Just Because! #1 e #2 | Análise Semanal

Just Because é fascinante, conseguindo ser bem maior do que um simples romance com uma pitada de drama. Consegue emanar vida, no sentido que as relações e os próprios personagens são verdadeiros. São sentimentos e interações bem comuns para adolescentes, trazendo uma verossimilhança com adolescentes reais, difere da grande maioria dos colegiais em animes que parecem algo muito distinto da vida real. Claro que a obra foi “pé no chão” dentro do possível, há momentos em que ela precisa usar de moleta os artifícios convencionais. Como no segundo episodio: a Natsume se escondendo com o protagonista de uma garota que ela conhece, é uma coisa bem clichê e muito usado para juntar dois personagens principais.

Um momento que resume bastante a carga da obra é quando no segundo episódio o elenco faz um grupo no Line, e então a Morikawa diz: “é como se estivéssemos no colegial” a Inui diz que é óbvio já que eles ainda estão no colégio, mas a Mio concorda complementando: “Eu entendo. Isso grita colegial!” reconhecendo isso como uma experiência de um adolescente comum no colégio, onde gritar colegial seria gritar juventude. E todo o momento que sucede isto, deles trocando mensagens e rindo de fotos idiotas, é a exemplificação do que é gritar juventude. Eles estão a beira da idade adulta, com quase a totalidade da vida que conhecemos atrás de nós, muitas vezes nos apegamos a tais experiências. Ninguém quer desperdiçar a sua juventude. Todo mundo quer viver de forma memorável, construir memórias dramáticas para que possamos olhar para trás e termos sentimentos bons. Todavia na maior parte do tempo, nossas vidas não são uma peças de teatro ou um anime  – nossas vidas são construídas de inúmeros momentos inconsequentes, que acabam gerando memorias duradouras. É uma obra que parece totalmente fascinado com este ponto de transição da adolescência.


Falando um pouco mais dos aspectos técnicos destes 2 capítulos: suas cenas raramente seguem com as exigências da conseqüência narrativa, em que há ação e consequência “isso aconteceu, e isso aconteceu como resultado”. Não é sem forma, mas os momentos chave têm um espaço para respirar, o que é bom. Quando a declaração de amor dá errado, não vemos apenas o momento seguinte, mas o momento depois, e o momento depois disso. Quando os personagens principais vão para casa, nós os observamos, vendo eles no trem e em paradas de ônibus – isto consegue demonstrar a visão de mundo dos personagens. Estes momentos intermediários contam sua própria narrativa, acumulando a vida do elenco em algo encantador e real. Claro, que estes momentos com aberturas dramáticas podem ser chatas para algumas pessoas, mas isso vai de gosto pessoal. 

Para capturar adequadamente a singularidade desses momentos, o anime precisa de uma direção boa para conseguir bons enquadramento e caracterização visual. Felizmente, a direção se mostrou competente, e a obra em si demonstrando uma habilidade notável para dar vida a todos os seus personagens. Há uma quantidade razoável de animação fluída nas partes de expressões dos personagens, e mesmo quando estes estão imóveis, o anime tem um bom entendimento de como a postura e as expressões são importantes. Nenhum personagem em Just Because caminha da mesma maneira, fica parado da mesma maneira, ou sorri da mesma maneira. Todos tem uma consistência nos seus estilos pessoais. Isto é muito bem feito, me agrada muito ver este cuidado nos detalhes, e são estes cuidados que fazem toda a diferença. Os personagens tem consistência em seus estilos, porem a animação em si está extremamente capenga e com muitooss problemas em manter a consistência. Irei comentar melhor isto no final, na parte de extras.  
É preciso dar um destaque a parte das interações emocionais da obra – quando Natsumi e Eita se reencontram pela primeira vez, o sorriso da Natsumi parece implicar que ela está contendo alguma bagagem, enquanto a resposta formal de Eita reflete em seus sentimentos profundamente misturados. Depois o Eita revela que não esperava que ela o reconhecesse, isso consegue dizer muito sobre os personagens. Os olhares estranhos e as posições coreografadas nos dizem muito mais.

