O Desastroso Fairy Tail

Fairy Tail finalmente acabou, e demorou para isso acontecer. Deveria ter sido mais cedo? Talvez… Ou melhor, Mashima deveria ter dado longas pausas em seu trabalho para pensar no que estava fazendo.

Foram mais de 10 anos de publicação do mangá, que atingiu um grande sucesso e ganhou 2 séries pra TV, além de OVAs e um Filme. Sem falar que ainda tem mais uma temporada anunciada que provavelmente deve adaptar todo o restante do material original juntamente de outro filme. É Fairy Tail saindo pelo ladrão… Imerecidamente! 

Hiro bateu a massa para o último arco desde o começo de sua história para chegar no final e não colocar fermento e ainda queimar. Talvez a culpa não seja completamente dele pelo desastre conclusivo de sua obra, pois sabemos o quão pé no saco as editoras são e como devem ter pressionado muito o autor, afinal ele não é um mangaká tão ruim assim. Não, não é brincadeira! Me dói ter que admitir, mas Mashima tem algumas qualidades boas. Um bom exemplo é que ele tinha algumas ideias legais planejadas que podemos ver sendo desenroladas ao longo do mangá e algumas bem surpreendentes, afinal, quem imaginaria que Natsu era E.N.D? Que a fundadora da guild era crush do Zeref? Entre outras não tão surpreendentes (ou originais), no entanto boas ideias. Ainda assim, é claro que nem toda ideia e planejamento, mesmo sendo interessantes, irão surtir resultados positivos. Para isso, a execução precisa ser boa e é “neste ponto” em que o famigerado criador de Fairy Tail erra consecutivamente em todos os seus arcos. 

Mashima sabe iniciar um novo arco. Ele consegue colocar um senso de aventura que empolga e enquanto “vilões” não aparecem, a obra se mantém divertida e com os tons equilibrados. Porém, a partir do momento em que um suposto perigo entra em cena os tons começam a divergir entre dramatização e humor. E se tem algo que Hiro não sabe fazer é drama pelos seguintes motivos: ele é covarde e seu texto é péssimo. 

Há várias formas de dramatizar uma história, mas o drama só funciona quando convence. Por exemplo, não sentimos empatia pelos sentimentos amorosos de um personagem quando um relacionamento não é desenvolvido ou pelo sofrimento de alguém que dois minutos após algo ruim ter acontecido, está completamente bem. E dessa forma, não sentimos empatia por qualquer drama no enredo por conta de um perigo inexistente. O mau da previsibilidade é justamente impedir de nos envolvermos com o que está acontecendo em uma ficção, o que é um dos principais fatores negativos em Fairy Tail, pois sempre sabemos que ninguém vai morrer, que os principais vencerão suas lutas, ou que os vilões falharão miseravelmente em seus objetivos. Isso porque a covardia do autor não permite a ele causar mal aos seus personagens, ou melhor dizendo, não o permite criar complicações! 

E se há um sinal de que o medo (PREGUIÇA) de se aprofundar é evidente, este sinal está nos diálogos. Aqui não possui camadas, temas a serem discutidos, críticas ou sequer linhas de raciocínio dos personagens; o grande tema é a “amizade” e acompanhamos o mesmo discurso sobre “proteger meus companheiros”, “eu carrego a força da Fairy Tail comigo”, “nunca abandone seus Nakamas” durante todos os finais de arco. E é um discurso contagioso, pois todos os personagens do “bem” acabam comprando as mesmas palavras.

Entretanto, se tem algo em que podemos ter certeza é que não há nada ruim que não possa piorar. Mashima pisa nos seus mesmo erros desde o começo do seu mangá, apesar disso, ao invés de tentar melhorar, ele multiplica cada falha até chegar no final onde ele uniu uma quantidade imensurável de descaso.

Começando pela guerra, nos é apresentado os magos mais fortes sob o comando de Zeref, os Spriggan 12. No entanto apenas sabemos que são fortes porque o texto está dizendo isso e não porque nos é mostrado. E esses personagens são simplesmente jogados ali no meio da guerra e temos de aceitar que são importantes e poderosos. Mas talvez fossem “poderosos” demais para o mangaká conseguir lidar com os poderes deles, recorrendo assim para recursos externos para solucionar as lutas ou dando conclusões que não fazem o menor sentido, como o caso de August ou de Lacarde. E todos esses personagens que supostamente são “os mais fortes do mundo” simplesmente são descartados um atrás do outro. A Brandish, por exemplo, simplesmente vai embora ao meio da guerra e some. 

