ACCA – Quando a concepção de universo se destaca | Review

Sinopse

ACCA é um gigantesco sindicato unificado, com sede em um reino dividido em 13 regiões autônomas. Jean Otus, vice-diretor do departamento de inspeções no quartel-general da ACCA, é um dos mais sagazes homens da história do sindicato. Baforando seus cigarros, ele passeia pelos 13 distritos, sempre de olho em quaisquer tipos de contravenções.

Análise

A proposta inicial de ACCA é apresentar a vivência das populações de cada um dos distritos, visando evidenciar as discrepâncias sócio-culturais de cada local, introduzindo o telespectador ao trabalho executado por Otus e principalmente apresentar a situação política que o universo da obra, muda em seu decorrer, mas que até lá é um tanto monótono dependendo do olhar do espectador.

Começando pelo roteiro que ficou a cargo de Tomohiro Suzuki, inicialmente a narrativa visa apresentar esse universo usando o Otus como um espécie de mediador entre o telespectador e o contexto ambientado na série, e isso funciona bem, já que ele exerce um papel que possibilita esse tipo de recurso narrativo. No entanto, a obra tem um ritmo bem lento no começo, mesclando uma narrativa episódica com uma linear no fundo, o que faz com que a trama “conhecer diferentes locais e culturas” seja um exercício de paciência caso você não se sinta atraído pelos elementos propostos nos locais visitados, apesar disso o anime é muito corrido, no sentido de filtrar o máximo possível do conteúdo e deixar apenas o necessário. Em determinado ponto a obra muda seu foco e se abre para as demais lacunas, fazendo com que todas as pistas apresentadas anteriormente começassem a se conectar, dando luz ao plot principal e a narrativa linear. E nesse dado momento é quando ACCA mostra para o que veio, com uma maior profundidade em elementos políticos, culturais e até históricos, havendo um “plot twist” como gatilho dessa quebra, saindo de uma construção mais lenta e contemplativa. Com elementos desconexos, para seguir um rumo diferente, segmenta-se bem o enredo e é cumprido perfeitamente o que prometeu em aspectos narrativos, com um fim que representa o que o desfecho final de uma história, cumprindo bem a proposta da narrativa, concluindo a série por meio de intrigas políticas e ideológicas, do começo até seu fim. Apesar disso, o roteiro tem os seus problemas, focando no seu final, a ideia conceitual por trás daquilo foi interessante, mas a forma que foi roteirizado deixou a desejar, pela situação “exótica” e a conclusão dela, tirando o ar de verosimilhança da situação, por ser algo bem pouco palpável e até certo ponto mal idealizado.

No âmbitos dos personagens a obra tem as suas limitações, devido ao seu cast gigantesco de personagens e a sua narrativa pseudo-episódica, ACCA não consegue apresentar um senso de continuidade no quesito personagens, fazendo uso dos estereótipos de regionais de cada um dos distritos para dar uma noção da personalidade e mentalidade dos personas, que é bem interessante, mas que ainda não consegue suprir a falta de backgrounds de algum deles, que querendo ou não acaba reduzindo a relevância dos mesmos para com o plot (como foi o caso dos diretores, em que alguns ficaram em segundo plano e a obra não conseguiu introduzi-los dentro da trama principal de forma mais impactante). Por outro lado, ACCA consegue usar bem o seu tempo limitado para desenvolver esses personagens, conseguindo por meio de diálogos bem roteirizados dar um ar de mais humanidade a cada um dos personagens, além de reutilizá-los em algum pontos, seja para um papel mais relevante ou em alguns casos apenas aparecer, mas o fato é que a série não esquece personagens. Tratando-se do cast principal, conseguiram desenvolvê-los muito bem, e grande parte disso vem da relação da trama principal da obra com o background dos personagens, que acaba sendo um gatilho para conciliar o desenvolvimento da narrativa ao dos próprios personagens, outro recurso narrativo muito bem gerido. Da mesma forma da relação do Otus com o Nino, que acaba havendo dois planos, um amigos de infância e outro mais condizente com o rumo da narrativa. O que mais se destaca nos personagens principais é a capacidade de usar elementos que passariam despercebidos ou que soariam como um detalhe irrelevante como meio de agregar a capacidade racional dos mesmos, evidenciando a “liberdade narrativa” do personagem, ou seja, a obra traz uma construção mais orgânica e madura para eles.
Em quesitos visuais ACCA deixa a desejar, principalmente no quesito animação, que ficou a cargo da Madhouse. O anime tem quedas visíveis de qualidade, muitos quadros estáticos e quadros muito mal polidos, e isso tira muitos pontos para a série, já que essa inconsistência é recorrente assim como as tentativas do diretor de usar ângulos de câmera, repetição de quadros e cortes para suprir essa limitação. Essas ferramentas não funcionaram tão bem e se não fosse esse belo trabalho a obra poderia ter falhas visuais mais “gritantes”. No entanto, acertaram muito na arte e no character design, a sacada de usarem a cor do cabelo como meio de relacionar o personagem a uma região X foi muito bem pensado, dando mais relevância a esse aspecto narrativamente. Além da própria arte do anime, singular e visualmente agradável, fez-se bom uso da limitação visual da obra. Vale notar o bom trabalho de direção do Shingo Natsume, com uma ambientação muito bem idealizada e construções de cena maduras e bem orientadas, que corrobora bem com um roteiro recheado de diálogos bem trabalhados e uma contextualização única para alguns objetos – como foi o caso do cigarro.

O contraponto desse aspecto é a trilha sonora, se destacando muito na obra com uma composição sonora bem condizente, as cenas ainda assim continuavam agradavéis e impactantes. E por fim vale destacar a sua dublagem, cujo consegue trazer muito mais carisma aos personagens, o que na verdade faltou para alguns, mas que foi suprido muito bem por esse aspecto devido a um ótimo trabalho de controle do tom de voz para que se encaixasse ao perfil do personagem, fazendo valer o vasto currículo dos dubladores em geral da obra. 

Conclusão

ACCA é uma boa obra madura e carregada, porém, ela só se torna cativante caso o espectador tenha se interessado na proposta inicial de conhecer e mergulhar mais nesse universo, sendo até certo ponto, uma narrativa bem punitiva caso o contrário. No entanto, o anime consegue fazer uma boa quebra e expandir a premissa, de forma a agregar mais a narrativa. Com um visual bem singular, mas limitado pela sua animação, uma trilha sonora muito bem feita e equalizada, um roteiro maduro, e uma direção competente. 

Direção: 8/10
Roteiro: 9/10
Animação: 7/10
Soundtrack: 7/10
Entretenimento: 6/10

Nota Final: 7/10

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