Os eventos no anime devem escalar rapidamente à medida que o drama de tempo para graduação pegar estes personagens. A entrada do Eita deve ser uma espécie de ponto de partida para as coisas que estavam estáticas, ou apenas um novo “começar”. Obviamente nem todos os personagens são amigos de infância do Eita, então ele devera rapidamente conhecer novos personagens. E ainda temos que ver o quão grande é este incômodo do protagonista com o emprego de seu pai, visto que ele precisa estar sempre trocando de colégio, o que o impede de ficar com seus amigos. 
Acredito que ficou meio obvio o quão bom estes dois episódios foram para mim, em razão de bateram de frente com o estilo que tanto me agrada. Até agora, quase não tenho queixas sobre Just Because! Nem sobre suas linhas de diálogos que são tão nítidas quanto possível e a animação fluida dos personagens, que não é consistente em todas as cenas (muito pelo contrario), mas que ainda resulta em seu efeito dramático e incrivelmente distintivo. 

Aprecio muito a falta de exposição dos diálogos, onde as coisas são inferidas. Como na cena em que naturalmente mostra que o Eita gosta da Natsume e que a Natsume gosta do Haruto, isto através de um bom flashback, onde ninguém diz o que sentem, mas tudo está implícito através de uma boa direção.

Nem sequer entrei em sua OST, que é uma mistura diversa que varia entre picos de orquestras para pianos subestimados, muitas vezes usado para elevar sequências longas sem diálogo. Just Because! tem um estilo perfeitamente sutil adequado para uma história sobre a fronteira intangível, mas profundamente sentida, da juventude. O romance aparentemente vai ser bem lento, porem este fator de romance é o de menos para mim. Estou pronto para seguir a obra onde quer que ela me leve.

EXTRA:


Pine Jam é um pequeno estúdio que se separou do estúdio 8-bit por volta de um ano atrás. Depois de algumas terceirizações de trabalho eles conseguiram estrear no seu próprio anime em 2016 com a produção de Mahou Shoujo Nante . 

Agora vem o BO, a obra está tendo problemas de produção muito graves, e está dando o que falar. Tem saído varias notícias sobre os desastres na produção de Just Because!. Apesar de uma multidão de animadores supervisionarem os primeiros episódios, a animação tem sido descontroladamente inconsistente. A forma como muitas cenas parecem derreter acontece devido a sequências de desenhos que estão fora da proporção correta.  Este tipo de coisa não é um erro apenas dos diretores de animação, é um erro também dos intermediário verificadores. 

É tão grave e gritante estes problemas que até os fãs sem muito interesse em animação ainda vão notar a inconsistência que está tendo. O diretor estreante Atsushi Kobayashi até mesmo foi no twitter falar sobre isso, colocando a culpa no estúdio. Ele falou que está lutando contra esse projeto e seu cronograma abismal. Ele tem desde então excluído os tweets; vale dizer que é meio burrice e amadorismo ficar arranjando briga com o estúdio, já que a industria de animação trabalha na base do networking – onde você precisa ter indicação e conhecer o máximo de pessoas possível dentro da industria. A pior coisa que ele pode fazer é se queimar dentro da industria. 

O fato é que ele ainda está corrigindo o storyboard para o episódio 8 que irá ao ar em pouco mais de um mês. A produção de animes não é um processo rápido, Atsushi tem uma incalculável quantidade de trabalho restante considerando o tempo que eles têm disponível.

Como chegou a esse ponto ? Considerando os comentários feitos por Atsushi, eu não tenho nenhuma dúvida de que o planejamento na pré-produção foi mal feito. E isso foi exatamente o começo do problema.

Avaliação:   ★  ★ 

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