O mais bizarro de tudo é que os poderes mágicos em Fairy Tail são medidos pelo dano que causam e não por suas possibilidades, o que no caso, se fossemos seguir a lógica, Brandish poderia ser de extrema ajuda tanto para o exército de Alvarez quanto para a luta final. Isso porque seu poder permite manipular massas, incluindo aumentar o poder mágico de alguém ou diminuir. Levando isso em questão, o que aconteceria se ela aumentasse os magos da Fairy Tail na luta contra Acnologia? Ou até mesmo diminuísse Acnologia? Porém ao invés disso, ela simplesmente some, para sempre… Puff!!!?

E se os personagens para essa guerra não fossem ruins o bastante, os anos de planejamento de Zeref viram uma piada após tudo se tornar uma completa bagunça sem sentido, com os magos espalhados para lutas individuais e ações confusas… Aliás, Alguém se lembra de onde está o resto do grande exercito de Alvarez? Pois é…

Dentre a enxurrada de coisas ruins acontecendo, algo bem interessante rolava na batalha da Blue Pegasus contra Acnologia. Indo contra todos os clichês que Fairy construiu, o grande boss final da história estava sendo derrotado por personagens secundários e por meios estratégicos. Ninguém estava tirando poder do além ou gastando o tempo do leitor com frases de efeito sobre amizade. Havia um sacrifício ali, mesmo contendo uma personagem “who” surgindo com a solução, ainda assim se tornaria uma saída muito interessante por finalmente quebrar o paradigma. Zeref então é derrotado de uma maneira bonitinha e Natsu de repente, sumiu! “Que final incrível!!!” Pensei enquanto deseja que o mangá terminasse logo ali, acreditando por segundos que o autor realmente daria um fim no Natsu. Mas, né, é Mashima né gente?

Sem fazer sentido algum, Acnologia come o espaço tempo e volta e… Urgh!!! Daí pra frente é vergonha alheia atrás de vergonha alheia e furo atrás de furo. Lucy vai atrás do Fairy Sphere e é imposto “condições” para a ativação da magia que não batem com a primeira vez que ela foi usada no arco de Tenroujima. Então, todo o país precisa enviar suas energias para a genkidama da Fairy Tail, o que é incrível ver toda a população intacta depois do ataque de pelanca do Acnologia que parecia ter deixado metade do continente em chamas (Que na verdade só atingiu terras desabitadas). 

Se a última batalha já não fosse um desastre, Hiro ressuscitou Makarov por motivos de “whaterver, a história é minha e faço o que eu quiser”… E conclui o mangá do modo mais imbecil possível. Quem quer saber dos ships da Lucy? E por que raios elas está vencendo um prêmio de escritora? Ela não tinha algo mais importante para fazer, tipo… Achar a chave da Aquarius?

Muitas pontas foram deixadas soltas no final, personagens simplesmente foram descartados e outros tiveram suas construções largadas pela metade. Isso conclui que, ter boas ideias não adianta absolutamente nada se o autor não sabe construir uma base para tal, conduzi-la e dar uma conclusão fechadinha.

Fairy Tail nunca foi algo promissor, mas seus primeiros arcos eram divertidos enquanto centrava-se no quarteto principal e preservava uma atmosfera aventuresca. Após a entrada da Wendy o mangá começou a ruir, colocando personagens demais no foco da história e tentando dar profundidade ao futuro deles. Ainda houve o crescente fanservice que foi ganhando cada vez mais espaço e deixando a obra cada vez mais nojenta… Porém seu maior defeito vem da quantidade de deuses ex-machinas e o repetitivo enredo para cada arco. 

No final, contradizendo a mim mesma, eu volto em algo que eu disse lá em cima: “Talvez a culpa não seja completamente dele pelo desastre conclusivo de sua obra, pois sabemos o quão pé no saco as editoras são e como devem ter pressionado muito o autor, afinal ele não é um mangaká tão ruim assim…” …E me questiono: Foi pressão? Relaxo? Ou ele é sim, um péssimo escritor?

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