferência da verdade sobre a mentira, ou da completa necessidade da honestidade na vida do indivíduo.

A execução normal de alguns conceitos está longe de redimir os defeitos do episódio. Em relação a animação, personagens e história esse episódio fracassa terrivelmente, se destacando como a pior representação possível, de ideias e conceitos com algum potencial.

Avaliação: ★   ★ ★