Kino no Tabi #3 | Análise semanal



Kino na Tabi em seu terceiro episódio entregou uma experiência um pouco usual para série e de certa forma representou uma melhora em relação aos anteriores. Ao invés de focar em sociedades disfuncionais como fora feito anteriormente, no segundo episódio especialmente, o terceiro focou em uma sociedade perfeitamente pacifica e funcional. Estamos falando de um mundo com tecnologia e desenvolvimento muito superior ao dos países até então demonstrados, e ao invés de usar esses aspectos para realizar uma demonização de tecnologia, essa altamente avançada civilização não é utilizada como metáfora ou aviso para os perigos do uso da tecnologia, mas plenamente incorporada no uso de uma civilização saudável, e sem conflitos entre seus cidadãos, ou assim os aspectos demonstrados nesse episodio parecem mostrar. Essas consequências negativas já são extensamente demonstradas em ficção então estou contente que esse episodio fugiu dessas ideias

Essa harmonia, perto de ser utópica desse pais que eu estou falando tem um enorme porem no entanto. Este prove de suas relações com outros países. Mais para o final do episodio, esse pais que é colocado em constante movimento e viagens por seu sistema de maquinas, se encontra com outro reino, cujas muralhas estão bloqueando sua passagem. E bem, as situações não se resolvem entre as duas nações por meio de diplomacia. Ao se ver negado seu direito de entrada, o reino tão pacifico que eu descrevi acima, simplesmente demole trechos da muralha a força, e passa demolindo em seu caminho diversas propriedades do outro pais. Claro eles tentam realizar isso de forma a causar o mínimo de dano possível ao outro reino, mas isso não muda a natureza da agressão sofrida em si. Parece haver total descompasso entre o tratamento e como eles enxergam as pessoas do próprio território (apesar do tratamento dispensados por eles a viajantes ser inegavelmente ótimo) e a forma cínica a apática que eles enxergam os moradores de territórios hostis, algo que eu gostaria de ver mais explorado. O aspecto de conflito desse episodio inova brilhantemente, na forma de representar confrontos entre duas culturas, com níveis de tecnologia radicalmente diferentes. Ele se limita em retratar o cenário usual, nativos com tecnologia inferior lutando por sua cultura contra a potencia colonialista com tecnologia avançada, algo já extensamente representado em ficção. Ao invés disso, a população dessa civilização com níveis de tecnologia extremamente avançado esta agindo apenas para seguir sua viagem, sem querer se intrometer desnecessariamente, ou ate interagir com a cultura de outros países. O episodio reconhece a estranheza dessa situação, quando um habitante desse pais é perguntado sobre o porque eles não usam sua tecnologia extremamente avançada para dominar outros países, algo que eles tem condições totais de fazer. A resposta consiste nisso ser simplesmente uma questão de escolha, exercer essa dominação não é de nenhuma forma a intenção desse povo, e poderia causar consequências ruins no futuro.




Também gostei do jeito como foi apresentado uma reflexão sobre o ato de viajar em si, algo que é o veículo e meio pelo qual a protagonista e a audiência experienciam os eventos da historia. A série entra em detalhes tanto em relação ao prazer de viajar, a felicidade e excitação de descobrir e conhecer novos lugares com maravilhas nunca vistas, e a possibilidade de ótimos encontros com outras pessoas e experiencias – isso sendo feito pelo paralelo entre a Kino e os moradores desse pais em si. Também demonstra seus aspectos negativos, tanto as marcas deixadas no seu meio ambiente o incomodo que pode ser causado aos outros por estar nesse deslocamento, e a possibilidade de conflito e experiencias desagradáveis com eles. Mas ultimamente Kino e os moradores dessa cidade chegam ao consenso que tais incômodos e conflitos, a possibilidade de ocorrência deles, são inerentes a existência em si, e não podem ser evitados a todos os custos.


Ainda achei alguns defeitos nesse episodio. Boa parte da primeira metade é gasta simplesmente introduzindo com extensos diálogos a funcionalidade mecânica da cidade e sua tecnologia, informação extremamente supérflua, em ficção aspectos técnicos de como algo funciona dificilmente agregam algo em si, é um mundo ficcional que esta sendo criado aqui, não uma hipótese cientifica para se aplicar no mundo real, adicionar detalhes ao mundo deve como vários elementos da historia servir ao propósito temático do autor, mais do que tentar fazer o universo ficcional parecer mais realista. Algo que entendo como única interpretação possível, para abundancia de explicações sobre como essa cidade funciona na primeira metade. Resumindo o como uma tecnologia funciona, nunca é tão interessante como seus efeitos, como ela afeta as pessoas desse universo, e sua relevância para o conjunto temático da obra.

Outro problema e este talvez esteja mais próximo de nitpicking da minha parte está na necessidade de justificar ate demais a ação dos moradores desse pais ao entrar nesse novo território forçosamente. Não sei o episódio estava ate me parecendo estar justificando atos como esse povo destruir varias construções e desabrigar dezenas de pessoas com ideias como isso esta sendo apenas um incomodo, ou o povo desse país que construiu esse muro apenas o fez para cobrar taxas de todos os viajantes. É até como se a culpa do problema fosse deles, por estarem tendo suas casas sendo destruídas por uma nação estrangeira. Eu realmente quero acreditar que não é isso que o episodio está tentando demonstrar, ao invés disso o que esta ocorrendo é uma situação de ambiguidade moral em que as duas partes cometeram equívocos, mas esse episódio as vezes está querendo me fazer pensar o contrário. É mais um problema de apresentar a perspectiva do pais sendo agredido de forma extremamente limitada, a ponto de eles parecerem bem piores do que suas ações demonstram, do que o conteúdo realmente ocorrendo em si.

Saindo um pouco do conteúdo do episódio em si na discussão, após assistir 3 episódios já posso falar mais sobre a série em geral e do que esperar a seguir. A serie não parece estar preocupada em formar uma narrativa maior que inclua vários episódios. Os 3 episódios até agora lançados são autocontidos em termos de conteúdo, não contendo qualquer forma de progressão ou reincorporação de elementos entre si. O anime também não apresenta grande foco em desenvolver nossos personagens principais que se mantem constantes, Kino e Hermes ate agora. Eles se figuram mais como observadores passivos dessa variedade de culturas e lugares que somos introduzidos, eles são mais um ponto de vista para observar esses lugares do que fortemente desenvolvidos personagens. A historia de cada episódio é muito mais sobre cada lugar que os dois estão visitando e suas características, do que sobre eles em si. E não imagino que ocorreram grandes mudanças nesses aspectos da historia.



Avaliação – Episódio 3 : ★ ★ ★ ★ 

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